Faz uma semana que Kadda entrou em minha vida, trazendo histórias, canções… e problemas! Tantos problemas, tantos… Nós passamos a noite inteira com os olhos atentos para evitar sermos mortos dormindo, graças a Kadda que fez questão de provocar alguns radicais do fogo que encontramos pelo caminho. Depois de um dia inteiro de viagem sem parar pra descansar conseguimos despista-los... eu acho. Paramos em uma cidade chamada Zentage. Um conhecido de Kadda emprestou seu celeiro para que Zena descansasse enquanto nós íamos comprar mantimentos que devem durar até chegarmos na passagem da serpente que ainda estava a alguns dias de viagem. Infelizmente é a única forma que temos para viajar sem sermos pegos e com o pouco dinheiro que nos resta.
Quando acabamos as compras Kadda começa a me encher a paciência de novo.

– Cuidado radicais! O time avatar esta aqui para faze-los pagaaaaar – Ele da chutes e lança rochas no nada.

– Não seja idiota Kadda, somos apenas duas pessoas, não podemos ser considerados um “time”, no máximo seriamos uma “dupla” avatar.

– Sim, exatamente, precisamos de mais membros... Meninas! E elas tem que ser lindas – a cara de bobo dele me deixa irritada mas acabo rindo.

– Ridículo kk.

– É assim que eu gosto de ver... – ele continua dançando enquanto andamos.

De repente vemos um vulto preto correndo por cima dos telhados e logo em seguida pousando suavemente no chão perto de nós, ele para e olha o horizonte, com os reflexos de um gato ele pula em nós e nos empurra para debaixo da carcaça do que antes devia ser um satomóvel.... O som ensurdecedor de uma explosão ecoa. Em seguida eu e o garoto estranho saímos debaixo da carcaça de metal e o que vemos me faz querer ficar cega. Chamas estão espalhadas por todos os lados, pessoas desesperadas correndo de lá pra cá, algumas estão em chamas como suas casas. Kadda está desacordado no chão. Eu não sei o que fazer ou pensar, o garoto que nos salvou volta a correr mas antes que ele vá muito longe envolvo ele com um dos meus cabos de metal e o trago pra perto de novo.

– MAS QUE DROGA ESTÁ HAVENDO AQUI?? – Com os mesmos reflexos de antes ele consegue se soltar e me prender em minha própria armadilha.

– Em que mundo você vive? Estamos sendo atacados. – Varias pessoas usando bandanas cobrindo o rosto aparecem e começam a atacar civis, vejo que os mesmos radicais que foram provocados por Kadda estão entre eles, alguns grupos da guarda local que tentam combate-los são facilmente abatidos. Sem perceber me vejo correndo por becos sendo arrastada pela mão pelo garoto que agora carrega Kadda, que ainda está desacordado, nos ombros.

Meu coração pulsa mais rápido a cada segundo, as imagens ao meu redor são bastante assustadoras, crianças chorando desesperadas ao lado dos corpos sem vida de seus pais, mulheres arrancadas de suas casas e sendo violentadas na rua. Continuamos a correr por mais alguns segundos e paramos em um beco atrás de um prédio abandonado. Nos esgueiramos para dentro e logo nos deparamos com dois homens enormes segurando armas apontadas para nossas cabeças, eles logo reconhece o garoto desconhecido e nos deixam passar, entramos em uma sala enorme e vazia exceto por algumas macas e pelo armamento pesado “enfeitando” as paredes.

– YUKA! YUKA! – ele grita chamando uma garota que logo surge de um porta no fundo da sala. Ela tem olhos azul-escuros e cabelos castanhos claros que pendem um pouco para o grisalho, ela não parece ter mais que dezoito anos.

– O que houve Suna? Quem são esses? – ela pergunta se referindo a nós. Suna, então esse é o nome dele. Olhando bem para ele vejo algo de muito familiar, ele me lembra alguém, não consigo imaginar quem seja.

– Estava fazendo minha ronda e os salvei de serem explodidos, mas o garoto acabou se ferindo – ele repousa Kadda em uma das macas – E como eu conheço a melhor curadora de toda Zentage eu pensei em salvar a vida dele de novo trazendo-o aqui. – ele pisca um dos olhos para ela que retribui com um sorriso discreto, em seguida de uma bacia ela dobra uma enorme quantidade de água e envolve Kadda com ela, a água brilha enquanto cura meu amigo.

Ao perceber que Kadda está em boas mãos saio correndo do prédio, preciso encontrar Zena antes que algo aconteça a ela. Passo pelos seguranças tão rápido que eles não entendem o que aconteceu, ao chegar ao beco volto a ouvir gritos de agonia, quando viro a rua me deparo com um grupo composto por sete rebeldes, todos homens. Pela expressão nos rostos deles quando me veem prevejo que isso não vai acabar nada bem.

– Ora, ora, ora, o que uma garotinha está fazendo na rua à uma hora dessas? É perigoso, você não sabia? Você pode acabar encontrando pessoas ruins por ai, hahaha – O homem que parece ser o líder do grupo fala. Tenho vontade de vomitar só de olhar para a cara dele.

– Mas pra sua sorte nós estamos aqui e vamos protegê-la menina – o homem que esta a direita do líder diz sorrindo com os poucos dentes que ainda lhe restam na boca e da alguns passos a frente se aproximando um pouco.

– Acho melhor manter distancia ou se não vai perder o resto dos seus dentes. – fico em posição de ataque.

– Olha, a garotinha é brava – O líder do grupo chega perto de mim e tenta tocar no meu rosto, mas antes que ele o faça giro no ar e chuto sua cabeça do mesmo jeito que aprendi nos treinos. – SUA VADIA!– Começam a sair labaredas das mãos de todos eles. – AGORA VOCÊ VAI APRENDER A NÃO MEXER CONOSCO.

Quando o líder estava prestes a lançar uma onda de fogo na minha direção um vulto preto pula do telhado de uma das casas e começa a arremessar laminas na garganta de cada um dos capangas que caem no chão em menos de um segundo.

– O que você veio fazer aqui? – Suna fala comigo, mas continua com os olhos fixos no líder que foi o único homem que restou em pé. – Nunca imaginei que com 18 anos ia ser babá de uma garota desse tamanho.

– Escuta aqui, ninguém pediu sua ajuda.

– É claro, não me agradeça por salvar sua vida e a do seu amigo, duas vezes ainda por cima. – Suna finalmente olha pra mim.

– Kadda. Como ele es... – antes de terminar a frase vejo por cima do ombro de Suna o líder do grupo preparar um ataque, sem pensar duas vezes com um dos pés retiro um enorme bloco de terra do chão, me apoio nos ombro de Suna e pulo sobre ele lançando o bloco de terra naquele miserável – Isso é pelo “vadia”.

– Fabuloso, fabuloso – Suna bate palminhas para meu feito, não entendo se ele esta sendo sincero ou puramente sarcástico.

– Bom, acho que agora nós temos um empate não é? Você salvou minha vida e eu salvei a sua. E a proposito, me chamo Tara.

– Prazer Tara – ele aperta minha mão – você já deve saber que me chamo Suna. E não, não temos um empate, o placar agora está dois pra mim e um pra você.

– Ahh – dou um grito agudo quando sinto uma dor insuportável na perna, um filete de sangue escorre de um buraco na minha coxa. Eu levei um tiro. Com a visão um pouco turva vejo uma mulher com uns quarenta anos segurando uma pequena pistola na mão. Suna tenta acerta-la, mas não é bem sucedido no seu ataque, ela tenta atirar nele também, mas ele para a bala com uma de suas laminas. Suna me segura antes que eu atinja o chão, ele olha o ferimento e ao longe ouço sua voz pronunciando a palavra veneno. Não consigo distinguir muito bem o que acontece em seguida, sinto como se estivesse flutuando, ouço alguém gritar de dor antes de perder a consciência por completo.

Quando acordo eu vejo que estou de volta a sala onde Yuka estava curando Kadda, ele não esta mais aqui, mas não estou sozinha, as outras macas estão ocupadas por pessoas que nunca vi antes. Metade da minha bermuda esta rasgada e minha coxa esta enrolada por bandagens, retiro o curativo e vejo uma pequena marquinha redonda, a cicatriz do tiro que levei. Percebo que a sala esta iluminada por raios solares, já é dia, quanto tempo será que eu dormi? Levanto da cama e caminho até a porta pela qual vi Yuka sair na noite anterior, antes que eu perceba qualquer coisa um furacão marrom vem em minha direção, Zena pula em cima de mim e me derruba no chão. Quando me recupero do ataque da minha adorada Toupeira-texugo percebo que estou em uma enorme sala com três pessoas sentadas me observando, Kadda que está com uma bandagem enrolada em sua cabeça está acompanhado de Suna e Yuka.

– Ér.. Bom dia? – Não sei bem o que dizer porque não entendo a expressão em seus rostos.

– Bom dia avatar Tara. – Yuka me cumprimenta com um grande sorriso.