Betrayed

Reforços


- Ei! – reclamo quando Drake rouba um pedaço de carne do meu prato e o engole. – Fala sério, Drake!

- Você não ia precisar disso – diz ele dando de ombros e rindo.

- Ia sim. Estou com fome – digo ainda o encarando.

- Você está sempre com fome. Isso não conta – Drake quase cospe a comida da boca cheia enquanto fala.

Reviro os olhos e deixo quieto. Não é verdade que estou sempre com fome. Só na maior parte das vezes, tipo o dia inteiro, mas quem não gosta de comer? Está junto com dormir e ler na lista das melhores coisas da vida. E antes que você se pergunte, sim, eu amo ler. Não é só porque eu não frequentei uma escola na maior parte da vida que não descobri os livros e me apaixonei por eles.

Drake e eu parecemos duas crianças quando estamos juntos. Acho que as pessoas nunca deixam realmente sua infância para trás se pelo menos por um momento têm a chance de revivê-la. Até Jack já aceitou faz tempo que não vamos parar com isso. Ele, na verdade, se diverte nos vendo provocando um ao outro como agora. Enquanto fala ao telefone com os amigos, nos vê implicando e dá um sorriso.

Acabamos de almoçar e, depois de lavarmos tudo, subimos para o andar de cima. As únicas repartições são a porta do banheiro e uma escadinha que leva ao telhado. Há uma cama de casal que eu e Drake dividimos; nenhum de nós dois nos importamos, já que vivemos a vida inteira juntos. Ao lado fica o guarda-roupa que também dividimos e ao lado deste um baú de madeira com armas, facas, punhais, socos ingleses e coisas do tipo. Sabe, coisas que todos temos em casa.

Não é o maior nem o melhor lugar do mundo para se viver, mas é melhor que nada. E, além disso, é aconchegante. Não é sempre que podemos dizer isso – se bem que eu não estive em muitos lugares, não normais; só cadeias, esconderijos e derivados de campos de batalha.

Vou ao banheiro escovar os dentes e me olho no espelho que fica pendurado acima da pia. Não sou bonita, nunca fui. Meus dentes da frente são meio tortos e eu tenho um nariz um pouco grande demais. Meus cabelos castanhos claros, combinando com os olhos, noventa e nove por cento das vezes estão presos em um rabo de cavalo. Sou alta e magra, mas pelo treinamento e as brigas tenho alguns músculos.

Assim que saio do banheiro Drake passa a mão por minha cabeça bagunçando meu cabelo – coisa que eu odeio que façam – e diz, dirigindo-se ao banheiro também:

- Demorou, monstrinho. Jack já quer nós dois lá embaixo de novo.

Dou um tapa na mão dele e vou para a escada. Ele me chama de monstrinho desde sempre, então é quase um apelido carinhoso entre nós, levando em conta que eu o chamo de besouro, na minha opinião aquelas coisas nojentas que chamam de inseto mas devem ter vindo do inferno. A origem do apelido é uma longa história, não vem ao caso agora.

Quando termino de descer as escadas, vejo Howie chegando com os braços abertos para cumprimentar Jack. Eles têm a mesma idade (40) e são melhores amigos desde jovens pelo que sei. O que significa que também conheço Howie desde que conheço Jack, só não moramos na mesma casa.

Os dois dão um tapa nas costas do outro e riem fazendo alguma piada que não ouço.

- Jennifer Holt! – exclama Howie vindo na minha direção. – Muito tempo se passou desde que nos vimos da última vez, você está diferente!

- Muito diferente – digo abraçando-o e entrando na brincadeira. – Quase não te reconheci.

Sorrimos. A verdade é que nos vimos duas semanas atrás, quando ele e Jack saíram para fazer algum trabalho.

- E onde está Drake? – Howie pergunta olhando para nós dois.

Ouço os passos dele no fim da escada e finjo sussurrar perto do ouvido de Howie, mas alto o suficiente para que Drake ouça.

- Ele está no banheiro. Você entende, ele tem suas necessidades já que não tem uma namorada para fazer isso por ele.

Howie solta uma gargalhada alta e no momento seguinte sinto uma mão passeando por minhas costas e a voz de Drake me corrigindo sensualmente:

- É só que você não estava lá, docinho.

Eu o empurro, rindo, e o observo indo cumprimentar Howie logo depois. O mais velho volta com uma expressão mais séria e olha para Jack.

- Que horas os outros vão chegar?

Antes que ele responda, a porta da garagem é levantada com um barulho alto e quatro homens entram gritando como bêbados, mas sei que não estão. Eles falam um oi para todos nós e perguntam quando a “festa” vai começar. Jack fala para todos nos sentarmos que vai explicar por que os chamou.

Jim, o mais baixinho deles, é mesmo o bêbado, mas tenta não beber tanto quando tem alguma coisa importante para fazer. Tinie era um surfista com a aparência de surfista que agora está desaparecendo com o tempo e hiperativo. Robbie é um japonês esquelético que aprendeu artes marciais e começou a usá-las junto com armas. E Eric parece um competidor de luta livre, com seus quase dois metros, bombado, um dos mais jovens e tem a cabeça raspada.

Quando Jack termina de falar, Tinie é o primeiro a concordar em ajudar, já perguntando quando é que vamos, se já temos tudo pronto, falando tão rápido que minha cabeça se confunde.

- Ainda precisamos esperar as duas pessoas que Weasel vai mandar para ajudar – explica Jack. – Por isso não fomos ainda, e depois disso temos que conseguir a localização da chave. Só então vamos atrás da bomba.

- Ele disse quando essas duas pessoas vão chegar? – pergunta Robbie.

- No máximo até depois de amanhã. De qualquer forma vamos ter que esperar mais, mas assim que tivermos todas as informações eu os aviso – diz Jack.

Todos assentem, concordando.

Jim se levanta e vai até a geladeira.

- Tem cerveja?