Ela simplesmente não aguentava mais ficar em casa.

Será que era assim tão difícil para todos entenderem seu ponto de vista?

Não tinha problema com seus pais, nem com a irmã, nem com os amigos. Que aliás, é importante ressaltar, ela tinha. E isso devia fazê-la pensar duas vezes antes de tomar essa decisão. Mas os amigos que tinha eram divididos em dois grupos: Aqueles que não se importava em perder, e aqueles que não perderia, independente da distância.

July era estranha. Era uma garota de dezessete anos com medo do escuro, e com uma mania de perseguição que já fez os pais acharem que era esquizofrênica. Os dias no psiquiatra a fizeram avaliar o doutor Freud – como ela o apelidara, por não lembrar seu nome – como uma pessoa extremamente solitária e com uma necessidade compulsória por achar alguém com os mesmos problemas que ele. Recebeu alta em três semanas.

Era tímida, e tinha alguns problemas pra se socializar. Mas, lembrando, ela tinha amigos. E no fim, acabava se moldando ao lugar, sem grandes problemas.

A introversão a transformou numa garota que escrevia por necessidade.

Os mundos que ela queria que existissem, onde ela podia ser tudo que quisesse, onde ela podia inventar personagens que eram tudo que ela admirava, ela enfiava no computador e viajava. Vez ou outra publicando pra que outras pessoas como ela pudessem ler.

Dor de cabeça. Ela sentia dor. Muita dor. Quando não tinha como escrever, quando não podia, ela sentia dor. Que só aliviava quando todas as suas ideias passavam para o papel.

July não era uma pessoa boa, aliás.

Importante que sua timidez e sua dificuldade em se sociabilizar não sejam confundidas com uma pessoa submissa. Essa não é uma história muito heroica. Porque July desejava demais, e porque desejava, estava a dois passos de se tornar perigosa.

Essa é a história desses dois passos.

E para começar com eles, July saiu de casa por opção própria, e foi para um internato. Um dos últimos que restavam em seu Estado. Conseguiu uma bolsa e acabou por pagar, com 90% de desconto, o mesmo que pagava em sua escola, sem bolsa alguma.

Terceiro colegial. Internato.

July. A garota do cabelo vermelho jogados nos olhos. A garota que desejava demais.

Essa é sua história.