Best Option

Capítulo 4: JOGOS INTERNOS - PARTE 1


CAPÍTULO 4: JOGOS INTERNOS – PARTE 1

PDV Sam

[ ALGUNS DIAS DEPOIS ]

Enfim, mais um dia de treino na quadra do Ridgeway. Admito que estava mais ansiosa para rever o Freddie do que, propriamente, jogar handebol com aqueles moleques.

Fui uma das primeiras a marcar presença na arquibancada. Minutos depois, Billy – aquele idiota com uma cicatriz na boca – e seus dois amigos chatos (Kaio e Sebastian) decidiram se acomodar perto de mim.

Eles até tentaram puxar assunto, mas não lhes dei papo e muito menos atenção. Os deixei falando sozinho quando avistei Freddie chegando na quadra com o treinador Wayne. Mais que imediatamente acenei diretamente para ele.

O moreno, apesar de bastante sério, fez um aceno rápido e discreto para mim. Sem grandes alardes, ele não queria chamar a atenção dos outros ao nosso redor.

Ele precisava fingir que nada aconteceu e respeitei isso, afinal o seu cargo de assistente era mais importante do que uma ‘aventura’. Freddie estaria em más lençóis caso alguém soubesse o que de fato havia rolado entre nós dois.

Vez ou outra eu relembrava do seu beijo e de como a nossa noite havia acabado naquela boate. Esse seria o nosso segredinho...

[ *** ]

O treinador Wayne nos reuniu na quadra para falar dos jogos internos que vinha se aproximando. Dessa vez, o Ridgeway iria entrar em uma disputa com outros colégios de Seattle. Aquela novidade havia me deixado bastante instigada, eu queria muito participar e ganhar uma medalha para a minha coleção.

Mas...

Já devia saber que aquilo não era para mim. O treinador Wayne deixou os outros garotos treinarem e me chamou num canto afastado para me dar a tão temida ‘má notícia’:

— Lamento, Sam, mas você não poderá treinar para os jogos internos. Poderá participar de outros treinos, mas esse, especificamente, não.

— Por que não? – cruzei os braços, fitando o Freddie (que vinha comandando o treino no lugar do treinador Wayne).

— Pelo simples fato de que os jogos serão ‘homens’ versus ‘homens’. Infelizmente esse evento não permite a entrada de times ‘mistos’... Ou seja, não há ‘mulheres’ nos times das outras escolas.

— Eu poderia muito bem participar do time feminino, né? – sugeri.

— É, seria uma boa se tivéssemos garotas interessadas em participar dos jogos internos. Mas, como deve saber, não conseguimos completar o número necessário para tal evento. – contou o treinador. – Temos mais garotas disputando entre si para fazer parte das líderes de torcida do que, propriamente, jogando.

Bufei, chateada. De que adiantava eu participar dos treinos se eu não iria participar de fato do time? Isso era muito errado.

— Argh, eu vou reclamar com o diretor Franklin!

— É um direito seu. Sinto muito, não há nada que eu possa fazer. – treinador se sentiu mal por mim. – É uma pena.

Fui até o diretor Franklin. Ele me informou o mesmo que o treinador Wayne. Entretanto, o diretor sugeriu que eu tentasse fazer uma ‘revolução’: convocar as líderes de torcida para integrar um time feminino.

Descartei essa possibilidade na mesma hora. Seria um total desastre! E, além do mais, nenhuma delas iriam aceitar a minha convocação. Especialmente Carly Shay. Aquela garota me odiava e sentiu prazer em me expulsar do clube das líderes de torcida.

Retornei à quadra com a intenção de trocar umas palavrinhas com o Freddie. Mesmo ele estando ocupado, motivando os rapazes do time de handebol a correr entorno da quadra, decidi ir até ele.

— O que você quer, Sam? – ele rangeu os dentes, sem deixar de supervisionar os garotos um segundo sequer.

— A essa altura você já deve estar sabendo que não vou poder participar dos jogos internos.

— É, o treinador Wayne me falou por alto... – Freddie disse rapidamente e me deixou de lado para gritar com um dos meninos: - CORRE, KAIO! VAMOS, TODOS VOCÊS, NÃO PAREM DE CORRER! QUEREM MOLEZA, É?!

Senti ‘sexy’ a forma como ele gritava com os outros. Ele era rígido quando queria ser. Conseguia ser até mais que o treinador Wayne.

— Não acha isso injusto?! – o segui, querendo que ele também se posicionasse a meu favor.

— Sim, muito injusto. – ele concordou. – Mas vai fazer o quê? Ficar aqui resmungando no meu pé-de-ouvido? Ora, cadê aquela loira que roubou a bola de um moleque mais alto que ela?

Abaixei a cabeça. O Benson nada mais fazia do que me incentivar a tomar uma providência. Ele estava certo, eu não iria ficar de mãos atada nessa. Eu iria tomar uma providência.

E meio que já tinha em mente o que iria fazer...

[ UMA SEMANA DEPOIS ]

Horas antes de comparecer ao treino, tive que dar uma passada no vestiário. Para pôr o meu plano em prática eu teria que dizer ‘adeus’ a Sam Puckett que todos conheciam. Na verdade, estava mesmo era dando adeus aos meus longos cachos loiros. Cortei-os sem dó nem piedade.

Assumi uma nova identidade com aquele corte meio bagunçadinho e bem masculino - que se limitava ao meu pescoço. Para incrementar o meu disfarce: usei 2 camisetas largas (uma por cima da outra) para esconder os meus seios e curvas, além de um shortinho desportivo.

E pronto, eu era uma outra pessoa. Me autodenominei de Timothy (Tim) Puckett, uma versão ‘masculina’ de mim mesma. Tinha visto isso em um filme uma vez e funcionou. Por que não iria funcionar comigo?

Claro, o meu disfarce chamou a atenção dos outros quando coloquei os pés naquela quadra. Billy e sua trupe (Kaio e Sebastian) vieram bater de frente comigo.

— E aí, novato. – chamou Sebastian.

— Oi. – forcei a voz. Minha entonação saiu tímida, porém, grossa.

— Você me parece familiar. – disse Kaio. - Qual o seu nome?

— Tim. – respondi. – É o meu primeiro dia hoje.

Ótimo, o meu disfarce – por mais absurdo possível – parecia convencer aqueles palermas. Todos, exceto, Billy. Este me pareceu bem desconfiado.

— Ah, é, “TIM”? – Billy riu, me checando da cabeça aos pés. – Muito estranho você aparecer logo hoje e a SAM sumir misteriosamente. Você, assim como ela, é ‘loiro’, de olhos claros...

— Eles podem ser parentes, Billy – contou Kaio, ingênuo.

— Parentes? – Billy gargalhou. Se aproximando ainda mais de mim. Fungou o nariz para mim. – Tem até o mesmo cheiro dela. É ela! É a Sam! Afinal, que idiota iria usar 2 CAMISETAS, uma por cima da outra, só para treinar?

O palerma quis vir tirar uma das minhas camisas e, assim, revelar o meu disfarce. Mais que depressa o empurrei e com MUITA força. Billy caiu de bunda no chão. A cena o fez parecer ridículo diante dos demais, que riram abertamente. Evidente que ele não tenha recebido bem o meu empurrão e quis, juntamente com Kaio e Sebastian, ‘me quebrar’ na porrada. 3X1?

— HEY! HEY! – Freddie e o treinador Wayne chegaram a tempo para impedir uma briga sangrenta entre nós. Enquanto o treinador afastava os 3 delinquentes; Freddie me puxava para a outra extremidade da quadra.

— Freddie, sou eu. – contei baixinho.

O moreno arregalou os olhos, surpreso.

— Sam? – ele riu.

— Prazer, me chame de Tim. – estendi a mão para que ele me cumprimentasse.

[ *** ]

Naquele dia, me saí muito bem no jogo. Incrível como a minha recepção, usando codinome de Tim, agradou os meus companheiros de treino. Eles até me consideravam como um ‘brother’. Repito, TODOS, exceto o Billy. Ele ainda tinha as suas dúvidas de que eu (Sam) e o ‘Tim’ éramos uma única pessoa.

— Chegou a hora da verdade! – Billy gargalhou com os seus comparsas. Todos nós, pós-treino, nos encaminhamos para o vestiário masculino. Seria o momento em que iriamos tirar as nossas roupas suadas e tomar uma ducha gelada. – Vamos ver se o ‘Tim’ é ‘Tim’ mesmo ou ‘TINA’.

Revirei os olhos, sem me deixar abalar pelas piadinhas machistas deles. Eu não estava preocupada quanto a isso. Até dei umas risadas internas.

— Vocês querem ver? – provoquei eles, ameaçando abaixar o shortinho na frente de todos.

— Não, credo. – disse Sebastian, tampando os olhos.

— Sim, mostra aí! – pediu Billy, cruzando os braços e rindo com o Kaio.

— Tudo bem. Depois não adianta reclamar... – dei de ombros, abaixando de uma vez só.

Prendi a risada, pois a cara deles era impagável diante do que eu havia mostrado a eles.

De fato, eu não tinha um ‘pênis’, mas fiz com que eles pensassem que eu tivesse. Apenas abaixei os shorts e me revelei de cuequinha box (com algo volumoso entre as pernas). O meu truque foi colocar uma salsicha dentro da cueca. Admito, foi bem desconfortável treinar com aquela ‘coisa’ em mim. Não sei como eles, homens, conseguiam.

— M-mas... – Billy apontou para ‘a coisa’, confuso. – Como isso é possível! Você é a Sam! – ele não se conformava.

— EU NÃO SOU A SAM! – murmurei, sendo a mais clara possível.

— Ih, Billy, é bem maior que o seu. – contou Kaio, arrancando risada dos outros. Ele não curtiu muito o “humor” do colega, tanto que o empurrou e seguiu pisando firme até um dos chuveiros disponíveis.

Esperei o vestiário esvaziar um pouco mais para tomar um banho digno e privado. Vesti umas roupas leves e saí. Àquela hora, com pouca movimentação entorno do colégio, não esperava encontrar mais ninguém. Mas lá estava ele. O Benson, aparentemente, me aguardando no estacionamento.

— Aceita uma carona? – me convidou, mostrando-me um dos seus melhores sorrisos.

Olhei em volta, desconfiada. Pelo visto ele não estava preocupado com o fato de alguém nos ver.

— C-claro. – contentei-me.

— Rápido! – me repassou um dos seus capacetes vago. Aceitei, ao mesmo instante em que já ia montando no capô de sua moto. Zarpamos em alta velocidade.

Precisei agarrá-lo em uma curva arriscada, entrelaçando os meus braços entorno de sua barriga. Ousei também repousar o meu queixo acima de um de seus ombros. Amava toda aquela adrenalina.

[***]

Era noite. Freddie prometeu me dar uma carona até em casa, mas, antes, me levou até o seu APÊ 4 estrelas. Ele morava em um ponto altíssimo, onde era possível ver toda a Seattle.

— Fique à vontade. Você já conhece o ambiente. – riu, como se fosse uma piada nossa. Assim que entrou, jogou a chave da moto em cima de um balcão, despiu-se de a camiseta social que usava e partiu para a cozinha. – Vou pegar algo para a gente beber, tá?

— Adoraria uma vodka agora. – contei, enquanto me jogava no sofá acinzentado. O seu cafofo era extremamente confortável, digo o mesmo para as suas mobílias. Dormiria facilmente em qualquer local daquele apartamento.

Freddie retornou da cozinha com dois copos, cujas bebidas eram transparentes. Presumi que fosse a minha vodka, mas era apenas água. Dei apenas um gole e descansei o copo em uma mesinha próximo do sofá. Ele fez o mesmo (bebeu e largou na mesinha) e já partiu para ‘o ataque’.

Me roubou um beijo de tirar o fôlego. Durante a pegação, toquei em seu peitoral estufado, sentindo alguns pelinhos naquela região. Já ele passava a mão sob as minhas pernas.

— Uh, você não faz ideia do quanto eu me controlei hoje. – ele confessou, enquanto eu distribuía beijinhos em todo o seu corpo.

— Jura? Eu também me senti desse jeito.

Ele me fez parar com os beijos, segurando meus braços.

— E-eu... – o moreno mordeu os próprios lábios por uns segundos. – Eu queria muito que a gente desse certo, entende? Mesmo com essas implicações no nosso caminho.

— Eu também! – assenti com a cabeça, retomando com os beijos. Minha intensidade não lhe deixava concluir as falas.

— Que ótimo. – riu, aliviado, durante as investidas que eu dava. Mesmo de olhos fechados, Freddie continuou instigado a falar: – Muito bom quando você encontra alguém... que compartilha dos mesmos desejos, dos mesmos objetivos... Por muito tempo busquei isso. Algo concreto. Alguém para amar... Essa pessoa acabou sendo você.

Aquilo me travou de um jeito inexplicável.

Dei-me conta de que ele referia mais a um tocante ‘sentimental’ (dele para mim) do que algo ‘carnal’ (meu para ele).

Como é que eu iria lidar com aquela declaração? Ninguém nunca havia se declarado para mim antes...

Freddie reabriu os olhos e reparou que algo em mim mudou. Não havia mais clima entre nós. O meu encanto por ele caiu por terra. Me senti vazia, amedrontada e incapaz de dar o ‘amor’ que ele tanto almejava.

— Eu preciso ir embora. – contei, mas sem sair do canto. Meu corpo continuava travado, vulnerável.

— Como assim? Ir embora? – ele não entendeu. Calei-me, evitando olhar em seus olhos. - Ah, agora eu entendi. – Freddie recuou, limpando a boca com o punho. – Nossa, como eu sou idiota. Como eu me deixei levar...

Levantou-se do sofá, frustrado e raivoso.

— Como eu pude me deixar levar por uma garota imatura que nem você?! Eu aqui me abrindo e você aí só afim de bater a sua ‘meta’, não era isso? Você me via como um desafio, algo inalcançável... Mas, a partir do momento que você consegue algo que tanto deseja, você, depois, o menospreza sem mais nem menos.

— Não, não é isso, Freddie. Eu... – suspirei. – Ai, eu não sei mais o que eu quero! Tá tudo muito... Confuso?

— Se você não sabe, eu muito menos. – ele pôs as mãos na cintura. – EU! Eu não acredito que coloquei tudo a perder por conta de uma imatura que não sabe o que quer. E eu achava que você era diferente!

Balançou a cabeça negativamente.

— Olha, se quer ir embora, vai! Só vai! – apontou para a saída.

Recolhi as minhas coisas e fui embora. Ainda meio desnorteada, peguei o primeiro ônibus que me apareceu.