Betrayed

Tiramos algumas férias


Parece que o sono tem o efeito contrário do que deveria ter. Meu corpo dói mais agora que estou acordada do que antes de dormir. Meu maxilar lateja onde levei os dois socos, meu rosto está tão inchado que quase não consigo manter o olho aberto. Tento ignorar as pontadas no ombro e nas costelas quando me levanto para sair do helicóptero.

Pousamos na primeira ilha atrás do complexo onde a chave estava. Nuvens de fumaça sobem de algum lugar do outro lado. Está tudo silencioso, nenhum passo a não ser os nossos, nenhum tiro. Fico ouvindo o som do coração nos ouvidos enquanto caminhamos até lá, rezando para que os amigos de Jack estejam a salvo, ou pelo menos vivos.

Howie é o primeiro a nos reconhecer, e sinto que vou desmaiar de alívio por vê-lo. Tirando alguns hematomas e arranhões, ele parece inteiro, mas seu olhar é triste. Ele me abraça apertado, sem saber do tiro que levei.

- Graças a Deus estão vivos – diz ele assim que me solta. – O que aconteceu depois da explosão? Pegaram a bomba?

Deixo Max e Drake contarem rapidamente o que aconteceu. Olho ao redor e adiante, onde apenas Eric e Jim estão sentados em uma barra de metal caída, levantando-se para nos cumprimentar. Tinie e Robbie não estão a vista. Lembro-me de tê-los visto um momento antes no local que pegou fogo, e entendo que eles também estão mortos.

Eric e Jim vêm me abraçar. Howie termina de ouvir a história.

- Vamos embora – diz ele. – É o bastante por hoje.

- Ainda temos que entregar a bomba para Weasel – diz Drake. Ele enfaixou a coxa baleada enquanto eu dormia, mas ainda está muito pálido. Todos nós estamos.

- Ligamos para ele assim que voltarmos – responde Max.

Forço-me a pronunciar as próximas palavras:

- O corpo do Jack...

- Não o achamos, Jen – interrompe Eric com pesar.

Balanço a cabeça para falar que entendi e nós retornamos ao helicóptero. Não é grande, mas é o suficiente para acomodar quatro pessoas na parte de trás. Pergunto o que aconteceu ao avião, e fico sabendo que foi amassado e destruído. Resolvo ficar quieta. Não vamos precisar mais dele.

Retiro a maleta com a bomba debaixo do banco e a entrego a Howie. Ele é mais cuidadoso para segurá-la. Encosto a cabeça e deixo a mente vagar pela próxima hora e meia até chegarmos ao galpão de que partimos. Eric, que está sempre afiando uma faca ou checando armas, acomoda a mochila nas costas e dorme. Jim faz o mesmo, mas antes toma um gole de seu cantil, e menos de um minuto depois está roncando sonoramente.

Ouço o começo de uma conversa na cabine do piloto, onde Max e Howie estão. Já estamos sobrevoando o mar novamente.

- O que acha que estaremos fazendo daqui um ano? – pergunto a Drake.

- Como assim? – Ele me encara.

- Perdemos o dossiê que Jack nos deu para limpar nossos nomes naquele avião. Mas não vamos continuar com isso, vamos?

- Não. – Drake se remexe no assento. – Se de algum jeito pudermos limpar nossas vidas, quero fazer faculdade de medicina.

Seguro uma risada.

- Você, um médico? Essa eu pago para ver.

Ele sorri.

- E você? Já pensou em alguma coisa?

Torço o nariz.

- Seria muito irônico se eu dissesse que quero ser policial?

- Só um pouco – Drake responde gargalhando.

- Estou falando sério – contesto. Então começo a sonhar alto. – Quem sabe até mesmo delegada? E depois juíza. Todos iriam me conhecer, eu apareceria na televisão e seria famosa. Imagine todas aquelas vozinhas gritando meu nome. “Jennifer! Jennifer! Jennifer!”, todos me amando e me idolatrando como a melhor justiceira que a cidade já conheceu. E você estaria lá no meio, com certeza.

- Ah, estaria? – diz Drake, tentando controlar o ataque de risos. Não sei o que há de tão absurdo no que estou falando.

- Estaria, ou eu fecharia sua clínica alegando maus tratos.

- Isso não seria verdade.

- Ninguém precisa saber – digo, dando de ombros. Drake revira os olhos e nós esperamos o resto do caminho até em casa.

***

São duas horas da manhã. Howie está entregando a maleta a Weasel. Ele olha lá dentro para confirmar se está tudo em ordem e volta a trancar os fechos. Põe a maleta embaixo dos braços.

- Bom trabalho. Vocês têm os meus agradecimentos. – Weasel hesita por um momento ao invés de ir embora logo. Olha para mim e Drake. – Sinto muito pelo que aconteceu a Jack. Ele já foi meu amigo.

- Não era o que parecia – digo.

Weasel suspira.

- Não. Bem, acredite no que quiser. Adeus.

- Não nos procure mais – aviso. Não recebo uma resposta, apenas a porta da garagem se fechando com um barulho abafado.

Eric, Jim e Howie se despedem de nós. Howie se oferece para ficar e ajudar em alguma coisa, mas nós recusamos, não sem antes agradecer. Max fica parado, em silêncio, esperando nós falarmos alguma coisa. Ele improvisou alguns curativos nos piores machucados enquanto esperávamos Weasel chegar.

E eu, mais uma vez, atropelo as palavras, mas Drake não faz nenhuma objeção, então acho que ele não se importa.

- Quer morar com a gente agora?

Max parece surpreso.

- Se... se nenhum dos dois se importar.

- Não temos muito espaço, mas... – diz Drake com um meio sorriso. – Bem-vindo à família.

***

Uma semana depois, Max e eu vamos até Drake. Ele está sentado no sofá, em plena noite de sexta, assistindo futebol. Ainda manca um pouco, assim como Max, mas sua perna já está quase curada. Meu ombro também não está lá essas coisas, mas recuperei a maior parte dos movimentos. Tenho de mantê-lo imóvel a maior parte do tempo, o que é uma chatice, mas pelo menos não há nenhuma infecção. Vou continuar com o braço.

Durante essa semana que passou, os noticiários, jornais, revistas e qualquer outro meio pelo qual se possa passar informações, divulgaram que supostamente o governo havia recuperado a bomba de hidrogênio que estava sendo disputada. De acordo com eles, a ordem está sendo restaurada aos poucos, e mais nenhum país sofre perigo iminente.

Quando ouvimos falar disso, quis dar um soco na cabeça em forma de ovo de Weasel. Sim, é claro que foi o governo que salvou tudo. Max e Drake apenas reviraram os olhos e terminaram de trazer as malas de Max.

Às vezes me pego pensando em alguma coisa e me viro para contar a Jack, antes de me lembrar que ele não está mais ali. Fico mais zangada do que triste ao perceber isso. No entanto, eu tenho Max. Drake não tem ninguém.

Ainda.

Estamos prestes a mudar a situação dele.

- GOOOOOOOOOOOOOOL! É ISSO AÍ! – Drake pula do sofá e começa a comemorar gritando. Ele vem até mim e me chacoalha pelos ombros.

- Ai! Caramba, Drake, meu ombro! Sai daqui. – Empurro-o para longe, mas ele continua animado. Max aproveita esse momento.

- Ei, cara, que tal sair com a gente hoje? Uma amiga minha vai junto.

Drake se acalma.

- Uma amiga? – pergunta, interessado.

- O nome dela é Agatha – digo. – Ela é muito legal, e solteira. Então, você vem?

Drake sorri.

- É claro que sim.

Então nós saímos da garagem e vamos até o carro. Posso não ser a maior nem melhor especialista no quesito romance, mas se eu fosse apostar, diria que vai dar certo a partir de agora.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.