Betrayed

Desculpas


Estou sentada no telhado com as pernas cruzadas. A escada que leva ao meu quarto também leva até ali, um pequeno lugar cimentado que Jack fez para nós. Já é noite e não há nenhuma estrela brilhando. Gostaria de poder dizer que olho para uma paisagem linda da cidade, como a que olhei depois de sair do bar ontem. Ao invés disso, encaro um terreno baldio com a grama seca e amarelada, cercado por arame farpado e um poste tombado no meio, o único poste que costumava funcionar na rua inteira.

É uma daquelas noites quentes em que venta muito, e meu cabelo bate na minha cara, mas não me incomodo em afastá-lo. Fico pensando no tempo em que eu e Max passamos na roda gigante mais cedo. Eu nunca contei coisas tão pessoais assim para ninguém, principalmente a alguém que conheço há tão pouco tempo.

Max agora está lá embaixo explicando qualquer coisa sobre um dispositivo a Jack e Drake. Ou pelo menos eu pensei que Drake também estava lá. Infelizmente, sei que estou errada quando a voz dele aparece na porta atrás de mim.

- Precisamos conversar.

Não digo nada. Só continuo encarando o vazio como se ele não estivesse ali.

- Não vai mesmo falar comigo? – Permaneço calada. – Então vai pelo menos me ouvir.

Drake se senta ao meu lado e eu o olho. Ele é bonito, mas de um jeito descuidado, como se na maior parte do tempo não tivesse a mínima ideia de como sua aparência está.

- Olha – ele começa seu discurso e eu me preparo -, sei que eu não deveria ter dito aquelas coisas. Nada daquilo. Foi da boca para fora, eu fiquei nervoso e descontei em você. Não devia ter feito isso.

- Não devia mesmo.

- Sinto muito, Jen. Não foi de propósito. Depois de tudo o que dissemos um para o outro, não pensei que ficaria tão magoada.

- Pensou errado – digo seca.

- Eu sei, eu sei, me desculpe – pede Drake com cara de cachorrinho que caiu do caminhão de mudança. Desvio o olhar. – Você não pode ficar brava comigo para sempre.

- Quer apostar?

- Não. Quero que você me desculpe e volte a falar comigo. Você é a melhor amiga que eu poderia ter.

- E a única – resmungo baixo.

- Não é verdade que você estraga tudo todas as vezes. Só a maioria delas – Drake tenta brincar. Eu não acho engraçado. Ele pega minha mão. – Vamos lá, não custa nada.

Viro a cabeça e faço uma expressão de compreensão, apertando um pouco mais a mão dele como se fosse desculpá-lo.

- Não – solto o pulso.

- O que é que você quer que eu faça mais? – ele pergunta exasperado. – Me ajoelhe, beije sua mão e implore seu perdão?

Olho para ele. Não é uma má ideia. E ele merece se humilhar um pouco mais depois do que me disse na festa. Então respondo friamente:

- É, faça isso.

- Tá, tudo bem.

Não achei mesmo que Drake faria. Mas ele se ajoelha na minha frente, pega minha mão novamente, a beija e começa a dizer formalmente:

- Jen, você me conhece melhor do que ninguém e sabe que normalmente eu digo coisas que não quero dizer. E também deveria saber que eu nunca diria isso sobre você de verdade. Você é como minha irmã mais nova, eu amo você. – Drake faz uma careta, escolhendo as palavras para continuar. – Foi meio que... um instinto protetor. Eu não quero que você se meta muito nessa coisa. Sinto muito se te magoei. Me desculpa agora?

Eu o encaro por uns momentos, absorvendo suas palavras. É claro que eu o desculpo. Mas ainda não vou dar o braço a torcer.

- Isso foi fofo – digo. – Mas a resposta ainda é não.

Drake revira os olhos como se já esperasse essa resposta. Ele volta a se sentar ao meu lado e deixa os braços caírem sobre os joelhos.

- Então vou ficar aqui até você disser que sim.

- Se eu disser que sim você me deixa em paz?

- Só se realmente for um sim.

- Vai ficar aí um bom tempo.

Penso em tudo que ele me disse e lembro de completar uma coisa.

- E só para constar, nós já dissemos mesmo coisas horríveis um para o outro, mas das outras vezes você não estava me trocando por outra pessoa.

Vejo pelo canto do olho Drake me encarando e sorrindo divertido.

- Alguém está com ciúmes? – diz fazendo voz de falsete. Cruzo os braços e faço um bico com a boca. – Vem cá.

Drake me puxa pelo pescoço, deita minha cabeça no colo dele e começa a bagunçar meu cabelo. Dou tapas em seu ombro e ele passa a fazer cócegas.

- Estou desculpado agora?

- Agora menos ainda – digo rindo. Ele me imobiliza e me abraça, e eu sorrio. – Idiota. Está desculpado, sim.

- Eu já sabia – diz Drake sorrindo e me soltando. – Eu nunca te trocaria, monstrinho.

- Bom saber, mesmo – eu rio.

- Agora, uma pergunta.

- Lá vem.

- Por que você não gosta da Natalie desde o primeiro dia?

- Porque... – vou parando para pensar, já que não tenho motivos. – Ela... é... loira.

Essa é a pior desculpa que eu poderia inventar. Que tipo de pessoa diria isso? Parabéns, Jennifer, você acaba de confirmar que é uma besta. Eu na verdade deveria receber um prêmio por isso.

- Loira? – repete Drake. – Você não gosta dela porque ela é loira? Isso foi o melhor em que conseguiu pensar? O Max é loiro e veja como vocês dois estão. Depois sou eu que estou trocando os outros, não é?

- É diferente.

- Não é.

- Tá, e o que você quer que eu faça? – pergunto.

- Dê uma chance a ela – responde Drake. – A conheça melhor, eu tenho certeza que vai mudar de ideia.

- Dar uma chance a ela, sério? Você só pode estar brincando.

- Eu não trato Max assim.

- É, mas vocês não estão... – começo a dizer que os dois não estão juntos, mas paro pela expressão em seu rosto. Arregalo os olhos e fico boquiaberta. – Não... espera. Vocês não estão juntos, estão?

Drake abre e fecha a boca e mesmo com a pouca luz eu posso saber que está corando. Minha reação teria sido escandalosa no mau sentido se eu conseguisse reagir. Ao invés disso eu apenas o encaro horrorizada e tento não deixar nada muito maldoso escapar. Vou cortar Natalie em pedaços da próxima vez que a vir.

Pode ser que talvez eu estivesse com ciúmes.

- Dá pra você fazer isso? – Drake pergunta. – Ser amiga dela, por mim?

Respiro fundo para o que vou dizer.

- Posso tentar.

Ele sorri aliviado.

- Obrigado.

- É, amanhã eu posso falar com ela – digo, me deitando de costas no chão. Drake me acompanha.

- Promete?

- Claro que sim.