“Vamos às últimas notícias, mais uma vez, nosso presidente entra em conflito com a comunidade latina! Após suas mais recentes declarações que causaram mal-estar...”

Desliguei o rádio do meu carro! Estava muito atrasada acabei dormindo demais depois da festa de ontem. Após estacionar peguei minha bolsa, sai do meu carro andando o mais depressa que meus saltos altos deixaram ser possível, olhei para o meu relógio de pulso não dava mais tempo de chegar à primeira aula e não ficar com falta. Merda! Maldita a hora que eu esqueci de colocar o meu despertador para acordar na hora certa! Ou eu acabei dormindo tão profundamente que não o escutei? Agora essa é minha dúvida!

De qualquer modo, estava muito atrasada, mas assim que cheguei na entrada da universidade fiquei surpresa. Muitos alunos estavam fora da sala de aula, mas que o normal para esse horário. Tinha acontecido alguma coisa. Olhei para todos os lados e não via nenhum amigo meu, antes que pudesse buscar meu celular, lembrei que ele descarregou, que ótimo dia para deixar meu carregador portátil em casa. Continuei andando ainda intrigada com tantas pessoas por aqui, ao ver uma roda onde todos olhavam com atenção para algo específico, não consegui resistir à curiosidade. Fui até onde estava à roda e me infiltrei, tentando entender o que estava acontecendo.

:- Nossa! Fizeram de novo. – Deixei escapar em voz alta. E isso chamou a atenção dos que estavam ali.

:- Sim, parece que fizeram de madrugada e como sempre quando isso acontece esta o maior rebuliço na universidade. Muitos alunos não foram para as aulas como forma de protestar também. – Uma garota me esclareceu ao ver que eu estava confusa, voltamos a olhar para o grafite na parede branca da Universidade.

Era uma caricatura do nosso presidente como um faxineiro limpando o próprio vômito. Esse protesto até que foi tranquilo, os autores (ou o autor) já pegaram muito mais pesado em sua “arte”. Particularmente eu achava aquilo cativante, por que se era um reboliço o objetivo desse protesto, essa meta foi concluída com sucesso, é só olhar os corredores da universidade. O problema era que isso infligia claramente às regras e quando o autor for pego, a punição será muito radical. Espero que isso nunca aconteça e que o anonimato permaneça, acho que isso que dá mais mistério, curiosidade e atiça tudo e a todos pelo visto.

:- Essas roupas que ele está usando parece com alguém que eu conheço. – Disse um garoto próximo da onde eu estava, enquanto tirava uma foto. Parece sim, é uma referência aos imigrantes latinos que nosso presidente tanto critica. Eu pensei, voltando a olhar a caricatura, ela começava a me dar ânsia.

E graças a isso me afastei dali, aquela sensação não me faria bem e já que muitos alunos estavam sem aula, os meus amigos só poderiam estar em um lugar. A cantina! Justamente como eu pensei, logo que entrei na cantina, eles estavam em nossa mesa particular, sorri de lado por não ter pensado nisso antes. Muitos estavam ali apenas por status, aquele era o lugar mais movimentado da universidade tirando as salas de aula, como éramos ditos como populares era comum ficar em nossa mesa apenas jogando conversa fora.

Conforme eu caminhava em direção em nossa mesa, notei algo muito estranho, as pessoas que se davam conta da minha presença me olhavam diferente, alguns riam, outros conversavam entre si, recebi olhares de inveja e até de reprovação. O que estava acontecendo?

:- Olha só, até que enfim você chegou! – Logan me encarou duramente e ali eu já senti que algo de errado estava realmente rolando. – Por que não responde nossas mensagens? Ligações? O que você tem na cabeça em se envolver com a ralé, hein Anahi? – Para ele me chamar por este nome é porque estava muito irritado.

:- Não usa esse tom comigo, Logan! Do que você está falando? – Poderia ter evitado elevar o tom de voz, mas detesto que falem comigo assim.

:- Todo mundo está sabendo, Annie, não adianta negar. – Nathan deu os ombros e olhou ao redor, parecia que toda a cantina prestava atenção em nossa conversa até mesmo os funcionários da universidade. – Todo mundo já viu o seu vídeo com Christopher! Não esperávamos isso de você.

:- Que vídeo você está falando? – Eu perguntei confusa.

:- Você não sabe do que estamos falando? – Angelique, minha melhor amiga, me perguntou. Ela que estava sentada me encarava com o olhar analítico. E depois da minha negativa, ela se levantou com o celular nas mãos. – Christopher postou esse vídeo no Facebook, Twitter, Instagram até o Google Plus se duvidar, é o assunto mais comentado de todo mundo mais até que a manifestação ali fora.

Assim que ela deu play no vídeo, eu senti meu sangue ferver por me lembrar do que ele tinha feito ontem. Tinha o claro pressentimento que ele tinha me passado à perna, no vídeo que foi editado, ele colocou uma trilha romântica e diz as mais tremendas insinuações. Ele inverteu o jogo fez todo mundo acreditar que sou apaixonada por ele. Isso não ficaria assim! Não mesmo!

:- Desgraçado! Ele armou para mim. – Eu soltei em fúria. Sem pensar duas vezes empurrei o celular de Angel para ela e sai em disparada. Estava com tanta raiva que nem me importei com todos os olhares voltados a mim. Eu só queria estrangular um pescoço Christopher! Maldito, mentiroso e trapaceiro!

:- Espera aí, Annie! Esse vídeo é fake? – Nathan perguntou atrás de mim.

:- O que você pensa Nathan??? Que eu descobrir um amor repentino por esse cara? Faça-me o favor! – Respondi ríspida, andando sem olhar para trás.

:- Aonde você está indo? – Logan me perguntou ainda desconfiado, ele estava com ciúmes, na verdade. Dava para ver em sua expressão, senti vontade de revirar os olhos, éramos apenas amigos. Só isso.

:- Isso não vai ficar assim, vou tirar satisfações com Christopher é claro! – Eu o respondi o encarando de lado e continuando a andar.

:- Ainda não entendi o que aconteceu. No vídeo claramente vocês estão se beijando isso não pode ser montado tão perfeitamente, esse cara não tem grana para investir pesado nisso. – Nathan comentou e seu comentário me fez ficar mais irritada ainda, por eu ter caído feito uma coelha nessa armadinha. Por isso eu parei de andar repentinamente e isso fez com que os três e os outros que estavam me seguindo quase caíssem. Respirei fundo antes de voltar a falar.

:- Christopher armou para mim. – Encarei todos que prestavam atenção. – Ele já tinha me ameaçado depois da última lição que lhe dei, ele simplesmente não sabe ver que eu sou a melhor aqui. – Dei os ombros. – Ontem ele entrou de penetra na minha casa, invadiu o meu quarto e simplesmente me beijou para que hoje ele edite o vídeo e faça parecer que eu seja apaixonada por ele. Sinceramente em que mundo isso aconteceria? Eu tenho repulsa dele! Pensem com clareza, revejam o vídeo e vão enxergar que é um vídeo editado. Não mostra o tapa que lhe dei e nem que eu o expulsei da minha casa.

Notei que Dinah a fofoqueira maior daquele lugar estava ali gravando tudo o que eu falei, todos ficaram surpresos com a minha declaração. Eu encarei o vídeo dela e estreitei o olhar.

:- Isso não vai ficar impune! – Adverti, bufando de ódio. – Se querem saber a verdade é só me acompanhar. – Convidei a todos.

Quem é que estava pensando em aula mesmo? Eu que não era. Eu parecia à abelha rainha com os zangões atrás de mim. Parecia um verdadeiro espetáculo e para falar a verdade eu detestava participar desse verdadeiro circo! Cheguei à sala onde ele estaria, abri a porta sem pensar duas vezes, olhei para a sala inteira e assim que eu o avistei fui direto na sua direção.

:- Você é um babaca! – Empurrei suas costas e ele perdeu o compasso, interrompi a aula de dança do professor Brian, eu não estava em mim. Eu só precisava descarregar toda a minha raiva em Christopher. Assim que ele se virou e viu que era eu que estava ali, percebi o olhar malicioso que se instalou depois da surpresa fora o sorriso de canto que foi dado. – Mentiroso! Manipulador! – Empurrei mais vezes.

:- O que está acontecendo aqui? Porque está interrompendo minha aula, senhorita Baker! – Brian desligou o jazz que estava soando pela sala e me questionou.

:- Eu só preciso resolver um assunto com seu aluno, professor. – Comentei entre os dentes o encarando.

:- Ela é completamente louca, professor! Olha para ela. – Ele disse desentendido e erguendo os braços.

:- Não fale assim com ela! – Logan rosnou atrás de mim. E quando olhei para trás percebi que todos que me seguiram desde a cantina estavam ali presentes, eram mais do que 30 pessoas.

:- Quem é que vai me impedir? – Christopher mudou o tom de voz e já encarava Logan duramente, só era o que me faltava. Briga de testosterona.

:- Eu mesma! – Me coloquei na frente dos dois. – Você publicou o vídeo que eu te fiz apagar. O que tem na sua cabeça? Vento!?

:- Eu só queria mostrar a verdade para as pessoas desta universidade. Você desdenha, mas é louquinha por mim. – Ele riu e isso fez com que os outros, seus amigos, é claro, rissem também.

:- Não sei quais são os problemas de vocês dois, mas eu peço que resolvam lá fora. Não atrapalhem minha aula. – Brian tentou interromper mais uma vez ao ver que aquilo não poderia terminar bem.

:- Desculpe por isso Brian, mas Christopher publicou um vídeo falso meu e não posso deixar que isso fique impune. – Voltei a falar ignorando o pedido do meu professor. – Para começar não tem minha autorização, segundo ele levanta uma falsa acusação ao manipular o vídeo. Não sei como as pessoas acreditaram em algo tão amador e baixo. Isso não ficará assim pois quero uma retratação, no mínimo um pedido de desculpas! – Parei de falar por que Chritopher começou a dar uma risada debochada.

:- Vamos lá Anahi, admita que sempre foi apaixonada por mim. – Ele encheu a boca para falar o meu nome, ele sempre teve prazer nisso. – Você gostou que eu te dei uns pegas! – ele sorriu.

:- Assim como você gostou do tapa que lhe dei em retribuição? – Consegui desestabilizar a pose de durão dele. - Vamos Christopher admita que está errado nessa história! Não quer mostrar a verdade para todos? Então publica o vídeo completo e sem edições. – Eu o provoquei ao me lembrar de suas palavras, ele sim disse ser apaixonado por mim.

:- Mostrar para todo mundo que você me pediu mais? – Ele riu mais fraco depois de ficar surpreso, mas o fato dele continuar mentindo me deixou mais irritada. Novamente voltei a empurrá-lo.

:- Você é sórdido, hipócrita por isso que eu te odeio! Tenho nojo! – Comecei a despejar as palavras que estava pensando e vi que ele não esperava esse ataque e começou a ficar irritado também com as palavras que eu usei. Ele esperava que eu tivesse um surto e não começasse a agredi-lo, olha no nível que eu chego quando o assunto é esse sujeito, mas eu não pensava para falar eu só queria atingi-lo. – É por isso que nosso país não vai para frente, só tem pessoas como você! – Cutuquei a sua maior ferida.

:- O quê? – Ele exclamou irritado. – Como assim pessoas como eu, Baker? Um latino? Um imigrante é isso que você quer dizer? Termina o que você começou! Fala o que você realmente pensa! – Ele avançou e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Brian se colocou entre nós dois.

:- Já chega! – Ele usou um tom de voz tão bravo como nunca vi em todo o tempo no qual eu estudo por aqui. – Este show acabou!

Se instalou certo silêncio que era possível sentir até tensão no ar. Qualquer palavra mal dita poderia desencadear a explosão de uma bomba. Era o combate do meu ego com o de Christopher! Mas, Brian tomou as rédeas da situação, depois da ordem ser acatada, ele começou a se mover na sala encarando a todos nós, o seu olhar era profundo. Ele não dizia nada apenas nos encarava com um olhar que nos deixava constrangidos. Então ele começou a usar o seu corpo da melhor forma que sabia fazer, dançar!

:- A minha arte é mostrar tudo o que eu estou sentindo com o meu corpo, logo eu danço! – Falou ele ao terminar de fazer um fouetté com perfeição. – Eu costumo usar todos os meus sentimentos como “fonte” para me expressar, até mesmo a raiva. Mas, nem sempre é possível dançar quando me sinto raivoso, então ás vezes o único que podemos fazer nessas situações é respirar. ‘Uau! Só isso Brian?’ Vocês me perguntam e eu digo: ‘Sim, apenas isso’. Então vamos começar a inspirar e respirar profundamente. – Disse ele ao terminando sua dança.

Pudemos ouvir reclamações de alguém que estava na porta da sala da aula de dança e isso chamou imediatamente à atenção do professor ali presente. Ele caminhou até a porta para dizer.

:- Vejo que estão desapontados porque o espetáculo que queriam não aconteceu. Todavia, fico feliz em dizer que não vai acontecer, não na minha aula. Agora neste momento quem não for meu aluno, peço que se retire da minha aula. – Brian falou em especial para os alunos que estavam na cantina e me seguiram até aqui. – A não ser que queiram participar da minha aula?

Dinah olhou para todos na sala e em especial para mim. Ela fazia jornalismo, já tinha o celular abaixado não teria uma fofoca exclusiva para o seu blog, mas ao contrário de outros que já se foram saindo aos poucos, ela ficou parada junto a outras poucas pessoas curiosas com o final de toda essa história.

:- Perfeito, sejam bem vindos! – Disse Brian dessa vez deixando a sala aberta, quando eu pensei em sair dali fui impedida por ele. – Não senhores, eu disse que apenas quem não eram meus alunos podiam sair. Mesmo que não tenha aula agora, vocês permanecem.

Escutei o riso de Dinah e a encarei, ela ficou porque sabia que algo aconteceria aqui e assim teria noticias para o seu blog.

:- Esqueçam o que eu disse no começo dessa aula, ela não será mais prática, talvez não da forma que vocês estão pensando. – Brian seguiu falando. – Os ânimos nesta universidade estão exaltados, desde a manifestação ali fora fica difícil fazer com que vocês alunos prestem atenção em nós professores. Mas, agora eu tenho a chance perfeita de lhes dar uma lição. Não só um passo de dança ou uma pauta para uma matéria ou um briefing para uma campanha. – Ele falava para todos nós caminhando por sua sala. – Vocês não são mais crianças, não estão mais no ensino médio onde a popularidade é uma questão vital nas suas vidas sociais. Não dá para viver de joguinhos, de provocações, a vida lá fora exigirá que vocês tenham responsabilidade. Ética. Sejam pessoas de respeito, mais que isso. Sejam pessoas que respeitem o próximo e de uma vez por todas eu espero que entendam que as diferenças existem, mas não servem para nos afastar e sim, para nos complementar!

:- Eu exijo disciplina, esforço, trabalho de vocês, mas sempre os respeitei! O que aconteceu aqui foi uma falta de respeito com a minha aula, Baker! – Ele me encarou duramente me fazendo ficar murcha por agir impulsivamente.

:- Eu disse que ela era louca professor! – Christopher comentou rindo, me fazendo lembrar da raiva que eu sentia. Ainda mais pelos outros que riram do que o palhaço falou.

:- Qual é a razão da graça, Christopher? – Brian perguntou fazendo com que ele se calasse imediatamente. – Desculpe, mas chamar alguém de louca não me parece algo adequado. Ainda mais, encher os pulmões e dizer que ‘pegou’ alguém é no mínimo deselegante para não dizer depreciativo. Vocês podem até me chamar de antiquado, mas aprendi lições valiosas com a minha mãe e uma delas é que jamais nós homens devemos diminuir uma mulher. Seja quem for. Vocês são alunos talentosos, eu sinto orgulho da evolução que vejo cada dia em cada apresentação. O problema é que não dá para ser um excelente bailarino ou bailarina e ser uma pessoa má educada. Vocês são artistas! Você Baker e você García tem uma rixa grande e deixam com que ela ultrapasse os limites do aceitável, eu cansei de aconselhar cada um separadamente, está na hora de fazer isso com os dois juntos!

:- O que quer dizer com isso professor? – Christopher perguntou.

:- Eu vou tirar uma licença como vocês bem sabem, mas antes de sair de cena, vou deixar o trabalho de conclusão deste semestre para quem for me substituir. Quero algo grande, será a nota máxima, valendo tudo ou nada. Vocês farão uma peça de teatro ou uma apresentação de dança, vou me decidir ainda, o importante é que eu quero que quebrem essas barreiras que existem em vocês. Eu quero todos vocês misturados desde os negros, os latinos, os gays, as mulheres e os homens, todos (as). Vocês precisam trabalhar juntos! Os protagonistas serão Baker e García.

:- O quê? – Eu praticamente berrei só de pensar em trabalhar ao lado de Christopher.

:- Isso mesmo. Vocês serão o casal protagonista encabeçando este projeto. – Repetiu Brian.

:- Nem somos da mesma turma eu não vou fazer esse trabalho, me recuso a trabalhar com ela. – Christopher protestou e os outros aproveitaram a deixa para reclamarem também.

:- Não estou fazendo um pedido a vocês, estou comunicando que este é o trabalho de vocês. Não querem fazer? Ótimo! Serão reprovados e nos vemos ano que vem. Eu vou conversar com seus outros professores e vamos fazer com que esse trabalho seja integrado as suas outras matérias valendo nota. Como professor de vocês eu posso dizer que tenho vantagem, podem protestar, mas estou decidido quanto ao meu método. Bom, o primeiro passo será dado agora. – ele olhou para o relógio e faltavam poucos minutos para acabar a aula que eu interrompi. – Brian caminhou até onde eu e Christopher estávamos e nos posicionou um de frente para o outro e depois fez com que nos sentássemos no chão e nosso professor foi fazendo o mesmo com cada um ali presente, ele misturou os alunos.

:- Quero que vocês se olhem nos olhos fixamente e sintam seja lá o que for. Seja raiva, inveja, carinho, respeito. Mas, sintam. Se olhem nos olhos e vejam como o outro é diferente. Não desviem o olhar, encare um ao outro com o coração aberto.

Eu olhava para Christopher com raiva por ele me fazer passar por isso, por culpa dele agora temos que fazer esse trabalho ridículo. Ele deveria sentir tanta raiva como eu porque mal piscava ao me encarar, conforme o tempo foi passando e eu continuava a olhar os olhos castanhos dele fui sentindo algo estranho. Minha raiva estava mudando de direção, ainda estava incomodada por ter que ficar ali assim, mas estava começando a me sentir exposta assim como quando soube do vídeo e isso me incomodava muito, mas não conseguia deixar de olhar para ele por que ao olhar verdadeiramente para o outro se estabelece uma estranha conexão.

:- Quero agora que vocês inspirem profundamente e depois respirem, seguindo essa respiração profunda. – A voz de Brian voltou a soar pela sala que estava em silêncio, nem mesmo o barulho de lá fora pareciam perturbar essa aula.

Controlar a minha respiração era como um efeito tranquilizante para mim. Essa era minha forma de centralizar e ficar em equilíbrio. Fazer o que meu professor me pediu fez com que eu esquecesse minha raiva, mas no seu lugar me deixou em plena confusão porque por mais aborrecida que eu estivesse não conseguia deixar de olhar para Christopher. Eu comecei a me lembrar de momentos que já vivi com ele em flashes na minha cabeça e isso fez com que mesmo calma, me sentisse estranha. Estava sentindo algo muito forte que não sabia explicar essa espécie de... Desconforto. Por que olhar assim nos olhos de alguém era algo forte?

:- Agora aos poucos vocês já podem parar de olhar um para o outro. – Eu escutei meu professor falar, mas não consegui desviar o olhar de Christopher. E ele também fazia o mesmo, tinha fixo no meu, o que será que ele estava pensando?

:- Até que enfim acabou esta tortura. – Logan comentou baixo para que Brian não escute, ele me tocou o ombro e só por isso desviei o olhar do meu rival. Quando olhei a minha volta todos já estavam de pé, se preparando para ir, reclamando do trabalho que foi passado, eu e Christopher éramos os últimos a ficar na mesma posição. – Vamos embora? – Logan me perguntou. Eu só assenti, me levantando devagar, um tanto desnorteada, eu confesso. Quando já estava reunida com meu grupo de amigos, Brian disse para os que estavam presentes que ia preparar melhor o trabalho que faríamos e depois daria mais detalhes, nós estávamos dispensados.

Andei devagar acompanhando os outros para fora da sala, antes de sair literalmente olhei para trás num ato impensado. Christopher ainda estava na mesma posição também me encarando. Foi com a lembrança do seu olhar que eu segui caminhando pelos corredores da universidade.

O resto do dia passou muito rápido, tive minhas outras aulas e quando pude me dar conta já estava no meu quarto de novo, já era fim de tarde. Estava introspectiva e eu não sabia responder a razão de estar tão aérea. Recebi uma notificação de Angel e me lembrei que estávamos conversando por whatsapp e fazia algum tempo que não a respondia.

“Posso te confessar uma coisa?”, escutei o seu áudio. “Pode” mandei outro a incentivando.

“Mesmo que os meninos tenham reclamado o dia inteiro desse trabalho, eu não achei ele ruim.” O que ela disse me fez prestar mais atenção na conversa, era uma opinião contraditória. “Sei lá, eu realmente acho que vai ser um desafio trabalhar com todos juntos, será um peso por ser o trabalho de conclusão e Brian é muito exigente. Mas, estava cansada de fazer o mesmo, agora estou me sentindo desafiada, eu gosto disso... Sobre o assunto do vídeo eu sei que não quer falar sobre, mas sabe o que mais me deixa em dúvida nessa história toda é o fato de você se importa tanto com Christopher. Vocês têm uma rixa, é claro. Ele sabe ser insuportável quando quer, mas o beijo que eu vi naquelas imagens. Annie, desculpe, mas algo al, eu só não sei explicar exatamente o quê.”

:- Você só pode estar maluca, Angie! – Falei alto irritada, apertei o botão para respondê-la. “Não acredito que você está insinuando algo entre eu e aquele ser. Faça-me o favor! Eu já te expliquei tudo o que aconteceu, você estava na festa ontem viu que ele invadiu minha casa, não sei como não roubou nada meu para revender. Não quero mais falar desse assunto!”, disse revirando os olhos e saindo da conversa, eu sabia que se ela me visse online insistiria nisso. Eu bufei ao me lembrar do que Christopher fez, justamente ali no meu quarto. Como ele fez para salvar aquele vídeo? Só se para celulares mais populares já existe a opção de ter algum tipo de memória externa. Ele só pode ter mandado esse vídeo para algum outro local de armazenamento.

Peguei o meu celular novamente e procurei ver onde estava esse vídeo, acessei o seu canal do YouTube que era por onde eu tinha acesso, as visualizações triplicaram desde a última vez que olhei. Que droga! Os comentários eram os mais diversos, mas muitos não acreditaram nas imagens depois que eu falei que era editado. Essa era parte boa e a parte ruim é que muitos ficaram do lado dele. A imagem que estava congelada antes de apertar o play era justamente momentos antes dele me beijar, eu olhei o exato local no meu quarto e me lembrei do beijo.

Aquilo era uma loucura! Pensei antes de suspirar, balancei minha cabeça como se assim a lembrança saísse dos meus pensamentos. Como pude baixar a guarda dessa forma? Resolvi pegar um cigarro e ir para minha varanda para fumar um pouco, aquele horário era mais tranquilo, meus pais não estavam em casa então não seria pega no flagra.

Ao olhar para minha vista, vi um bonito fim de tarde com o sol se pondo. Eu tinha uma vista linda dali, além da paisagem conseguia ver o jardim e a piscina da minha casa. Me lembrei de como foi a festa de ontem e de como tudo estava organizado e bem ambientado, me diverti muito. Tirando a parte que Christopher invadiu a festa. Chegamos até a dançar juntos... CREDO! De novo minha mente volta a pensar nele. Por que será? Acendi meu cigarro e o traguei me lembrando do olhar de Christopher quando eu deixei a sala de aula. Por que eu fiquei tão balançada? Talvez fosse um sentimento de culpa? Eu nunca agradeci pelo que ele me fez no passado. Na primeira vez em que ele veio até minha casa. Eu não consegui, as coisas mudaram e ele se tornou meu rival. Voltei a olhar para a minha piscina, dessa vez ninguém tinha me pedido, não era um exercício de aula, eu só consegui olhar para ele.

Naquele horário ele já estava terminando o seu serviço, Christopher era o meu limpador de piscina. Como eu imaginei, ele se sentiu vigiado e então olhou para onde eu estava. Dessa vez, não fiquei surpresa, apesar de tudo o que eu vivi de ontem para hoje, algo naquela aula me fez ficar curiosa. Por que aquele cara mexia tanto comigo?

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