Zara virava o corpo e a cabeça para todos os lados, mas não enxergava nada. Diferente de como quando via Raava, aquele lugar não tinha estrelas, a escuridão parecia cada vez mais intensa para todos os lados.

Abria a boca mas não conseguia falar, e logo a voz soltou uma risada intensa e macabra.

– Aqui você não fala, Avatar. - Ele falou. - Aqui, eu te vejo. E é uma honra... - A voz foi diminuindo, e Zara foi arrancada do mundo espiritual, empurrada de lá como de um penhasco.

Ofegante, Zara abriu os olhos assustada. Suava e tinha a visão embaçada, a garganta seca e uma tontura lhe abateu. Sozen estava diante de si, abaixava-se e levantava, ia de um lado para o outro.

– Para onde me levou? - Perguntou Zara ao conseguir enxergar sua companheira com nitidez, mas Sozen continuou inquieta. - Não foi você quem me levou? - Perguntou mais uma vez, engolindo em seco, até que o Tigre-Leão parou e virou-se para a porta.
Poucos segundos depois ela se abriu e Li apareceu.

– Tem que ver uma coisa, chega de descanso. - Anunciou e se retirou. Agora Li estava ainda mais majestosa. As roupas negras lhe caiam com perfeição, e as placas de metal em seu corpo anunciavam sobre quem era aquela mulher. Li Bei Fong, a dominadora de metal.

Ela guiou Zara até o subsolo da mansão, onde havia um porão extenso, largo e repleto de objetos metálicos.

– Eu vou supor que a sua dobra de terra já é impecável, Avatar. - Ela disse, virando-se de frente par Zara. - Agora eu quero que feche os olhos e sinta o ambiente ao seu redor. - Falou.

Zara obedeceu cautelosamente, mas apenas sentia o chi do chão e do teto, além do da própria Li. Foi quando a mulher a prendeu num casulo de metal, com apenas alguns furos no topo. A garota arregalou os olhos e se apoiou na caixa onde se encontrava, ouvindo uma risada discreta do lado de fora.

– Vai aprender à moda antiga, Avatar! - Gritou subindo as escadas do porão. - Como mamãe aprendeu, e tão carinhosamente me ensinou! - Falou rindo um pouco, e logo ela sumiu escadaria a cima.

– O quê?! - Berrou Zara, abismada.

Passaram horas.

Zara acreditava em sua dobra de terra, mas não acreditava que sem instrução alguma iria conseguir aprender uma dobra que apenas Li sabia.

Mais horas se passavam.

Um estímulo, ou uma faísca deste, parecia estar lhe abatendo. Tentou se concentrar, sentir o chi do metal. Não conseguia. Começou a ficar com fome, e batia nas paredes de metal.

– Li! - Gritou enfurecida. - Me tire daqui, Li! - Mas não havia sinais de que ninguém estava ouvindo.

Mais horas passaram. Quase um dia inteiro se passou, Zara ja havia desistido. Estava sentada no chão de metal, com a cabeça encostada na parede, sentia o estômago doer.

– Como ela quer que eu consiga algo se meu corpo não tem condições de nada? - Perguntava-se num sussurro cansado.

– Zara! - Ouviu a voz de Gumo, acompanhada por um barulhinho estranho ao fundo.

– Gumo? - Chamou fraca.

– Deixa ela! - Gritou Li, atrás de de Gumo, tentando impedí-lo de chegar ao porão. - Ela precisa ficar aí!

– Solte ela! - Gritou Gumo chegando diante do casulo onde Zara estava. - Zara!! - Ele chamou, batendo no objeto e ouvindo-a de volta. Logo o barulho estranho Zara conseguiu reconhecer como um rádio.

– Zara, escute. - Ele disse, deixando o rádio perto do casulo.

– Deixe...

– Shh! - Gumo interompeu antes que Li pudesse dizer mais alguma coisa.

Zara concentrou-se no som do rádio. Era um homem que falava.

Kaisa, da província de Hais; Jurrei, militar; Lia, militar; Geor, da província de Tula; Airon, militar

Ao ouvir o nome do garoto, Zara franziu o cenho, desentendida. Avalon havia descido as escadas atrás dos outros dois e espreitava, também ouvido o rádio. Mais meia dúzia de nomes foram pronunciados.

Desaparecidos há um ou dois dias, como os outros antes deles, e sua homenagem será feita no Parque de Heia, onde comparecerão as famílias...

Continuava a voz.

– Gumo. - Zara chamou. - Como assim? Desaparecido? Gumo, o que é isso? - Zara perguntou, entrando em pânico. O rapaz desligou o rádio.

– Você tem que tirar ela daí, Li! - Ele insistiu, mas a mulher deu de ombros.

– Ela vai sair daí quando ela se tirar daí. - Argumentou.

– Li! - Gritou Zara ficando ainda mais irritada, golpeando o metal com toda a força, o que o forçou para fora deixando a marca de seu punho, em direção ao rosto de Li. A mulher se assustou com o golpe, e apenas se retirou, mas antes que pudesse subir as escadas de volta, Avalon bloqueou-lhe a passagem.

– Não vou tirar ela de lá. - Deixou bem claro para o rapaz, mas ele não liberou a passagem. Gumo se pôs atrás da mulher, quase ameaçadoramente.

– Então vai nos ajudar a lidar com ela. Ela vai sair. - Disse Gumo, ameaçadoramente.

Li se virou para o casulo, e viu uma luz branca sair dos furos no seu topo. Zara grunhia com a expressão assustadoramente raivosa que nenhum deles via. Seus olhos brilhavam como nunca.

– Está me obrigando à isso, Bei Fong! - Gritou de lá de dentro, fazendo a mulher arrepiar-se com a voz dupla do Avatar.

Um escudo de ar formou-se ao redor de seu corpo, o chão aos pés de todos vibrou. Li nunca havia visto Zara com raiva, muito menos algo próximo do estado Avatar.

O casulo se contorcia bruscamente, e os olhos de Li se arregalavam enquanto Gumo buscava alguma fonte possível de água para tentar se defender, ou ao menos congelar Zara caso ficasse muito violenta, mesmo sabendo que não havia chances de conseguir.
Subitamente, o casulo se desfez em pétalas que se soltaram do chão, como lâminas que passaram a girar em volta do escudo de ar.

– Você me obrigou, Bei Fong. - Disse a voz. - E agora eu vou te obrigar. - Havia ódio em sua voz. Zara flutuava dentro do escudo, e aproximou-se de Li, e consequentemente dos outros dois.

– Zara, não vamos perder tempo. - Apelou Gumo. - Vamos atrás de Airon, logo! - Dizia.

Mas Zara já não o ouvia. Lentamente Zara segurou o pescoço de Li apertando-a contra a parede.

– Zara! - Exclamou Avalon.

– É preciso ensinar à moda antiga! - Gritou a voz dupla de Zara, enquanto Li segurava a mão da garota e era erguida do chão.

– Zara! Airon foi pego! - Griou Gumo mais uma vez. - Se você não for, eu vou sozinho! - Gritou, quase em fúria. Ninguém jamais o vira com tamanho desespero na voz.

O Avatar virou-se para o garoto, sem parar o que fazia. Ela apertou o pescoço de Li com um pouco mais de força, a mulher já ia ficando vermelha quando o Avatar finalmente a soltou. Colocou os pés no chão e começou a subir a escada.

Seus olhos não pararam de brilhar por nenhum segundo, e os outros dois acompanharam os passos dela enquanto ela saía da casa.

– Zara... - Sussurrou Gumo.

– Pa'Akay está vivo. - Ela disse. - E Vaatu conhece a minha forma. - Falou mais uma vez, mas agora a voz de Zara se fora, apenas Raava falava. - Não há tempo, Airon tem algo de que eu preciso.

– Vai me levar? - Perguntou Gumo, e logo Raava, no corpo de Zara, virou-se para ele.

– Você tem pelo quê lutar, mas vivo. - Anunciou, antes que seus olhos se apagassem bruscamente e Zara imediatamente caísse no chão, desmaiada.