Nós não sabíamos como reagir. Nox se sentou para relaxar um pouco, descansar da corrida dele. Eu e Lena nos entreolhamos diversas vezes, até que ela disse:
— Mas como eles nos descobriram? Isso é impossível! Tipo, ninguém nos conhece, não somos criminosos procurados nem nada do tipo, então eles não podem simplesmente ter visto a gente, e partir pra uma busca sem mais nem menos!
Ela tem razão, não há como se tratar de nós, é tudo uma grande coincidência. Mas o cosmo tem de estar de sacanagem com a minha cara. Justo no dia que eu e o ruivo do Nox chegamos, montados num bicho gigante, os guardas criam uma força-tarefa pra procurar um ruivo e seu amigo, junto de um bicho gigante! Não é possível!
— Maninha, é verdade. Não fizemos nada Nox! Eu nunca vim aqui, nem nunca fui parte de nenhum crime. Lena também não, e eu acho que o fogueirinha também não. Mas não podemos arriscar sermos presos e acabar na cadeia, impedidos de ajudar o mundo todo. Sugiro que descansemos essa noite aqui, e, amanhã, ao nascer do sol, nos disfarçamos e vamos para a cidade ver o que conseguimos arrumar. Talvez alguma informação sobre a bússola, ou alguém que nos possa ajudar... Sei lá. Eu vou comer e dormir.
—Fogueirinha.... Hahahaha... Esse apelido ainda vai colar, Nox. Curti Luan. Concordo contigo, e acho que podemos nos disfarçar de várias maneiras, conheço algumas maneiras de improvisar maquiagem. O problema é que nossas roupas nos entregariam, e isso poderia ser horrível!
— Quanto a isso Lena, pode relaxar. Eu vi enquanto estava voltando pra cá, uma casa abandonada cheia de roupas. Tinha bichos por lá, uma situação de abandono completo. Vou lá, pego algumas roupas da nação do fogo, nos maquiamos, e pronto. Cidadãos do fogo como qualquer outro, irreconhecíveis. E pro governo de vocês, fogueirinha não vai colar coisa nenhuma.
Com uma risada sobre a questão do apelido, concordamos com ele. Reparei que eu e Lena estamos em perfeita sintonia, concordando em quase tudo, fazendo as mesmas coisas, tomando as mesmas decisões... Essa semelhança ta me assustando. Mas sei lá, coisas de gêmeos, como disse Lena.
Quando acordamos, estava clareando o dia, o sol começava a aparecer. Lena pegou um pouco de areia, misturou com algumas frutas que eu trouxe, e foi tingir a areia, enquanto Nox foi pra casa abandonada pegar nossas roupas. Dividimos as funções para economizar tempo e render mais. Nox voltou com muitas roupas, dos mais variados tamanhos, cores e estilos, avisando que trouxera também roupas de outras nações, pois poderíamos usá-las em outras ocasiões. Pegamos as roupas, nos maquiamos com a areia da Lena, e partimos para a cidade, tentar se misturar entre os demais cidadãos do fogo.
A cidade começava a funcionar quando chegamos. Pessoas abrindo seus estabelecimentos, crianças indo pra escola, mas os únicos que não estavam começando o dia naquele momento eram os policiais, que se aparentavam apreensivos, cansados e nervosos com a missão que lhes fora incumbida. Eles vasculhavam cada ruela, cada canto da cidade, buscando um menino e seu amigo ruivo, e como suspeitos potenciais, eu e Noxer. Não sei o quanto eles sabem como nos parecemos, mas a maquiagem da Lena está absurdamente boa, nem nós nos reconhecemos.
— Ta legal galera. Vamos nos dividir, e procurar alguma coisa sobre a bússola. Vocês dois fiquem juntos, e tentem não arrumar confusão. O pessoal daqui é bem esquentadinho, ficam ofendidos ou nervosos por qualquer bobeira. Subam para aquele lado que eu vou para o outro. Ah, não se esqueçam, tentem coletar informações, objetos, mapas, qualquer coisa que possa nos ser útil para encontrar delinquentes de dupla dobra. Eu vou procurar comida pro Paki também. Em três horas nos encontramos aqui?- Nox já saiu ditando as ordens, como se o plano já estivesse pronto na sua cabeça. Assentimos, concordamos com seus termos, viramos e fomos na direção combinada.
Lena ficava impressionada com quase tudo que via da nação do fogo. Ela nunca saiu de Omashu, desde o dia em que chegou lá. Então, tudo aquilo era uma grande novidade pra ela. Eu vim aqui com minha mãe pra um desfile, e aproveitamos e ficamos uma semana na ilha Ember de férias. Mas nada aqui me impressionava tanto assim. Acho que essa é uma diferença grande entre eu e minha irmã. Ela é meio infantil, limitada, e decepciona seu conhecimento, se comparado com sua maturidade.
Entramos numa loja de antiguidades, para ver se eles poderiam nos ajudar. Perguntamos pra senhora que nos atendeu, se ela tinha algum mapa das nações, para podermos estudar a geografia de nosso povo melhor. Ela sorriu, e disse que um mapa comum poderíamos encontrar em uma papelaria, mas ela tinha um mapa especial. Ela nos levou até o balcão, e de lá ela tirou um mapa de um tubo comprido e abriu ele na nossa frente para que olhemos o artefato. Ela explica:
— Esse mapa, crianças, foi feito na época do senhor do fogo Azulon, avô do senhor do fogo Zuko. Seus generais temiam muito a seu senhor, pois ele era super bravo e exigente de todos eles, inclusive seus próprios filhos, como vocês sabem a história que quase matou Zuko só por causa da morte de Lu Ten. Então, eles montaram uma equipe que escrevesse o mais detalhado mapa da história, e eles levaram oito anos para terminá-lo. O mapa é uma velharia. Depois desse daqui, todos os mapas saíram copiando ele pela sua exatidão, como os mapas de qualquer papelaria e escola. Mas, esses mapas omitiram informações militares, informações geográficas desnecessárias para o dia a dia, e esse aqui é o original, com tudo nele. Meu avô comprou de um general do fogo antes de sair para lua-de-mel com minha avó, e o mapa está na família desde esse tempo. Seu preço é de quinze moedas de ouro.
— Quinze moedas?- eu lhe indago. - Pois acho que levaremos o mapa, gostamos de história e geografia, e creio eu que esse mapa é a mescla perfeita dos dois.
—Ah não, pequeno menino, como você é apressado. Veja sua amiga, ela está quieta analisando o mapa, ela sabe o verdadeiro valor de um artefato desses. Dinheiro não é tudo nessa vida.
Beleza, sermão duma velha caduca na nação do fogo. A velha me disse para ser paciente, bem como Jinora o disse. Lena sorri perante a situação, pois entende meu ponto. Lena então vira pra velha e diz:
— Pois deixe o mapa aqui separado, por favor. Nós vamos dar uma olhadinha a mais na loja, e se algo mais nos interessar, viremos aqui negociar com a senhora.
—Como quiser princesa. - disse a velha.
A loja, antes de mais nada, era empoeirada demais. A última vez que limparam aquele troço deve ter sido antes da guerra dos cem anos, sem brincadeira. Então, se presume que aqui é o lugar perfeito para encontrarmos alguma coisa útil, por mais adversa que fosse.
Andando pela loja, vemos uma estante por detrás das outras escrito "artefatos avatar". Imediatamente vamos pra lá, e começamos a dar uma olhada nas coisas. Eram coisas de suas vidas pessoais como um todo, salvo de dois objetos que chamaram nossa atenção:Um relógio, que mais parecia com uma bússola, e um saquinho com pedras de quatro cores diferentes, uma de cada nação.
Perguntamos pra moça o que eram essas coisas, e ela nos disse:
— Ahá! Sabia que meninos curiosos como vocês, cedo ou tarde encontrariam a estante avatar. Bem, essas pedras, representam as quatros nações, como percebe-se pelas cores. Contam que, há muitos anos atrás, uma das avatares mais justas da história, a avatar Yangchen criou, com a ajuda dos espíritos de cada elemento, uma pedra que pudesse conceder a qualquer pessoa o poder da dominação daquele elemento momentaneamente. Eu estou certa que essas pedras são falsas, pois eu me lembro de ter ouvido que Yangchen usou todas elas, essas são apenas réplicas muito antigas. Elas custam oitenta moedas de prata.
"Já o relógio, bom, ele não tem muito valor ou história. Parece que ele pertencia a algum amor perdido de algum avatar antigo, que contava os minutos para que seu amor viesse visitá-la, no mesmo horário todos os dias. Um dia, esse avatar não veio, e a pessoa ficou esperando durante o dia todo, para que seu amor venha. E ele não veio no dia seguinte, e nem nunca mais. O curioso que contam, é que esse relógio parou justo no horário marcado com o avatar, as 17:55. O relógio não tem nada de especial, custa uma moeda de ouro."
Eu e Lena lhe escutamos com bastante atenção, e retomamos nossa exploração pela loja. Encontrei mais algumas pedras de metal, outras de enxofre, outras bobeirinhas interessantes, e fomos ao caixa. Toda nossa conta (o mapa, as pedras de Yangchen, as pedras de enxofre e mais uma estaca vermelha que Lena queria levar) estava dando quarenta e cinco moedas de ouro, ou noventa moedas de prata. Negociamos com a velha, e ela deixou levarmos tudo por setenta moedas de prata. Ao sairmos, lembramos que não lhe havíamos perguntado nada sobre a bússola avatar. Voltamos para a loja e perguntarmos para ela, o que ela sabia sobre a bússola. Ela disse:
— Ora crianças, isso é uma lenda impossível. Vejam, o relógio, é provável que em algum tempo algum avatar vinha visitar alguém amado sempre numa hora fixa. Essa é uma lenda cabível e provável. Mas essa bússola é impossível! Não existe nada no mundo que possa rastrear espiritualidade. Mesmo assim - ela baixou o tom de voz, olhou para os lados e seguiu - Recentemente ouvi que essa bússola foi transferida do cofre do museu da cidade, para o cofre do senhor do fogo. Mas eu não acredito nessa bússola.
Agradecemos muito a senhorinha, olhamos para o relógio de parede, e reparamos que tínhamos mais uma horas até o encontro com Nox. O tempo estava a nosso favor.
Saímos de lá e fomos para um aglomerado de gente que havia por ali perto. Parece que dois mendigos estavam para iniciar um Agnikai por uma bobeira sem tamanho, uma questão territorial ou algo do tipo. O ponto é que ninguém reagia, ninguém tentava apartar ou ao menos amenizar a briga. Nada. Ninguém esboçava reação que não fosse a curiosidade de ver a luta.
Lena estava chocada com isso. Como dois cidadãos brigariam, e ninguém faria nada? Ela supôs que pelo entretenimento lhes deixariam trocar um par de fagulhas, mas que depois apartariam. E quando isso não aconteceu, Lena quis reagir e apartar os caras.
— Lena, pára com isso. Fica no teu canto, não se meta em coisas que são acima de seu poder! Você pode comprometer tudo que estamos fazendo!
— Me diz, que tipo de avatar é você? Daqueles que estão loucos para aprender os elementos, ser super poderoso, baixar o sarrafo em um par de marginais e só? Você sabe muito bem que é mais que nossa função apartar aquilo, e dissipar a multidão. Então pára de me olhar com essa cara e vem me ajudar!
Cara, a menina ta certa. E vou te falar: Nunca na minha vida alguém tinha sido tão verdadeiro comigo, me jogado a podre verdade na cara. E doi bastante.
Lema entra na roda e eu venho atrás. Ela pergunta:
— Senhores, por que a briga? Vocês não podem resolver isso de uma maneira mais amigável?
— Sai, sai! Sai daí menina, antes que você se machuque. Aqui é briga de gente grande, deixa de palhaçada e volta pra escola. Eu vou ensinar esse otário que essa parte da rua é minha!- diz um deles.
— Mas a rua não tem dono! Se não tem dono, eu fico aonde quero, e não saio só porque um mongol me pede! Ele que vai aprender qual seu lugar. Agora sai daí pirralha, vamos acabar te queimando!
Lena não se da por vencida e insiste em alguma espécie de acordo. O público presente começa a vaiá-la por estar estragando seu show, e todos pedem que ela saia. Lena aparentava dar razão ao suposto "visitante", o segundo mendigo, até porque seu adversário era quem propôs o Agnikai. Lena então diz:
—Façamos assim, me acerta com uma distância de sete metros com alguma rajada de fogo. Se você acertar, a rua é sua, mas se você só errar, a rua é dele.
— Menina, sai daí, eu nem te conheço... Não quero que você me defenda nem nada!
— Quer saber? Gostei da ideia. Companheiro, acho que sua noite de sono depende de uma menina comum.... Hehehe, to feito.
O público então aplaude a bravura de Lena. Eu estava super nervoso com ela, e muito temeroso. Olha o perigo que a moça se mete! O público ia abrindo espaço me empurrando para trás, enquanto eu queria ficar na frente, junto a Lena, agarrar seu braço e sair correndo de lá. O mendigo representado por Lena, transtornado com a situação, vai para um dos cantos assistir o " tiro ao alvo".
O mendigo oponente, com um sorriso acende a mão esquerda e manda um soco de fogo em direção ao peito de Lena, que desvia com extrema facilidade. Outro soco e mais outro, e Lena se esquivava tranquilo. O público estava boquiaberto. Eu estava boquiaberto. Cara, o mendigo não está aliviando nem um pouco, e ela está se movendo como uma mestra do ar! Opa, temos um problema. Os dobradores de ar não são bem vindos por aqui. O que me falta é os guardas virem e levarem Lena para um interrogatório ou reste, sei lá o que os caras fazem por aqui.
A medida que ela desviava, ele aumentava a potência de seus ataques. O outro mendigo não se continha de tanta alegria, estava ganhando sua nova casa! E Lena desviava tranquila, na moral. O cara ia ficando bolado, ia atacando agora com todos os membros simultaneamente. Estava uma loucura. O povo já torcia para Lena, e gritavam "olé" toda vez que desviava.
Depois de algum tempo, eu reparei que vinham alguns policiais, o que era problema. Eu tentei avisar a Lena, mas ela estava concentrada na sua própria luta, então teria que tirá-la da luta, para então tirá-la daqui. Mas como?
Então, comecei a desnivelar o chão debaixo do mendigo, só que não delicado como fiz com Jinora, e sim brabo, uns desníveis notáveis, para que caia no chão e fique fora do combate. Os policiais se aproximando e nada do cara perder o equilíbrio. Eu também, não podia dominar a terra assim na cara dura, por isso dominava delicadamente, o que era difícil. Em algum momento, eu perdi a paciência e desnivelei um absurdo e o cara caiu no chão. Assim que ele caiu, peguei Lena pelo braço e saimos correndo.
Depois de algumas quadras, parei, encostei Lena em uma parede e disse arfando:
— Escuta aqui. A próxima vez que você se meter em uma confusão dessas, eu não vou te ajudar. Que irresponsabilidade! Vai se meter na vida dos outros assim, ainda julgando da maneira que achar justa, sem nem ter conhecido os fatos direito, e ainda resolve na violência? Bom, o importante é que saímos de lá ilesos, e os policiais não nos viram. Agora me conta: Como diabos você se move tão rápido assim, e desviou dos ataques do cara tão rápido?
— Luan, me perdoa, por favor. Não sei o que aconteceu comigo, eu me senti estranha ante aquela briga, como se já conhecesse a história toda, e que entendesse que o cara não tinha razão. Você sabe bem que eu nunca me meteria numa briga de rua, ainda mais por estranhos... Não sei que que deu em mim, juro. E quanto aos movimentos, bom, hemmmm, m-meu pai é-é um do-dominador de areia, e ele se move bem rápido, como um grão de areia ao vento. É isso. De tanto assistir meu pai que aprendi tudo isso.
— Não me convenceu, nenhuma das respostas, mas ta bom. Estamos a salvo, e quase na hora de encontrarmos Noxer. O negócio é, que eu não queria voltar pra lá, os caras devem estar te procurando, lá agora está meio perigoso pra gente...
—Aí, tava rolando uma conversa lá atrás que uma menina tava desviando de um Agnikai, deixando o cara chupando dedo. Combina contigo Lena, você é o exato tipo de pessoa pra fazer isso. - Noxer chega por detrás cheio de sacolas, anunciando sua chegada com sarcasmo. - Trouxe comida, vocês devem estar com fome.
Entramos todos então em uma viela que tinha por ali, para sentarmos no chão e comer. Conversamos, compartilhamos informações sobre os avatares e sobre a bússola. Nox ouviu que a nação do fogo a mantinha no cofre do palácio para que não ficasse a mercê de ladrões. Conseguiu também um esquema de como funciona a guarda do cofre real, e mais algumas souvenirs, como uma caneta que só se consegue ver com a dobra de cura, ou uma moeda que trocava de cor de acordo com a previsão do tempo. Lhe contamos tudo que a velha nos havia contado, e sobre a briga de rua também. Ele comentou que, era curioso esse impulso de fazer alguma coisa que Lena sentiu, pois ele sentira a mesma coisa para vir a Omashu. Pra mim, papo furado dos dois. Esse "chamado do além" não existe. Noxer comentou também que, na cidade do fogo havia um bandido famoso que era dobrador de fogo desde sempre, e que ultimamente estava dobrando lava também. Ou seja, mais um cara com duplo poder. Temos que localizá-lo para neutralizar essa ameaça. A pergunta é, o que fazer com o cara depois? Assim, qual o passo seguinte, vencê-los, e depois o que?
Então, para prosseguir com o plano magistral de obter a bússola avatar, teríamos que bolar um plano, e foi aí que o esquema da guarda que o Nox conseguiu foi útil. Estávamos pensando realmente em pegar esse artefato a força. Era uma loucura. Três adolescentes arrombando um cofre da nação do fogo, passando por toda a guarda e pegando um mísero objeto sem nenhum valor. Objeto que, só para lembrarmos, não confirmou sua existência até agora. Nós estamos muito ferrados.
— Então, acho que a melhor jogada pra nós seria criar uma distração, e enquanto a distração rola, os outros entram no cofre e pegam a bússola. O problema é, que eu não sei quanto tempo moleques de treze anos são capazes de entreter guerreiros do fogo. A outra opção, era apagar alguns guardas, e entrar no silêncio, e sair despercebido. Eu acho que teríamos mais sucesso se criássemos alguma distração e caíssemos na porrada com eles.
— Nox, você está esquecendo que tem seis guardas na entrada do castelo, quatro no lobi de entrada, outros dois nos corredores, dois no corredor do cofre, e mais quatro na entrada do cofre. E, se há alguma espécie de guarda lá dentro, dançamos de vez. Cadeia, interrogatório, penas pesadas, torturas, sei lá!- eu toco a real pro ruivo, que se mostrou sem noção de novo.
— Luan está certo. Não podemos arriscar nossa liberdade por uma bússola. Se essa fosse nossa única opção, é melhor esquecer isso, e ir tentar outra coisa. Nox, como era a ideia de entrar no silêncio?
— Como? Emm, bom, eu não tinha bolado de fato nenhum plano, investi meu tempo bolando o nosso ataque, me soava uma ideia sensacional. Mas, de qualquer maneira, essa ideia basicamente é entrar a noite, desmaiar um guarda, atrair a atenção dos outros, botar dois na segurança enquanto o terceiro entra no cofre e pega a maldita bússola. Teríamos que ser super rápidos.
— Beleza. Então hoje a noite faremos isso? Vamos pra caverna, lá damos comida pro Paki e conseguimos planejar melhor. Sabem, as paredes tem ouvidos. - comentei com eles. Eles concordaram, pegamos tudo e fomos.
Andando pelas ruas da cidade em direção a saída, vimos vários guardas segurando um menino ruivo bem sujo perguntando pra ele aonde o outro estava. No canto, um caminhão tinha um urso-ornitorrinco gigante mesmo, sendo tranquilizado.
— Fala logo moleque! Só nós podemos melhorar sua situação agora. Colabora! Se ajude garoto! Mais uma vez. Por que você fugiu com o outro? De onde vocês arrumaram esse bicho? Cadê ele?- o guarda dava a maior dura no garoto ruivo. Fiquei até com pena dele.
— Por que você não fala o nome dele, ou ao menos o posto dele? Bom, não te interessa, não me lembro ao certo, e sei lá cadê o cara! Me solta agora, te respondi já!- o pobre menino relutava para sair das algemas.
Nós passamos voando por lá. Não queríamos arranjar mais problemas pra ninguém. E só então realizamos, que o que Noxer ouviu ontem a noite dos guardas, não era sobre nós, e sim sobre o menino ruivo, seu amigo e o urso-ornitorrinco. Demos umas risadas no caminho e fomos pra caverna.
Na caverna, vimos algo desconcertante. Havia um menino da nossa idade lá, com roupas chiques, que agora estavam super rasgadas, sujas e fedidas. Ele buscava comida, tentava achar alguma coisa pra enfiar na boca. Assim que entramos, ele correu para a nossa direção e nos implorou por comida. Nós assumimos posição defensiva na hora. Eu prendi ele na terra e Lena fez uma fossa de lava ao seu redor.
— Ai ai, galera, relaxa aí. Ta doendo aqui irmão, afrouxa isso. Só pedi comida pra vocês, não roubei nada.
— Quem é você, e o que você faz aqui?- Noxer então ia ser o interrogador.
—Eu fuji de casa tem quase uma semana. Fujimos eu e meu amigo com um animal de transporte. O objetivo era sair da cidade, e daí sair da nação. Queríamos ir morar fora daqui. Nossa vida aqui está insuportável. Nosso plano ia até que bem, mas o urso resolveu ficar com muita fome, e tentou nos devorar. Entramos em desespero, fujimos do urso e acabamos nos perdendo. Ficamos sem comida, pois a comida estava nas nossas bolsas que estavam no animal. Nos tentamos nos virar por alguns dias por aqui, mas meu amigo desistiu e voltou pra cidade.
— Sinto lhe dizer parceiro, mas o urso foi apreendido e o ruivo, que tava pior que você, foi preso. -Noxer lhe atualizou o que aconteceu enquanto o garoto estava vasculhando nossas coisas. Lena então fecha o poço de lava, e se aproxima do garoto com comida. Ela teve pena dele.
— Lena, se afasta do garoto, você não sabe quem é ele!- eu aviso ela.
— Não sei, é verdade. Mas ele está muito fraquinho, você está prendendo ele e ele não me parece ser nenhuma ameaça. Eu dou meu voto de confiança pra ele. Solta ele, Luan. Confia.
Aparentemente enquanto estávamos tendo nossa conversa, ele viu nos bolsos de Lena o esquema da guarda do castelo. Ao soltá-lo, ele disse:
—Esse mapa no teu bolso, fui eu quem fiz faz duas semanas. Posso ajudar vocês a entrar no castelo, e pegar o que vocês quiserem, por vocês terem me ajudado. Depois disso, eu vou embora, e nunca mais nos veremos.
— você fez o mapa?- Nox pareceu indignado. - O cara me vendeu por quarenta moedas de prata, disse que era um relíquia!
— O trapaceiro deve ter encontrado o mapa quando ele caiu do meu bolso, sujou com borras de café e chá, e vendeu pro primeiro otário que apareceu. Na nação do fogo, o que não falta é trambiqueiros. Quer ver que fui eu? Olha em cima do portão, se não está escrito "tia Mila, me junto a você". Fui eu quem fiz, e você comprou como relíquia. Os caras estão cada vez mais criativos.
Depois de confirmada a história do mapa, ele nos perguntou o que queríamos de dentro do castelo. Quando lhe comentamos sobre a bússola, ele disse que esse negócio existia de fato, mas que ele tinha sido roubado a menos de três meses.
— Nox, Lena, vocês acreditam nele? Ele nem falou seu nome pra gente. Como vamos confiar em um estranho e cancelar todo o nosso plano?
— Entendo seu questionamento. Bom, façamos assim: Eu vou explicar pra vocês como entrar no cofre e sair de lá ilesos, e estipularei um tempo pra isso. Se vocês forem pegos, se demorarem mais do que o tempo necessário, se a bússola estiver de fato lá, enfim, qualquer coisa que não seja condizente ao que eu disse, vocês me entregam pra polícia. Tenho certeza que seriam muito bem recompensados por isso.
— Ta legal moleque. Explica qual a jogada. -Nox lhe diz já bem interessado.
—Abre aqui o mapa. Ta vendo essa entrada lateral do castelo? Bom, mesmo que ela pareça não ser a mais próxima do cofre, ela é a mais próxima. Como ninguém sabe disso, nem mesmo o guarda que está lá, eles colocaram o cara mais retardado do reino pra cuidar daquele portão. Ele é um gordo que só pensa em comida. Vocês botem um prato de comida que demoraria, por exemplo, vinte minutos para comer, então aquele portão ficará sem ninguém por vinte minutos. É tiro e queda.
"Ao passar pelo portão, haverá duas pilastras. Atrás da pilastra direita, tem um tijolo que " não foi pintado". Ele é um botão que abre uma escada secreta até o cofre. Entrem lá, vão para a seção do Zuko e procurem isso. Vocês não vão achar nada, vão passar de volta pelo guarda e voltarão ilesos pra cá."
— Como você sabe disso tudo?- Lena perguntou pra ele.
— Digamos que... Eu já entrei lá muitas vezes, conheço os esquemas melhor que qualquer um. Agora, daqui até o castelo, a pé, demora uma hora. Lá dentro, a escada são cinco minutos descendo e sete subindo, mais o tempo que vocês demorarem lá dentro. Calculo que duas horas e meia é suficiente pra essa operação toda tranquilo.
— Ok então. Lena, Noxer, vocês dois vão. Eu vou ficar aqui e alimentar Paki, e aproveitar para ficar de olho nesse garoto. Daqui duas horas e meia, vocês estão aqui de volta. Me entenderam?
Eles concordam com a minha divisão, e saem juntos para o castelo. Eu sei que o menino não está mentindo, só tenho algum problema em confiar nas pessoas. Eu mandei Lena e Noxer, pois a dobra de ar dele, mais a lava e terra dela seria muito melhor do que só terra minha.
E assim foi. Eu só olhava pra ele, que estava preso nas minhas algemas de terra. Não tivemos nenhuma conversa grandes coisas, só uma perguntinha aqui e outra lá. Não nos gostávamos. Ele, por eu ter prendido ele, e eu, por ele ter invadido meu esconderijo.
Passadas duas horas e meia, eu já começo a olhar pra porta da caverna, para encontrar os dois, e de fato, lá vinham eles, de mãos vazias. Eles confirmaram cada palavra que foi dita pelo garoto. Sobre o portão, o guarda comilão, as escadas secretas, a estante e mesmo o tempo de duração das escadas. Lena ainda disse:
— Eu fui lá pra estante do senhor do fogo Zuko, e realmente, na placa "bússola avatar" a estante estava vazia com esse bilhete.
Ela nos mostra um bilhete, que está escrito: "Venham pegar, se forem capazes. Ass: Vit, a chefa".
— Oh não, agora entendi porque eles não foram atrás do ladrão. Eles desistiram do tesouro!
— Opa opa garotão. Conta aí tudo. Quem é você, como você sabe disso tudo, quem é Vit... Vai falando!-Noxer lhe pressiona.
— Ta bom, beleza. Eu falo.
" Meu nome é Sozin, eu estava fugindo com meu amigo de casa. A vida no castelo é braba pra nós."
— Quem são "nós"?- Lena indagou.
— Ele é um simples filho de uma funcionária do castelo.
" Eu, bom, eu sou Sozin, o príncipe do fogo. A polícia está procurando por mim porque meu pai mandou".