Até As Últimas Consequências

No centro de um Coração Pungente


Sugestão de trilha: Pugna Infinita (Puella Magi Madoka Magica – OST)

Hécate os levou por um túnel que era iluminado por tochas, enquanto que Cerbero ia na frente, como um bom cão de guarda. Quando chegaram ao final do túnel, eles deram de cara com um pântano que era rodeado de uma neblina fosca e muito fria. Lydia puxou a manta para mais perto do corpo para aquecê-la.

— Pois bem, outro barqueiro, Ascálafo, virá buscá-los e levá-los aos territórios de Hell. E Lydia…

— Sim?

Hécate mordeu o lábio inferior tomando coragem para dizer:

— Acredito que vocês irão passar por alguma provação… Ou talvez, não… Pode ser um palpite.

Lydia respirou fundo. E diante dos fatos, fez uma reverência com uma humildade exemplar que no fundo deixou a velha senhora comovida. E como era o feitio da fairy doctor, que sempre quebrava os protocolos, aproximou-se e deu um beijo em seu rosto. Hécate pegou na sua mão e disse:

— Coragem! Sei que mesmo com essa feição meiga, seu coração é forte. Boa Sorte!

— Muito obrigada por tudo, agradeceu Lydia.

A senhora retribuiu com um sorriso, o que era raro, e seguiu o caminho de volta.

Alguns minutos depois, o barco de Ascálafo chegou. A embarcação negra, que lembrava um esquife, era majestosa, mas não deixava de ser amedrontadora. O barqueiro o estacionou e disponibilizou uma rampa para que o casal subisse.

Já dentro da embarcação, Raven solicitou:

— Por favor, estamos aqui em nome de Hades e Perséfone e eles indicaram para conversarmos com Hell. É um assunto de extrema importância!

— Como queiram! Mas, espero que ela esteja com o humor melhor que ontem…

Os dois ficaram curiosos com as palavras do barqueiro, mas não ousaram perguntar o que teria tirado o bom humor da Rainha da Morte. “Só espero que não seja algo que envolva o Edgar”, pensou Lydia.

Depois de algum tempo, a embarcação ancorou em uma praia. Mas não era do tipo que Lydia e Raven conheciam. Era mais sinistra, ausente de Sol, iluminada por uma Lua quarto minguante. A areia parecia ser feita de sodalitas em grãos finos, mas ao pisar, parecia fofa. O barqueiro, então, apontou para a direção de uma caverna que estava em meio a um rochedo alto, trabalhada pelas intempéries do tempo e do clima.

— É por lá a entrada do castelo da senhora Hell.- disse Ascálafo apontando para o local e continuou: - Sigam até a bifurcação. Lá haverá duas escadas: uma que levará para os andares superiores e outra para os inferiores. Escolham a dos andares inferiores. Lá haverá alguém para recepcioná-los. Boa Sorte!

Sugestão de trilha: Umbra Nigra (Puella Magi Madoka Magica – OST)

E assim prosseguiram na jornada. A entrada da caverna causava calafrios em Lydia e, sensível como era, Raven percebeu o seu desconforto e mais uma vez ofereceu o braço. Mas, quando entraram na caverna, ela, novamente, ficou hesitante.

— Vamos, milady! Lord Edgar conta conosco!

— Tem razão! Vamos!! – agora mais cheia de coragem.

Sem dúvida, o interior da caverna era bem lúgubre, o tipo de lugar que causaria arrepios em uma pessoa mais impressionável. “Não posso me esquecer! É por Edgar”, pensou a fairy doctor apertando a aliança da mão esquerda.

Depois de alguns metros toparam com dois lances de escadas, assim como foi indicado pelo barqueiro. E seguiram os conselhos do mesmo, optando pela que descia. Conforme desciam, eles ouviram sussurros, murmúrios e lamentos. Não era possível distinguir a direção de onde vinham. O lugar era iluminado por parcas lamparinas, o que deixava Lydia mais nervosa. Raven continuava impassível, próprio de alguém que viu várias agruras do mundo.

No último degrau, uma mão apanhou o braço de Lydia de forma repentina. Ela, por sua vez, não se conteve e soltou um grito. Raven sacou a adaga para protegê-la, mas a fairy doctor ordenou:

— Não, Raven, não! Não estamos no nosso território, estamos no submundo!

E então, diante dos olhos deles, surgiu um homenzinho franzino, era um leprechaun.

— Calma, minha senhora! Calma, meu senhor! – disse o homenzinho. Ele, então, fez uma reverência e apresentou-se: – Sejam bem-vindos, sou Tomte e os levarei até a senhora Hell.

— Eu agradeço humildemente – saudou Lydia retribuindo com mesura.

— A senhora é muito gentil, condessa Cavaleiro Azul, falou Tomte.

A fairy doctor ficou assombrada e perguntou-se como ele sabia sobre isso.

— Pois bem, vamos lá? – convidou o homenzinho.

E assim foram. Durante o caminho o ar ficava mais denso a cada passo dado, enquanto que alguns murmúrios e súplicas ainda persistiam. E o mais estranho, parecia que Tomte estava acostumado àquele lugar. Nem ele e nem Raven pareciam incomodados com os sussurros horripilantes. Lydia arrepiou-se toda quando pensou que Edgar poderia estar entre eles. E como lesse seu pensamento, Tomte virou-se para trás e declarou:

Sugestão de trilha: Track 3 (Another – OST)

— Não, ele não está entre eles, se isso a deixa aliviada. Não me pergunte como sei. Apenas sinto…

Lydia suspirou um pouco mais calma, apesar do coração estar muito pesado. De repente, eles estavam diante de uma porta de ferro imensa e que o homenzinho, mesmo parecendo frágil, a abriu sem grandes dificuldades. Quando esta descerrou surgiu diante dos olhos de Lydia um salão majestoso, apesar de soturno. O assoalho era decorado em preto e branco, muito parecido com um tabuleiro de xadrez. Várias estantes que continham cadernos (ou seriam livros?) com nomes de pessoas.

Seguiram e chegaram a um canto onde estava uma espreguiçadeira envolta por véus e lá a silhueta de uma mulher. Ao lado um cálice com uma bebida que parecida com vinho. Tomte os anunciou com extremo respeito e a mulher puxou um dos véus e assim Lydia encontrou-se pela primeira vez com Hell, a Senhora de Outro Submundo.