− Idiota!!! – suspirou fingindo sofrer. – Já vai tarde!!!

Olhou para Heriberto e sua família e se aproximou deles, beijou Joyce e João falando algumas palavras e parou frente a Heriberto, ela o beijou no rosto e o abraçou aproveitando da situação e sussurrou em seu ouvido.

− Eu sinto muito por isso e quero que saiba que pode contar sempre comigo!!! – o soltou e ele apenas assentiu e ela olhou para Victória com um meio sorriso. – É muita cara de pau a sua vir no enterro dela. – queria arrumar uma cena, mas Victória não iria permitir.

− A cara de pau é a sua, mas você terá o que merece!!! – foi somente o que disse e olhou para o lado e autorizou o policial a prendê-la. – Chegou há sua hora Mayra!!! – e o policial a segurou pelo braço a fazendo arregalar os olhos...

Mayra ofegou sem entender o que se passava ali, ou melhor, findo não saber o que acontecia, mas já amaldiçoando Leonela por ter aberto a maldita boca. O policial falou os direitos dela e ela se debateu dizendo que não tinha feito nada e João pediu que eles a levassem logo já que se tratava de um momento intimo deles e eles a levaram de imediato. Victória abraçou Heriberto e ele beijou seus cabelos sabendo que o que viria dali em diante poderia destruir os dois na alma.

Eles tinham uma filha perdida ou morta, mas que foi "ressuscitada" por todas aquelas recordações e Victória grávida era um risco a se correr com o que iriam ouvir, não sabia como ela iria reagir já que a dor maior foi dela todos aqueles anos que tinham se passado e assim o velório seguiu e quando a noite caiu o caixão de Leonela já descia sua sepultura. João sofreu assim como todos que estavam ali e eles logo foram para casa, Victória mesmo cansada deu atenção a seu pequeno depois de um demorado banho, ele deitou junto a ela na cama e eles ficaram grudados até pegarem no sono assim como os demais que foram vencidos pelo cansaço. Eram dias sombrios que eles precisavam vencer juntos.

(...)

NO OUTRO DIA...

Victória adentrou as portas da delegacia ao meio dia em ponto, segurava a mão de Heriberto e mesmo que quisesse se manter calma não conseguia. Era a hora da verdade e pela primeira vez não sabia se queria ouvi-la, Heriberto a parou e a fez olhar em seus olhos.

− Você sabe que está grávida e que precisa de cuidado e calma mesmo sabendo que será difícil. – falou com medo.

− Eu prometo me manter o mais calma possível mesmo já não conseguindo!!! – beijou a mão dele que estava em seu rosto.

− Eu estarei aqui com você a todo o momento!! – beijou sua testa e o policial veio.

− Ela quer falar somente com Victória!! – disse serio.

− Minha mulher não vai ficar sozinha com aquela maluca!! – bufou.

− Meu amor, tudo bem!!! – ela segurou a mão dele. – Se é assim que ela vai contar a verdade, eu vou!!! – falou com certeza.

− Então me acompanhe por aqui!! – o policial falou indicando o caminho.

Victória olhou o seu amor e o beijou nos olhos declarando mais uma vez o quanto o amava e seguiu o policial que a levou até uma sala fria e um tanto escura como nos filmes de terror. Mayra entrou logo depois dela e sorriu ao vê-la ali sentada e sozinha como a queria, ela era uma psicopata e causar dor nas pessoas era como combustível para que ela seguisse vivendo.

− Que bom que veio!!! – falou com o maior dos cinismos.

− Eu não vim para uma visita!!! – foi direta. – Fale logo o que tem a me dizer e vamos acabar logo com isso!!!

Mayra sorriu e sentou na frente dela.

− Quer saber da sua filhinha? – era maldade pura no olhar e Victória sentiu todo seu corpo tremer. – Está mesmo preparada para ouvir a verdade?

− Pare de enrolar!!! – trincou os dentes. – Eu quero saber o que fez com minha filha sua maldita desgraçada!!!

Ela riu.

− Sua filha está morta!!! – gritou. – Eu mesma terminei o serviço com minhas próprias mãos quando Leonela não conseguiu terminar o que tínhamos planejado.

Dor, ódio, desespero, revolta, tudo era sentido naquele momento por Victória que encheu seus olhos de lágrimas, ela tinha enterrado sua pequena e chorado todos aqueles anos por um pequeno corpinho que não era de sua menina, chorou amargamente e culpou Heriberto por aquele maldito destino sem saber que ele também era vitima das duas psicopatas que o queriam a todo custo. Mayra não sentia piedade ou remorso pelo que tinha feito, pelo contrario, em seu olhar podia se ver o quanto ela desfrutava de sua dor.

− Ela era tão pequena e lindinha como você, Victória, eu a ninei em meus braços... – fez gestos com os braços. – Ela dormiu tranquilamente sem saber o que aconteceria com ela e quando ela entrou num sono profundo, eu a joguei dentro do rio!!

Falava com uma calma que Victória não aguentou e levantou de sua cadeira e foi a ela a pegando pelos cabelos, Mayra sorriu mesmo sentindo dor por seus cabelos serem puxados e suas costas bateram na parede. Victória não aguentou mais controlar as lágrimas e chorou na frente dela como uma mãe que acaba de perder seu filho e era assim mesmo que ela se sentia já que nunca pode chorar pela sua verdadeira menina, Victória podia sentir em sua carne o que ela tanto negou a Heriberto todos aqueles anos.

Mayra tinha lhe negado o direito de chorar por sua filha, tinha armado tudo perfeitamente e agora ela conseguia o seu triunfo, Mayra podia ver nos olhos de Victória que a tinha destruído como mãe e ela não se moveu, apenas deixou que ela fizesse o que tinha que fazer com ela. Victória podia sentir todo seu corpo tremer de dor e ela sabia que não podia se exaltar mais que o normal ou seu bebê podia sofrer as consequências e ela se afastou.

− Você é um monstro e seu castigo vai ser me ver feliz ao lado de Heriberto!! – secou as lágrimas. – Você pode ter me tirado minha filha, mas nunca conseguiu e nem vai conseguir nada de Heriberto porque ele odeia você e vai odiar pelo resto da vida!!!

− Pra mim o que importa é o que vão sentir quando encontrarem o corpo dela no fundo daquele rio!!! – ria do desespero dela. – A ponte que liga as duas cidades, lá no fundo está sua filha ou o que restou dela!!!

Victória sentia vontade de acabar com a raça dela, mas se controlou por seu filho que estava na barriga, gritou para que o policial viesse e antes que ela fosse ouviu.

− Acidentes acontecem com bebês...

− Na cadeia também!!! – rebateu e se foi.

Mayra soltou uma gargalhada e Victória sentiu seu estomago revirar. Quando saiu pela porta e seus olhos foram de encontro aos de Heriberto, ela correu para os braços dele e chorou sentido e ele se deixou chorar junto a ela.

− Precisamos que disponibilize uma equipe para encontrar um corpo!!! – ela falou quando conseguiu.

− O que? – Heriberto tinha as mãos suadas.

− Ela disse que matou nossa filha... Ela jogou nossa filha da ponte!! – deixou que mais lágrimas rolassem e ele a abraçou forte.

O policial que estava no caso no mesmo momento que ouviu pediu que seus homens se preparassem e eles foram para o local onde Mayra tinha indicado e eles mergulharam a procura dos ossos. Victória estava ali de pé segurando a mão de seu amor, rezando para que tudo não passasse de uma mentira, mas quando o primeiro mergulhador submergiu com um pequeno crânio, ela desabou novamente sem esperanças algumas e sem forças para se manter de pé ela desmaiou...