– Não acredito que ele não te deu um anel de compromisso! – Laura disse fazendo biquinho, enquanto passava bronzeador nas suas pernas. Sábado finalmente havia chegado, e estávamos aproveitando à tarde de sol na piscina da casa de Gabriela.

– O Pedro não gosta desse lance de anel. Ele diz que ninguém é dono de ninguém, e que anéis de compromisso marcam o parceiro como “seu”. – Gabi explicou e Laura arregalou os olhos. Eu, que estava quieta na borda na piscina, resolvi argumentar.

– Concordo absolutamente com ele. Pessoas não são terras pra você dizer que te pertencem. – Inclinei-me pra sair da piscina, pegando uma toalha. – Mas não acredito que você está namorando!

– Pois é. Agora eu, a mais romântica de nós três, sou a única encalhada aqui. – A loira resmungou, rolando os olhos. Deitei-me na esteira ao seu lado.

– Você que pensa, querida. Estou na mesma vibe. – Comentei, tapando os olhos por causa do sol. As duas se viraram pra mim.

– Ué, mas e o advogado gostosão? – Gabi perguntou, confusa. Eu suspirei.

– Meu pai nos pegou dando um amasso no escritório essa semana. Fez um escândalo, nos demitiu e tudo... Só consegui nossos empregos de volta pedindo desculpas à namoradinha dele. – Já havia contado pra elas sobre o barraco no restaurante. Elas assentiram, curiosas. – Conversei com o Daniel ontem e foi terrível. Ele está puto da vida comigo.

– Você gosta dele, baby? – Laura perguntou e eu assenti. – Ele gosta de você?

– Pelo jeito que ele se comportou... Provavelmente. – Respondi, dando ombros.

– Então não se tem muito que fazer. Garota gosta do garoto, garoto gosta da garota, sexo! – A loira riu, citando The Vampire Diaries*. Eu rolei os olhos.

– As coisas são não tão fáceis assim, Laura. Meu pai já nos pegou uma vez e perdoou, se ele pegar de novo... Vai nos expulsar daquele prédio com uma vassoura. – Expliquei, e ela sorriu, subindo os óculos escuros pro topo da cabeça e fechando sua revista.

– Querida, quem não está entendendo nada aqui é você. – Falou gentil, e Gabriela sorriu pra mim. Eu apenas pisquei. – Quantos namorados mais velhos você já teve? Quantas vezes você fugiu? Quantas vezes foi levada pelo conselho tutelar por ter sido pega numa festinha de traficantes?

– Algumas. – Admiti, vermelha de vergonha. Eu falei que não prestava.

– E alguma vez seu pai te deserdou por isso? – Perguntou e eu neguei. – Sabe por que ele ficou tão chateado? Porque você não contou pra ele. Não contou que estava interessada pelo seu chefe e que estava se relacionando com ele. Você escondeu, Milena. Foi isso que o magoou.

– Não estou acompanhando. – Resmunguei e Gabi deu uma risada.

– Porra Lena, até eu entendi! – Ela exclamou, jogando os cabelos de lado. – Da primeira vez deu errado porque o seu pai não sabia. Então o que você tem que fazer agora? – Fez suspense e eu arqueei as sobrancelhas, sem resposta. – Contar pra ele, oras!

– Vocês estão malucas? – Ri, chocada. – Ele nunca vai aceitar.

– Não dê essa opção a ele. Se acerte com o advogado, marque uma reunião com sua família e diga que vocês estão juntos, e não pedindo permissão. Eles não poderão fazer nada. – Piscou um olho. Eu ainda estava processando a informação.

– E quem garante que vai dar certo?

– Ninguém garante. Você só vai saber se tentar. – Laura respondeu, abrindo sua revista e descendo os óculos da cabeça. Endireitei-me na esteira e fechei os olhos pro Sol, pensando em tudo o que as meninas haviam dito.

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Inspira, expira, inspira, expira. Ok, eu consigo. Consigo mesmo? Ora, Milena, você já fez coisas bem piores, por favor. Mais ou menos né, eu nunca pedi desculpas pro homem que eu estou apaixonada. Pra falar a verdade, eu nunca pedi desculpas pra ninguém sem estar sendo obrigada.

– Querida, você precisa de alguma coisa? – A secretária de Daniel me despertou, e só então percebi que estava parada na frente da recepção.

– Eu... Hm... O Dr.Felipe me pediu pra trazer um recado pra ele. – Apontei pra porta fechada da sala de Daniel.

– Tudo bem, pode falar que eu anoto e o entrego. – Pegou um bloquinho e uma caneta. Franzi o cenho, confusa.

– Mas eu preciso falar pessoalmente. – Expliquei e ela sorriu compreensiva.

– Milena, querida, seu pai me proibiu de deixar você visitar o Dr. Daniel. – Disse e eu me aproximei dela desesperada.

– Olha – Dei uma espiadela em seu crachá – Lucia, eu sei que meu pai é seu chefe e que ordens são ordens, mas eu preciso muito falar com ele! – Exclamei e ela me olhou indecisa. – Por favor, é muito rápido!

– Tudo bem, te dou dez minutos. Se você não sair de lá nesse tempo, te arranco pelos cabelos, ouviu? – Apontou um dedo e eu assenti, correndo até a porta e a abrindo de supetão.

– Lucia, qual o... – Daniel levantou os olhos e os estreitou pra mim. – O que você está fazendo aqui?

– Eu trabalho aqui. – Brinquei e ele continuou sério. Ok, sem piadinhas hoje. – Na verdade, eu... Eu...

– Você? – Balançou a cabeça, como se fosse pra eu continuar. Poxa camarada, copera né, eu não to acostumada com essas coisas.

– Eu quero pedir desculpas. – Disparei e logo suspirei de alívio. Até que não era tão ruim assim. –Eu errei ao falar aquilo na cozinha, errei ao desistir da gente por causa de uma coisinha de nada...

– Aonde você quer chegar com tudo isso, Milena? – Interrompeu, curto e grosso. Eu respirei fundo.

– Eu preciso de você, Daniel. Pensei que pudesse me acostumar a ficar sem seus abraços, sem seus beijos, mas eu não consigo. Eu estou apaixonada por você, e quero deixar claro que vou lutar por nós dois. E se você também quiser... – Parei minha frase, ao perceber que ele folheava as folhas de um livro grosso sem nem prestar atenção em mim. Se tem uma coisa que me deixa puta, é quando não prestam atenção em mim. – Você é um idiota, sabia? – Gritei de repente e ele levantou a cabeça, assustado. – Eu estou aqui, me declarando pra você, pedindo desculpas e acredite meu bem, isso é uma coisa muito difícil pra mim, e você nem ao menos me olha? Eu sei que fiz merda e estou me redimindo, mas eu não tenho paciência pra cú doce, ok? Se quiser fazer isso dar certo, também vai ter que cooperar. – Virei-me pra ir embora, puta da vida.

– Eu quero. – Anunciou quando eu já estava com a mão na maçaneta. Girei nos tornozelos, olhando pra ele enquanto segurava um sorriso.

– O quê?

– Eu quero fazer isso dar certo. – Levantou da cadeira, sorrindo bobo pra mim. – Eu também juro que tentei te esquecer, mas não consigo achar ninguém tão chata, briguenta, mimada e perfeita pra mim como você. – O homem passou a mão no cabelo e eu gargalhei, correndo até ele e lhe dando um beijo.

– Me espere quando acabar seu expediente. Nós vamos conversar com os meus pais. – Declarei quando me soltei dele, e Daniel arregalou os olhos. – Vai dar tudo certo, calma. Quero fazer as coisas do jeito certo dessa vez.

– Ok, você é quem manda. – Me deu um beijo na bochecha e eu corri até a porta, piscando um olho pra ele. Do lado de fora, Lucia me encarava enquanto apontava pro relógio. Ri lhe mandando um coração com as mãos, e tratei de sair dali, antes que alguém visse e fosse fofocar pro meu pai. Agora as coisas estavam finalmente entrando nos eixos.

* “Boy like a girl, girl like a boy, sex!” Frase de Caroline Forbes, personagem da série americana The Vampire Diaries.