Besame Mucho

Lembranças e descobertas


Depois do expediente Paulina foi caminhando até o ponto de ônibus como sempre fazia na hora de ir embora, sempre lembrando da carta e das palavras de Pedro e o abraço não saia de sua cabeça, a ideia de que ele era seu pai não parava de assombrar a jovem.

Ela abriu sua bolsa em busca da carta de sua mãe, todos os dias ela lia, era uma forma de estar com sua mãe novamente, Paulina revirou a bolsa, umas três vezes antes de constatar que a carta não estava dentro da mesma.

Paulina: Onde será que está a carta de minha mãe? Será que eu deixei em casa? Eu me lembro de ter colocado na bolsa, será que eu a perdi? Não pode ser, não posso ter perdido a carta de minha mãe.

Pedro estava se preparando para sair , quando viu um papel dobrado caído no chão próximo a mesa de Paulina, pegou o papel e foi caminhando em direção a lixeira para jogar fora.

Paulina chegou em seu apartamento alugado, pois só para casa de sua mãe aos fins de semana. Sentou-se no sofá e ligou a televisão, estava passando o noticiário, no qual falava do julgamento da viúva Lorena Moralez, acusada de matar o marido, e o jovem advogado Carlos Daniel Bracho falava que sua cliente era inocente, Paulina disse a si mesma:

Paulina: Eu conheço esse advogado de algum lugar, estranho, não me lembro de onde, mas sei que o conheço.

Paulina estava tão cansada que adormeceu com a televisão ligada.

Leda e Carlos Daniel estavam se despedindo.

Leda: Quando posso te ver de novo, querido?

Carlos Daniel: As coisas estão indo longe demais, acho melhor nos afastarmos.

Leda: Do que você tem medo? De se apaixonar?

Carlos Daniel: Não me apaixono.

Leda: Como assim?

Carlos Daniel: Foi o que você entendeu, não me apaixono e também não tenho compromisso com ninguém e você minha cara está confundindo as coisas, por isso acho melhor colocarmos um ponto final.

Leda: Mas você não pode fazer isso comigo.

Carlos Daniel: Olha você é bonita, é boa de cama, mas é só isso.

Leda: Carlos Daniel, isso não fica assim.

Leda foi embora fuzilando Carlos Daniel com o olhar enquanto Carlos Daniel olhava indiferente para ela.

Leda: Isso não fica assim Carlos Daniel, você ainda vai ser meu.

Leda chegou em casa como sempre sua mãe estava na academia, seu pai trancado na biblioteca, amargurada e chorosa, trancou-se em seu quarto e ficou chorando até cair no sono.

Pedro estava lendo um livro, mas não conseguia prestar atenção, estava distante, tirou o papel embrulhado de dentro do bolso do paletó, no momento em que ia jogar fora o papel desistiu e guardou no bolso, abriu e começou a ler.

Querida Paulina

Minha linda menina, quando você ler esta carta provavelmente eu não estarei mais com você, a doença corrói minha alma impura a cada dia, mas seu lindo sorriso me basta, é um incentivo para lutar pela vida ao invés de entregar-me para a morte.

Aqui contarei coisas que jamais teria coragem de contar pessoalmente, mas sei que você tem o direito de saber. Minha filha você não está sozinha no mundo, mesmo quando estiver longe estarei olhando por você. E sobre seu pai, você sempre me perguntou, mas eu nunca tive coragem de falar, se eu nunca falei era porque ele me magoou muito.

Eu o conheci quando era empregada na casa dos pais dele, logo que nos conhecemos começamos a namorar, fizemos planos de nos casarmos e sermos felizes, os pais dele nunca aprovaram o nosso relacionamento, mas ele estava disposto a largar tudo para ficarmos juntos, porém depois que eu fiquei sabendo que estava grávida, eu descobri que ele estava noivo e quem me disse foi a própria noiva dele, senti como se parte de mim tivesse morrido nesse dia, eu não conseguia acreditar, mas foi comprovado a veracidade do que a mulher dizia, pois ela também estava esperando um filho dele. Peço se possível que não guarde rancor de seu pai, apesar de tudo ele é um homem bom, seu nome é Pedro Fernandez.

E também tem algo que eu nunca te contei, quando você nasceu, eu tive duas filhas, você e sua irmã Paola, mas infelizmente ela não resistiu e faleceu no hospital.

Espero que você possa me perdoar depois de muitas mentiras, mas não me arrependo de nada, sempre te amei, e sempre dei o melhor de mim por você.

Com muito amor Paula.

Pedro leu a carta mais de uma vez e não conseguia acreditar no que estava escrito, não podia ser verdade, então começou a lembrar-se do passado:

Pedro era um jovem muito responsável, seus pais tinham orgulho da dedicação e senso de justiça do filho.

Uma velha empregada chamada Lenilda, estava pedindo as contas, seu filho estava doente e precisava cuidar dele, mas antes de sair ela indicara uma jovem muito bonita, atenciosa e competente chamada Paula.

Paula começou a trabalhar na casa de Ricardo e Vera Fernandez, estava feliz, seu sonho era estudar e se tornar uma enfermeira, pois adorava ajudar as pessoas.

Pedro estava na faculdade durante a semana, só aos fins de semana ia par casa, no sábado assim que adentrou a casa de seus pais deu de cara com Paula e no mesmo instante ele sentiu-se feito um bobo e começou arrumar todas as desculpas possíveis só para ficar perto dela, depois de dois meses enfim eles começaram a namorar escondido. Paula dizia que Pedro tinha que contar a verdade para seus pais, mas Pedro tinha medo e sempre dizia que no momento certo todos saberiam.

Depois de uns quatro meses Debora ex- namorada de Pedro chegou de viagem e como era muito amiga de Vera Fernandez ia quase todos os dias com a desculpa de conversar com Vera mas na verdade era para ficar perto de Pedro.

Um certo dia Pedro entrou em seu quarto e Debora estava deitada em sua cama seminua, Pedro a expulsou, mas ela teimosa ficou e disse que estava carente e solitária disse que sairia dali, mas que primeiro os dois conversassem e bebessem uma taça de vinho juntos, querendo se ver livre dela Pedro aceitou, no dia seguinte quando Paula entrou para limpar o quarto pegou os dois juntos e foi embora, um mês depois Debora disse que estava grávida e os dois ficaram noivos e se casaram.

E desde o dia do flagrante Pedro nunca mais tinha visto Paula.

Sempre que se lembrava Pedro chorava de amargura e tristeza e essa carta tinha vindo como uma flecha de esperança, se Paulina fosse mesmo sua filha, poderia fazer a coisa certa dessa vez, sem pensar duas vezes Pedro pegou as chaves do carro saiu de casa, foi até a empresa para ver o banco de dados dos funcionários, pegou o endereço de Paulina e foi tentar fazer a coisa certa depois de muitos anos de lamurias e tristezas.

Paulina estava dormindo tranquilamente nos sofá com a televisão ligada quando a campainha começou a tocar, ela acorda assustada olha para o relógio vê que são quase 23:00 horas e relutante vai atende-la.