Bad and Good

Eu sinto medo


Cap 2 – Eu sinto medo

— Certo Gum! O que aconteceu entre você e o Marshall Lee?

— O que quer dizer?

Fionna veio entrando junto com Cake no palácio, ela caminhava rapidamente até o príncipe e parecia disposta a bater nele se não lhe desse explicações.

— Desde a festa Marshall anda mais irritado do que o normal, não posso tocar no seu nome que ele fica furioso. Ele cancelou seus próximos shows e não sai de casa já faz uns três dias!

Gumball se sentia culpado. Ele havia sido muito duro com Marshall, lhe deu uma resposta, sem pensar nas consequências. “Eu devo ter o magoado muito.”

— Você está me ouvindo? Olha... Eu sei que você e Marsh tem um relação estranha, que vocês são “aminimigos”, mas isso já está me irritando. Eu quero ajudar vocês, mas não sei como, porque não sei o que aconteceu entre vocês. E não adianta mentir pra mim porque sei que aconteceu alguma coisa no passado.

— Me desculpe, nós dois estamos sempre agindo feito idiotas e te preocupando.

— Esta tudo bem. Vocês são meus melhores amigos no mundo! Me preocupar faz parte. Sabe... Se não quiser me dizer o que aconteceu não precisa, mas me diga como posso ajudar...

Cake olhava para os dois e sabia que estaria apenas atrapalhando se ficasse alí.

— Bem Fiona, príncipe Gumball, eu tenho umas coisas para fazer, volto aqui depois. Beijos pra vocês.

Enquanto Cake se retirava, ambos estavam em silêncio. “Fionna é uma grande amiga, e não gosto de vê-la assim, preocupada ou sofrendo por minha causa. Ela é uma mulher forte e sempre me apóia, eu devia confiar mais nela.” Pensava Gumball.

— Você pode me ajudar me ouvindo.

Disse Gumball sorrindo gentilmente para a amiga. Ambos foram até um lugar mais reservado, em que pudessem conversar e não serem incomodados por ninguém. Em uma sala do palácio, o príncipe ofereceu uma cadeira para Fiona. Eles se sentaram e Gumball começou a contar sua história.

— Olha, já te aviso que...Tem alguns detalhes constrangedores. Bem...Por onde começo...Vou tentar encurtar a história, pra não ficar muito longa. Certo, eu e Marshall nos conhecemos faz bastante tempo, muito antes de você aparecer por aqui...

(Flash Back)

Logo que nos cruzamos não nos demos muito bem. Ele era até mais assustador antigamente e quando o conheci ele estava envolvido com umas coisas ruins. Depois que esse assunto se resolveu acabamos ficando amigos. No começo era só isso, amizade, mas fomos ficando mais próximos e naquela época tínhamos um objetivo em comum.

Um dia eu fui até uma das antigas casas de Marsh, tínhamos planejado comemorar uma pequena, mas importante vitória que tivemos. Nós começamos a beber vinho, e aquilo subiu um pouco na nossa cabeça.

— Ei Marshall, acho melhor eu parar, se continuar bebendo assim vou perder o controle.

— Qual é Gum, viva um pouco! Você está sempre trabalhando pelo reino, sempre preocupado, relaxe um pouco pra variar, faça o que você quiser fazer hoje. Você merece!

— Acho que tudo bem relaxar, hoje, mas ainda assim...

Tenho certeza que não chegamos a ficar super bêbados, ao ponto de fazer coisas sem ter noção do que estávamos fazendo, mas com certeza o álcool nos fez ficar mais... Soltos, mais irresponsáveis. Conversa vai, conversa vem, de repente Marshall chegou perto do mim, ele me abraçou, senti seus lábios subirem pelo meu pescoço até minha boca. Nós nos beijamos.

— Espera Marshall, não podemos fazer isso...

Minha voz soou relutante, como se nem eu acreditasse em minhas próprias palavras.

— Por que não?

Ele parou por um segundo, como se esperasse meu consentimento para continuar, eu não só dei, mas me atirei em cima dele. Nós nos beijamos por um tempo. Eu gostava dele e ele de mim. As coisas foram ficando mais intensas entre nós, e no fim, dormimos juntos naquela noite. Continuamos a nos encontrar e a nos relacionar romanticamente por um tempo, pouco tempo. Até que eu o dispensei. Pra encurtar, eu me dei conta de que não poderíamos ficar juntos e terminei com ele, terminei algo que nem tínhamos começado direito.

Foi um término cruel da minha parte. Eu disse “coisas” da forma mais errada possível. Eu o magoei profundamente, sei disso, mas eu tinha que terminar com aquilo de forma rápida, antes que as coisas ficassem cada vez mais sérias, pois depois, seria algo muito mais difícil de fazer. Bem, é basicamente isso.

(Fim do Flash Back)

— Nossa...Eu nunca imaginaria isso de vocês dois. – Fiona estava realmente surpresa. Ela já havia percebido que havia alguma história entre eles, mas não sabia sobre o que se tratava. – Na verdade faz sentido, essas briguinhas idiotas de vocês, o fato de estarem sempre discutindo e de Marshall estar sempre te provocando. No entanto, eu não entendo, você gosta de Marshall? Você o ama?

Aquela pergunta deixou Gumball sem ação por um tempo. Ele sabia a resposta, sempre soube, mas dizê-la em voz alta o assustava. O príncipe não era criança, sabia lidar com seus sentimentos, sabia entendê-los e sabia o quão perigoso sentimentos podiam ser.

—Eu o amo.

— Então, por que terminou com ele?

— Eu tenho responsabilidades com o reino. Não posso me distrair com relacionamentos, com o Marshall, ele é muito inconsequente, e perigoso. Não posso colocar a mim mesmo em risco ou a meu reino. Tenho que me focar em manter tudo em segurança em garantir o que o reino precisa e que os cidadãos doces estejam felizes! Os sentimentos que tenho por Marshall só me tornariam um governante distraído, tenho que priorizar o que é melhor para a felicidade de todos.

– E sua felicidade? Ela não importa? – Fiona estava irritada, ela conhecia as “idiotices” de ambos, Gumball e Marshal. – Gum, eu te adoro e te conheço bem o suficiente para poder te dizer que você é uma pessoa cruel. Você passa por cima de sua felicidade e às vezes dos sentimentos dos outros por causa do reino.

— Eu sou um príncipe. Isso me dá privilégios mais acima de tudo responsabilidades.

— Você é um bom governante, o melhor. Duvido que deixar que alguém entre na sua vida possa te atrapalhar. Isso só vai te fazer bem. Não sacrifique sua felicidade pelo reino, isso não vai fazer do reino um lugar melhor, pois eu sempre achei que um reino fosse um reflexo do seu líder, não sei se isso faz muito sentido. Um príncipe infeliz, que está disposto a jogar seus sentimentos fora, pode acabar achando que sentimentos são dispensáveis e começar a desconsiderar as emoções, sofrimentos e felicidades do seu próprio povo.

“Fionna é uma das pessoas mais importantes para mim, acho que esse pequena conversa já mostra o porquê.” Gumball olhou para Fionna com carinho.

— Você tem razão, em parte, mas não sei o que fazer. Tudo pode se tornar tão complicado de tantas formas...

— Converse com o Marshall, diga o que está sentindo. Gum seja honesto com seu coração pelo menos uma vez e não fique racionalizando tudo.

— Irei pensar sobre isso.

Gumball passou aquela noite em grande conflito. Sempre foi muito claro para si mesmo que o melhor para o reino deveria estar em primeiro lugar. No entanto as palavras de Fiona pesavam em sua cabeça. Ela tinha razão, mas a dúvida ainda o torturava. Percebendo que não conseguiria dormir resolveu que já era hora de fazer alguma coisa. Tentar achar alguma solução que pudesse agradar suas duas partes, sua mente e seu coração. Seu lado racional e seu lado emocional.

Assim Gumball saiu correndo, pegou seu pássaro e foi até a casa de Marshall Lee. Chegando lá, ele bateu na porta, sem nem mesmo hesitar, mesmo estando tarde da noite. Toc! Toc! Toc!

Marshal abriu a porta rapidamente, irritado e com cara sonolenta.

— O que é agora Fionna! An? Gumball, o que você está fazendo aqui?

Gumball estava sem fôlego, pois veio tenso o caminho inteiro, nervoso. Precisava de tempo para recobrar o fôlego, demorou a responder.

— Posso falar com você?

— Se eu disser “não”, você vai embora?

— Sei que está irritado comigo, eu não fui justo com você, quero me explicar. Quero lhe dizer o que estou sentindo, pelo menos uma vez. Acho que ambos merecemos isso. Posso entrar?

Marshall olhou para Gumball, estava hesitante em deixar ele entrar, mas cedeu quando viu que ele estava de pijama e cabelo desgrenhado. O pijama que ele usava era uma camiseta que o vampiro havia lhe dado há muito tempo atrás e o cabelo desgrenhado era cômico.

– Entra.

Gumball entrou e antes que o vampiro pudesse fazer qualquer protesto ele começou a falar.

— Eu tenho medo Marshall.

— O quê?

O príncipe o olhou nos olhos e sem saber por onde começar deixou seu coração despejar tudo que estava dentro dele.

— Aquela vez, em que nos beijamos...Eu fui um idiota por ter lhe retribuído e um idiota por ter permitido que continuássemos juntos mesmo sabendo que não devia ficar com você e um idiota maior ainda por depois ter agido daquela forma e te dado o fora. – Marshall estava confuso, irritado e triste. Essa mistura de sentimentos que transbordavam dele ainda assim não puderam superar a visão de seu amigo ali, tentando se desculpar e tocando em um assunto tão importante para ele, a relação dos dois. – Eu fiquei com medo do que eu sentia por você, e fiquei com medo de me envolver mais e acabar deixando isso interferir com os assuntos do reino. Eu só conseguia pensar em tudo que poderia dar errado se eu continuasse a ficar com você. Eu estava com medo, porque eu estava amando você. E...E a forma como você me beijava, você estava tão seguro que aquilo me apavorou. Eu me afastei por causa disso. Às vezes fico tão preocupado com o reino que...Que eu ajo de forma fria com os outros e comigo mesmo.

– Você não está fazendo muito sentido Gum... Por medo? Você acha que eu não sinto medo? Eu tenho medo da solidão Gumball!

Os olhos de Marshall se encheram de lágrimas, ele olhou para Gumball com uma mistura de raiva, vergonha e tristeza.

— Eu estou sempre sozinho e parece que qualquer um que eu queira me aproximar, com quem eu me importe, acaba me deixando pra trás. Mas pelo menos eu não fico renegando o que eu sinto, e quando eu te beijei naquela noite e você retribuiu, eu senti... Quando estávamos juntos eu não me sentia sozinho, pela primeira vez em muito tempo. Droga!

Lágrimas escorreram dos olhos de Marshall e Gumball que é sempre tão controlado, sentiu seu coração ficar apertado.

— Me desculpe Marshall.

— Eu não estou bem Gum. Eu estou...Meu amigo Touph...Ele morreu.

Gumball não esperava aquela notícia. As coisas começaram a fazer mais sentido. Marshall que já se sentia assim há muito tempo, depois da perda de mais alguém importante para ele, não aguentou mais, tentou buscar conforto em alguém que amava e que ainda estava ali, mas Gumball o afastou. O príncipe compreendeu tudo isso, e se sentiu pior. Marshal precisava de alguém e Gumball novamente havia o abandonado. Seus olhos também se encheram de lágrimas e ele, sem saber o que fazer, se aproximou do outro e o abraçou.

—________Continua________