Beatlemania

Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band


Yeri

Todos nós temos um lado admirador de algum famoso.

Minha mãe é uma fanática por Bonnie Tyler.

Meu pai adora ouvir Lionel Richie durante nossas viagens até o pequeno sítio da vovó.

Meu irmão menor adora ouvir SHINee antes de ir para o colégio.

Eu? Bem, também gosto de alguns grupos e até faço parte de alguns fandoms.

Mas tudo tem seu limite, certo?

Sim, o amor. Ele diferencia de pessoa para pessoa, isso é evidente. Cada pessoa ama de um jeito, e demonstra a sua maneira. Tem gente que chora, tem gente que sorri, tem gente que surta.

Mas tudo, realmente, tem seu limite.

Inclusive o amor de fã.

Meu melhor amigo adora escutar rock. Nada de errado até aí, certo?

Errado.

Jeon Jungkook.

Como posso começar a explicá-lo? Simples, cante uma canção dos Beatles. Já o simplificou a meros acordes.

Jeon é do tipo que nomeio como fanático assíduo. Como uma saesang, só que fã de gente velha (e inglesa).

Não me levem a mal. Não odeio os garotos de Liverpool, mas eles poderiam me dar uma trégua, não é?

Eles não. Ele.

Jeon não sabe se controlar quando o assunto se trata desses quatro caras.

Um fanático.

Ele possui os álbuns (versão extendida, física, digital, mono, estéreo ...), camisas, livros, filmes (em cassete e DVD), bonés, bottons, fones.

Tudo. Dos. Beatles.

Seria algo cômico. Para ser levado como piada.

Não.

Jeon não acha suficiente se afundar no buraco de perder a vida social por causa de uma banda. Ele quer me arrastar junto.

Eu sabia que havia intenções por trás de todos os "Yeri-ah" que ele exclamou durante toda a semana. Sabia que havia intenções por trás de todos os presentes que dera, inclusive o relógio novo que eu tanto queria (e que tinha plena certeza do quão caro havia sido).

Jeon não sabe enganar a ninguém. Bom, não a mim.

Até gosto dos garotos de Liverpool.

Mas prefiro o silêncio.

Jungkook

Parece irônico um adolescente como eu, com 17 anos, espinhas de pré-puberdade e espírito agitado, curta um bom e velho rock 'n roll. Mas é a pura verdade.

Por morar no centro da grande metrópole que Seul vem se transformando, as pessoas esperam que eu seja um esteriotípo de garoto burguês sul-coreano. Esperam que eu tinja meus cabelos com cores exuberantes, ou até mesmo arrisque algumas cirurgias plásticas.

Eles esperam que eu, com o pouco de charme e boa voz que tenho, faça alguma audição para essas empresas mercenárias e sugadoras de almas jovens, como Yoongi sempre me diz.

Também esperam que eu tenha o melhor desempenho em todas as áreas. Não posso errar em algo. Devo me sair bem em qualquer área, seja humanas, exatas, biológicas ou qualquer outra que inventarem para a confusão de uma mente jovem.

Ok, eu posso tentar ser isso tudo. Tinta, algum dia, vai ter que sair. As cirurgias podem ser bem sucedidas. Minha audição pode ser um completo sucesso e posso alcançar o 1º lugar de melhor aluno da Coreia do Sul.

Mas nunca conseguirão mudar minha personalidade.

Me dizeram que rock'n roll era decadente e para velhos que não acompanham o novo cenário musical.

Minha primeira vontade era de socar o infeliz até ele perder a memória. Felizmente, me contive.

Não estou inferiorizando os outros gêneros - até arrisco escutar um blues ou jazz, talvez um pop de vez em quando - mas o rock sempre vai ser o melhor.

Yeri disse que sou muito radical em relação ao meu estilo musical. Discordo, porque ela não convive com meus colegas. Tem a sorte de ainda estar no 2º ano, onde as pessoas ainda possuem um pouco de tolerância.

As festas das colegas de sala de Yeri sempre tocam algum rock. Pode até ser um som mais comtemporâneo, mas não deixa de ser aquele bom e velho solo de guitarra.

Já meus colegas antiquados não me deixam escolher a playlist das festas.

—- Guk-ah! Você só tem música de velho nesse celular! Cadê a evolução? - Taehyung é uma ótima pessoa, mas tem um péssimo senso de música.

—- Não é "música de velho" - disse, enquanto tomava o celular da mão do meu hyung - Isso se chama bom gosto.

—- Na verdade, isso se chama velharia. E velharia a gente não acumula. A gente joga fora.

Olhei a tela do meu celular. O play rodava em I Want To Break Free, do Queen.

—- Como você ousa insultar Freddie Mercury chamando essa obra de arte de velharia?!

—- Guk-ah! Foi apenas uma brincadeira! Tem até algumas legais - novamente, meu hyung tomou meu celular com sua mão direita, enquanto vasculhava minha discoteca virtual.

—- Sabe, eu concordo com Taehyung Oppa.

Pela primeira vez na tarde, a voz de Yeri se fez presente.

Vamos esclarecer algo. Eu odiava quando ela tratava Taehyung como um senhor sábio. Ela sempre utilizava o oppa para se referir a ele, mas nunca a mim.

Era quase um desacato aos meus 9 meses em sua frente.

—- "Taehyung Oppa" é um imbecil que não sabe apreciar música de verdade. Sério, qual é a de vocês?

—- Kook, só não gostamos de velh... músicas mais antigas como você. É algo comum. - disse Yeri.

—- Se chama escolha. - completou Taehyung.

—- Se chama mau gosto, isso sim.

Peguei meu celular das mãos do hyung, enquanto me levantava da grama e retirava, com as pontas dos dedos, vestígios de sujeira em minhas calças. Logo, me afastei dos amigos, em direção a biblioteca do colégio.

—- Hey, Jungkook! - Yeri logo me alcançou, sorrindo de lado, mas com os olhos preocupados - Você não ficou chateado, certo?

Preferi ignorar a pergunta, continuando a andar.

—- Guk-ah! Por favor! - ela dizia, enquanto caminhava perto de mim, com uma tentativa (falha) de um aeygo - Jungkook Oppa.

—- O que foi? - eu tentei ao máximo não esboçar uma reação, mas os músculos de minha face foram contra meus pensamentos e insistiram em formar um sorriso bobo, que logo se transformou em uma gargalhada - Claro que não, Yeri.

—- Então por que estava me ignorando?

—- Gosto de vê-la com raiva. É engraçado.

A garota me olhou, raivosa. Seus lábios formaram um pequeno bico e as sobrancelhas se uniram, expressando o ódio que ela tinha contra minhas brincadeiras.

—- Você é um idiota, Jungkook. Não sei nem porque ainda sou sua amiga.

—- É porque eu sou bonito.

Ela riu, mas não negou. Um passo enorme para meu ego.

—- Guk-ah! Eu quero lhe fazer uma proposta.

Parei no mesmo instante, para ver o que a mais nova pretendia.

Seus olhos entusiasmados já me alertavam: perigo.

—- O que é que seja: não.

—- AH! Você nem escutou a proposta!

—- Não preciso. Sei que vai dar errado.

—- Eu deixarei que me mostre suas músicas. Tipo, deixarei que me apresente aquela sua banda favorita.

Como?