− Vocês querem dizer que podem ser os meus pais?

− Sim! – Victória falou com lágrimas nos olhos e o queixo tremeu.

Maria também encheu seus olhos de lágrimas e com as mãos tremulas de desespero rasgou o envelope pegando o papel de dentro, seus olhos passaram por aquelas linhas e ela virou a outra pagina, não entendia nada até que chegou às letras garrafais deixando que seus olhos transbordassem aquele resultado...

− O que diz? – a voz saiu em suplica.

− Vocês... Vocês são os meus pais... – a voz saiu com dor e ela largou o que tinha na mão e saiu correndo dali para o desespero de Victória.

Victória pegou os papeis do chão e os leu e no mesmo momento saiu atrás de Maria, não iria esperar um segundo se quer para falar com sua menina e mesmo Heriberto a chamando para que retornasse, ela não deu ouvido e foi atrás de sua filha. Maria estava no jardim e segurava na arvore com uma mão enquanto a outra mão estava em seu peito, sentia dor e as lágrimas banhavam seu rosto com abundancia, não era possível que estivesse todo aquele tempo debaixo do teto de seus pais e não sabia.

Victória se aproximou dela e tocou em seu ombro e pode sentir sua carne estremecer em meio a seus dedos e sem medo de ser repelida a abraçou por trás a segurando e Maria fraquejou deixando que seu choro fosse ainda mais forte assim como o de Victória que nem se quer conseguia falar. Ela apenas sentia o corpo de sua filha em seus braços, sua menina a que chorou por tanto tempo estava ali embaixo de suas asas e ela tinha cuidado como se fosse dela de verdade e isso deveria contar a seu favor.

− Meu amor, minha menina... – falou com a voz carregada.

Maria tentou se soltar mais Victória não permitiu e as duas foram de joelhos para o chão, mas a mantinha ali em seus braços para que sentisse e ouvisse tudo que ainda tinha a dizer para ela.

− Eu nunca te jogaria para a morte, você é carne da minha carne e fruto do amor maior que já senti nessa vida! – respirou fundo. – Você é a minha continuação e eu te amei desde que soube que estava em meu ventre e sofri igual quando te perdi...

− Me solta, por favor! – pediu em suplica e mesmo que Victória não o quisesse fazer. A soltou.

− Você me vê todos os dias com as crianças, com sua filha e acha mesmo que eu teria coragem de fazer uma barbaridade dessas com você? – questionou com as mãos frente ao corpo. – Vocês são tudo de mais sagrado que eu tenho nessa vida, Enrico não veio de mim, mas é meu de qualquer forma porque ele me deu a grata ilusão de voltar a ser mãe quando eu já achava que não podia gerar mais um filho depois que te perdi, mas era somente a maldade das pessoas e meu pequeno Heitor veio ao mundo saindo daqui! – tocou o ventre. – Eu sou mãe, você é mãe e sabe muito bem do que estou falando!

Maria a olhava falar e as lágrimas continuavam a banhar seu rosto sem que ela conseguisse dizer algo de fato, sentia tantos sentimentos juntos que não sabia como conduzir aquele momento e as duas ficaram em completo silencio enquanto eram assistidas por Heriberto e João da porta da cozinha. Heriberto estava em lágrimas também mais sabia que precisava deixar aquele momento acontecer entre as duas para depois se fazer presente mesmo que sua vontade fosse ir até elas e as agarrar até que todas as feridas fossem de uma vez cicatrizadas.

− Você é a minha mãe... – falou depois de um longo silencio e de olhos nos olhos.

− Eu sou, meu amor, eu sou a sua mãe! – estendeu a mão para ela. – Eu te esperei tanto tempo... – esperou que ela retribuísse.

− Minha mãe... – Victória confirmou mais uma vez com a cabeça.

Maria viu a lágrima cristalizar o rosto de Victória e sem mais conseguir manter aquela distancia a abraçou forte fazendo com que o choro fosse ainda mais alto da parte dela que agarrou sua menina deixando que toda dor fosse embora naquele momento. Olhou para o céu e agradeceu a generosidade de Deus em devolver sua menina, tinha sido no tempo dele mais ela estava ali em seus braços e nada mais poderia entristecer aquela família que agora estava completa.

Heriberto não aguentou mais aquela distancia de seus dois amores e se aproximou fazendo com que as duas ficassem de pé e eles a abraçou deixando também que toda aquela magoa e dor do passado fosse finalmente dizimada de seu interior e ele agradeceu aos céus por estar novamente inteiro e completo para estar vivendo aquele momento. João também deixou que suas lágrimas rolassem, não sabia de onde tinha vindo, mas também não procuraria porque ali na sua frente tinha tudo que ele precisava e o fazia feliz, se aproximou e os beijou também compartilhando daquele momento que para ele era o mais perfeito: O bem sempre vence sim e eles tinham triunfado!

− Meus pais...

− Sim meu amor! – Heriberto falou todo contente e se afastou delas para olhar sua menina. – Eu já te amava antes e agora muito mais! – ela sorriu e o abraçou beijando muito.

Maria poderia reagir de outro modo mais sabia muito bem tudo que Victória tinha sofrido o que eles tinham sofrido e não era justo que ela também os fizesse sofrer e por isso estava ali apenas cicatrizando suas feridas para ser completamente feliz ao lado deles. Era o momento de ser feliz e eles apenas riram em meio às lágrimas ali naquele abraço que era o mundo deles.

(...)

DEPOIS...

Victória corria segurando seu vestido enquanto subia aquela escada em caracol e podia ouvir Heriberto gritar com ela para que tomasse cuidado ou iria cair, mas ela não queria nem saber e apenas ofegava com um sorriso no rosto até atingir o andar de cima, largou seu vestido e respirou profundamente para descansar sentia suas pernas tremerem já que estava de salto e quando menos esperou fui agarrada por trás e um berro ecoou ao longe com ela gargalhando. Heriberto também ofegava e ria do jeito matreira dela e logo a colocou no chão fazendo com que ela se virasse para ele.

Victória riu mais ainda e o agarrou pelo pescoço o beijando na boca com todo amor que tinha em seu peito, há meses viviam a plenitude da felicidade e eles somente queriam curtir a família e o amor que tinham deixado passar por tanto tempo e que agora tinham a chance de viver sem rancores, sem duvidas, sem cobranças de um passado que tinha ficado somente lá no passado. Estavam felizes e sabiam que nada mais poderia quebrar aquele amor que tinha sido reconstruído sobre a dor mais que tinha se levantado com ainda mais força para superar qualquer obstáculos.

− Com um beijo na varanda é que tudo começou! – falou ofegante e ele riu.

− E com um beijo na varanda vamos terminar? – a segurava pela cintura. – Finalmente eres minha esposa! – falou próximo a seus lábios.

− E você não sabe o desejo que tenho de arrancar sua roupa e provar de você todinho! – falou com os olhos brilhando e ele gargalhou.

− Temos convidados que nos esperam sua esfomeada! – beijou a boca dela que ficou na ponta dos pés.

− Eles que esperem porque com essa vista, eu só preciso do meu marido dentro de mim!

Ela o puxou para dentro do quarto e a vista era testemunha daquele amor que fariam antes da festa...