Beyond The Barricade

PRÈMIER PARTIE "Before The Barricade" - Enjolras


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Era filho único e abastado, no entanto pouco amor nutria pela família. Aliás, parecia não nutrir amor pelo quer que seja. Era belo como os anjos ou mais até. Tinha caracóis de um loiro mais belo que o ouro puro e possuía uns olhos azuis penetrantes mas carregados de uma contínua melancolia pensativa. Sendo já homem, ainda parecia uma criança. Na realidade, Enjolras nada mais era que uma criança. Era sério e demonstrava não saber que sobre a terra existia um ser chamado mulher.

Enjolras não sabia apreciar a arte, a natureza ou o quer que fosse além do estudo do direito e da defesa feroz da causa republicana.

Tinha o exacto perfil de líder. Sabia quando e o que falar. Não dizia mais do que o necessário. Era no entanto um bom observador, e era, sobretudo, isso que fazia dele o líder, mesmo que sem título, dos Amigos do ABC.

Os Amigos do ABC não eram muito numerosos. Era uma sociedade secreta ainda em embrião. Reuniam – se em Paris em dois lugares: perto do mercado, numa taberna chamada Corinto e próximo do Pantheón, num pequeno café da praça Saint – Michele, o café Musain. O primeiro desses lugares de reunião estava mais próximo dos operários, o segundo, mais próximo dos estudantes.

Estavam ali, no Musain discutindo sobre a generalidade em voz alta e sobre os detalhes em voz baixa. A pergunta estava no interior de todos, mesmo ainda que ninguém a tivesse feito.

– Quando então? - Combeferre perguntou o que ainda ninguém tinha tido coragem de perguntar e então, pela primeira vez o silêncio imperou.

Ninguém tinha resposta. Ninguém excepto Enjolras.

– Amanhã. Em homenagem a Lamarque. O seu funeral trará alguma agitação às populações. – ele disse e ninguém se opôs. Porque o fariam afinal de contas?

Do outro lado do café, Grantaire observava – o. Um desperdício, Enjolras dizia sobre ele, um caso perdido! Como é que alguém tão inteligente faz tão pouco uso das suas capacidades.

Sempre repelido, maltratado, afastado por Enjolras, sempre voltava e dizia dele:

– Que belo mármore!