Capítulo 3 - Sam

—Ei Sophie, o que aquele homem disse para você? Lembra daquele homem da mesa oito? – perguntei para a pequena durante nosso jantar. O dia tinha sido muito longo.

—Nada, mamãe.

—Você falou algo para ele?

—Só meu nome e que tinha sete anos.

Resmungo internamente, mas por fora sorrio para a minha filha. A última pessoa que eu imaginava ver hoje era Freddie Benson, o homem a quem entreguei meu coração e em troca me deixou abandonada no altar. Na verdade, eu nem precisei entrar na igreja, porque ele não estava lá, mas o que ele não sabia é que eu estava grávida de dois meses da minha Sophie.

Eu tinha descoberto a gravidez três dias antes do casamento e estava explodindo de felicidade, eu queria que tudo fosse muito especial, então tinha preparado uma surpresa para nossa lua de mel, onde eu contaria tudo, mas meus planos foram por água baixo.

Ele sempre me falava sobre seu sonho em ser ator e participava de todos os teatros que aconteciam aqui. Mas ele queria mais, e eu não o culpava, mas o mundo da fama não era para mim e quando ele fez sua primeira audição para um filme em Los Angeles eu fiquei com o coração na mão, pois na época, meu pai estava muito doente e minha mãe desolada com isso. Passaram-se meses após essa audição e nunca responderam, então ele deixou de lado e ficamos noivos.

Mas após a humilhação do dia do casamento, o choque ao descobrir tudo foi o pior.

Flashback On

Eu não conseguia conter as lágrimas que caiam do meu rosto enquanto minha mãe tentava me acalmar com um copo de água e Carly, minha cunhada, tentava inutilmente secar minhas lágrimas. Eu ainda estava com vestido branco rodado, o penteado já se desfizera, mas o véu continuava bem preso ao meu cabelo. A essa altura, toda a minha maquiagem já estava borrada.

Estávamos na sala da casa da minha mãe e tínhamos acabado de chegar. A Sra Benson tinha ficado na igreja para se desculpar com todos os convidados (o que não eram tantas pessoas assim). Três batidas na porta. Minha mãe correu para atender na esperança de que fosse Freddie, mas era apenas o Gibby ainda com seu terno de padrinho com uma expressão abatida no rosto.

—Gibby? Teve alguma notícia do Freddie? Ele apareceu? Porque eu vou é colocar um juízo na cabeça dele agora – Carly irritada saiu do meu lado e se aproximou de Gibby.

—Ele não apareceu e nem vai – Gibby encarou o chão e depois se aproximou de mim – Sam, preciso te falar algo importante.

—O que aconteceu? – enxuguei algumas lágrimas com as mãos.

—Freddie foi embora, ele recebeu uma proposta para um filme em Los Angeles. Não para aquele da audição que ele fez, mas acharam que ele se encaixaria em um outro papel, por isso demoraram tanto para retornar.

—E ele simplesmente foi? – eu o encarava totalmente incrédula.

—O produtor do filme veio pessoalmente ver ele hoje mais cedo, disse que estava super empolgado para ver ele atuando e que seria sua grande chance. Até trouxeram um outro cara, um tal de Matt que poderia ser o responsável pela carreira dele, caso aceitasse.

—Eu não acredito no que eu estou ouvindo – mais lágrimas começaram a cair – E ele não teve a capacidade de me explicar tudo isso?

—Desculpa Sam, mas eu não consigo te explicar porque ele fez tudo isso.

—E como é que você está sabendo disso? – Carly resolveu se intrometer na conversa.

—Porque eu fui na casa dele para leva-lo até a igreja. Quando cheguei lá, eles estavam conversando e depois ele me contou isso, foi tudo muito rápido e por cima.

—Ele é um idiota! – esbravejei – E, por mim, que ele nunca mais volte – comecei a tirar o véu do cabelo – Preciso me livrar desse vestido ridículo.

—Sam, calma! Você está grávida. Essa raiva só vai fazer mal para o bebê.

Por um minuto eu havia esquecido que estava grávida e deixei a raiva e o ódio me dominar, mas Carly me puxou de volta para a realidade e a verdade era que o meu bebê não tinha culpa de nada, era o melhor presente que eu poderia ter, mesmo que seu pai tenha sido o maior sacana da história.

Flashback Off

—Mamãe? Aconteceu alguma coisa? – Sophie balançava a mãozinha na minha frente querendo chamar minha atenção.

—Está sim, filha – forcei um sorriso – Mamãe só estava pensando na próxima historinha que ia te contar essa noite – tentei disfarçar o nó que se formava em minha garganta pela lembrança.

—Eu cresci já – ela falou toda cheia de si – Não preciso de histórias para dormir mais.

—Você sempre será o bebê da mamãe.

(...)

Por mais que estivesse cheia de ódio pelo Freddie Benson, foi impossível não acompanhar todo o sucesso que ele conquistou nesses anos. Afinal de contas, ele estava sempre em capas de revistas, às vezes, com mulheres lindas do lado, e, claro, vários filmes o tinha como personagem principal, o que dificultava minha vida, por isso, passei a evitar os cinemas.

Sem dizer que depois dele, eu nunca consegui me relacionar com ninguém, talvez parte dos motivos tenha sido pelo trauma, mas o maior de todos foi a Sophie, eu sentia que precisava estar duplamente presente na vida dela. Ela já me perguntou do pai várias vezes, eu nunca menti, embora nunca tivesse contado quem era, sempre disse que ele estava viajando e trabalhando.

A família de Freddie, sabia que a pequena era filha dele e ela foi o motivo de alegria quando todos estavam confusos e tristes pela partida inesperada dele. Já era tradição que ela fosse a casa deles todo final de semana. Eles a paparicavam sem medidas.

Mas agora com seu retorno, meu medo batia a minha porta. Como contar para os dois? Eu não queria que ele quebrasse o coração da minha filha como fez com o meu, até porque sua estadia aqui provavelmente tem prazo. Eu simplesmente não suporto a ideia da minha filha se apegar ao pai que vai embora do nada novamente. Ele podia ter feito comigo, mas não iria fazer com ela.

—Boa noite, meu amor – beijei sua testa depois que a ajeitei em sua cama.

—Boa noite, mamãe! Te amo muito!

—Também te amo, pequena.