Sugestão de trilha: Dark Activity (Code Geass R2 – OST)

Chronos os levou para uma sala posterior e colocou Raven e Lydia sentados de costas um para o outro.

— Pois bem, Lydia, irei enviá-los na hora exata em que você acordou com o sonho. – informou o Senhor do Tempo. Ele ainda avisou:

— Raven, assim como Lydia, você levará todas as lembranças que aconteceram até aqui. Ajudem um ao outro e… Boa Sorte! – finalizou com um sorriso.

E assim, Chronos começou andando em volta deles no sentido anti-horário e foi aumentando a velocidade aos poucos. Ouviam-se sinos e relógios tocando simultaneamente. A trama de Edgar estava no colo de Lydia e Raven com as mãos postas sobre as pernas. A cabeça de ambos girava, girava, lembrando muito aquela tontura típica de uma criança que fica rodopiando por muito tempo.

E de repente…

Lydia acordou sobressaltada, lembrando o sonho por completo, assim como a localização de Ulysses e as memórias das últimas 72 horas. E aí ela ouviu…

Ahhhhhhhhhhhhh!

Edgar acordando tão assustado quanto ela, soltando um grito como conseguisse salvar-se de um afogamento. Ela conseguiu! Ambos voltaram no tempo! Ambos acordaram ao mesmo tempo, ofegantes, perplexos e molhados de suor, mas desta vez não era de prazer, e sim de medo e aquela sensação aterrorizante depois de sair de um pesadelo.

Os dois entreolharam-se, mas não disseram nada um para outro. Era como algo os impedia de falar o que os incomodava. Um ao lado do outro, deitados olhando para o teto. “Será melhor assim. Não preciso assustá-lo. E vou até o fim.”, refletiu Lydia. “Agora o próximo passo é combinar com Raven como capturar e matar Ulysses”.

Fechou os olhos, buscando na escuridão algum rastro do fairy doctor, mas ele não estava pelas redondezas… ainda… Ela só ouviu a respiração arquejante de Edgar. Ele, ainda com os olhos presos no teto, procurou pela mão da esposa. Ela retribuiu o gesto, mesmo ficando em silêncio.

Sugestão de trilha: Invisible Sound (Code Geass R2 – OST)

Ao amanhecer, um continuava estranho com o outro. Aquele jogo de palavras entrecortadas, um querendo contar um segredo para o outro. O problema é que Edgar nem sabia o que era. Só sentia que era algo que o incomodaria se não descobrisse.

Lydia aprontou-se primeiro. Tomou banho e recebeu auxílio de Lucíola para a troca de roupa. Quando voltou ao quarto, Edgar já não estava mais lá. Ficou aflita e aí ouviu as costumeiras três batidas que Raven dava antes de entrar. Ela disse:

— Pode entrar, Raven.

O mordomo, ainda pálido, falou:

— Bom-dia, milady!

— Raven, precisamos conversar…

Lucíola percebeu que o teor da conversa era particular e pediu permissão para sair.

— O conde ainda está aqui.

— Onde? – indagou ansiosa – Ele ainda não saiu?

— Está fazendo sua toalete. Como tive que vir buscar suas roupas, aproveitei para avisá-la que tudo está dentro do previsto.

—Espere ele partir e procure-me! Vamos montar um cerco para aquele…

Fairy doctor? – perguntou o mordomo.

— Eu diria um abutre! – respondeu Lydia. – Pois bem, Raven, vamos abater um abutre!

No aposento ao lado, Edgar estava na banheira, com os cabelos molhados e olhar fixo para parede, ainda tentando entender que sensação era aquela como esteve dormindo por muito tempo. O corpo estava dolorido, até um pouco rígido e difícil de movimentar. Naturalmente, não era por causa da noite de amor que teve com Lydia. Até porque sempre que elas aconteciam (inclusive as escapadas furtivas do casal durante o final de semana, enquanto Aurthur tirava seu cochilo vespertino), ele levantava bem disposto e sorrindo até para os inimigos.

E foi aí que reparou a pequena ferida localizada no meio do peito. Tocou-a com dedo indicador e sentiu uma dor incômoda que refletiu por todo o seu corpo. “Parece que levei um tiro”, pensou duvidando de si mesmo. E tentava vasculhar na memória que sentimento estranho que tomou conta do seu corpo, sua mente e sua alma. Mas, não ousava contar para Lydia, mesmo não sabendo o porquê.

Pouco tempo depois, Raven apareceu com a sua roupa: o fraque cinza-chumbo, a camisa branca, o colete caramelo, a gravata vermelha, suas abotoaduras douradas, assim como meias, ceroula e o par de botas. O mordomo ajudou a vesti-lo em silêncio. Foi quando Edgar desabafou:

— Raven, já sentiu a sensação de seu corpo estar dormente? Como você tivesse… – meio sem coragem, completou a frase: - levado um tiro?

O mordomo só levantou a sobrancelha do olho esquerdo, mas ficou calado.

— Sem contar, que há algo muito estranho no ar hoje…

—Impressão sua, milord!! – respondeu rapidamente.

O conde o encarou:

— Tem certeza, Raven?

E rapaz respondeu de forma ligeira:

—Absoluta!!

Edgar continuou cismado. Há alguma coisa no ar, mas ele não sabia o que era…

Sugestão de trilha: Lydia no theme 2 (Hakushaku to Yousei – OST)

Mais tarde, Edgar desceu as escadas e dirigiu-se à varanda para tomar o seu café da manhã com sua esposa e seu filhinho. Quando se aproximava do local, Aurthur correu em direção a ele e perguntou:

— Você podia ficar com a gente hoje, né, papai?

Para piorar a situação, Edgar reparou Lydia olhando-os de longe, pálida, com olheiras e apreensiva. A condessa estava enigmática, irritada e evitando-o.

— Hum! Hoje não, meu pequeno terrível! – disse o pai pegando o garoto no colo. E continuou: – Não tem nem como inventar uma mentirinha…

O menininho riu. E quando Lydia reparou que Edgar falava com o filho olhando-a de soslaio, virou-se para frente e disfarçou naturalidade. Ele chegou mais perto, colocou o filho na cadeira e esticou-se para beijá-la. Lydia retribuiu com um beijo frio e impessoal. E a desconfiança de Edgar cresceu ainda mais.

— Lydia aconteceu alguma coisa que não saiba?

— Não! Nada!! – a resposta veio ríspida, rápida e seca.

— Estranho… Você e Raven estão muito diferentes do habitual… Aconteceu algo que não estou sabendo? – insistiu ele.

— Edgar!! O que você está pensando??

Ele reparou o quanto ela tinha expressão carrancuda, pronta para um combate.

— Tem algo te afligindo… Posso te ajudar? – disse de uma forma meiga enquanto colocava sua mão sob a dela.

Ela arrastou a cadeira para trás e levantou-se num supetão e respondeu irritadíssima:

— Já disse que não é nada!!!! - virou as costas e foi embora. Por um momento ele ficou imóvel como uma estátua.

— Definitivamente há algo estranho acontecendo… - disse baixinho.

— O que foi, papai? – indagou o garotinho. – Por que a mamãe ‘tá’ brava?

— Não sei, meu terrível… Não sei – e acariciou os cabelos do menino.

Algum tempo depois, ele já estava saindo com os assessores, quando Lydia o chamou:

— Não vai me dar nem um beijo?

O conde balançou a cabeça, fez uma careta e revidou:

— Ly, não te entendo! Primeiro você briga comigo do nada! Depois me dá uma resposta bruta, sai da mesa, assim, sem mais, sem menos… – E aí, esquentado do jeito que era e não se importando com as pessoas em volta, ele perguntou num tom de voz acima da média:

— Agora, te pergunto: O que fiz para você? Te magoei com algo? Inclusive na cama?

Ela estreitou os olhinhos, quase crispando de raiva, contraindo o maxilar e contando até dez para não gritar: “Não, seu idiota!!! Só não quero que você morra, entendeu?? Agora faz o favor de ir embora, que preciso armar uma estratégia para salvar a sua vida!!!”. Mas, o que Lydia disse foi simplesmente:

— Vá, Edgar!! Vá!!! Você está me deixando cada vez mais irritada!!! Saia agora!!!

Aborrecido, ele respirou fundo e pensou: “Ótimo!! Estamos voltando no mesmo patamar que estávamos quando ainda nem namorávamos.”. Edgar começou a seguir em direção à porta, e no meio do caminho, balançou a cabeça e voltou, apenas, para dar um beijo na testa da esposa. E partiu.

Lydia respirou fundo entre aliviada e chateada por ter agido assim com ele. Mas a tensão que ela vivia era tanta, que acabou descontando em Edgar. Chegou à poltrona mais próxima e quase desabou o corpo com pesar. A fairy doctor ainda olhava a porta que tinha acabado de ser fechada e falou baixinho com uma lágrima rolando pelo rosto:

— Mil desculpas, Edy! Mil desculpas!