O tempo passou que as crianças cresceram, e agora Ragnar não era mais um lorde e sim um rei, um grande e temido rei.

Os gêmeos agora tinham seis anos e eram mais unidos do que nunca, a menina adorava seus irmãos mais sabia que a ligação entre ela e seu irmão gêmeo era bem diferente.

A pequena Ayra não era uma criança como as outras, assim como seu irmão Ivar, que nasceu aleijado. Para Ayra, diferente de seus outros irmãos e de seu pai, ela nunca achou que a condição especial de Ivar fosse um empecilho para o menino, e era a única que não tinha dó e nem pena de seu irmão.

Quem via os dois podiam ver suas diferenças em seu jeito de ser, mas também tinham suas semelhanças fisicamente. Ayra era irmã gêmea de Ivar, uma coisa tão inesperada que nem sua mãe desconfiava que daria a luz a duas crianças, por nunca ter previsto isso, ela falava para menina que assim como Ivar ela também era especial, que ela fora enviada no último minuto pelo os deuses para esse mundo.

Apesar dela e Ivar receberem mais atenção da mãe do que seus outros irmãos, todos se davam bem, brincavam, nadavam no rio e ouvia as histórias de seu pai sobre suas extraordinárias viagens.

Ela desde que nasceu foi o xodó de Ragnar, ela compensava a saudades que ele sentia de sua primeira filha que faleceu a alguns anos antes. Todos adoravam aquela linda garotinha de cabelos castanho escuro e olhos verdes como as lindas campinas da Noruega, sempre amorosa e carinhosa com todos.

Com o tempo, Aslaug percebeu que sua filha estava desenvolvendo certos dons, ao qual nenhum ela compreendia. Ela achava que estava ficando louca até o dia que viu sua filha curar o joelho ferido de uma garotinha que estava brincando com ela, depois disso Aslaug foi atrás do sacerdote de Kattegat, explicou para o homem o que estava acontecendo a sua menina, temendo que fosse o pior.

Então o sacerdote com seu vasto conhecimento, pesquisou em alguns livros e, depois de algumas horas de pesquisa, nem acreditava que aquilo estava acontecendo a aquela menina.

— Majestade, acho que encontrei a resposta para suas perguntas – Disse o homem saindo no meio de várias prateleiras, voltando com um pergaminho velho nas mãos.

— Então o que está acontecendo com Ayra ? Algo grave que devo me preocupar ? - Perguntou Aslaug aflita, vendo o sacerdote abrindo papel por cima da mesa.

— Não majestade, é uma benção se me permite dizer – Ele sorriu e olhou para sua rainha, percebendo o olhar confuso dela – Eu deveria ter percebido isso antes, mas como isso já não acontecia a tanto tempo, achei que tinha se tornado uma lenda.

— Diga logo homem estou ficando aflita ! – Disse Aslaug em tom alto.

— Ayra é uma filha de Freya, se assim podemos dizer.

— Filha de Freya ? - Perguntou confusa.

— Sim majestade, irei explicar tudo. De tempos em tempos, a deusa Freya envia a terra uma alma a qual ela ama muito, essa alma vem em forma de um bebê normal, cresce normalmente e convive na sociedade como uma pessoa comum, com o tempo ela desenvolve habilidades e alguns certos tipos de dons que foram dados pela a própria deusa Freya. Ela nasce com magia no sangue, em pequena quantidade mas nasce.

— Eu ainda não estou entendendo muito bem. – Disse Aslaug andando de um lado para o outro.

— Se minhas suspeitas estiverem certas, sua filha foi uma enviada dos deuses, por isso durante sua gravidez ninguém reparou que você daria luz a gêmeos, nem mesmo a senhora viu isso. Talvez sua família ou o povo na época precisasse de mais amor ou confraternidade. Me responda, depois que ela e o menino Ivar nasceu o clima entre sua família, por exemplo, não melhorou ? - Perguntou o homem, fazendo Aslaug parar de andar e olhar para ele.

— Consideravelmente, meu marido ainda continua indiferente a mim, mas em relação a meus filhos não poderia estar melhor.

— Eu devia ter percebido isso antes, sua filha tem tudo para ser uma filha de Freya, ela tem todas as características para ser uma - Falou o homem animado, sorrindo largamente.

— E como se prova isso sacerdote ? - Perguntou Aslaug, se aproximando do homem.

— Levarei ela até a escola de sacerdotes que fica ao norte, lá a sacerdotisa responsável por isso irá fazer uns testes com ela, se Ayra passar terá que permanecer na escola para poder aperfeiçoar suas habilidades e o dom que ela nasceu,junto com outras coisas.

— Ela terá ficar longe de sua família então ? – Pergunta Aslaug aflita.

— Sim majestade, só até aprender a lidar com isso e com suas responsabilidades.

— Que responsabilidades ?

— Espalhar o amor que ela carrega dentro de si, usar suas habilidades para o bem e não para o mal, sendo uma filha de Freya ela terá que representar bem isso.

— Pelos deuses isso é muita loucura ! – Disse Aslaug, mesmo achando aquilo muito fantasioso, ela já ouvira lendas sobre essas filhas de Freya, foram mulheres obstinadas e determinadas, lutaram pelo seu povo e só usaram seus dons quando fosse necessário ou para ajudar alguém com boas intenções. Elas eram literalmente o amor e a coragem em forma de gente, e conhecendo sua filha poderia muito considerar ela como a criatura mais amorosa e corajosa que conhecerá, capaz de descongelar até o mais frio dos corações.

— Então minha rainha, posso preparar minha viagem com a menina ?

— Tenho que falar com meu marido primeiro – Suspira.

Depois de terem acertado tudo, Aslaug sai da casa do sacerdote da vila e vai em encontro ao meninos.

— Venham crianças hora de ir !

Mesmo ouvindo reclamações, todos os seus filhos foram até ela, viu Ayra empurrando Ivar em seu carrinho de madeira e sorriu com aquilo. Se Ayra partisse quem sofreria mais seria Ivar, ela sabia bem o quanto eles eram ligados.

Mais agora tinha uma missão quase impossível, convencer Ragnar que a menina deveria partir por um tempo indeterminado, ela sabia como ele adorava os filhos por perto e como seria difícil ele ver que, por hora, seria melhor se Ayra ficasse longe da família.

Assim que chegou ao palácio mandou os filhos se lavarem para que pudessem jantar, as crianças foram correndo lavarem as mãos enquanto as servas arrumavam a mesa, assim que a mulher e os filhos se sentaram ouviram a porta se abrir bruscamente, vendo a imagem do pai entrando no grande salão.

Ragnar beijou o topo da cabeça de cada um dos filhos, se sentou na outra ponta da mesa e então começaram a comer. O jantar terminou rapidamente, quando as servas tiraram a mesa as crianças voltaram a brincar, Ragnar brincava com uma espada de madeira junto com os dois filhos mais velhos, enquanto Ayra, Ivar e Sigurd, brincavam com alguns bonecos de madeira.

Aslaug esperou as crianças irem dormir para conversar com seu marido, o mesmo já sabia que ela iria até o sacerdote hoje para conversar sobre a menina, mais ela tinha certeza que Ragnar ficaria tão mais espantado como ela, afinal sua filha só tinha 6 anos, como poderia já ser uma pessoa com uma responsabilidade desse tamanho nas costas ? Ela como mãe temia um pouco o futuro da filha, seus pensamentos são interrompidos quando Ayra e Ivar a chama.

— Mãe eu e o Ivar queríamos saber se poderíamos ir na casa do Floki amanhã. – Disse Ayra, se sentando em sua cama ao lado do irmão.

— É mamãe estamos com saudades dele, e ele disse que me ensinaria a lutar. – Disse Ivar empolgado.

— Deixo os dois irem se forem dormir agora mesmo, já deu a hora de vocês, olhem como seus irmãos já dormem profundamente. – Disse rindo, olhando para os três meninos deitados nas outras camas, completamente apagados.

Ela aconchegou os dois na cama deles, até então os dois ainda dormiam junto isso mudaria quando Ayra alcançasse uma certa idade.

— Eu sinto que a senhora está preocupada mamãe, está tudo bem ? – Pergunta Ayra pegando na mão de sua mãe, depois que ela termina de cobrir as duas crianças.

— Está sim querida, agora vão dormir, amanhã é um novo dia. – Disse dando um beijo na testa em cada um.

Aslaug sabia que não era uma boa mãe, mas fazia o possível por seus filhos e achava que aquilo já a tornará uma mãe mediana. Depois de todas as crianças terem dormido, ela vai até ao seu quarto e de Ragnar.

— Ragnar preciso falar com você - Falou Aslaug, chamando a atenção do marido.

— Hoje não mulher, estou exausto. – Disse Ragnar, já se preparando para deitar.

— Ragnar é sobre Ayra. – Disse Aslaug, fazendo Ragnar parar e olhar para a esposa – Falei com o sacerdote sobre minhas preocupações em relação a ela.

— E o que ele disse ? - Perguntou o rei curioso.

Ela senta do seu lado em sua cama e dá um longo suspiro, sabendo o que já podia acontecer.

— É meio confuso e louco ao mesmo tempo, eu mesma demorei um tempo para organizar isso na minha cabeça mas vou começar por partes. Você já ouviu falar de lendas sobre as filhas de Freya ?

— Sim, afinal quem nunca ouviu ? São as únicas que já foram mais próximas aos deuses. – Disse olhando sua mulher - Mais, o que isso tem haver com Ayra ?

— Ragnar, não é certeza ainda mais Ayra pode ser uma filha de Freya. O sacerdote explicou um pouco, ele disse que nossa filha tem todas as características que uma filha de Freya tem – Ela disse tocando no braço de Ragnar – Por isso quando engravidei achei que daria a luz somente a um menino,nem você e nem ninguém sonhava que estava grávida de gêmeos.

— Aslaug isso é loucura – Falou Ragnar rindo – Tudo bem que realmente acredito que nossa filha se torne uma pessoa incrível ela tem tudo para isso acontecer, mas uma filha de Freya ?

— Ela tem todas as características Ragnar, as filhas de Freya são conhecidas por serem o amor em pessoa, olha a nossa filha ! Me diga se conhece alguém tão amoroso e gentil como ela em nosso mundo.

Ragnar suspirou, talvez Aslaug tenha razão, sua filha era de uma bondade e generosidade incrível, parecendo ser até ingênua às vezes se não fosse por ter um temperamento forte em algumas situações. Quando ela nasceu, ele sentiu que ela era especial mais não sabia que seria a esse ponto.

Ragnar Lothbrok já fora tão abençoado pelos deuses que não esperava mais essa, mas agora encaixando tudo em sua cabeça, talvez realmente fosse pai de uma filha de Freya.

— E como vamos saber se isso é verdade ? – Pergunta olhando para mulher.

— Ela terá que ir até a escola de sacerdotes, lá vão fazer um teste com ela, se passar ela terá que ficar lá para aprender e compreender o que é ser uma filha de Freya e claro controlar suas habilidades, o dom que ela irá ter e aprender a usar para tudo isso para o bem.

— Eu não vou permitir isso Aslaug, não gosto de nenhum dos meus filhos longe de mim, ela ficará aqui. – Disse Ragnar indignado.

— Ragnar a ideia dela longe também não me agrada, mas se isso for verdade não acha que será melhor para ela ? Pense bem o pouco conhecimento que temos se baseiam em lendas. Por hora, é melhor ela ir, será melhor para ela.

— Eu não vou perder mais uma filha – Disse indignado, Ragnar se levanta e vai até a janela, observando a cidade completamente vazia e iluminada pela a luz da lua.

— Ragnar, eu sei que sentiu muito a morte de sua primeira filha, mas Ayra está aqui, você não vai perder – lá para sempre. – Disse Aslaug abraçando seu marido pelas costas – Ela vai voltar para nós, e o sacerdote me garantiu que apesar dela ser o que é, ela terá uma vida normal. Mas isso só pode acontecer se ela for para a escola.

Ragnar encara a noite escura perdido em seus pensamentos, por mais que não quisesse admitir sua esposa estava certa, se Ayra fosse mesmo o que aparenta ser, o melhor é ela aprender a conviver e controlar todas as suas habilidades e dons que ela terá.

— Está bem, diga ao sacerdote que pode preparar a viagem. Mas tenho uma condição - Diz Ragnar, tirando os braços de sua esposa da cintura e virando para vê-la.

— Qual ? - Perguntou a mulher curiosa.

— Bjorn vai com vocês.

— Está bem meu marido - Disse Aslaug suspirando, virando para a cama.

Depois dessa conversa os dois foram se deitar, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

No dia seguinte, todos acordaram cedo, as crianças logo comeram e foram para rua se divertir, Ragnar foi treinar com seus guerreiros e Aslaug foi fazer seus afazeres e claro levar Ayra e Ivar até a casa de Floki.

Os dois não podia estar mais animados, eles adoravam aquele louco homem chamado Floki e o mesmo retribuia o carinho, Floki era uma segunda figura paternal para os dois.

Ayra ia empurrando animadamente o carrinho de seu irmão, era o único jeito dele conseguir se locomover pelo os lugares e aquilo era divertido para os dois. Assim que chegaram na casa que ficava afastada da cidade, a margem do mar, viram Helga e Floki perto de um barco que o homem estava construindo, Aslaug acenou para eles e Helga foi recebê-los, deixando o marido no barco.

— Não sabia que iríamos receber visitas hoje - Comentou Helga brincando, recebendo um abraço apertado de Ayra.

— O Floki está muito ocupado ? - Perguntou Ivar ansioso.

— Claro que não, podem ir até lá, sabem como Floki adora uma plateia enquanto constrói algum barco novo - Disse Helga rindo.

As crianças se despediram da mão e fora até a onde o homem estava, Ayra corria empurrando o carrinho do irmão e Aslaug observava a interação dos dois com muito amor.

— Ragnar vai buscar eles no fim da tarde - Comentou Aslaug, se preparando para ir embora.

— Pode ficar tranquila, sabe como os dois ficam bem aqui - Comentou Helga sorrindo.

As duas mulheres se despediram e ambas tomaram rumos diferentes, Aslaug estava a caminho de Kattegat e Helga foi até a onde seu marido e as crianças estavam.

No fim da tarde, Ragnar foi buscar as crianças na casa de Floki, às vezes sentia ciúmes do relacionamento que Ivar tinha com ele, mais somente Floki entendia seu filho raivoso. Logo Ragnar chegou e viu Ayra e Ivar observarem Floki construindo um novo barco, riam de todas as palhaçadas que o louco homem fazia.

Ragnar observou a cena, sabia que em poucos dias sua filha caçula iria partir, e sentia que ela iria para ficar.

— Ei crianças hora de ir ! – Gritou chamando a atenção deles.

— A não pai ! Helga fez aquele ensopado de coelho que eu e Ayra adoramos. – Disse Ivar.

— Fique para jantar conosco Ragnar – Chamou seu amigo Floki, saindo de dentro do barco.

Ragnar assentiu com um leve aceno de cabeça e foi em direção a eles.

— Sendo assim vão lavar as mãos eu e Floki já entramos. – Disse para as crianças.

Elas logo obedeceram o pai e entraram, assim que os dois homens ficaram sozinhos, Floki percebeu logo que tinha alguma coisa de errado.

— Percebo você meio aflito Ragnar Lothbrok – Disse Floki, dando o sua risadinha fina que era sua marca – O que houve ?

Ragnar conta tudo para Floki, um de seus amigos mais fiéis, Floki ouvia tudo atentamente e admirado com o que seu amigo falará.

— Ragnar mais isso é uma benção dos deuses ! Fomos presenteados ! –Disse Floki alegre, se segurando para não dar pulo de alegria – Sabia que essa garota tinha algo de diferente de todo mundo aqui.

— Acha que não sei disso Floki, claro que estou feliz por ter acontecido isso, mas...

— Mas teme pelo futuro dela. Entendo, sua filha terá uma grande responsabilidade - Completou o louco homem, enquanto terminava de guardar algumas de suas ferramentas.

— Acha que ela terá uma vida normal, digo, casar, ter filhos, construir uma família? - Perguntou Ragnar, cruzando os braços e olhando para o mar.

— Ragnar meu amigo o futuro será sempre uma incógnita, nunca vamos saber realmente o que vai acontecer. Mais uma coisa eu te digo, sua filha será uma grande, grande mulher ! Ela e Ivar serão uma dupla incrível.

Ragnar riu do comentário de seu amigo, sabia que ele estava certo e ele não tinha outra opção além de aceitar o que até agora foi reservado para Ayra, então os dois homens seguiram para dentro da pequena cabana de madeira.

Assim que jantaram, Ragnar continuou conversando com os amigos só foi embora quando viu as crianças dormindo num canto, o dia foi bem cansativo para eles. Ele se despediu do casal de amigos, arrumou Ivar em seu carrinho e pegou Ayra em seu colo e foi em direção a sua casa.

Logo chegou em casa, Aslaug esperava os três no grande salão, assim que viu as crianças adormecidas foi até a cama deles, ajeitou as peles e ajudou seu marido a colocar eles, saindo em seguida e fechando a grossa cortina de pele.

Os dois foram até seu quarto e começaram a se preparar para dormirem.

— Desculpe não ter trazidos eles, Helga fez o ensopado de coelho que eles adoram - Comentou Ragnar, enquanto tirava seu grosso colete de couro.

— Está tudo bem, os meninos e eu nos divertimos enquanto não estavam aqui. – Disse Aslaug Sorrindo.

Ragnar terminou de se arrumar e deitou em sua cama, quando deitou sentiu o cansaço lhe abater, ser rei não era fácil como muitos pensavam.

— A viagem será daqui a dois dias. – Disse Auslaug ao marido, se deitando ao seu lado.

— Mais já ? – Perguntou Ragnar olhando surpreso para a esposa.

— Quanto mais rápido melhor. – Suspirou – Será o melhor para ela.

O silêncio voltou ao quarto, Ragnar apesar de não sentir mais nenhuma atração por sua esposa, pegou em sua mão e naquele raro momento demonstrou o mesmo sentimento que ela sentia, de dúvida e medo pelo o que o futuro guardava a filha deles.

Ambos os dois torciam para que os deuses estivessem reservado um destino bom a filha.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.