21. Políticos

Três meses depois

Blair estava sentada na cama, lendo um de seus livros de romance, quando sua mãe abriu uma fresta da porta de seu quarto e colocou a cabeça para dentro.

– Blair, tenho novidades.

– Sim? - Ela questionou, sem desviar os olhos do livro. Eleanor entrou no quarto e parou ao seu lado, com as mãos juntas em sinal de animação.

– Vamos pegar o próximo navio para a França depois de amanhã!

Blair fechou o livro imediatamente e olhou para a mãe.

– Mas já? Pensei que você precisasse ir para Paris apenas no meio do ano.

– Não, a semana de moda parisiense foi adiantada. Serena já voltou da lua de mel com Nathaniel, certo?

– Sim.

– Ótimo, chame-a para ir conosco. - Eleanor passou a mão pelos cabelos curtos e castanhos e sorriu - Será maravilhoso respirar o ar puro de Paris e sair um pouco do caos que está Nova York. Reparou como as ruas estão cada vez mais lotadas com as massas que utilizam os bondes e bares populares?

– A lei seca ainda está de pé, mãe.

– Bom, se não há álcool naqueles mercadinhos sujos e fedorentos, então não sei o que atrai tanto assim os pobres. - Ela deu uma risada, e depois suspirou - Seu pai anda um tanto aborrecido, então acredito que estamos indo viajar na hora certa.

Blair sentou-se de forma ereta na cama e colocou seu livro de lado.

– Com o que ele está aborrecido, exatamente?

– Campanha política, como sempre. O concorrente está pegando pesado com a propaganda e seu pai está perdendo pontos na popularidade. Estou bem preocupada, para ser honesta.

– Pensei que tudo estivesse nos conformes.

– E estava, até Nathan Lewis Miller... bem, não sei porque estou falando estas coisas pra você - Eleanor ajeitou a saia que usava e deu a volta para sair do quarto de Blair - Se prepare para nossa viagem, certo?

Blair balançou a cabeça e murmurou um "Tudo bem", mesmo que a mãe já tivesse saído de seu quarto.

XOXOXOXO

O QG da máfia estava tranquilo e silencioso. O recepcionista informou à Blair que Chuck ainda não havia chego, mas que Nate estava no andar de cima, no escritório, analisando alguma papelada do setor financeiro do grupo. Ela subiu as escadas e entrou na sala espaçosa e de paredes escuras.

– Boa tarde! - Blair disse, largando sua bolsa em cima da escrivaninha e sentando-se logo em frente à Nate. Ele deu um pulo em sua cadeira, assustado com a repentina presença, mas logo voltou ao normal.

– Boa tarde para você também, Blair. - Ele guardou os papéis na gaveta e apoiou os cotovelos na escrivaninha - Que ventos lhe trazem aqui? O recepcionista deve ter lhe dito que Chuck ainda não chegou.

– Ah, sim. - Ela balançou a mão no ar, dispensando o assunto - Já sei disso. Enquanto espero, fico conversando com você até que Chuck chegue, se não se importa. Como foi a lua de mel com S?

Nate franziu o cenho.

– Foi boa... Como ficaram as coisas por aqui?

Blair fez uma careta.

– Não tão boas quanto a suíte que você e Serena ficaram hospedados, Archibald.

Nate corou, mas seguiu adiante:

– Como assim? O que aconteceu?

– Papai está estressado... Você sabe, campanha eleitoral, votos, visitas às cidades mais próximas, Nathan Lewis Miller.

Nate riu.

– Miller pode ser um incômodo quando quer... - Depois ele se deu conta da escorregada que havia dado e mordeu a língua - Ops.

Blair estreitou os olhos.

– Como assim um incômodo?

Nate nada falou, e ela insistiu:

– Vamos lá, você sabe que pode me contar as coisas.

– Seu pai está concorrendo novamente ao cargo de governador.

– E?

– E daí que ele já deveria saber das coisas, Blair.

Ela revirou os olhos.

– Ele é durão, mas um tanto inocente para algumas coisas... Fale-me de Lewis Miller.

Nate suspirou e se reclinou conta a cadeira, cruzando os braços.

– Ele é um velho conhecido, e tudo que tem hoje, é graças aos Tataglia. Seu cargo no senado, seu mandato de deputado, tudo, tudo mesmo, ele conseguiu das mãos dos poderosos da máfia. Lewis é ambicioso, aquele velho.

Blair gesticulou para que ele seguisse em frente, e Nate continuou:

– Chuck não gosta muito dele. Nathan nunca fez nada contra nós, mas veja bem, ele é esperto e trapaceiro: sorri como um cavalheiro, mas dá o bote como um ladrão de quinta. Se ele está nesta eleição, é para ganhar.

– Não acredita que ele vá realmente ganhar... - Blair especulou, incerta - Acredita?

Nate hesitou, mas disse:

– Seu pai não tem chances.

Blair engoliu em seco. Tudo o que mais importava para seu pai era a maldita reeleição; reconquistar a sua popularidade, ocupar novamente o cargo de governador e fazer o seu caminho até a presidência. Ela sabia que, caso Harold perdesse para Nathan Lewis Miller, seria um dos maiores baques de toda a sua carreira política.

– Eu penso que deve haver alguma maneira de reverter esta situação. - Blair falou, vasculhando a sua mente à procura de algo que pudesse ajudar. Nate riu.

– Seu pai não poderia lutar sozinho contra as forças de uma máfia. Só se ele tivesse o apoio de outra.

Os olhos de Blair brilharam, e Nate murmurou um "droga" baixinho.

– Hey, esqueça o que eu disse, certo?

– Muito bem, Archibald! - Ela bateu palminhas animadas - Você me deu uma grande ideia!

O loiro correu a mão pelos cabelos, nervoso.

– Sabe que Chuck nunca concordaria em ajudar o seu pai, não sabe?

– Nunca diga a palavra nunca.

– Bom, aqui temos um caso onde "nunca" é aplicável à situação.

– Eu posso tentar.

– Blair, não - Nate levantou-se de sua cadeira e foi até a morena sentada do outro lado da mesa. - Não faça isso! Você não sabe onde está se metendo!

– Acalme-se, céus! - Blair revirou os olhos - Se eu perceber que as coisas não sairão como o planejado, eu desisto antes que algo dê errado.

– Esqueça isso.

– Não posso, desculpe.

Nate bufou.

– Eu não lhe falei nada!

Blair cruzou os dois dedos indicadores sob os lábios.

– Não se preocupe, o seu segredo está guardado.

Nate voltou a se sentar em sua cadeira e suspirou.

– E então, como pretende fazer?

– Em primeiro lugar, preciso abordar o assunto com Chuck, mas não sei como...

– Abordar que assunto?

Blair e Nate viraram em direção à porta, surpresos. Chuck havia acabado de entrar no escritório e tinha ouvido o que sua namorada havia dito por último.

– Boa tarde, Bass - Ela foi até ele e lhe deu um pequeno beijo nos lábios - Estava lhe esperando.

– Percebi... - O olhar de Chuck alternou entre Blair e Nate, um tanto desconfiados - Sobre o que falavam antes de eu chegar?

– Ahm, nada demais. - Ela correu a mão pelo braço dele, de forma tranquila - Podemos ir até o bar? Eu estou morrendo de vontade de tomar um French 75.

XOXOXO

– Não mesmo.

– Por favor!

– Não.

– Eu pensei que você me amasse.

– E eu amo, mas não posso fazer isso. Aliás, com quem você aprendeu o truque da bebida, sexo e extorsão?

Blair revirou os olhos e puxou o vestido para cima, de modo a cobrir um pouco mais os seios que alguns minutos antes estavam à mostra. Os dois foram até o Victrola tomar alguns drinques e Chuck insistiu para que Blair lhe contasse o que ela estava conversando com Nate antes de sua chegada no escritório. Depois de explicar a situação calmamente para o mafioso e de lhe beijar a boca com muita delicadeza, ela soltou o pedido principal:

– Preciso que você ajude o meu pai a ganhar esta eleição.

Chuck riu, mas quando percebeu que ela falava sério, virou um ou dois copos de whisky e negou veementemente o que sua namorada pedia. Ela insistiu, ele não cedeu, e Blair utilizou a seu favor a sua principal arma: o sexo. Mesmo depois de arrastar Chuck para um dos camarotes privados do Victrola e fazer com que o mafioso ofegasse de cansaço após a terceira rodada, ele continuava firme em sua resposta e ela estava começando a pensar que, talvez, a sorte não estivesse ao seu lado.

– Você não vê a chance que está perdendo?

– Chance de quê? De seu pai usar à mim e meus homens como uma escada para o sucesso e depois mandar a polícia fazer uma investigação completa em nós?

– Chance de você e ele se darem bem e nós finalmente podermos ser vistos juntos.

Chuck suspirou e pôs um braço ao redor dos ombros nus de Blair.

– Isso é tudo o que mais quero. Mas não acredito que este seja o caminho certo para que nosso relacionamento saia da clandestinidade.

Após uma curta pausa, os dois se olharam e sorriram.

– Clandestinidade.... - Ela murmurou, e ele beijou o pescoço dela

– Eu gosto desta palavra.

– Eu também.

– Então case comigo e vamos fugir. - Ele sussurrou no ouvido dela. Blair sentiu o sangue fugir de seu rosto e ela encarou Chuck, incrédula.

– Você não pode estar falando sério.

– Mais sério do que nunca. - Ele abriu um de seus sorrisos malandros. Ela colocou uma mão em cada lado do rosto de Chuck e o olhou nos olhos.

– Bass, me escute: Eu amo você.

– Eu também amo você.

– ... Mas eu também amo minha família, e eu nunca os decepcionaria dessa forma.

Chuck suspirou.

– Blair, eu não quis-

– Diga que vai ajudar meu pai.

Chuck nada disse, mas Blair insistiu.

– Se você tem planos comigo para o futuro, diga que aceita.

– Eu vou estar arriscando todo o meu grupo por causa disso.

– Os Tataglia não são nada comparados à nós.

Após uma pausa de quase dois minutos, Chuck tirou as mãos de Blair de seu rosto.

– Eu ajudo. - Ele falou, finalmente. Ela estava prestes a comemorar, quando ele levantou um dedo para o ar – Porém...

– Porém...?

– Vou entrar nesta cama de gato apenas, e apenas, se Harold concordar com isso tudo. Não quero ajudá-lo sem que ele saiba, para que depois pense que foi tudo mérito dele.

Blair concordou avidamente e atirou seus braços ao redor de Chuck.

– Muito obrigada! Você não vai se arrepender!

XOXOXOXO

Harold Waldorf sentou em sua poltrona em direção à enorme janela de seu escritório e analisou o céu escuro de Manhattan. Era fevereiro e a chuva estava caindo com força contra aqueles que não se protegiam com seus guarda chuvas. Com as eleições chegando e os seus pontos de popularidade cada vez mais baixos, ele se sentia exatamente como aqueles cidadãos que estavam na rua naquele momento, sendo pegos de surpresa pela água repentina: ele estava no meio de um aguaceiro, e não tinha nada com que se proteger.

A filha agora estava no quarto, irritada com a discussão que eles haviam acabado de ter. Ela não quis lhe dizer como soube, mas lhe deu todas as informações necessárias para que entendesse o porquê de toda a popularidade repentina de Nathan Lewis Miller. Blair sempre fora uma garota esperta, mas ao sugerir que uma parceria com Charles Bass fosse feita, ela feriu seu orgulho e atiçou sua curiosidade, ao mesmo tempo.

Harold encarou o retrato de família que tinha pendurado na parede. Nele, estava uma foto preta e branca, de Eleanor e Blair, quando Blair tinha apenas cinco anos de idade. Naquela época, ele estava recém entrando na política e construindo sua carreira como prefeito, mas já era um dos homens mais poderosos dos políticos de Nova York. Agora, com seu nome nos principais jornais e rádios dos Estados Unidos, ele queria mais. Ele queria proporcionar mais para sua família, ele queria ser mais para ele mesmo, e para isso ele não podia ficar para trás na corrida eleitoral.

O atual governador de Nova York levantou-se de sua poltrona de couro e foi até o telefone. Um tanto incerto, ele discou o número que Blair havia deixado escrito em um papel antes de bater a porta do escritório com força e se retirar para o seu quarto. Algum tempo depois, a telefonista atendeu a ligação.

– Conecte-me com a residência de Charles Bass, por favor.

XOXOXOXO

Tenho algumas novidades, mas lhe conto quando você retornar da França. Eu te amo - CB.

Blair dobrou o papel que continha a mensagem de Chuck e o guardou dentro da bolsa. Ela estava morrendo de curiosidade para saber o que era, mas já estava embarcando no navio com Serena e sua mãe, então estava impossibilitada de conseguir qualquer tipo de comunicação com Chuck.

– Hey, B - Serena apareceu de seu lado, sendo mais animada do que nunca - O que é isso que você acabou de guardar?

– Shhhiiuuuu! - A morena ralhou, colocando o dedo indicador sob os lábios - É um bilhete de Chuck dizendo "até logo", nada demais.

Serena estreitou os olhos.

– Vocês estão fazendo algo e não querem me dizer, tenho certeza. Nate está todo apreensivo e comentou comigo que você devia ter um freio.

– Hey! - Blair fez uma careta - Me desculpe se o seu noivo não tem um acelerador, mas o fato é que eu gosto de fazer as coisas acontecerem.

– Aha! Então algo realmente está por vir! O que é, me conte!

– Eu não posso contar nada agora, S, mas juro que quando voltarmos de Paris, eu esclareço tudo com calma. Agora, que tal me ajudar a organizar minhas coisas na cabine?

XOXOXOXO