Forged by war our story be told.

No shackles can hold us whether moonstone or gold

(Three Hearts as One – Malukah)

A luz das primeiras horas da manhã ilumina Nova Berk em um chamado para o despertar que perde o propósito diante da energia que domina a ilha, se concentrando no movimentado porto, onde navios e dragões chegam sob o atento olhar do chefe, as verdes írises observando a aproximação das embarcações e dos familiares dragões, a mente reconhecendo as faces banhadas pela luz do sol. Uma breve e baixa risada escapa por entre os lábios quando Soluço vê Sigrid quase atropelar o pai ao correr para encontrar a mãe, nem ao menos esperando Tesoura de Vento terminar de pousar. O chefe sorri para Perna de Peixe, que não espera a filha soltar a mãe, envolvendo Heather em um forte abraço e beijando a esposa com um carinho que pesa com saudade. Dagur é o próximo a aterrissar, descendo do próprio dragão e, ignorando a pequena reunião da irmã, seguindo diretamente para Soluço. Os chefes apertam os braços em um respeitoso cumprimento, mas as írises verdes logo se desviam para o rapaz que segue atrás de Dagur.

— Siegfried. – Soluço diz com um pouco de surpresa colorindo a voz.

Há quase um ano o filho de Mala e Dagur não visita Nova Berk, a passagem do tempo tendo transformado a face do rapaz naquela de um jovem homem, quase pronto para suceder o pai ou a mãe, Soluço não sabe se Siegfried decidirá permanecer na ilha dos Bersekers ou se irá para a ilha dos Defensores do Asa. O olhar do cavaleiro de dragão passa do filho para o pai, notando como o jovem está parecido com Dagur. Siegfried herdou o cabelo vermelho do pai, o mantendo em um corte curto, mas que ainda permite que alguns fios caiam sobre os olhos verdes. Há uma firmeza na postura do rapaz que parece ecoar a força da presença de Dagur, mas o claro olhar mostra uma serenidade que com certeza foi herdada de Mala, ainda que brilhe com a mesma travessura que não abandonou os olhos do líder dos Bersekers. Sorrindo, Siegfried se aproxima, cumprimentando Soluço com um firme aperto no braço.

— Onde está Lara? – o rapaz questiona, fazendo com que breves risadas deixem os lábios de Soluço e Dagur.

— Ela e Skjall estão com os outros na Academia terminando os preparativos para o Festival do Degelo. – uma voz responde, acompanhada de passos firmes sobre o chão do porto – Você deveria ir encontrá-los, Siegfried.

Os três voltam a atenção para a presença que se aproxima, os lábios do chefe de Nova Berk se esticando em um suave sorriso ao encontrar a esposa. Dagur e o filho cumprimentam Astrid e não demora para que Heather se aproxime com a filha e o marido, envolvendo a velha amiga em um apertado abraço. O sereno ar de reunião envolve o porto da ilha, soprando calma e paz nos corações dos vikings ansiosos para o início do festival. Sorrindo, Siegfried cutuca a prima com o cotovelo, um brilho maroto nascendo nas írises esverdeadas.

— Que tal uma corrida até a Academia? – a pergunta é feita em um tom de voz que aproxima o rapaz ainda mais do pai – Acha que consegue me acompanhar, priminha?

Por um momento, uma chama de ultraje nasce nas írises verdes de Sigrid, mas logo se desfaz em um desafiador sorriso que, aos olhos dos presentes, deixa a jovem parecida com a mãe, apesar da semelhança física com o pai. Com uma das mãos apoiadas no quadril e o sorriso ainda presente nos lábios, a filha de Heather responde ao desafio com desembaraço:

— Com certeza, primo. – o tom de voz de Sigrid faz com que Siegfried arqueie uma sobrancelha – Eu vou vencer essa corrida e, mais do que isso, poderei ver Lara desprezando mais uma vez as suas propostas.

Sigrid...

O nome, dito em um tom baixo e ameaçador, é como um aviso e o estopim para a corrida que se inicia. Rindo, Sigrid sai na frente, desviando de vikings e dragões e seguindo para o interior da ilha. Siegfried não demora a seguir, pulando caixas e barris em uma tentativa de ganhar vantagem e tomar a dianteira. A corrida é observada com divertimento pelos pais e pelos líderes de Nova Berk. Rindo, Soluço envolve a cintura da esposa com um braço, a puxando contra o próprio corpo. Astrid apoia a cabeço no ombro do marido, o olhar se voltando para Heather, que permanece nos braços de Perna-de-Peixe.

— Vocês acham que algum dia ele vai desistir? – Heather questiona com jocosidade na voz.

— Ele é um Berseker e bersekers nunca desistem. – Dagur responde e oferece um sorriso para Soluço – O que me diz, irmão? Não seria bom ver nossas ilhas unidas através do casamento? – a pergunta arranca uma risada do chefe questionado.

Isso, irmão, eu deixo para Lara decidir. – o cavaleiro de dragão responde – Mas eu não teria muita esperança.

A resposta faz com todos riam, seguindo o mesmo caminho tomado por Sigrid e Siegfried. Há muito as tentativas do herdeiro de Dagur de conquistar a primogênita de Soluço têm sido fonte de divertimento, uma vez que são sempre recepcionadas com frio desprezo por parte de Lara. Ainda assim, é com um sorriso galanteador que Siegfried chega a Arena da Academia de Dragões, apenas alguns segundos após a prima. Ignorando o triunfante sorriso nos lábios de Sigrid, o filho de Mala logo tem o olhar concentrado na cavaleira de dragão que permanece no centro da arena, conversando com o irmão.

— Você realmente é masoquista, cara. – Magnus comenta observando a aproximação do berseker.

— Lara, meu amor! – Siegfried chama mais alto do que o necessário, o sorriso nos lábios aumentando – Como meu coração bate com a chance de vê-la novamente!

A resposta que o jovem berseker recebe é o tenso silêncio e o raivoso olhar de Lara. Ao lado da irmã, Skjall revira os olhos, já acostumado com as exageradas demonstrações de interesse do amigo, mas um pequeno sorriso permanece nos lábios do filho do chefe de Nova Berk com a perspectiva do que pode acontecer. Cruzando os braços sobre o peito, a primogênita de Soluço apenas observa a suave aproximação de Siegfried sem o menor interesse em ter que aguentar as investidas do rapaz durante todo o festival.

— Por que você tinha que vir? – a pergunta é feita em um controlado sussurro que arranca discretas risadas dos outros presentes.

— Vai mesmo dizer que não sentiu saudade de mim? – apesar do tom de falsa tristeza, o sorriso não abandona os lábios do filho de Dagur.

— Nem um pouco. – é a resposta dada de modo frio e imediato.

Um pesado silêncio cai sobre a arena, se misturando ao subjacente divertimento que é sentido com a situação. O sorriso de Siegfried não fraqueja nem um por um momento, assim como a postura defensiva de Lara, que permanece com o verde olhar desafiando o berseker a se aproximar ainda mais. Sigrid troca um rápido olhar e um sorriso com Skjall, ambos já acostumados a testemunhar esse tipo de discussão. Um pouco afastado com Chama, Magnus permanece observando com o silencioso desejo de ver uma briga se iniciar. Do lado oposto, sob a sombra de um Ziperarrepiante, dois jovens vikings trocam comentários:

— Quanto tempo você acha que vai levar até a Lara soltar a Nevasca em cima do Siegfried? – Ragnar, o filho de Cabeçaquente, questiona inclinando um pouco o pescoço na direção da prima.

— Eu espero que não muito. – Dagnar, herdeira de Cabeçadura, responde sorrindo para o primo – Churrasco de berseker seria um ótimo jeito de começar o festival.

Encorajado pelo silêncio, Siegfried se aproxima ainda mais, o sorriso nos lábios aumentando ao perceber como o brilho nas írises verdes de Lara se torna mais defensivo e desconfiado. Quando a cavaleira de dragão descruza os braços, o berseker interpreta como um sinal positivo, falhando em perceber como a mão direita da jovem viking é colocada nas costas, os dedos se fechando no cabo da lâmina escondida. No próximo passo, Siegfried é obrigado a fazer uma rápida manobra para desviar da adaga jogada pelos dedos ágeis da filha de Astrid. A lâmina faz uma trajetória veloz, terminando por se fincar na parede da entrada da arena, a poucos centímetros da face de um assustado Eret.

— Está tudo bem por aqui? – o conselheiro de Soluço questiona olhando da adaga enterrada na parede para os jovens vikings reunidos.

— Nada fora do normal, Eret. – Skjall responde, abraçando a irmã e a afastando de Siegfried, que pisca para Lara – Do que você precisa?

Por um momento, o cavaleiro de dragão apenas observa os jovens vikings, a mente analisando o nível de normalidade da situação. Embates entre Lara e Siegfried com certeza se tornaram algo comum e esperado durante os anos, mas algo parece jogar uma nova luz na imagem observada. Demora um pouco, mas Eret consegue reconhecer essa sensação como a familiaridade que passou a sentir na presença dos jovens vikings desde que eram crianças. Mesmo após ter sido aceito por Soluço em Berk, o ex-caçador não pensou que, um dia, se tornaria um professor para os filhos do chefe e dos outros cavaleiros de dragão. O escuro olhar passa por cada um dos jovens cavaleiros: de Magnus, que herdou o porte e o escuro cabelo de Melequento, para Ragnar e Dagnar, que não negam serem filhos de Cabeçaquente e Cabeçadura, parecendo serem mais irmãos do que primos, seguindo para Sigrid, que tem o cabelo loiro de Perna-de-Peixe, mas o verde olhar e a beleza de Heather, e Siegfried, que cresce cada vez mais parecido com Dagur, parando, por fim, em Lara e Skjall. Lara herdou o cabelo castanho avermelhado e os olhos verdes de Soluço, ao passo que Skjall exibe o loiro cabelo e os olhos azuis de Astrid, mas ambos se mostram cada vez mais preparados para herdarem o trono de Nova Berk e se tornarem grandes líderes como os pais.

— Eret? – o suave chamado de Sigrid desperta o cavaleiro de dragão e o traz de volta para a realidade.

— Desculpe. – as írises negras se voltam para os jovens vikings próximos ao azulado Ziperarrepiante – Ragnar, seu pai chegou. – o focado olhar retorna para os jovens no centro da arena – Siegfried, sua mãe também, é claro. – o escuro olhar é dirigido para o jovem parado ao lado de Chama – Magnus, sua mãe também. Logo, começaremos o festival. Estejam preparados.

— Eu farei questão de dedicar minha primeira vitória para minha futura esposa. – o jovem berseker comenta enquanto caminha de costas para a entrada da arena, o sorriso cheio de charme que oferece sendo respondido com um frio olhar.

— Nem mesmo se o Ragnarok estivesse sobre nós. – Lara diz conseguindo apenas o riso do herdeiro de Dagur.

Enquanto o início do Festival do Degelo é aguardado com ansiedade e animação, dois dragões aterrissam no ponto mais afastado da ilha. Um amarronzado Machadrago pousa de modo suave, abaixando o corpo para que um cavaleiro possa descer. Ao lado, um Pesadelo Monstruoso permite que o próprio cavaleiro desmonte. Sob a forte luz do sol, os dois dragões exibem pesadas correntes envolvendo as resistentes escamas, as pontas se unindo em fortes coleiras a repousarem nas mãos dos cavaleiros. Com as faces parcialmente escondidas por escuras máscaras, os recém-chegados observam o distante contorno da vila, os animados sons dos dragões sendo carregados pelo vento.

— Eu ainda não tenho muita certeza de que isso irá funcionar. – o cavaleiro do Machadrago comenta, os dedos afastando alguns fios loiros de perto dos olhos castanhos.

— Concentre-se, Nial. – o rapaz que segura a corrente do Pesadelo Monstruoso diz em um forte tom de voz que impede qualquer tipo de protesto – Se quisermos conquistar a confiança de Einar e Kari, não podemos falhar nessa missão. É nossa chance de provar nosso valor como Caçadores de Dragões.

— Como quiser, Adam. – Nial responde escondendo um profundo suspiro em meio as palavras.

Puxando as correntes que prendem os dragões, os caçadores seguem em direção a floresta que forma a fronteira natural de Nova Berk, as mentes focadas no desejo dos novos líderes dos Caçadores de Dragões e na mensagem que desejam entregar para aqueles que insistem em defender a paz e a coexistência.

Na vila, a arena da Academia de Dragões se encontra lotada, os expectadores gritando com má contida alegria e ansiedade pelo início dos jogos. Contudo, um rugido de Banguela é o suficiente para conquistar o silêncio da plateia e a atenção dos jovens vikings que permanecem no centro da arena, lado a lado com seus respectivos dragões. Tocando a cabeça do amigo em um mudo sinal de agradecimento, Soluço sorri para todos os presentes, o chefe tendo há muito se acostumado em preencher o lugar de destaque. Por um momento, o verde olhar observa os amigos e aliados que viajaram para presenciar o festival, sendo rapidamente voltado para os cavaleiros que aguardam o início das festividades. Respirando fundo, o líder se dirige para a inquieta audiência:

— Antes de começarmos os jogos do Festival do Degelo, eu gostaria de agradecer a presença de nossos aliados...

— Anda logo, Soluço. – Melequento interrompe com um sorriso nos lábios – Ninguém está interessado nos seus discursos. Todos só querem ver seus filhos serem derrotados pelo meu filho.

— É importante aproveitarmos as festividades para lembrar do valor das alianças. – o cavaleiro de dragão continua, ignorando o comentário – Então, eu aproveito esse momento para agradecer aos Bersekers, aos Defensores do Asa e as Moças com Asas por viajarem apenas para celebrar conosco a paz com os dragões. – as verdes írises são dirigidas brevemente para Minden, que permanece ao lado de um embaraçado Melequento – Sendo assim, que o Festival do Degelo comece!

A afirmação reacende a animação da plateia que, dessa vez, é acompanhada pelos dragões. No espaço reservado para os chefes, Banguela permanece junto de Luna e Destino, que guarda os filhotes de Chicote Cortante trazidos pelas Moças debaixo das largas asas. Tempestade também se encontra presente, ladeada por Dente de Anzol e Batatão. Já Tesoura de Vento e Sleuther se encontram na arena junto com Quebra Miolos. Ante o sinal de Soluço, Eret se aproxima dos jovens cavaleiros com um Terror Terrível no ombro direito. O cavaleiro para a poucos passos dos mais novos, oferecendo um sorriso encorajador que é imediatamente retribuído.

— A primeira prova será a Corrida de Dragões. – com o anúncio de Eret, os jovens vikings montam nos respectivos dragões, Siegfried se reunindo com Tornado, o Ataque Triplo nascido do dragão de Dagur – Como juiz das provas, irei acompanhá-los durante o trajeto, o primeiro cavaleiro a retornar para a arena será o vencedor! Preparados? – o ex-caçador espera que todos assintam em concordância e monta em Quebra Miolos, o pequeno Terror Terrível passando para o braço do cavaleiro – Vão!

Assim que o pequeno dragão parte do braço do cavaleiro, os jovens vikings levantam voo, a agilidade de cada dragão sendo mostrada na ventania que as decolagens provocam na arena. Eret é o último a voar, mas Quebra Miolos logo se aproxima dos outros dragões, permitindo que o cavaleiro possa observar a intensa corrida. Lara e Skjall disputam a dianteira, sendo seguidos de perto por Sigrid e Siegfried. Eret sorri ao ver Dagnar e Ragnar ultrapassarem Magnus em um rápido rasante que quase arranca o jovem cavaleiro da sela. Em meio aos insultos trocados, o ex-caçador se aproxima da linha de frente, chegando no momento certo para ver Lara quebrar a manobra de Siegfried para ganhar a liderança.

— Não nessa vida, berseker! – a primogênita de Soluço grita para o filho de Dagur, tendo as risadas de Skjall e Sigrid como eco.

A corrida segue para a floresta que cerca a ilha, se aproximando do rochedo de Frey, ponto em que o retorno deverá começar a ser feito. Entretanto, Eret percebe uma estranha movimentação nas sombras das árvores, o sussurro do vento parecendo carregar um metálico tilintar que desperta velhas lembranças. O cavaleiro de dragão dirige o escuro olhar para Lara e Siegfried, que ainda disputam a liderança, alcançando o ponto onde as sombras parecem se movimentar com maior intensidade. Com um movimento das pernas, o ex-caçador indica para Quebra Miolos aumentar a velocidade, mas ainda assim Eret não consegue se aproximar o suficiente antes que um Machadrago surja de entre as árvores, quebrando o caminho de Lara e Siegfried e quase derrubando os cavaleiros. Nevasca e Tornado consegue se equilibrar com um pouco de dificuldade, recuando até estarem pareados com Relâmpago e Ventania. Um pouco atrás, Magnus, Ragnar e Dagnar conseguem parar Chama e Kraken e Selkie a tempo de evitarem uma colisão.

— Afastem-se! – Eret grita antes que um Pesadelo Monstruoso surja do lado oposto da floresta, atrás do grupo de vikings.

Os dragões desconhecidos rugem com ferocidade, o Machadrago se posicionando e cuspindo uma bola de fogo na linha de frente ao mesmo tempo em que o Pesadelo Monstruoso ataca a retaguarda. Com rapidez, os cavaleiros de dragão sobem acima da linha de ataque, evitando a maior parte das chamas. Os dragões seguem os cavaleiros e Eret então percebe as correntes que envolvem as feras desconhecidas, a marca de dragões caçados e treinados para servir, mesmo que nenhum cavaleiro os esteja acompanhando. Com um sinal do ex-caçador, Quebra Miolos ataca o Pesadelo Monstruoso, que recua o suficiente para que o Machadrago lance uma cortina de chamas na direção dos cavaleiros.

— Recuem!

Os jovens vikings obedecem a ordem de Eret, mas falham em perceber a movimentação do Pesadelo Monstruoso que, com um rápido e poderoso voo, ataca Quebra Miolos pela lateral, as garras fincando no Chifre Estrondoso e forçando o dragão e o cavaleiro em direção à floresta abaixo. Quando os dragões tentam seguir o caminho tomado pelo viking abatido, os jovens cavaleiros aproveitam para atacar por cima. Lara, Skjall e Siegfried atacam o Machadrago enquanto Sigrid, Magnus, Ragnar e Dagnar cuidam do Pesadelo Monstruoso. Com a luta dividida, os dragões desconhecidos perdem um pouco da vantagem, mantendo distância dos cavaleiros e atacando de modo rápido e seguro. Para sorte dos jovens vikings, a estratégia se mostra insuficiente para protegê-los dos ataques em conjunto dos outros dragões.

Quando os cavaleiros se encontram na posição de forçarem os dragões desconhecidos de volta para a floresta, o alto som de um berrante corta o ar e faz as árvores tremerem. Imediatamente, os dragões desconhecidos recuam, voando rapidamente para o extremo sul da floresta. Ainda confusos com a súbita batalha, os jovens vikings voam em direção ao ponto onde Eret foi abatido, procurando com urgência pelo professor e o encontrando caído com Quebra Miolos em meio a troncos derrubados e abandonados.

— Eret! – Sigrid é a primeira a aterrissar, logo desmontando e correndo em direção ao cavaleiro mais velho.

A filha de Heather e Perna de Peixe é seguida de perto por Magnus e Dagnar, que ajudam o ex-caçador a sentar sobre a grama, o movimento fazendo com que Eret logo envolva as costelas com um dos braços em uma tentativa de conter a dor que se alastra sob a pele. Siegfried e Ragnar, por sua vez, cuidam de Quebra Miolos, o poderoso dragão respirando com um pouco de dificuldade devido as marcas deixadas pelas garras do Pesadelo Monstruoso, que se mostram mesmo em meio as resistentes escamas do Chifre Estrondoso. Lara e Skjall permanecem um pouco afastados, os olhares observando o ponto onde se encontram e percebendo o modo deliberado como os troncos foram deixados sobre a grama, posicionados de modo a dificultar ainda mais uma aterrisagem pós-queda.

— Vocês... Estão bem? – Eret questiona com um pouco de dificuldade.

— Não deveria ser você a responder essa pergunta? – Ragnar questiona com um pouco de provocação na voz enquanto ajuda Siegfried a dar os primeiros socorros aos ferimentos do Quebra Miolos.

— Estou bem. – o cavaleiro responde com uma fraca risada, a atenção se voltando para o dragão sob cuidado dos jovens vikings. Com cuidado, o ex-caçador estica a mão, os dedos repousando acima das narinas do Chifre Estrondoso.

— Ele vai ficar bem. – Siegfried diz, percebendo a preocupação que nasce nos olhos escuros do mais velho – Mas precisamos levar vocês dois de volta para a vila.

Assentindo e se apoiando em Magnus e Sigrid, Eret se coloca de pé, o olhar caindo sobre os jovens cavaleiros que permanecem em silêncio a poucos passos de distância. Por um momento, os pensamentos do ex-caçador se voltam para os jovens cavaleiros de dragão que o rodeiam. Todos nasceram em uma época de paz, quando os dragões ainda não haviam retornado e, quando esse retorno aconteceu, a paz permaneceu, as sombras de guerra e caçadas tendo sido abandonadas no passado. Entretanto, essa parte do passado parece querer renascer, a presença de correntes nos dragões desconhecidos criando uma inquietação no peito do cavaleiro que é alimentada pelo conhecimento de que a última coisa que Soluço e os outros desejam é que os filhos experimentem a guerra. E, nos olhos claros de Lara e Skjall, Eret encontra a mesma suspeita.

— Isso foi uma armadilha, não foi? – Skjall questiona em um tom baixo e levemente hesitante. Um suspiro escapa por entre os lábios do jovem viking quando vê o mais velho apenas assentir em resposta.

— Sigrid, você e Ventania podem levar Eret? – Lara pergunta se voltando para a amiga, que assente com rapidez. – Siegfried, você e Tornado levam o Quebra Miolos. – o herdeiro de Dagur assente, o costumeiro ar de brincadeira abandonando a face jovem – Vamos voltar.

Enquanto isso, quando o eco de um berrante é ouvido, um clima de inquietação nasce na Academia de Dragões. De pé, Soluço mantém o olhar fixo no horizonte, na direção em que os jovens cavaleiros devem tomar para retornar e finalizar a corrida. Contudo, o chefe não consegue evitar que seja afetado pela ansiedade que se infiltra no ar. Um toque suave no ombro faz com que a atenção do cavaleiro seja desviada para o Fúria da Noite que o observa com compreensão no verde olhar. Forçando um fraco sorriso, Soluço deixa que a mão repouse entre as orelhas do Banguela em um toque que ao mesmo tempo agradece e retribui o conforto oferecido.

— O que foi isso? – Heather questiona se aproximando.

— Isso me pareceu um aviso. – Dagur comenta – Ou um comando.

— Esse não é o estilo do Eret. – Melequento diz com seriedade.

— Eles já deviam ter voltado. – Perna de Peixe começa, a preocupação sentida ecoando na voz – Vocês não acham que aconteceu alguma coisa, certo?

— Eu tenho certeza de que eles estão bem. – Soluço responde, se voltando para os amigos, um tentativo e fraco sorriso nascendo nos lábios – Eles estão com Eret e, se algo tivesse acontecido, teríamos visto o pedido de ajuda do Quebra Miolos. – apesar da firmeza na voz, o cavaleiro de dragão sente o coração batendo rápido e forte no peito, inquieto e inseguro.

Astrid se aproxima do marido, o atento olhar percebendo que Soluço não se sente tão seguro quanto a fala tentou transparecer. Segurando na mão do amado, a bela viking oferece um aperto que conforta e divide a esperança de que os jovens cavaleiros estão bem. Sob o carinho recebido, o sorriso nos lábios do chefe se fortalece, mas antes que Soluço possa dizer mais alguma coisa, o agudo rugido dos Terrores Terríveis captura a atenção de todos. Os pequenos dragões se encontram na entrada da Arena, o som sendo o aviso de que os competidores já podem ser vistos no horizonte. As írises verdes do líder se voltam imediatamente para a direção dos pequenos dragões, mas ao invés do alívio esperado, a preocupação apenas aumenta no peito no cavaleiro. No horizonte, os espectadores podem distinguir a aproximação dos competidores, mas também que um dos dragões carrega outro, provavelmente ferido.

— Aquele é o...?

— Quebra Miolos. – Soluço completa antes da esposa.

Sob um tenso silêncio, todos aguardam a chegada e aterrisagem dos jovens vikings. Assim que os dragões tocam o solo da Academia, o chefe e os outros líderes e cavaleiros de dragão usam o auxílio dos próprios companheiros para se juntarem aos filhos. Soluço é o primeiro a alcançar os recém-chegados, desmontando de Banguela enquanto Sigrid ajuda Eret a descer das costas de Ventania e a se aproximar de Quebra Miolos, que permanece ao lado de Siegfried. Com o coração ainda batendo de modo quase desesperado no peito, o chefe logo procura os filhos com o olhar, as verdes írises fazendo uma rápida varredura em Lara e Skjall em busca de ferimentos.

— Estamos bem. – Lara diz percebendo o olhar do pai e a rápida aproximação da mãe.

— O que aconteceu? – Heather questiona enquanto Perna de Perna e Minden se aproximam de Quebra Miolos e começam a analisar os ferimentos no dragão.

— Soluço... – Eret começa e dá um passo em direção ao chefe, mas logo para, o braço envolvendo as costelas com força. Siegfried e Ragnar ajudam o cavaleiro a se manter de pé – Tinha... Uma armadilha...

— Armadilha? – o chefe questiona com surpresa – Que tipo de armadilha?

— Nós fomos atacados por um Machadrago e um Pesadelo Monstruoso. – Skjall começa a explicar, conquistando a atenção dos mais velhos.

— Eles apareceram do nada, como se tivessem esperado o momento certo para nos atacarem. – Ragnar diz.

— Eles usavam correntes e, com certeza, foram bem treinados. – Dagnar completa – Nós mal conseguimos recuar.

— Correntes? – Astrid questiona, se recordando de que tipos de dragões já foram vistos usando correntes.

— Eles eram... Dragões de caçadores... – Eret explica e Mala e Throk se aproximam, o tirando dos cuidados dos filhos, e o escuro olhar do ex-caçador procura os olhos do chefe – Caçadores de dragões, Soluço.

— Caçadores de dragões?! – o incrédulo questionamento de Heather ecoa a surpresa sentida por todos os mais velhos.

— Eu tentei mantê-los afastados, mas eles me derrubaram. – há um claro pedido de desculpas no tom de voz de Eret.

Soluço assente, mas permanece em silêncio, a mente assimilando tudo que foi dito. Depois de tantos anos de paz, a ameaça dos caçadores de dragões pode realmente ter renascido? O chefe olha para os amigos, encontrando a mesma desconfiança e o mesmo medo sentidos. Todos os presentes ainda se recordam das batalhas travadas em proteção aos dragões, contra a fase enlouquecida de Dagur, contra Viggo e Ryker, Johann e Krogan e, principalmente, Drago e Grimmel. O verde olhar para em Astrid, observando as írises azuis abandonarem a surpresa para assumirem o brilho da decisão.

— Nós temos que investigar essa armadilha.

— Eu concordo. – o chefe diz, assentindo para a esposa antes de voltar o olhar para os jovens vikings – Onde vocês foram atacados?

— Perto do rochedo de Frey. – Magnus responde – No ponto de retorno da corrida.

— Mala, Throk, levem Eret para minha mãe. – quando os defensores do asa assentem, as írises verdes desviam para o dragão caído – Perna de Peixe, você e a Minden cuidam do Quebra Miolos. Os outros virão comigo. – todos assentem e o cavaleiro de dragão para um momento antes de voltar a montar em Banguela, o olhar sendo dirigido para os mais novos – Vocês ficam aqui.

— O quê?! – é a reação imediata dos jovens cavaleiros.

— Pai! – Lara e Skjall protestam em uníssono.

— Você ouviram o Chefe. – Astrid diz ao montar em Tempestade, um sorriso nos lábios finos.

Sons de frustração eclodem entre os jovens vikings, principalmente nos filhos do chefe, que reconhecem no modo de falar da mãe a negação de qualquer protesto. Ao ouvirem a alta insatisfação dos mais novos, Mala e Throk escondem os sorrisos ao se concentrarem em auxiliarem Eret a caminhar. Até mesmo o ex-caçador sorri ao ouvir os protestos dos alunos. Perna de Peixe e Minden trocam um discreto sorriso enquanto cuidam de Quebra Miolos, o som do decolar dos dragões não conseguindo abafar as exclamações dos jovens cavaleiros de dragão.

O voo até o rochedo de Frey é feito sob um tenso silêncio, os cavaleiros trocando olhares rápidos que tentam transmitir as dúvidas e temores sentidos. À frente do grupo, Soluço mantém as mãos fechadas na sela com mais força do que o necessário, a mente procurando por uma resposta para o que aconteceu. Como os caçadores de dragões podem ter retornado? Será que a mera presença dos dragões é o suficiente para que surjam pessoas com o desejo de caçá-los? Percebendo a tensão do cavaleiro, Banguela murmura de modo suave. Ao ouvir o amigo, Soluço suspira, deixando escapar o ar que não havia percebido que mantinha preso. Sorrindo, o chefe de Nova Berk toca a cabeça do dragão em um suave carinho.

— Soluço? – Astrid chama, aproximando Tempestade de Banguela – O que você acha que está acontecendo?

Por um momento, o cavaleiro apenas olha para a esposa, a mente ainda acelerada e o coração com a certeza de que Astrid pode ler cada pensamento que escapa pela expressão do marido.

— Eu não sei. – o chefe responde – Mas eu não gosto. E não gosto que, quem quer que tenha armado essa armadilha, tenha colocado nossos filhos como alvos.

Com um pouco de manobra, Astrid tenta se aproximar ainda mais. Percebendo a intenção da cavaleira, Tempestade e Banguela se movem de modo que a asa de um fique sobre a do outro. Fazendo um leve carinho no pescoço da Nader Mortal em agradecimento, Astrid estica o braço na direção do marido. Sorrindo, Soluço aceita a mão oferecida, entrelaçando os dedos aos da esposa. A bela viking aumenta a força do carinho, oferecendo uma certeza que ecoa quando fala:

— Eles não vão se machucar. Nós não vamos deixar.

O cavaleiro assente, concordando e aumentando a força com que segura a mão da esposa. Contudo, antes que Soluço possa responder, um grito de alerta é ouvido na voz de Dagur:

— Cuidado!

No momento em que Soluço e Astrid soltam as mãos, um Pesadelo Voador corta o ar, saindo da floresta abaixo. Ao mesmo tempo, um Machadrago surge atrás do grupo, as largas asas batendo com força e determinação. E, montado em cada dragão, há um cavaleiro segurando as correntes que envolvem os dragões. Assumindo uma postura séria e defensiva, Soluço ganha um pouco mais de atitude, sendo seguido pelos outros, e encara o cavaleiro no Pesadelo Monstruoso.

— Quem é você? – o chefe questiona em um de voz controlado.

— Foram vocês que atacaram nossos filhos? – Melequento questiona em sequência, a raiva colorindo o tom de voz enquanto Dente de Anzol encara de modo desafiador o Pesadelo Monstruoso desconhecido.

— Atacamos? – o cavaleiro repete, a voz forte e imponente sendo ouvida claramente mesmo com a máscara a cobrir parte do rosto – Acredite, se quiséssemos atacar seus filhos, faríamos mais do que empurrar um cavaleiro em direção ao chão. – a ameaça é clara na voz no cavaleiro e o escuro olhar se foca no chefe de Nova Berk – Eu sou Adam. Aquele é Nial. E nós somos apenas mensageiros, Soluço Haddock.

— Mensageiros de quem? – Astrid questiona.

— Daqueles que veem a ordem natural do mundo, que entendem que os dragões existem para servirem. – para ilustrar o próprio ponto, Adam puxa a corrente nas mãos, forçando o Pesadelo Monstruoso a inclinar o pescoço para trás para não se machucar.

— Em outras palavras... Caçadores de Dragões.— Dagur diz, a raiva mal controlado escapando na voz.

— Exatamente, berseker.

— E é essa a sua mensagem? – Soluço questiona – Que os dragões existem para serem servos?

— Sim e não. – Adam responde, a arrogância até então demonstrada apenas aumentando com cada palavra dita – Nossa mensagem para você é que seu tempo está acabando, a paz e a coexistência deturpam a natureza do mundo e nós vamos colocar o mundo em ordem novamente.

— Não tentem intervir. – Nial diz, ainda na retaguarda do grupo, o tom de voz mais calmo e neutro do que o do companheiro – Se nossos caminhos se cruzarem, a compaixão não será uma opção. Nem mesmo para seus filhos. – com essas palavras e um último sorriso de Adam, os caçadores se afastam, voando em direção ao oeste.

— Vamos! Nós podemos pegá-los! – Cabeçaquente diz e, junto com a irmã, começa a guiar Bafo e Arroto na direção tomada pelos caçadores.

— Não. – Soluço diz de modo firme, parando os cavaleiros – Deixem que partam.

— Mas eles nos ameaçaram! – Melequento protesta – Ameaçaram nosso filhos!

— Irmão... – Dagur começa, ignorando o Jorgenson e se aproximando de Soluço – Você sabe o que isso significa, não sabe?

— Eu sei. – o chefe responde em um suspiro, o verde olhar se voltando para os amigos – Guerra.