Bad Kids

Uma Waldorf à solta


15. Uma Waldorf à solta

A maior parte da elite juvenil se encontrava no salão de baile do Met naquela quinta feira de inverno nova iorquino. Era o último dia de ensaio para o baile de casamento de Serena Van der Woodsen e Nathaniel Archibald e tudo precisava correr da melhor forma possível. A noiva estava no centro da pista, usando seus sapatos brancos de dança da Bonwit Teller e vestido rosa bebê Jessie Franklin Turner, acompanhada do noivo que usava uma camisa branca social e sapatos pretos polidos; os dois dançavam uma valsa lenta, enquanto um circulo de outros casais os rodeavam. Este circulo era composto de convidados de honra e, principalmente, o segundo casal mais importante da cerimônia: a madrinha da noiva e o padrinho do noivo.

– Não, não, vocês estão dançando rápido demais! – A Sra. Kesler, professora de dança de 65 anos implicante e perfeccionista, falou para um par que estava em um canto da roda – Observem Charles e Blair para que possam desenvolver uma melhor performance, sim? – E virou-se para os dois que tinha acabado de mencionar - Queridos, vocês estão em ótima sincronia! Continuem assim.

– Muito obrigado, Sra. Kesler – Chuck respondeu, e baixou a voz para sussurrar para Blair – Você está com o melhor dançarino do Upper East Side pelo que vejo aqui. Todos parecem um bando de patos atrapalhados.

– Você é quem está com a melhor dançarina do Upper East Side. – Blair firmou o aperto nas mãos de Chuck – Sem mim você estaria perdido.

– Pode apostar que sim. – Ele sorriu, mas depois sua expressão ficou um pouco menos humorada – Hey, algo novo sobre Humphrey?

– Por enquanto nada. – Ela respondeu – Mas Serena disse que o vê em quase todos lugares que vai. Acho que Dan está seguindo ela.

– Preciso segurar as pontas até sábado, que é o casamento. E quanto à você...

– Posso ajudar a montar uma armadilha para pegar Dan Humphrey. – Blair o interrompeu, um sorriso animado brincando em seus lábios. Chuck deu uma risada e cutucou o nariz pequenino de Blair.

– Não, você ficará comportada com Serena e se certificará que tudo corra bem.

Blair fez um beicinho desapontado, o qual Chuck estava pronto para se inclinar e beijar. Mas ela percebeu suas intenções e deu um passo para trás.

– Estou sentindo os buracos que os olhares da minha mãe estão causando nas minhas costas. – Ela avisou, e Chuck revirou os olhos.

No canto do salão, Lily Van der Woodsen e Eleanor Waldorf observavam o ensaio. Lily tomou um gole de seu chá e comentou animadamente.

– Não acha que Chuck e Blair formam um casal visualmente agradável?

A carranca que Eleanor tinha no rosto desde que sua filha se juntou à Chuck Bass na pista de dança se aprofundou mais ainda.

– Discordo. Charles Bass é exatamente o tipo que não quero para Blair.

– Ele parece ser um rapaz educado e polido...

– Lily, francamente – Eleanor se virou para a amiga – O sujeito é suspeito de ser chefe de uma das maiores organizações criminais do país, e ainda é dono daquele hotel que aquelas atrizes francesas levianas frequentam. O imagina ao lado de minha filha, que é uma das mais respeitadas damas entre essas inúmeras jovens sem educação?

– Bem, eu... – Lily corou, já se arrependendo de seu comentário.

– Eu também não imagino. – Eleanor a interrompeu, pondo um ponto final no assunto. Ela olhou para o relógio na parede do salão – Pelo que vejo, o ensaio está chegando ao final.

Bem em tempo, a Sra. Kesler se dirigiu ao tocador de vinil e retirou o disco da agulha. Depois, ela falou em alto e bom som:

– O ensaio está terminado, meus caros. Desejo boa sorte aos noivos no sábado!

Os jovens começaram a se dispersar no salão, e antes que Blair se afastasse, Chuck a puxou pelo pulso.

– Acha que posso visitá-la agora à noite?

– Você disse para eu ficar comportada, não disse? – Ela sorriu ironicamente – Deixar homens entrar em seus aposentos não é algo que uma dama comportada faria.

Chuck estava prestes a responder quando um alto pigarro soou atrás dos dois. Eleanor Waldorf estava parada, praticamente fuzilando a mao de Chuck que ainda se encontrava no pulso de Blair.

– Boa tarde, Sra. Waldorf. – Ele cumprimentou cordialmente, se afastando um passo de Blair imediatamente.

– Olá, Charles – Eleanor respondeu, o encarando de cima a baixo. Depois, ela passou o braço pelo da filha – Vamos, Blair, está na hora de voltarmos para casa.

– Claro, mãe. – Blair concordou, e antes de afastar-se se virou em direção à Chuck – Até logo, Chu... Sr. Bass.

Chuck assentiu, um sorriso malandro se escondendo em seus lábios.

– Até logo, Srta. Waldorf.

XOXOXO

O Hotel Empire era uma das principais rendas das Indústrias Bass, e também da máfia. Enquanto, por um lado, importantes empresários e figurões do empreendedorismo utilizavam o hotel para estadias e reuniões de negócios, por outro inúmeros parceiros e mulheres de programa se hospedavam no Empire para facilitar seus “negócios” – tudo sobre o atento olhar de Charles Bass e Nathaniel Archibald.

Enquanto Chuck ainda estava acompanhando Blair pela mão no salão de baile do MET, uma hóspede caminhava pelo hall de entrada do Empire em direção ao balcão.

– Boa tarde, posso ajudá-la? – A recepcionista saldou em sua melhor voz simpática.

– Boa tarde. Quero uma suíte simples, por favor.

– Certo – A moça abriu o caderno de reservas, conferindo as anotações de quartos, horários e preços – Ah, aqui. Tenho uma suíte simples disponível. Por quanto tempo a senhorita deseja ficar?

– Dois dias.

– Dois dias – Ela repetiu, anotando os dados no caderno – Suíte simples, dois dias. Trabalhamos com a realização do pagamento pós estadia, então você precisa nos fornecer seus dados financeiros apenas no sábado, que é a data da sua partida.

– Certo. Já posso subir com meus pertences?

– Claro, Julian pode lhe auxiliar com sua mala, senhorita. Aqui estão as chaves do seu quarto. – A recepcionista escorregou uma chave pelo balcão – Ah, a propósito, qual o seu nome?

– É... Alisson Hammilton. – A moça sorriu cordialmente.

XOXOXO

– ...E eu acho que vai dar tudo certo – Serena concluiu, sorrindo positivamente para a melhor amiga enquanto caminhavam pelo Central Park, acompanhadas de perto por Jeremy e Anthony – Ah, B, não vejo a hora em que eu e Nate estaremos oficialmente casados.

– E Dan Humphrey... Não incomodou mais você?

Serena suspirou, e toda aquele excitação que sentia foi embora.

– Ele liga para minha casa algumas vezes, tentando falar comigo. Ele costumava ser um rapaz muito gentil e legal... Não entendo como pode falar aquelas coisas.

– E falando do diabo... – Blair murmurou. Ela tentou fazer a volta com Serena, mas Dan as viu e se aproximou.

– Oi, Serena... Srta. Waldorf. – Ele cumprimentou as duas. Jeremy e Anthony deram dois passos à frente, estufando o peito e olhando feio para Dan.

– Tudo bem, rapazes, podem deixar que dele eu cuido. – Blair olhou para os dois, que continuavam em suas posições agressivas.

– Srta. Waldorf, o Sr. Bass nos pediu para que mantivéssemos o bambino Humphrey longe de você e da Srta. Van der Woodsen. Son ordens. - Anthony falou em seu carregado sotaque italiano, e levantou um pouco o paletó para mostrar uma ponta do cano do revólver que carregava consigo.

– Eu quero ouvir o que ele tem à dizer. Com o chefe de vocês eu me entendo depois. – Blair retrucou – Agora esconda essa arma e dê alguns passos para trás com Jeremy.

Os dois enormes homens fizeram cara feia, mas obedeceram. Dan Humphrey assistia à cena, incrédulo.

– A senhorita anda tão intima assim com Chuck Bass, Srta. Waldorf? Tem dois capangas como segurança e tudo. Com o chefe de vocês eu me entendo depois...

– Isso não é da sua conta, Cabbage Patch. O que está fazendo aqui?

Dan ignorou Blair e voltou-se para Serena, que se manteve calada até aquele momento.

– Serena, porque não quer falar comigo? Eu tento contato com você, falei até com sua mãe!

– Você falou com minha mãe?? – Serena quase gritou. Blair a olhou de forma censurada e ela se recompôs. – Como falou com minha mãe?

– Por telefone, apenas. – Ele se defendeu – A questão é: você tem uma opinião completamente errada sobre mim.

– Eu não tenho nenhuma opinião errada sobre você – Ela falou entre dentes, e puxou o braço de Blair – Vamos, B, as pessoas estão começando a encarar, estamos no meio da rua.

– Por favor – Dan interceptou o seu caminho – Naquela época, eu não tinha nada a ver com aquelas substâncias que esconderam nas minhas coisas!

– Dan, pare, vá embora...

– Eu estava tão preocupado, porque Jenny estava sozinha em Montpellier...

– A Srta. Van der Woodsen pediu para você ir embora! – Jeremy tomou a frente e empurrou Dan. Dan estava prestes a revidar, mas Serena entrou no meio.

– Não, espere, Jeremy, deixe-me fazer uma pergunta para Dan, sim? Por favor, não o machuque – Ela falou para o capanga louro. Ele murmurou um contrariado “Sim, senhora” e voltou para sua posição. Serena olhou para Dan – Quem é Jenny?

Dan abriu a boca para falar, mas nenhuma palavra foi proferida. Ele tinha percebido que havia falado demais.

– Jenny... É uma prima. Eu estava tomando conta dela antes de vir para os Estados Unidos com você.

– Você nunca mencionou ninguém com esse nome para mim quando namorávamos. Porque a escondeu?

Blair assistia a conversa de Serena e Dan de boca fechada. Ela sentia que havia algo errado ali, mas escolheu apenas ouvir, sem fazer interferências. Dan coçou a cabeça, procurando por explicações.

– Não a escondi, é que ela nunca foi muito importante. Mas um pouco antes de viajar, eu passei a mandar dinheiro para ela, para que pudesse pagar os estudos. Nada de grande significado, Serena, não interfere na nossa história. Agora, a sua história e a de sua família... Bem, elas estão cheias de interferências.

A loura ficou em silêncio por alguns segundos, depois puxou Blair pela mão.

– Vamos, B, não quero mais ouvir mentiras e ameaças.

As duas foram embora, e quando Dan tentou impedir, Jeremy e Anthony discretamente apontaram seus revólveres. Dan escolheu não seguir Blair e Serena.

XOXOXO

Chuck estava prestes a entrar no elevador de ferro do Empire para subir para sua suíte quando uma voz feminina o chamou.

– Senhor Bass?

Ele virou-se e encarou a jovem que estava ali em pé. Era magra, não muito alta, de cabelos longos e extremamente louros, quase brancos. Tinha grandes olhos azuis, usava muita maquiagem e carregava uma pequena pasta nas mãos. Ela sorriu ao vê-lo.

– Posso ajudá-la, Senhorita...

– Hammilton. Alisson Hammilton – Alisson estendeu a mão para cumprimentar Chuck. – Eu estava esperando pelo senhor. Li muito sobre os seus negócios, a maneira como administra suas riquezas... Bem, de certa forma, sou uma grande fã. – Ela sorriu sem graça. – Eu gostaria de discutir um pouco sobre o mercado dos negócios, sabe, se o senhor tiver tempo, é claro.

Chuck a analisou mais cuidadosamente. Alisson não era do tipo “senhorita de negócios”, não mesmo. Ela estava ansiosa, mas por fora conseguia se controlar muito bem. Ele decidiu que entraria na brincadeira; porque não dar uma chance?

– Bom, tenho alguns minutos agora, se a senhorita quiser.

– Excelente. Teria alguma sala de reuniões ou...

– Aqui mesmo no hall seria perfeito, Srta. Hammilton.

XOXOXOXO

Blair, Penelope, Kati e Isabel andavam pela Quinta Avenida com as listas dos itens do casamento de Serena nas mãos. Blair liderava o grupo, riscando os itens que já haviam sido completos, e as outras três andavam atrás.

– Acho que estamos prontas... Faltam apenas as meias de seda que Kati fez o favor de esquecer de comprar. – Blair olhou acusatoriamente para Kati, e a garota se encolheu um pouco.

– Blair – Penelope chamou – Seria ótimo se pudéssemos fazer parte do chá pré casamento também, não acha? Meu pai está contribuindo com os Archibald para o escritório de advocacia da família e está disposto a dar uma vaga para Nate, e minha mãe...

Enquanto Penelope falava sem parar, algo no outro lado da rua prendeu o olhar de Blair. Logo em frente do hotel Empire, parados perto do hall de entrada, estavam Chuck e uma mulher desconhecida. Enquanto Chuck falava algo para ela, ela riu alto e colocou a mão no braço dele, o encorajando a continuar, e depois ela também falou algo que o fez dar uma risada. Blair estreitou os olhos para aquela cena e parou de caminhar, enquanto Penelope ainda falava.

– Penelope – Blair interrompeu o pequeno monólogo que a garota fazia – Conhece aquela garota, na entrada do hotel Empire? – Ela apontou discretamente para outro lado da rua.

– A moça eu não sei, mas aquele rapaz é com certeza Chuck Bass... Tão bonito que eu não pensaria duas vezes em beijá-lo! – Isabel intrometeu-se, e as outras garotas deram risinhos animados. Blair pensou em bater a cara de Isabel contra o vidro da vitrine da loja de roupas que elas estavam em frente, mas ela era uma dama, e damas nunca fariam isso. Ao invés disso, ela sorriu e disse:

– Eu não me lembro de perguntar nada à você, Isabel. Está dispensada.

– Mas eu...

Dispensada.

A garota deu meia volta e foi embora, parecendo prestes à chorar. As outras duas observaram caladas.

– Como eu ia dizendo... – Blair retomou – Penelope ou Kati, alguma de vocês conhece a garota?

Elas se entreolharam e encolheram os ombros.

– Nunca a vimos por aqui. – Penelope falou – Parece ser mais nova, talvez 17 ou 18 anos... Mas com certeza não é do UES.

– Não mesmo. – Kati concordou – Deve ter chego há alguns dias.

– Certo. – Blair falou, ainda observando os dois do outro lado da rua. A loura agora tinha entrado em uma limusine para ir embora, e Chuck retornou para o hotel – Quero que descubram tudo sobre ela. Nome, idade, de onde é, onde está morando agora, o que está fazendo aqui, quem são os pais dela... Tudo.

– Tem algum motivo especial? Ela me pareceu sem importância. – Kati argumentou.

– Apenas façam o que eu mandei, e serão recompensadas. – Blair respondeu, pondo um fim no assunto – Vamos.

XOXOXOXO