Bad Kids
Adrenalina
Adrenalina
Eles estavam nos fundos do beco lateral ao Victrola. Estava escuro, mas Chuck acendeu uma das luminárias com um fósforo e o ambiente se iluminou levemente. No final do longo e estreito beco, havia uma velha e gasta mesa de madeira, com quatro garrafas de vidro em cima. Na volta da mesa, vários estilhaços de vidro estavam espalhados pelo chão, e a parede atrás exibia inúmeros buracos que só poderiam ter sido causados por tiros. Chuck colocou as mãos nos ombros de Blair e falou perto de seu ouvido:
- Quando estamos aqui no Victrola, seja para relaxar ou para planejar os próximos speak easies, viemos aqui neste lugar para nos divertirmos um pouco.
- E esta diversão é sair atirando em tudo que é lugar? – Blair abriu um sorriso irônico e virou sua cabeça para olhar Chuck. Ele riu.
- Mais ou menos. Está vendo aquelas garrafas lá no fundo? – Ele apontou para o fundo do beco e ela assentiu – Nós praticamos nossa mira nelas. Tudo que você tem que fazer é mirar... e atirar. Deixe-me fazer uma pequena demonstração.
Chuck postou-se ao lado de Blair e retirou o revólver da cintura. Ele estendeu os braços para a frente, empunhando a arma, e mirou com precisão seu alvo. O gatilho foi puxado, e em um segundo, a bala voou e estilhaçou a primeira garrafa de vidro posta em cima da mesa. Blair sorriu e aplaudiu.
- Muito obrigada – Chuck fez uma reverência – Agora, eu vou ensinar você a fazer o mesmo.
Ela ficou tensa.
- Mas eu nunca peguei uma arma na vida.
- Bom, há uma primeira vez pra tudo. E além disso, eu vou estar aqui para se certificar de que você não acabe atirando em si mesma.
Chuck estendeu o revólver para Blair e ela hesitantemente pegou. Ele foi para trás dela e cobriu as mãos de Blair com as suas, levantando os braços dela para frente.
- Você normalmente se posicionará desta forma quando o alvo estiver longe, o que é o caso da garrafa. – A voz dele fazia cócegas na nuca dela, e Blair apreciou a sensação. – Segure bem firme a arma, assim.
Chuck firmou o aperto nas mãos de Blair, e as mãos dela seguraram mais firmemente o revólver. Ele assentiu, aprovando.
- Agora, concentre-se no seu alvo... Qual garrafa quer acertar?
- A última. – Ela murmurou, já focada no objetivo em sua frente.
- Muito bem. Mantenha o seu olhar na última garrafa. Apenas nela, não desvie a sua visão para lugar algum.
Blair estreitou os olhos, mirando a garrafa de vidro transparente que estava a pelo menos 25 metros de distância.
- Destra ou canhota? – Ele perguntou.
- Destra.
Chuck escorregou a mão direita de Blair um pouco mais pra cima da arma, até que o dedo indicador dela estivesse ao alcance do gatilho. Ele cobriu o dedo dela com o seu.
- Continue firme. Quando eu disser “já”, nós vamos apertar o gatilho. Um.... Dois... Três... Já!
Os dois dedos empurraram o gatilho pra trás com força, e a bala acertou a última garrafa, mandando pedaços de vidro para os ares. Blair sorriu, e não pôde deixar de apreciar a onda de adrenalina que avançou pelo seu corpo inteiro. Seu coração estava batendo mais forte e sua mão formigava com o impacto do tiro que ela arrecém havia dado, e Chuck sorriu presunçosamente ao vê-la tão animada.
- O que você achou? – Ele perguntou, e os dois baixaram os braços, ela ainda com o revolver em mãos. Chuck manteve-se atrás, seus braços fortes agora em volta da cintura pequena e curvilínea de Blair.
- Eu adorei. – Ela falou, e virou a cabeça para olhar para Chuck – Você não sabe como é legal imaginar que a garrafa é a cabeça de Ben Donovan.
- Eu atirei no original, então eu entendo o que você está sentindo.
Blair hesitou por um instante, mas depois disse:
- Quero fazer de novo.
- Ok... Precisamos só trocar a bala, assim – Ele pegou o revólver das mãos dela e girou a trinca da arma, colocando uma nova bala à disposição – Agora é só fazer a mesma coisa que fizemos antes.
Novamente, os dois assumiram a mesma posição de instantes atrás e apertaram o gatilho, juntos. Blair soltou uma risadinha excitada ao acertar a segunda garrafa, e Chuck não pôde deixar de rir da mulher que mais parecia uma menininha de 5 anos com uma boneca nova.
- De novo. – Ela ofegou, a emoção ainda correndo em suas veias.
- Que tal tentar sozinha agora? - Ele sugeriu.
- Tudo bem.
Ele (relutantemente) removeu seus braços do corpo de Blair e deu alguns passos para trás para observar. Chuck assistiu ela empunhar a arma para frente com imponência e mirar seu alvo, calculadoramente, e apertar o gatilho com firmeza. O impacto do tiro fez com que ela desse um pequeno passo para trás, e a bala passou de raspão pelo gargalo da garrafa, acertando a parede. Blair torceu o nariz de insatisfação.
- Eu não consegui – Ela falou com uma careta.
- Você esperava que fosse acertar sem mim? – Ele balançou a cabeça, fingindo incredulidade – Que decepção, Waldorf.
Blair deu um tapa no braço de Chuck e ele se encolheu.
- Para quem é tão pequena quanto uma boneca, você até que é forte – Ele esfregou o local onde ela havia batido – Mas, hey, sério, o impacto do tiro é um tanto intenso. Demora para uma lady como você conseguir aguentar o tranco.
Blair devolveu o revólver para Chuck e suspirou.
- Não adianta, só conseguirei dar tiros precisos como os seus depois de muitos assaltos, roubos e tiroteios.
- Exatamente. – Ele deu uma leve risada da ironia dela – Mas, por enquanto, eu sugiro que você lide com impactos de outras coisas.
Chuck se aproximou de Blair e, levemente, correu seus dedos pelas bochechas coradas dela. Ela enrijeceu e sua respiração começou a ficar acelerada, em expectativa, quando ele cercou sua cintura pequena e fina com seus braços fortes. Chuck estava prestes a capturar os lábios dela em um beijo, de que ele estava certo que seria um dos melhores de sua vida, quando Anthony surgiu no beco iluminado.
- Chefe, o speak easy está terminando, eu ouvi tiros aqui e... ops – O italiano corpulento engoliu em seco ao ver o mafioso com a senhorita Waldorf. Chuck bateu na própria testa em frustração.
- Você de novo, Anthony! – Ele esbravejou – Vai embora!
- Desculpe, chefe – O italiano já estava fazendo a volta, mas Blair o chamou.
- Anthony, não é? – Ela falou, e o homem assentiu – Você disse que o speak easy está terminando... Que horas são?
- São seis horas, senhorita. – Ele apontou para o céu. Mesclado com a escuridão do céu, haviam borrões de rosa e dourado indicando que o sol estava por nascer. Blair ofegou e se desfez do abraço de Chuck. Ela não havia percebido o tempo passar!
- Meu Deus! – Ela colocou as mãos na boca – Meu pai já está acordado! E Serena e Nate, onde eles estão?!
Anthony pigarreou.
- Senhorita, o Senhor Archibald saiu daqui com sua noiva já faz quase uma hora.
- Urgh! – Blair gritou de raiva – Chuck, eu preciso que você me leve pra casa!
- Tudo bem – Ele assentiu, ainda mal humorado com a interrupção, e se dirigiu à Anthony – Você e eu vamos conversar quando eu voltar, rapaz.
Cinco minutos depois, Chuck e Blair já estavam dentro do carro de Chuck, um mustang preto com capota removível, em direção à cobertura dos Waldorf. Quando ele encostou na frente do prédio, Blair mal falou “tchau” e desceu correndo do carro, não se importando com o olhar de julgamento que o porteiro lhe lançou quando correu pro hall de entrada do prédio e entrou em um dos elevadores.
- Anda, anda... – Ela falou baixinho enquanto o elevador lentamente subia os andares até a cobertura. Os portões de ferro abriram-se e ela retirou os saltos, para que não fizessem barulho no chão de linóleo, mas de nada adiantou. Harold Waldorf andava pra lá e pra cá na sala de estar, vestindo seu roupão de dormir, e Eleanor estava sentada no sofá, uma expressão preocupada no rosto.
- Blair! – Harold deu um pulo de susto ao ver a filha entrar no corredor, e depois foi até ela – Nós acordamos e você não estava na cama, Dorota não soube explicar onde você foi!
- Nós estivemos muitos preocupados com você! – Eleanor levantou-se e colocou as mãos nas laterais do rosto de Blair, examinando sua maquiagem e roupas – Onde você foi com suas roupas de festa?!
- Eu... – Blair engoliu em seco, mas jogou a melhor mentira que pôde pensar no momento – Serena me ligou durante a madrugada, ela não estava bem, eu precisei ir até ela.
- E o qual era o problema de Serena? – Harold perguntou, desconfiado.
- Ela e Nate brigaram. Essas foram as primeiras roupas que eu consegui achar, me desculpe. – Blair torceu suas mãos e encarou o chão, tentando transmitir o máximo de arrependimento e inocência possível.
- De qualquer forma, não pretendo e não vou permitir que isso se repita, mocinha. – Harold falou, firme – Hoje mesmo contratarei dois seguranças para escoltá-la. Dia e noite.
Blair olhou para cima imediatamente.
- Não, não precisa – Ela falou, rapidamente – Papai, foi só essa noite, não houve nada de errado.
- Não me interessa, Blair. Eu não quero que nada de ruim aconteça, mesmo que você apenas tenha ido à cobertura dos Van der Woodsen aqui perto. Você desrespeitou à mim e sua mãe por ter saído durante um horário tão inapropriado e sem permissão!
- Mas eu...
- O assunto acabou aqui. – Harold trovejou, e deu a volta para ir até a cozinha. Eleanor cruzou os braços e encarou a filha.
- Eu conheço você muito bem. E sei que está mentindo – Eleanor estreitou os olhos – Onde você realmente andou essa noite? Não espere que eu acredite que você se maquiou e vestiu roupas de festa para ir até os Van der Woodsen.
- Eu já falei, fui na casa de Serena – Blair respondeu, tentando parecer o mais firme possível – Agora, se a senhora der licença, eu estou exausta.
Blair não esperou por uma resposta de Eleanor e subiu as escadas até seu quarto. Decidiu que não ligaria para Serena naquele momento, pois todos na casa deveriam ainda estar dormindo e não seria de bom tom acordar Lily ou Ruphus naquele momento. Então, ela se dirigiu até o banheiro e retirou suas roupas, ligando a torneira da banheira logo em seguida para tomar um longo e demorado banho.
Mais ou menos uma hora depois, Blair saiu da banheira e se enrolou em um roupão. O relógio na parede de seu quarto indicava que já eram sete e meia, e portanto Lily já deveria estar acordada. Blair foi até o telefone e girou os números que conhecia de cor, esperando que a ligação fosse conectada.
- Telefonista, os Van der Woodsen, por favor – Blair murmurou, e depois de alguns segundos, a voz simpática de Lily atendia a ligação – Bom dia, Senhora Van der Woodsen. Serena está?
- Olá, Blair, Serena está dormindo no momento.
- Eu preciso falar com ela, será que a senhora poderia acorda-la?
- Claro... Aconteceu alguma coisa? – A voz de Lily soou preocupada no outro lado da linha, e Blair teve de lembrar a si mesma para que permanecesse calma.
- Não, nada de ruim aconteceu, mas eu preciso muito conversar com Serena.
- Certo... Vou chamá-la então.
Blair esperou, pacientemente, enquanto Lily chamava por Serena no segundo andar da casa da família. Um minuto depois, a voz sonolenta de sua (quase ex) melhor amiga atendia o telefone.
- Alô – Serena murmurou, bocejando logo em seguida.
- Porque você me deixou pra trás no Victrola?!
- Uh – Ela pareceu acordar um pouco – B, desculpe, eu achei que você já tivesse ido embora, eu não consegui achar você... Ainda nem são oito horas, porque você está me ligando tão cedo?
- Eu nem dormi! – Blair exclamou, exaltada – Meus pais me flagraram voltando pra casa, e agora eu vou ter seguranças me acompanhando o dia inteiro, e durante a noite também! O que custava pra você olhar nas ruas laterais do Victrola?!
- Você quer dizer os becos, eu suponho, porque não há ruas ao lado. E você, em um beco, o que você estaria fazendo lá? – Serena soltou uma risadinha. Blair ficou em silêncio.
- Wow... – Serena arregalou os olhos, embora sua amiga não pudesse ver - você estava no beco! E com Chuck!
- Tudo bem, e daí se eu estava, você me deixou pra trás!
- B, você prometeu que ia ficar longe dele!
- Eu tentei, mas ele me levou pra lá, e me ensinou como dar tiros e... Ah, mas o assunto não é esse – Blair bufou – Eu não vou mais poder sair por sua causa e por causa do idiota do Nate, muito obrigada!
- Ele ensinou você a o quê?! – Serena praticamente gritou do outro lado da linha.
- Tenha um bom dia. – Blair desligou e colocou o telefone de volta no gancho.
XOXO
Uma semana depois
Chuck fechou os olhos, reunindo toda a concentração que tinha e que não tinha, e finalmente conseguiu seu alivio. Ele deu mais duas estocadas dentro da dançarina e rolou para o lado em sua cama, soltando uma grande lufada de ar de suas narinas. Ele estava extremamente frustrado consigo mesmo. Parecia que, ultimamente, garota nenhuma era boa o suficiente. As mulheres que antes ele achava atraentes, agora não o satisfaziam mais, pois eram altas demais, baixas demais, magras demais, gordas demais. Nenhuma tinha o toque final, aquele ar que, apesar de ser inocente, transmitia sensualidade e firmeza. Talvez fosse coisa da cabeça dele, mas essa coisa precisava ser corrigida o mais rápido possível, caso contrário ele teria que penar para ejacular pelo resto de sua vida.
Chuck levantou-se da cama e buscou por suas calças. A garota em sua cama se cobriu com o lençol e também se levantou.
- Há mais alguma coisa que eu possa fazer ou... – Ela falou, abrindo um sorriso.
- Não, você está dispensada. – Ele colocou suas calças e camisa – Pode pegar suas coisas e ir embora.
Ela assentiu, desapontada, e pegou seu vestido do chão. Chuck terminou de colocar suas roupas e saiu do quarto em direção ao bar para tomar algo. Assim que ele serviu whisky em seu copo, as portas de ferro do elevador se abriram e Nate entrou na cobertura.
- Você está com uma cara horrível – O louro fez uma careta e se sentou ao lado de Chuck no bar – Aconteceu alguma coisa?
- Nada aconteceu – Ele murmurou – Conseguiu negociar com o Benaccio?
- Consegui, mas foi difícil – Nate pegou o jornal que estava em cima do balcão e o abriu em uma página aleatória – Esses italianos, hein.
O olhar de Chuck passou por algo na página do jornal que Nate estava lendo. Ele prestou mais atenção, e viu que era uma foto de Blair Waldorf em algum evento.
- Porque ela não veio no speak easy desta semana?
- Huh? – Nate seguiu a linha de visão de Chuck – Blair? Os pais dela colocaram seguranças para vigia-la 24 horas. Não tem como ela sair durante a noite.
Chuck bufou.
- E porquê você não me falou nada, Archibald?
- Porque você não perguntou – Nate colocou as mãos para cima em sinal de paz – Se eu soubesse que você se importava tanto...
- Também não é assim – Chuck o interrompeu – Me importar. É só que eu não a vi esta semana, e, bom, ela está sempre com a sua noiva.
- É, agora ela não vai mais poder sair – Nate voltou a ler o jornal e, segundos depois, deu uma risada – Aqui diz que “a herdeira da fortuna nova iorquina e da Waldorf Designs, Blair Cornelia Waldorf, foi afável e ofereceu seu mais sincero apoio à duquesa francesa Eva Coupeau, que teve seu vestido manchado segundos antes de seu discurso no Plaza’s Charity Gala. A duquesa não subiu ao palco e teve de dar o lugar para que a Senhorita Waldorf pudesse fazer o brinde de boas vindas nesta noite de terça feira.” Quem vê até pensa que Blair é este doce todo.“Ofereceu apoio”....
- O que você quer dizer?
- Ela derrubou vinho no vestido branco da duquesa de propósito, e roubou o papel que estava escrito o discurso de Eva Coupeau. – Nate deu uma risada - Blair ficou furiosa quando soube que não faria mais o discurso na festa do Plaza, então decidiu impedir a duquesa de falar, arruinando o vestido da pobre coitada. Mesmo que Coupeau insistisse em subir no palco, ela não teria o que falar, porque os papéis que eram para estar na bancada do palco “simplesmente desapareceram”. Não consigo entender como Blair é capaz de fazer esses pequenos esquemas funcionarem a favor dela... – Nate sacudiu a cabeça, incrédulo.
- Que cabecinha calculista... – Chuck murmurou, e não pôde deixar de sorrir ao imaginar a cena em que Blair “acidentalmente” derrubava bebida no vestido branco de alguém. – E esses seguranças, vão ficar a acompanhando em todos os lugares?
- Provavelmente sim – Nate fechou o jornal e se recostou no balcão do bar – Eles ficam nas portas do elevador durante a madrugada, é um tanto estranho e... Quem é aquela?
A garota com quem Chuck havia miseravelmente transado alguns minutos atrás havia saído da suíte e estava agora entrando no elevador para deixar a cobertura. Ele apenas deu de ombros.
- Ninguém importante. – Chuck terminou o seu copo de whisky e se levantou da banqueta – Já que Serena proibiu você de fazer parte do lado sangrento do nosso grupo, lá vou eu fazer o trabalho sujo.
Nate revirou os olhos.
- Também não é assim. Eu ainda posso ordenar este tipo de coisa à distância.
- Nathaniel, nós dois sabemos que você sempre foi um pouco repulsivo em relação aos nossos pequenos deveres para com os traidores e inimigos. Serena é apenas uma razão extra pra você se afastar disso.
- Tá legal – Ele suspirou – Mudando de assunto, amanha à noite vou precisar de Jeremy pra ajudar com o transporte das drogas pra Nova Jersey.
Chuck pegou o paletó de seu terno, que estava jogado em cima do sofá da sala de estar, e o vestiu.
- Jeremy não vai estar disponível a partir de amanha à noite. Nem Anthony.
- Por quê? – Nate franziu o cenho.
Chuck abriu um preguiçoso sorriso antes de caminhar até os elevadores.
- Eles vão fazer um servicinho para outra pessoa.
XOXO
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