Seth me balançou o ombro muito delicadamente, eu podia ouvir ele chamando meu nome, ele estava... Me acordando, eu estava em casa.

Minha casa na Reserva, a casa de Sue.

Leah.

Abri os olhos, vi Seth sorrindo ao dizer:

— Bom dia, dorminhoca. — ele abriu ainda mais o sorriso. — O café está na mesa.

Eu sorri com essa notícia também, amava o café de Sue.

Me levantei e o abracei, corri para o banheiro para fazer minha higiene matinal e não olhei o celular.

Aquilo de novo... Inconscientemente esperando por mensagens dele.

Isso com certeza não era bom pra minha sanidade, afinal o que eu poderia esperar dessas férias além do que elas eram: férias!

Eu estaria voando para NY em breve, Edward e tudo o que ele representava ficaria para trás.

Ele me deixou para trás uma vez.

Ou nunca notara minha existência para que tivesse que 'me deixar' de verdade.

Ai Cullen, você é um grande desgraçado, isso que você é.

Respirei fundo enquanto saia do banheiro no corredor ao lado da cozinha americana de Sue, uma cozinha linda e muito ampla, eu amava aquela cabana. Era simplesmente a construção mais aconchegante que eu já havia visto.

Será que era assim para Leah também? O quanto doeria pra ela ter de deixar seu lar para trás pra que pudesse recomeçar? Ela teria coragem?

Eu suspirei e cumprimentei a todos, Charlie sorria, disse que Leah estava tomando banho e que viria...

Aquilo me surpreendeu. Ainda era cedo pra uma reação tão positiva após o surto. Me animei consideravelmente e me sentei ao lado de Seth enquanto esperava pela vinda de minha irmã, nos olhamos esperançosos, Sue estava acabando de preparar os ovos, o cheiro preencheu o lugar e despertou uma fome que eu nem sabia que estava impregnada em meu corpo.

Tomei um gole do café que Charlie havia me servido e senti um prazer imensurável. Era isso que eu estava perdendo em tantas horas na universidade estudando, estudando e estudando…?

Era por uma boa causa todo o café expresso de máquinas amargos como fel...

Eu ajudaria salvar muitas vidas, eu estava no caminho certo.

Quando Leah finalmente saiu pela porta eu senti meu corpo relaxar mais, ela sorria, seu maxilar quadrado bem marcado estava ainda mais acentuado, pela magreza percebi, Leah estava bem mais magra do que da última vez que a vira, as covinhas quando sorria estavam lá. Quem em sã consciência conseguiria deixar essa mulher?

Leah era a personificação de Pocahontas. Perto dela eu parecia uma criança.

Bom, mas não agora. Agora ela parecia muito mais frágil do que eu.

Ela abraçou a todos e tomou seu café de forma tranquila, comeu muito bem, e nós falamos pouco, nos atemos ao clima e ao passeio que faríamos que ela prontamente topou.

Aquilo podia ser o início de um milagre…

Então eu não fiz perguntas, após o café eu simplesmente a levei para minha casa em Forks e troquei de roupa, Leah olhava as coisas em meu quarto com muito interesse, comentando sobre meu kindle, e olhando os livros que eu tinha armazenado nele, estava comentando o quanto aquele objeto poderia ser útil afinal, e eu lhe confirmava dizendo que era na verdade um sonho não ter que trazer literalmente todos os livros que eu tinha para poder estudar e que todos de certa forma estavam ali. E era só procurar pelas páginas que eu precisava, que eu já começava a decorar de tanto que eu voltava para tirar dúvidas e para checar bons resultados.

Leah escutava a tudo com muito fascínio e interesse, o que de certa forma me provocou bastante estranhamento, mas esperei para tocar no assunto, eu não queria desconfiar de minha irmã, de forma nenhuma, eu estava ali para ajudá-la e não para comprometer seu quadro de melhora com minhas desconfianças.

Eu tinha que confiar nela, eu tinha que segurar sua mão e mostrar pra ela que se ela queria ir pelo caminho da melhora, então seguiríamos juntas.

Eu a encarava enquanto ela estava sentada em minha cama recitando uma poesia de um poeta desconhecido cujo o livro eu nem me lembrava mais que existia entre meus arquivos naquele kindle, ela lia em voz melodiosa e firme, como se estivesse interpretando o sofrimento contido naquelas palavras, o poema falava de paz, foi escrito em meio a segunda guerra mundial.

Agradeci aos céus aquele ser um poema seguro, que apesar de triste, tinha um quê bastante interessante e irreverente.

Ao fim, Leah sorriu para mim esperando uma reação minha. Eu sorri ao dizer:

— Eu nem me lembrava mais desse livro, Leah, as poesias são muito lindas, você gostou dessa? – Arrisquei perguntar ainda sorrindo.

Ela deu de ombros sorrindo:

— Ao menos não é nenhuma poesia sobre um romance fracassado, né?

Rimos juntas daquela piada interna, peguei minhas coisas e fui para o banheiro para tomar um banho e sairmos, precisávamos conversar sobre sua melhora, sobre cursos que ela talvez gostaria de fazer, sobre o que ela gostava de fazer naquele momento e sobre minha preocupação com Sue, eu precisava falar disso com ela.

Fomos ate a lanchonete de Alba, que nos recebeu com todo o carinho do mundo, eu costumava ir ali no terceiro ano do ensino médio, ela fazia as melhores batatas fritas do mundo e pedi para que ela caprichasse em dois sanduíches, um vegano para mim e o outro do jeitinho que Leah quisesse, ela estava animada falando de como queria, e Alba prontamente pediu para preparar.

Colocamos os lanches para a viagem, disse que faríamos um piquenique no meu canto favorito na floresta, lhe expliquei o lugar e ela me olhou com dúvida.

— Nós vamos congelar, Isabella. – Disse ela rindo. – Por mais que eu queira morrer, eu não estava planejando fazer isso hoje, justo com minha irmã do lado.

Eu quase chorei. Leah nunca havia me chamado de irmã até aquele momento. Ela sempre foi muito amorosa, mas nunca havia dito as palavras.

— Eu acho que não vamos morrer hoje, Leah. – Eu sorri com uma piscadela. – Vocẽ precisa ver, é algo super legal, vocẽ vai se surpreender.

Mesmo faltando tão pouco pro natal, ainda não começara a nevar, e isso realmente era ruim pra mim, uma vez que eu amava a neve no natal, mas naquele dia eu estava agradecendo pelo atraso da neve no natal naquele fim de ano, eu estava mais do que satisfeita em levar minha irmã para ver a clareira florida naquele dia enquanto comíamos um sanduíche feito por Alba naquele dia nublado e comum em Forks.

O trecho que tivemos que ir andando foi muito mais fácil de ser feito com Leah, uma vez que ela sabia como andar pela floresta, ela estava sempre muitos passos a frente, era uma mulher alta e forte apesar da magreza que agora a atingia com força era muito ágil. Assumia o controle com muita facilidade me perguntando as coordenadas e vez por outra voltando para me pegar por ter caído ou escorregado em alguma raiz imensa pelo caminho, eu era o contrário de Leah, ainda era desengonçada para andar pela floresta mesmo agora sendo mais velha ainda era a mesma Bella, a mesma coisinha mole que havia sido no colegial em Forks e em toda a minha vida.

E eu sorri comigo mesma, eu havia aprendido a me aceitar a essa altura e quando finalmente chegamos a clareira, Leah olhava tudo com grande admiração, ela estava emocionada quando me olhava, alguns raios de sol passavam iluminando as flores que estavam em toda a parte, eu estava sorrindo para ela em resposta ao seu olhar marejado. Havia feito Leah se emocionar lhe mostrando algo tão lindo, eu estava orgulhosa de mim mesma, eu estava fazendo bem a ela.

— Bella, como você descobriu esse lugar? Eu moro aqui a minha vida inteira e eu nunca tinha visto esse lugar, é um pedaço do paraíso. – Ela disse correndo em meio as flores.

Eu corri atrás dela, tirando a mochila e respirando o cheiro das flores que se pareciam com liláses e lavanda, e sentei em meio ao gramado, bem embaixo de raios de sol que passava por algumas frestas entre as nuvens.

Me deitei me sentindo tão à vontade, me lembrando que eu havia feito isso alguma vez no passado com companhia também… A companhia dela.

Eu tinha que parar de pensar sobre ele, de repente fui acometida por uma ansiedade de vê-lo, Leah se deitou ao meu lado depois de ter explorado o lugar e depois comemos, deixei as perguntas para depois, eu não queria deixar ela estressada, ela parecia tão feliz naquele momento, comendo um grande sanduíche de carne vermelha, acho que por aqueles momentos, ao menos, ela havia e esquecido do que Sam estava prestes a fazer nos próximos meses.

Ele estava prestes a se casar.

Enquanto voltávamos para o carro, Leah pediu para ficar na casa de Charlie em meu quarto e eu confirmei prontamente, eu faria uma janta especial pra ela, antes de sair com Edward Cullen.

Meu Deus o que Edward queria comigo? Será que ele queria um romance de férias comigo agora? Será?

E não era isso que eu queria também?

Mas é que Edward era tão intenso, eu não queria me apaixonar naquelas férias, ou me reapaixonar, porque eu já havia morrido de amores por aquele homem.

E demorara a passar, nossa, quando ele se foi, parecia que eu tinha tomado uma surra, fiquei mal dias e dias, não acreditando que havia o perdido pra sempre.

Quanta baboseira.

Como eu havia sido boba, eu só tinha que tomar muito cuidado agora com meu coração com ele, eu não podia deixar ele à mostra, eu tinha que o manter guardado e nunca considerar me apegar a ele.

Respirei fundo.

Eu tinha um bom plano, porra!, era um ótimo plano, eu só ficaria por 2 semanas, eu podia segurar meus sentimentos por esse tempo e logo eu estaria de volta a minha rotina louca e isso não seria considerado.

E ainda teria muitas lembranças agradáveis e quem sabe eu poderia ficar intima de outro homem incrivelmente lindo em NY a quem eu poderia recorrer para sexo descompromissado e meio rápido uma vez que eu teria que ir pra casa correndo para estudar ou para ir para a residência.

Isso. Eu estava segura.

Quando chegamos eu preparei uma sopinha quentinha para Leah e para quem mais quisesse quando chegasse, eu estava subindo para tomar banho quando expliquei tudo a Leah que estava mudando de canal na sala.

Ela pareceu pensativa mais sorriu e desejou que eu me divertisse.

Após o banho eu sequei os cabelos com secador e fiz as ondas no cabelo de forma que parecesse natural e despretensioso, uma maquiagem leve, muito sútil, nos lábios liptint rosado. Eu estava linda. Eu sabia disso, vestia um jeans lindo que caía muito bem em meu corpo e um suéter de lã lilás.

Eu desci as escadas vestida de meus coturnos favoritos Dr. Marteens e dei tchau pra Leah.

Eram 19 em ponto e eu nem precisava olhar o celular para saber que ele estaria ali esperando, respirei fundo antes de abrir a porta, eu nunca estava preparada para vê-lo.

Ao ver o quanto estava lindo naquela noite, vestido todo de preto, em meio a noite encostado em seu carro prateado, eu nunca estaria pronta para lidar com a beleza daquele rosto, daquele cabelo.

Num minuto eu estava sem fôlego, eu estaria em apuros no final daquelas duas semanas. Agora, naquele momento eu sabia que eu estaria perdida se nós nos envolvêssemos intimamente, eu sabia que aquilo custaria o meu coração.

Mas eu não tinha tempo para sofrer por Edward Cullen ao final daqueles episódios juntos. Eu estava entrando nessa mas totalmente consciente de que isso não acabaria bem. Não quando ele abriu o sorriso mais lindo que eu já vira em toda a minha vida e abria a porta do carona para que eu pudesse entrar.

Assim que me encaminhei para entrar senti o cheiro inebriante de sua pele limpa e desejei não reagir tão terrivelmente sedenta por ele, ele disse baixinho:

— Boa noite, Bella. – e sorriu torto. O meu sorriso.

Tentei sorrir e desisti apenas dizendo “Boa noite” e entrando o mais rápido que eu podia para ir para podermos ir o quanto antes para onde quer que ele esteja me levando.

O observei enquanto dava a volta no carro e entrava, movimentos aristocráticos e milimetricamente pensados, muito atraente e sensual, era bastante irritante que ele fosse sexy até entrando em seu maldito carro, mas o que ele podia fazer para evitar ser ele mesmo?

Eu me segurei o máximo possível para não ficar olhando em sua direção e de vez em quando eu podia sentir minha respiração acelerada, por Deus, eu estava nervosa, estranhamente ansiosa e muito consciente de que algo estava errado ali.

Nós não dizíamos sequer uma palavra enquanto ele dirigia rapidamente por uma estrada que parecia ser por uma parte da floresta que eu não conhecia, nem sequer aquela estrada. Já havíamos passado por sua mansão na floresta e estávamos indo para algum lugar ainda mais longe.

Me perguntava o que seria. Uma outra casa? Outra clareira. Meus instintos diziam para eu não perguntar. Para me manter muda.

E então ele segurou minha mão enquanto dirigia. Sua mão era uma pedra de gelo… Mas seu toque incrivelmente agradável. Ele fez carinho em meus dedos, eu estava entregue àquele toque.

Um toque gelado.

E então olhei para seu rosto, um rosto jovem. Um rosto que não amadurecera nada desde a última vez que o vira.

E então paramos em frente a uma casa feita do que parecia ser pedra, com janelas em madeira, lindas, aliás, com muitas flores em volta.

Era uma das casas mais lindas que já vira, era um estilo vitoriano, muito fora de moda, mas eu amei aquele lugar e nem havia entrado, não era grande, era perfeita.

Sai do carro antes que ele dissesse alguma coisa e me encaminhei para as portas duplas em madeira na cor bege. Era muito bem iluminada a fachada, era muito aconchegante e Edward nem sequer abrira a porta.

Quando ele abriu eu entrei sem nem ao menos tirar os coturnos, olhei em volta fascinada com tudo o que estava retratado ali. Era um sonho, um verdadeiro lar.

Tão claro e ao mesmo tempo aconchegante.

Olhei para Edward que já fechara a porta atrás de si. Olhei para dentro daqueles olhos dourados e mais uma vez constatei a jovialidade que estava ali. Edward não podia ter mais do que 17 anos. Mesmo com o corpo imenso e forte, seus traços estavam para sempre paralisados em um rosto de um garoto que estava prestes a se tornar… Um homem.

E como eu poderia saber disso?

Bom eu sabia porque eu já vira o quanto eu mudara, ou meus amigos, a própria Leah e Seth haviam envelhecido e como médica eu precisava ser muito minunciosamente observadora quanto aos detalhes na aparência humana.

Então sem mais delongas eu disse:

— Você não envelheceu sequer um dia desde que deixou Forks. – Respirei fundo a procura de ar, eu nem sabia que parara de respirar.

— Não. – Ele disse apenas.

— Pode me contar o segredo? Acho que também quero parar de envelhecer. – Sorri.

— Posso. Mas agora não. – Sorriu.

Então eu estava entendendo. Ele estava ali pelo mesmo objetivo que eu, ele me desejava tanto quanto eu o desejava, será que ele mudara de ideia sobre eu saber sobre algo antes de nos… envolvermos daquela forma? Seja lá o que fosse eu estava pronta pra ser sua de qualquer forma.