Ele estava em frente a tudo aquilo que idolatrou durante séculos.

Estava prestes a desafiar suas leis.

Sua honra.

Seu amor.

Sua Deusa.

Kalona guardou a espada dentro da bainha presa em suas costas, não havia qualquer perigo ali além de seu coração assustado e repleto de duvidas. Quanta ironia, um guerreiro escolhido para proteger Nyx por conta de sua coragem e honra prostrado diante da mesma, apavorado por suas duvidas e esperançoso por suas futuras escolhas.

Pobre guerreiro ingênuo, se ao menos ele soubesse que o amor é para poucos. E não para ele, talvez não tivesse cometido aquele único erro.

Nyx entrou no templo sagrado, este decorado com o mais belo mármore aonde flores criavam raízes a agraciavam a bela Dama da Noite com suas pétalas vermelho escarlate. A deusa por sua vez trajava uma túnica branca como a virtude de uma dama intocada, em seus braços e também em seu pescoço pendiam jóias feitas com as mais raras pedras do submundo, Kalona as invejou, assim como invejava tudo que tocava sua Deusa e talvez isso tenha sido o início de seu ódio, de seu rancor e da mancha negra que viria a cobrir seu coração por incontáveis eras.

- Minha Deusa – Kalona se curvou diante dela com toda a reverência que vinha em si.

Nyx sorriu docemente para ele.

- Meu guerreiro – em seguida o olhou com curiosidade – Suponho que não estamos aqui a toa, você havia dito que teria algo para contar.

Sim, ele tinha e não sábia como e nem mesmo por onde começar, então o guerreiro da noite levantou-se e olhou para sua Deusa.

Pela primeira vez ele sentiu que ela poderia estar perto o suficiente para tocá-la, e não apenas como a figura distante por quem ele havia se apaixonado.

- Como seu guerreiro eu sei que o que estou prestes a dizer pode alterar tudo que conheço, tudo em que acredito – Kalona começou seu monólogo, as palavras enroscavam-se em sua língua e se recusavam a deixar seus lábios – Mas por tanto tempo eu venho crendo que jamais seria capaz de amar uma mulher, que nunca sentiria afeto por nenhuma criatura no Mundo do Além – ao prosseguir, Nyx o observou com curiosidade, não, não curiosidade, ela parecia surpresa o que fez com que Kalona avançasse em sua direção, e a tomasse em seus braços – Tudo isso, até me tornar seu guerreiro.

- Eu não entendo... – a resposta da deusa foi baixa, sua voz tensa e ele poderia jurar que viu a duvida em seus olhos.

- Eu a protegi de todos os perigos durante éons, caminhei sendo sua sombra por incontáveis milênios. Apreciei sua beleza em todos os dias da minha existência até ver que a amava. Que estava perdidamente apaixonado – ele murmurou contra o cabelo dela, a proximidade de seus corpos fez com que ele não precisasse explicar mais nada.

Então Kalona fez algo que mal se permitiu fazer em seus sonhos.

Ele a beijou com toda a paixão que existia em si.

E por alguns instantes ela o correspondeu, por tempo o suficiente até que ela recobrasse a razão e lançasse sua fúria contra ele. Em um instante ele estava sentindo os lábios macios de Nyx e no outro o mármore contra suas costas.

- Você é meu guerreiro – Ela começou, a fúria em suas palavras, o desprezo em seus lábios fizeram com que o coração de Kalona se partisse antes mesmo de ouvir o que ela ainda tinha a dizer – Jamais será algo além disso e eu esperava que você estivesse ciente disso. Mas como todos os meus guerreiros, você tem o direito do livre arbítrio, e você fez sua escolha, lamento eu que ela tenha sido para o lado errado.

Ditas aquelas palavras um clarão atingiu o rosto de Kalona e ele foi cegado pelo poder de sua Deusa, sentiu apenas que estava caindo e que não era nem se quer capaz de abrir suas asas.

Mas talvez fosse bom, talvez ele chegasse a tão falada Morte, e sua alma pudesse descansar no Submundo junto com a de outros mortais.

Talvez seu coração finalmente tivesse um pouco de paz.

Mas ele viu que estava errado assim que sentiu seu corpo tocar o chão de terra do mundo mortal.

Kalona, o guerreiro caído de Nyx, entregou-se a total escuridão.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.