Azul do Céu

E até agora eu não achei


Os suaves raios vindos do sol acariciavam minha pele, fazendo com que eu acordasse, mesmo que sem pressa nenhuma. Eu ainda estava em busca do azul do céu que havia perdido, pois sem ele, restava-me apenas dias cinzentos.

A janela parte do minha cama estava aberta e as cortinas dançavam com a leve brisa que ali residia, estranhamente, não me senti incomodado com essa forma de despertar, em outros tempos eu já estaria com uma carranca irritada, reclamando em resmungos sobre o fato de não poder adormecer por mais tempo, mas eu havia mudado em muitos aspectos para que esse tipo de cena já me fosse estranha.

Lentamente, eu sentei no grande colchão onde adormeci, olhei pela janela e pude perceber o clima um tanto frio que me fez lembrar de você. Uma sensação nostálgica e levemente dolorosa se apossou de meu peito, cobrindo cada parte de meu âmago com nossas memórias que me traziam um misto de dor e felicidade, do qual eu não saberia identificar a que se sobressaia.

Eu levantei, ainda de uma forma preguiçosa e fui até a sacada de meu quarto, podendo agora sentir a brisa e o friozinho por toda a extensão do meu corpo. Meu corpo estava encostado no parapeito enquanto apoiava minha cabeça em uma das mãos, encarando tudo o que o sol tocava.

Lembrava-me de nossas brincadeiras, que mesmo que nunca fôssemos admitir, eram até bastante infantis, mas verdadeiramente divertidas e até mesmo revigorantes. Suas mãos macias junto das minhas, me puxando para os mais diversos cantos com seu olhar cheio de curiosidade, como se estivesse conhecendo a verdade do mundo durante aqueles momentos.

Era inevitável viajar em divagações sobre quando nós lutavamos e nos divertiamos sem se preocupar com nada, sem nem mesmo se importar com o amanhã ou o que viria dele ou talvez só se importando em quando iríamos nos divertir da próxima vez.

Era adorável ver seus olhos tão brilhosos quando eu lhe contava sobre histórias de nossos guerreiros e as lendas que seriam eternamente marcadas pela história do mundo, sentando em qualquer lugar, nem sequer importávamos com o lugar em que ficávamos, desde que tivéssemos um ao outro, era o suficiente. Quando nós ainda não nos importávamos com hérois ou com aquele céu que deveríamos alcançar em algum momento.

Poder novamente dançar na chuva sem pesares, enquanto nossos lábios se encontravam e tudo parecia mais colorido. Onde eu não era mais rei de Uruk e você não era mais a arma que executava a vontade e o julgamento dos deuses, não éramos nada mais do que Gilgamesh e Enkidu durante aqueles breves momentos.

Tudo era possível enquanto estivesse ao seu lado, fosse pintar o céu e o mundo de outras cores, fazer a semente desabrochar e assim virar uma bela flor ou o que fosse. Nada podia nos parar, éramos perfeitos e completos quando juntos, como se ele fosse a metade perdida de minha alma, do qual passei anos acreditando que nunca encontraria.

Eu só queria, de novo e de novo, ouvir o ressoar de nossas armas, podendo ir com todo o meu poder para cima de ti e sabendo que você sempre conseguiria me surpreender e se equiparar à mim, não importando a circunstância. Ficar ali eternamente seria como um sonho.

Repetidas vezes, ver seu sorriso, dar-lhe as mãos e poder sentir o sabor de seus lábios; sem nunca me preocupar com o dia de amanhã ou o que viria a seguir, se pudesse o fazê-lo iria, sem nem me importar sobre o preço que isso iria nos custar.

No fim, eu teria de procurar novamente o azul do céu que até agora eu não achei.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.