Desde que Bruno chegara á Haja-Vista, ele sempre fora solitário. Sua mãe ficava tricotando, ouvindo rádio ou indo á cidade. O pai, ora ficava na sala onde Não Se Podia Entrar Sem Exceções conversando com pessoas com o uniforme alinhado e quepes, ora saía e ia para as "fazendas". E sua irmã Gretel, o "caso perdido", ora lia o jornal, ora ficava conversando com o General Kotler.


A única coisa que Bruno tinha á sua disposição para passar o tempo era um simples, mas bem feito, balanço de pneu.


Até que ele decidiu explorar.


E foi andando, correndo feliz pela floresta, saltando os rios e sentindo o cheiro de verde, que ele chegou á um lugar estranho. Após mais de uma hora de exploração, ele chegou á um lugar com uma parede de arame e no topo arame farpado. E do outro lado da cerca, ele viu um menino, com o cabelo raspado e usando um pijama. Um pijama listrado.


"Olá", "Eu estou explorando." Foi o que Bruno disse.


E a partir daí começou a grande amizade.


Sempre que a mãe saía de casa, as aulas com herr Liszt estavam encerradas e ele já havia almoçado, ele já tinha o que fazer: visitar Shmuel. De vez em quando, ele levava algo pro amigo comer. O amigo que outrora apresentara uma expressão vazia e triste, mas que mudou quando conheceu Bruno.


"Nunca conhecei alguém chamado Shmuel antes", disse Bruno."Shmuel." Ele ficou pensativo. "Shmuel", repetiu. "Gosto de como soa o seu nome quando eu o digo. Parece o som do vento soprando."


"Bruno", disse Shmuel, acenando com a cabeça alegremente. "É, acho que gosto do seu nome também. Parece alguém esfregando os braços para se aquecer."


Mas a amizade deles já passou por turbulências. Como na vez que Shmuel foi até a casa de Bruno para limpar as taças de vidro. O tenente Kotler ficou muito bravo quando Shmuel comeu um pouco de comida. Bruno acabou mentindo, por medo.


Mas a amizade superou isso. Shmuel perdoou Bruno.


Mas o golpe mais duro foi a notícia do pai: teriam que voltar para Berlim.


"Não acho meu pai" disse Shmuel.


"Também tenho uma má notícia. Tenho que voltar para Berlim".


Mas isso não os abateu. Bruno planejou sua última aventura com Shmuel. Bruno entraria no campo e ajudaria a procurar o pai de Shmuel.


"Não sou parecido com você."


"Eu posso pegar um pijama listrado" "Tem muitos aqui. E você raspou o cabelo.Está parecido comigo"


"Maravilha", disse Bruno, levando pelo entusiasmo do momento. "Então esse é o nosso plano."


"Vamos nos encontrar amanhã no mesmo horário", disse Shmuel.


"Não vá se atrasar desta vez", disse Bruno, levantando-se e batendo o pó de si. "E não se esqueça do pijama listrado."


E assim foi. No dia seguinte, se encontraram. Nem a chuva os separou. Bruno trocou de roupa. Se sujou por causa da lama, é claro, mas estava parecido com Shmuel.


Bruno passou por debaixo da cerca. E começaram a procurar o pai de Shmuel. Essa era a grande aventura deles. Nem mesmo a chuva, nem a marcha, nem os soldados empurrando, nem mesmo as diferenças poderam separá-los.


Chegaram numa sala onde a chuva não caía."Sinto muito por não termos encontrado seu pai", disse Bruno.


"Tudo bem", disse Shmuel


Bruno tentou se lembrar de sua vida em Berlim. De seus amigos... qual era mesmo os nomes deles?


"Pensando bem", ele disse, olhando para Shmuel, "não importa se eu lembro ou não. Eles não são mais meus melhores amigos mesmo." Ele olhou para baixo e fez algo bastante incomum para a sua personalidade: tomou a pequena mão de Shmuel e apertou-a com força entre as suas.


"Você é o meu melhor amigo, Shmuel", disse ele. "Meu melhor amigo para a vida toda."


E isso era verdade. Eles são amigos pra vida toa, e quem sabe para além dela. Isso me faz recordar um verso de matrimônio, mas que se aplica bem aqui.



Prometo ser fiel a ti


pois eles sempre poderiam contar um com o outro.


Na súde e na doença


pois quando Shmuel aparentava fome, Bruno o deu de comer.


Na pobreza e na riqueza


pois suas diferenças sociais não o separaram


Na alegria e na tristeza


pois quando Bruno se sentia sozinho, Shmuel o consolava


Durante todos os dias de minha vida.



E então o cômodo ficou escuro e de alguma maneira, apesar do caos que se seguiu, Bruno percebeu que ainda estava segurando a mão de Shmuel entre as suas e nada no mundo o teria convencido a soltá-la.


Até que a morte os separe.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.