O dia está lindo, os pássaros cantam e eu acordei linda!

Ok, mentira. Não estou na história da Branca de Neve. Mas julgando pelos raios de sol que entram pelas brechas das minhas cortinas, o dia está realmente lindo.

Hoje é meu último dia antes do inicio das aulas e meu principal plano é fazer uma maratona de Doctor Who, jogada nessa cama king size maravilhosa e me empanturrando de comida. Mas agora, em primeiro momento, preciso da minha dose de cafeína matinal.

Tomei um banho e dessa vez não escolhi as cegas a minha roupa, mas também não escolhi algo digno de Blair Waldorf e do Upper East Side. Evitei molhar o meu cabelo para dessa vez não sair parecendo um cachorro depois de um banho, e o amarrei em um rabo de cavalo meio desfeito. É, eu estava quase apresentável.

Carla bateu na porta do quarto pouco tempo depois de eu ter terminado de me arrumar.

– Olá Chloe, não achei que já estivesse acordada. Você vai sair? Sua mãe me disse para não fazer café porque você não gosta de tomar em casa, mas quer algo para comer? Posso ir fazer agora. - ela disse com um ar meio atrapalhado. Ela parece sempre estar assim.

Então minha mãe havia dito isso? Não acredito que percebeu.

– Não, obrigada. Um café está ótimo e já estou indo. Só me falta coragem. - eu disse

– Você vai voltar para o almoço? - perguntou

– Claro que sim! Doctor Who me espera para um dia inteirinho com ele. Sempre espero que ele confunda a ruiva, sabe? - eu disse rindo

Eu imaginava que ela não sabia sobre o que eu estava falando e me perguntei se ela iria me achar maluca.

– Você só tem chance se tiver passado por mais de quatro psiquiatras. - ela respondeu com uma gargalhada.

– Passei por 6.- Respondi séria

– Sério? - Carla fechou a cara e perguntou.

– Não, mas se tivesse passado, realmente teria chance. - respondi sorrindo

Ela sorriu.

– Embora eu ache Doctor Who algo divino, talvez você não devesse passar o último dia de férias jogada na cama assistindo. Já pensou em ir conhecer melhor o Upper East Side? Fazer compras é uma ótima maneira de conhecer, sério.

Pensei um pouco. Seria divertido ir fazer compras caso eu tivesse uma companhia...

É claro, como eu sou burra!

– Tudo bem, mas você vai fazer compras comigo. - respondi

Por um segundo, seu sorriso vacilou, mas então ela respondeu.

– Claro, eu lhe acompanho. Vai ser legal.

Então percebi porque seu sorriso vacilou.

– Não, você não vai me acompanhar. Você vai literalmente fazer comprar comigo. - eu disse

– Ah não, eu preciso guardar dinheiro até os 100 anos para comprar algo que esteja em uma vitrine da Madison Avenue. - ela disse meio rindo

– Bobinha, eu estou convidando, eu pago. - falei

– Claro que não! Não posso aceitar, seu pai já fez muito em me contratar, não posso aceitar... - ela disse meio nervosa

– Carla, deixa de coisa. Eu poderia comprar a Barney’s e meu pai nem sentiria no bolso. Ele te paga por seu trabalho, considere isso um pagamento por sua ótima companhia e por você gostar de Doctor Who. Por favooor! - falei, usando a minha maior cara de pidona.

– Ok, tudo bem. Mas não extrapole. - ela disse, ainda meio nervosa, mas quase sorrindo

Então lá fomos nós.

**

– Então Carla, você tem namorado, noivo, esposo...? - perguntei

– Ah não, estou dando um tempo em namorar. - Respondeu

– Por que?

– Minha última experiência foi traumática. - ela respondeu fechando a cara, entendi a dica de não puxar novamente esse assunto. Mas segundos depois seu sorriso voltou - Mas e você? Aposto que deixou um namorado em Londres.

Eu corei, lembrei imediatamente de Charlie. Falei com ele umas duas vezes depois que cheguei em Nova York, e todas as vezes ele falou sobre como estava sentindo a minha falta. Espero que isso signifique algo.

– Bom...tem esse cara que eu deixei em Londres que eu meio que queria que se tornasse meu namorado. - respondi - Mas eu estou aqui e ele lá, acontece.

– Ah sim. - ela disse, parecia triste por mim

Eu também estava.

– Enfim, antes dele houve esse cara, Alexander. Namorar com ele era como ter "I knew you were trouble" como trilha sonora da minha vida. - sorri. - Ele era um tanto rebelde, e isso foi um dos motivos do meu pai ter me tirado da França e ter me mandando para a Suíça. Eu não era apaixonada por ele nem nada, mas ele era um amor.

Carla riu de mim.

– Ei, eu posso ir ali olhar uma blusa que gostei? - ela perguntou sorridente- Ou não, eu super posso ficar aqui! - completou com o seu velho jeito nervoso

Eu ri

– Vai lá, se joga! - respondi, abanando a mão para que ela fosse rápido

Fiquei com um pouco de inveja. Fazia um bom tempo que procurava algo, mas até agora nada gritou para mim "OLHA AQUI, VOU FICAR LINDO EM VOCÊ!".

Fui andando até chegar perto da parte masculina da loja.

– Por que não? - disse

Fui atrás de algo para Charlie.

**

– Olha, você pode me dizer onde há algo novo? Vim aqui há 2 dias e essas são as mesmas coisas que vi antes. - alguém disse atrás de mim com voz arrogante

Segundos depois, alguém me pegou pelo braço.

– Você está surda? - a pessoa arrogante perguntou

Demorei alguns segundos para focar minha visão na forma personificada da grosseria que ainda estava pegando no meu braço. Então finalmente o vi...

Que azar!

Arrumei minha postura e tirei da minha cara alguns fios de cabelo

– Eu não trabalho aqui, agora se puder soltar meu braço... - Eu disse, não esperando alguma ação sua, arranquei meu braço da sua mão.

– Eu conheço você. Se não atrapalha aqui, então essa loja rebaixou o nível dos clientes. Tem algo aqui em promoção? - O cara falou dando um meio sorriso canalha

– Desculpe-me, mas eu não conheço você. - falei - E se já conheci, que bom que esqueci. Geralmente não me lembro de pessoas arrogantes.

Virei as costas e sai andando.

Na verdade, eu conhecia ele. Era um dos garotos do Central Park, o que fez piada com o fato da minha blusa estar transparente, e consequentemente meio que mostrando meu sutiã. Quantas vezes mais terei que encontrar ele?

Quando perguntei isso a mim mesma, nunca poderia imaginar a irônia do destino...

**

Achei a Carla com várias roupas na mão.

– Nossa, você se animou, hein? - brinquei

– Não são para mim. - ela disse, com as bochechas vermelhas - São para você, achei sua cara!

Olhei as roupas e decidi experimentar, ela também foi experimentar as delas, que não foram muitas. Mas pelo menos comprou , então fiquei feliz.

– Oh meu Deus, essas definitivamente gritaram para mim! Obrigada por tê-las achado, já estava desistindo. - falei após experimentar a última roupa, um vestido de alcinha.

Ela sorriu orgulhosa.

Saímos da loja lutando com as várias sacolas, e depois de uma manhã quase perdida fazendo compras, fomos até ao Sfoglia para almoçar.

– Deuses, eu dispenso você de seus trabalhos, Carla. Vamos vir almoçar aqui todos os dias! - falei - Ou não, porque comida italiana se resume em massa e massa engorda.

– Com certeza, você não quer não entrar nas suas roupas. - ela respondeu

Após um almoço maravilhoso, fomos ao Ladurée(macarons são vida!) e passamos no MET, depois de conhecer um pouco do museu, ficamos nas escadarias conversando(like Gossip Girl).

Ao chegar em casa, a cama foi realmente uma visão m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a! Eu estava morta!

– Admita que minha ideia foi maravilhosa. - falou Carla

– Ok, foi. Mas eu ainda irei assistir Doctor Who até dormir, se quiser me acompanhar. - Disse

Ela ficou indecisa por um tempo, mas sorriu concordando.

Não tenho Erin ou Charlie aqui, mas agora pareço ter Carla... Pode não ser a mesma coisa, mas isso é um sinal de que as coisas podem ir bem. É algo que pode me ajudar a vencer a prova de fogo que começa amanhã.