Batter Up

Que vença o melhor!


O tempo é algo engraçado. Quando você deseja que ele voe, vai passar à passos de tartaruga. E quando você deseja que ele não passe nunca, bem, ele voa. No caso de Gil, o tempo voou. Mal a World Series começou e agora ele estava entrando novamente no campo, para o que seria a partida mais importante da sua vida até o momento.

A sequência dos jogos era tal que mostrava o equilíbrio de forças entre os dois times. A primeira partida na casa dos Devils fora vencida pelo time anfitrião. Depois dela, os Cubs mostraram sua força e levaram as três partidas seguintes- duas ainda em Las Vegas e a última em Chicago. Tal situação colocou uma pressão enorme na equipe de Gil, pois os adversários só precisariam de mais uma vitória para se sagrarem campeões.

Os Devils, sob a liderança de William, conseguiram passar por cima de todo o nervosismo e jogo a jogo foram tornando a situação mais favorável para si. Tanto que agora, na nona e última Entrada do jogo, os dois times ainda tinham esperança de vitória. Era a vez dos Cubs se defenderem, mas o time estava na dianteira por dois pontos. Gil entrou no gramado sob vaias e observou seus colegas de time no diamante. D.B. estava na terceira base e Dean ocupava a primeira. Isto colocava nas mãos dele o campeonato. Se conseguisse uma rebatida menos que perfeita, seus colegas teriam tempo para chegar à base de casa, mas ele não teria tanta certeza se ele mesmo o faria. E eles precisavam destes últimos três pontos para vencer. Não que houvesse pressão para cima dele, é claro! Gil teve de rir com seus próprios pensamentos.

Caminhou decidido até o seu lugar na frente do “apanhador” da equipe adversária, ajeitou o boné, sacudiu o taco algumas vezes e se posicionou. Sua mente agora estava concentrada do pitcher adversário, Carlos Valentim. O jogador era a sensação do time adversário. Jogara pelos Cubs nos últimos anos e fora responsável pelo reavivamento do interesse da torcida, ainda mais dos mais jovens, pelo Basebal. A equipe já ganhara dois campeonatos sob o comando dele, e mesmo quando não ganhavam o time nunca saía das primeiras posições de sua divisão. Gil sabia a média de velocidade de seu saque, e quais eram seus movimentos preferidos. Ele estudara avidamente o adversário, esperando entender como ele jogava e como Gil poderia tirar proveito disso. A questão era, o jogador provavelmente fizera o mesmo que ele.

Os dois jogadores se encararam por um tempo. Carlos elevou um pouco o boné em uma saudação ao adversário e Gil sorriu e fez o mesmo. Apesar de toda pesquisa que fez, Gil se surpreendeu ao conhecer o adversário na noite anterior ao primeiro jogo em Chicago.

Os dois jogadores se encontraram por acaso, logo após o treino da equipe dos Devils no estádio. Como William ainda possuía muitos amigos na equipe dos Cubs ele conseguira que sua equipe tivesse um tour do estádio lendário para o esporte. Wrigley Fields era um daqueles lugares que todo o fã de basebal que se preze devia conhecer... e quem não o é também. E Gil tinha boas lembranças daquele estádio de quando era criança. Por isso, na primeira oportunidade que teve, aproveitou para se separar dos colegas e explorar o estádio sozinho. Foi no campo que ele parou e sentou no gramado. Ficou ali, observando o diamante, as arquibancadas, e sua mente vagou no passado, tanto que tomou um susto ao ouvir uma voz atrás dele.

—Ei, achei que fosse ser o primeiro a chegar!

Gil se levantou e viu Carlos, pronto para o seu treino da tarde. O outro jogador percebeu quem era e logo abriu um sorriso. Gil logo se desculpou pela invasão, todo nervoso, mas o outro jogador logo o acalmou.

—Caram relaxa! O treino só começa daqui a uma hora... eu é quem gosto de chegar cedo para ir me aclimando, sabe?

—Ah... ok... então eu já vou indo...

—Ei, não precisa sair correndo... Gil não é? Sou Carlos Valentim!- o jogador lhe estendeu a mão e Gil aceitou o cumprimento- Você tem tanto direito de estar aqui quanto eu, sendo filho do Will.

—Bem... quando mais novo eu fazia daqui o meu playground... meu pai não conseguia me tirar daqui... eu só queria ter um momento sozinho aqui... não sei para o que, na verdade!- Gil riu de seus desejos inconscientes.

—Não, eu te entendo- o jogador falou com seu sotaque carregado- Eu sempre sonhei em ser jogador profissional. Em Cuba, fazia de tudo para assistir aos jogos e treinar. Seu pai era um dos meus favoritos. Eu tinha esse sonho, essa visão, de um dia jogar em Wrigley Field, junto com meu ídolo. Eu só não previ que estaríamos em lados distintos do campo!

—Eu também nunca sonhei em jogar contra os Cubs...

—Você sabe que eles só não te contrataram por medo de a história se repetir, não é? Imagina a dor de cotovelo que eles estão agora, ainda mais depois desses últimos jogos?

—Não importa agora, não é? Os Devils me deram uma chance e vou fazer o meu melhor por eles- apesar de os Cubs serem o time de coração de Gil o jovem era muito agradecido aos Devils.

—Continue com essa mentalidade, muchacho, e tenho certeza de que logo poderemos ser mais do que adversários. Eu com certeza gostaria muito disso!

Gil não teve oportunidade de responder, pois naquele momento seu celular tocou. Era D.B. querendo saber onde ele estava.

A atenção de Gil se voltou novamente para o campo, bem na hora em que Carlos se preparava para lançar sua primeira bola. Gil apertou os dedos em volta de seu bastão, suspirou fundo e se preparou. Ali a sua volta, havia muita gente contando com ele naquele momento. Desde seu pai, que antes de mandá-lo a campo apertou o ombro dele e disse que confiava nele, a sua mãe, sua namorada e os milhares de fãs... todos contavam com uma rebatida perfeita...

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—Eu não quero olhar!- exclamou Júlia, quando o pitcher dos Cubs soltou o braço e lançou a primeira bola, forçando o primeiro erro de seu time.

Sara, por sua vez, mordia os lábios de nervoso, mas não conseguia tirar sua atenção de seu namorado. Assim como ela, Betty mantinha sua atenção em seu filho, e Sara deu graças pelo fato de que a senhora não conseguia ouvir as vaias da torcida adversária para seu filho. Já bastava uma pessoa cheia de raiva na família! Enquanto Sara olhava de mau humor para a torcida, Carlos mais uma vez lançava sua bola rápida, e Gil ficava estoico em sua base, sabendo que a jogada configurava novo erro. Certa vez ele explicara a Sara sobre as técnicas usadas para desestabilizar o adversário. Era exatamente isso o que ocorria no campo agora, mas seu homem parecia não se importar.

Foi na terceira bola de Carlos que Gil se mexeu. Sara ( e o estádio inteiro) prendeu a respiração. Dava para ouvir o barulho da bola cortando o ar, indo em direção ao batedor, que encontrou o momento perfeito para rebater a pequena bola. Sara acompanhou o vulto branco subir, subir e subir, em um arco perfeito e começar a sua descida. Os jogadores do Cubs ensandecidos, ficaram atrás da bola, mas DB e Dean já roubavam suas bases, e quando a bola terminou sua descida, bem de fora do campo, Gil já estava escorregando para a última base e garantindo os três pontos que os Devils precisavam para ganhar o jogo.

—JULES! HOME-RUN!JULES! Nós ganhamos, eles venceram!

A loira abriu os olhos e viu os jogadores comemorarem nos gramados, levantando Gil em seus ombros e gritando como se não houvesse amanhã. O camarote dos Devil veio abaixo, tamanha a comoção de seus integrantes.

Sara e Betty trocaram abraços apertados, e a morena pode sentir toda a emoção vazando pelos olhos da matriarca. A nora enxugou as lágrimas da senhora e falou com ela na língua dos sinais.

—Ele conseguiu, Betty! Gil conseguiu!

—Meu menino... ah, que felicidade! O sonho dele...

O sonho de Gil e de muitos se realizou. Os jogadores ganharam a taça de um time que era o favorito, e na casa deles ainda por cima. Era muito o que comemorar, e os jogadores do time tinham energia de sobra para fazer festa com o troféu, dar a costumeira volta olímpica pelo estádio e levar a festa noite adentro no hotel em que estavam. Dessa vez ao lado de suas famílias queridas.

~*~*~*~*~*~*BatterUp*~*~*~*~*~*

Como a festa de encerramento da temporada seria realizada em Chicago, os Devils ficaram pela cidade. Imaginando que teria alguns dias de descanso, Gil convidou sua namorada para ficar com ele por ali. Mas fora impossível para os dois saírem do hotel, tamanha era a quantidade de fãs que esperavam por um pequeno vislumbre do jogador.

—É uma loucura! Será que esse povo não tem mais nada a fazer?

—Tirar uma casquinha do ídolo deles?- Sara respondeu a pergunta teórica do namorado só pelo prazer de ver o jogador fazer cara feia para ela.

—Hahaha! Quero ver só se uma dessas fãs “maria chuteira” vier para cima de mim o que você vai fazer.

—Meu amor, primeiro eu te capo, depois dou as sobras para ela!- Sara respondeu calmamente, com a cara mais serena do mundo.

— Tenho medo de você...- Gil falou, com cara de assustado.

Sara riu e se levantou da espreguiçadeira em que estava, elevando os braços para se alongar. Gil observou sua morena em toda sua beldade naquele biquini de cortininha vermelho.

—Eu vou dar um mergulho. Vem comigo?

Gil olhou de esguelha para os lados, observando alguns olhares famintos para cima de Sara.

—Claro, meu amor!- ele se levantou rapidamente e abraçou a namorada pela cintura- O que o meu anjo quiser!- tascou um beijo na boca dela e a guiou até a beira da piscina.

Assim que entrou, Gil mergulhou de cabeça e nadou até o meio da piscina, onde não havia muita gente. Fez um gesto para que Sara o acompanhasse e a morena nadou até ele. Chegando bem perto, Sara passou os braços pelo pescoço do namorado e os dois ficaram ali, namorando e conversando. Certa hora, Gil fez uma pergunta que estava na sua cabeça já a um tempo:

—Honey, você não acha que o William está passando tempo demais com a minha mãe?

—Gilbert, e o que eu tenho a ver com isso?- Sara desconversou, sabendo que seu namorado estava certo.

—É só que... eu pensei que ela fosse querer passar mais tempo comigo.

—Você não me diga que está com ciúmes de sua mãe?!- Sara exclamou, soltando os braços do pescoço do namorado.

—Não é isso, Sara!- Gil reclamou e cruzou os braços.

—Mas é isso sim! Você, Gilbert Grissom é um grande ciumento!- como o rapaz nada respondeu, só encarando a morena com um olhar fechado, Sara jogou água em cima dele- Bebezão!

—Arg, Sara! Quem é crianção agora, hein?- a resposta de Sara foi tacar mais água em cima dele, obrigando o jogador a responder no mesmo nível. Depois de um minuto nessa brincadeira, Gil foi se aproximando da namorada, a agarrou e tentou afogá-la.

—Gilbert, não vale!- ela reclamou depois de se levantar.

—Na guerra vale tudo!

—Ok, ok, você venceu!- a morena falou enquanto ajeitava seu biquini.

—Então, você concorda que eu não sou ciumento? Eu simplesmente cuido das pessoas de quem eu gosto.

Sara riu e deu um beijo no namorado. Gil aproveitou e fez com que Sara passasse as pernas por sua cintura.

—Gil...

—Humm- ele perguntou enquanto distribuía beijos no pescoço molhado da namorada.

— Você se oporia mesmo, caso os seus pais quisessem mesmo reatar?

O homem parou um momento para pensar na pergunta.

—Não é o que eu gostaria para a minha mãe- ele respondeu.

—Por conta do seu pai, ou você se oporia mesmo se fosse qualquer outro homem?

—Eu não tenho o direito de impedir minha mãe de namorar, Sara. Nem quero isso, realmente.

—Então, o problema é o seu pai- ela falou o que ele não disse.

—Eu não quero que ela se machuque de novo, Sara. E tenho medo que isso seja realmente o que vai acontecer...

—Você não confia no seu pai? Não acha que ele mudou?

—Ele mudou, sim... não posso negar, mas... as vezes me preocupo se vale a pena tentar algo que já deu errado, sabe?

—Se fosse assim ,nada aconteceria na vida, Gil! Até mesmo esse campeonato que você ganhou... se você pensasse assim, nem teria voltado esse ano e se sagrado campeão.

—Isso é verdade!- Gil sorriu para a namorada. Uma das coisas que ele amava na garota era a mente dela, as respostas rápidas e perspicazes que a garota tinha.

—Olhe, Gil... eu sei que você quer proteger a sua mãe, mas tem certas coisas que valem a pena se arriscar. O amor é uma delas.

—Você acha que eles estão juntos?

—Se não estão, é bem capaz que fiquem.

Gil apertou a namorada em seus braços e descansou a cabeça nos ombros dela.

—Isso não é algo que eu possa impedir, certo?

—Então você vai aceitar na boa se...

—Na boa, na boa, não. Mas vou me acostumar.

—Você é um bom filho, Gil!- e o jogador ganhou um beijo de arrepiar a alma.

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Gil e Sara chegaram ao restaurante na hora marcada e foram direcionados a mesa onde William e Betty os esperavam.

O jogador usou a oportunidade para observar os pais de longe. Os dois estavam sentados em uma mesa quadricular, lado a lado e perdidos em uma conversa bem particular.

Sara, sentindo seu namorado tensionar, passou um braço pelo dele e sussurrou em seu ouvido

—Relaxa, amor...

Gil queria mesmo estar feliz por sua mãe, caso fosse esse o desejo dela. Então colocou um sorriso no rosto e resolveu deixar a vida seguir seu fluxo. E se William vacilasse, bem, ele teria de se ver com ele!

O homem mais velho percebeu a aproximação do casal e alertou sua companheira. Os dois sorriram ao ver os jovens se aproximando, e William se levantou.

—Fala, campeão!- Gil teve uma sensação de deja vú...era como ele chamava o filho, costumeiramente- Sara, como sempre linda!- ele pegou a mão da jovem e beijou o dorso.

—Olá!- Sara respondeu pelos dois e deu dois beijos na sogra. Depois de sentados, uma garçonete chegou com mais dois menus e perguntou aos recém-chegados se desejariam alguma bebida.

Enquanto Betty perguntava aos recém-chegados como eles haviam passado a tarde, Will pedia a garçonete uma garrafa de Champagne.

—Uau, qual é a ocasião especial?- Gil quis saber ao ver o rótulo da famosa bebida trazida pela garçonete.

—A vida, Gil! Ela tem sido generosa comigo, olhe isso aqui!- Will indicou a mesa deles- Estou vivendo algo que não achei mais possível... vocês junto a mim é... tudo o que eu mais queria na vida!

Gil elevou o copo e respondeu.

—Então vamos brindar... a família!

Os outros o acompanharam, e mesmo que Betty não emitisse som algum o brilho em seus olhos não deixava dúvidas de que aquele momento era muito mais importante para ela do que qualquer outro.

~*~*~*~*~*~*BatterUp*~*~*~*~*~*

Foi depois do jantar que aconteceu. Os quatro acabaram de sair do restaurante e Betty os levou até uma loja ali perto que ela tinha que ver. “Preciso levar lembranças para o pessoal do Instituto!”. A senhora entrou com Sara na loja e as duas se perderam de vista, deixando pai e filho parados na entrada.

—Então, Gil... aproveitando a oportunidade, tem uma coisa que gostaria de te perguntar.

—Sim?- os dois entraram na loja e se sentaram em umas cadeiras que havia ali.

—O que você acha da ideia de eu e sua mãe namorando?- William perguntou sem rodeios.

—Vocês estão?- Gil, que até o momento estava observando o movimento da loja, se virou para o pai. Seu semblante não demonstrava surpresa, mas também não havia reprovação, deixando William menos nervoso.

—Não, ainda não. Mas nos reaproximamos muito desde a mudança dela para Vegas e... acho que podemos ter uma segunda chance... mas não quero...

—Pai... eu não vou me meter nisso. Se você quiser e ela quiser...

—Isso não te aborreceria?

—A ideia de que ela possa se machucar me aborrece, sim. Mas você não vai querer repetir um erro do passado, não é?

—Não mesmo.

—Então estamos conversados. Se você machucá-la de novo... não vou nem me lembrar que tenho pai- Gil estendeu a mão para o pai, para fechar o “acordo” que faziam no momento.

—Isso não vai acontecer.

—Ok... só por favor, evitem de ficar se pegando na minha frente- Gil fez cara de nojo a simples menção disso, e William riu.

—Nem sonharia com isso. Não somos jovens exibicionistas há muito tempo.