Behind Blue Eyes

Somos feitos de carne, mas temos que viver como se fossemos feitos de ferro.

— Elesis Sieghart.

E me ocorreu que todos sofriam continuamente, mesmo aqueles que fingiam não sofrer.

— Eacnard Sieghart.

De repente eu não sentia mais nada, não conseguia chorar e, mais uma vez, não conseguia dormir.

— Lupus Wild.

Quando a noticia ecoou por seus ouvidos, foi como se o mundo houvesse acabado ali mesmo. Cada fragmento de seu já despedaçado coração se reduzia a pó, a nada, deixando somente a dor se apossar mais uma vez do vazio que se instalava, a esperança era consumida e se desvanecia em meio a escuridão do quarto.

Primeiro seu irmão estava em coma a quase sete meses, agora sua prima Edel cometia suicídio sem explicação, ou talvez não fosse algo realmente inexplicável, afinal, ela estava com eles anos atrás, ela era a segunda – talvez terceira – mais velha do grupo, era uma das mais responsáveis entre todos e uma das que carregou e suportou mais firmemente o que acontecera. Ninguém havia notado nenhuma mudança na prateada no passar daqueles anos, ela seguiu sua vida, formou-se, arrumou um emprego e agora vivia num apartamento luxuoso no centro da cidade, parecia feliz.

Talvez tudo não fosse nada menos do que apenas aparência mesmo.

E com o pensamento o loiro virou-se sob as cobertas, as olheiras marcavam sua face cansada, mas mesmo isso o fazia adormecer, pensamentos o atormentavam, a dor o agonizava, a saudade e a culpa eram mais presentes do que nunca antes; mas ele era forte, ou ao menos, tinha de ser para si e para quando seu irmão despertasse - se despertasse -, e mesmo tentando convencer-se disso o adolescente não pode conter as lágrimas que escorreram por suas bochechas enquanto as orbes carmins fitavam o teto em meio a escuridão do quarto.

Edel foi forte por tantos e tantos anos, mas tudo agora estava desmoronando. Um mundo estava se desfazendo em pedaços cortantes, como fragmentos de um espelho, e um outro mundo

surgia por trás deste reflexo do que um dia fora a perfeição, e tal mundo trazia consigo tudo aquilo que por anos ele - eles - acreditava estar esquecido, soterrado.

Nunca havia lhe ocorrido que seu silêncio acobertava um mundo tão frágil e quebradiço.