Despertei um tanto quanto zonza levantei subitamente recordando o que havia acontecido, segurei forte minha cabeça quando consegui que tudo parasse de girar, olhei ao redor para identificar meu cativeiro.

Estava em um quarto pequeno, móveis antigos e simples, um cheiro de mofo denunciando que há muito tempo não havia limpeza naquele lugar, com um pouco de dificuldade devido a tontura fui até a porta forçando a maçaneta para abri-la, mas foi em vão, o mesmo ocorreu quando forcei a janela.

- Que lugar é esse? – perguntei a mim mesma

_ SOCORRO! SOCORRO! ESTOU PRESA AQUI, ALGUÉM ME AJUDE POR FAVOR, SOCORR... – ouvi a porta destravar

_Pode gritar o quanto quiser ninguém poderá ouvi-la, eu diria que é quase impossível você ser encontrada.

_Você que pensa, a boate estava cheia de policiais, logo me encontrarão e você será preso, seu DESGRAÇADO – voei pra cima dele estapeando-o

_Adoro mulher agressiva, mas agora não gata, aqui está seu café da manhã, coma!

_Já estou cansada desse jogo. Porque você não me mostra seu rosto, tire esse capuz, não é homem o suficiente para me olhar sem máscara?

_Sou homem o suficiente pra te matar agora, não me subestime Samantha. - Disse isso enquanto montava em cima de mim segurando meus braços, senti o peso de seu corpo sob o meu e sua respiração forte, seria impossível eu lutar contra aquele homem, ele é forte demais, sua voz firme e grossa demonstrava o quão cruel ele poderia ser.

_ É você Derek? – começava a duvidar que ele e Derek fossem a mesma pessoa, alguns detalhes me faziam desconfiar se tratar de outra pessoa, mas foi a altura que me chamou mais a atenção, o seqüestrador apesar de forte não aparentava ter 1,90m.

_HAHAHAHAHAHAHA! Se você quiser eu posso ser esse imbecil.

_Responda minha pergunta, você vai me matar mesmo, posso ao menos saber quem é meu assassino? – eu já estava fora de mim, ironizando minha própria morte.

_Mas como você é dramática. Chega de papo, coma. Tenho que sair agora, mas não demoro, comporte-se. – Beliscou meu rosto e saiu.

Tentei olhar pelo buraco da fechadura para ver seu rosto, mas foi em vão, havia mais pessoas na casa pude ouvir algumas vozes, por um momento achei que uma delas fosse do Sargento Roger, mas não podia ser, era coisa da minha cabeça, eu ainda estava zonza era capaz de estar confundindo.

Voltei para a cama e belisquei o pão com manteiga que estava na bandeja, minha fome era tanta que acabei em poucos segundos.

_Preciso arrumar um jeito de fugir daqui – falava comigo mesma para tentar achar uma saída, forcei mais uma vez à janela e nada, a casa era de alvenaria e o telhado um pouco alto, não havia meio de fugir dali, o único jeito era enfrentá-lo e tentar fugir pela porta quando estivesse aberta.

O grupo havia voltado, corri para a porta novamente, espiando pela fechadura consegui ver quatro homens e uma mulher, mas todos estavam com os rostos cobertos, ouvi um deles dizer.

_E aí Patrão vamos poder nos divertir com a princesinha lá dentro?

_Não pode ser?! Eu não estava delirando é a voz do sargento. Cretino, ele é cúmplice, certamente os dois são policiais corruptos, por isso me olhavam daquele jeito. Como eu pude ser tão estúpida cai direitinho no plano dele. Ouvi uma voz rouca e impetuosa responder ao grupo.

_Absolutamente que NÃO!

_E eu gato? Lembra do que me prometeu? – A garota se insinuou ao rapaz que pouco lhe deu atenção.

_Claro que não boneca, mas primeiro precisamos finalizar o serviço, aquele cretino não perde por esperar. – A voz sarcástica daquele homem fez minha pele arrepiar de medo.

_Ohhh Patrão porque você mandou aquele colar tão caro para a bonequinha aí? – ao ouvir aquilo, levei minha mão ao pescoço, o rapaz com a voz do Sargento se referia a jóia que eu estava usando, logo a tirei e procurei escondê-la.

_Do que estão falando? Eu não mandei presente algum para ela deve ter sido ele, vá até lá e me traga este colar, se for realmente de valor, vamos dar um jeito de arrecadar uma grana extra.

Voltei rapidamente para a cama e fingi estar tentando abrir a janela.

_Ora ora, mas se não é a nossa bonequinha de luxo tentando inutilmente fugir. Não perca seu tempo, venha cá agora. – Ouvi a porta travar e os passos dele vindo em minha direção.

Virei frente aquele homem e pude observar melhor, o porte físico, os trejeitos, até o formato dos olhos além da voz denunciavam que era realmente o Sargento Roger, já não tinha mais dúvidas estava no meio de uma guerra eu era somente a isca.

_AONDE ESTÁ? – Segurou-me fortemente pelos braços quase que me levantando de tanta raiva.

_ME SOLTA! Onde está o que?

_O colar que você usava ontem.

Levei a mão ao pescoço fingindo surpresa ao perceber que não estava ali, torci para ele não olhar embaixo do travesseiro onde o havia escondido.

_Não sei do colar.

_Como não? Não tente me fazer de idiota Samantha, me dê logo o colar.

_Já disse não está comigo, quer me revistar? – abri o roupão, estava completamente nua, ele arregalou os olhos e maliciosamente mordeu os lábios, percebi a besteira que tinha feito e logo tratei de fechar o roupão.

_Se me permite revistá-la – Ele se aproximou de mim, tirou as luvas de couro e começou a me apalpar, senti total repulsa por permitir aquilo, lagrimas de ódio escorriam pelo meu rosto, tentei empurrá-lo mas fui dominada e jogada na cama, ele deitou sobre mim segurou minhas mãos e beijava meu pescoço.

_SAI DE CIMA DE MIM SEU VERME! – Gritei de desespero em poucos segundos havia um homem parado ao lado da cama, engatilhou o revolver e apontou para a cabeça do suposto Roger, sem dizer uma palavra ele saiu de cima de mim, logo fechei meu roupão e me encolhi junto a cabeceira da cama.

_Desculpe Patrão! Não resisti, ela .... – O “Patrão” não deixou que ele terminasse a frase fez um sinal com a arma para que ele saísse e o seguiu sem olhar para traz, estava com capuz, impossível reconhecê-lo, mas eu tinha certeza que ele é o homem que me tirou da boate e me levara até ali e não era o Derek.

Após trancarem a porta, corri para observar, estavam todos agitados pareciam brigando, quando um deles saiu da frente da porta, pude notar que o "Patrão" havia batido no suposto Roger.

_Tome! Providencie uma roupa para nossa hóspede, inclusive roupa intima. – Ofegante de raiva, Patrão entregou uma grana para a garota comprar roupas para mim, em seguida ela se retirou.

_Quem é ele? Ele me protege mas ao mesmo tempo diz que vai me matar, o que quer de mim? Essa voz não me é estranha, eu já ouvi outras vezes, mas não consigo me lembrar. - Falava comigo mesma, quando notei a presença de uma quinta pessoa na sala.

_Mas... o que? Não acredito nisso. – Lagrimas brotaram em meus olhos, estava incrédula de ver aquela pessoa ali, fui traída de forma tão covarde, nunca imaginei receber uma apunhalada dessas.

_E então tudo certo para hoje à noite? Já está tudo preparado.

_Você está louco entrar aqui sem cobrir o rosto? IDIOTA! - Logo o “Patrão” entrou na frente dele, mas eu já havia visto seu rosto, meu próprio amigo Xavier, mas porque?

_Fique aqui e não faça nenhuma besteira entendeu? - Ordenou o "Patrão" ao suposto Roger que ainda se recuperava do soco que tinha levado, em seguida saiu da sala com Xavier.

Sentei encostada na porta, abracei meus joelhos e chorei feito uma criança, mesmo Xavier sendo o dono da boate onde eu trabalhava nos tornamos amigos, ficávamos horas conversando, quando ele tinha algum problema era a mim quem ele recorria, Cris até sentia um pouco de ciúmes da nossa amizade.

_Peraí! É claro Samantha, como não pensei nisso antes. – Sequei o rosto, falava comigo mesma, tentando juntar as peças daquele quebra-cabeça, cheguei à conclusão de que Xavier se sentiu ameaçado por eu saber dos seus negócios ilícitos e por isso precisava me eliminar, mas o que não se encaixava era porque esse teatro todo e quem é o “cretino” que tanto falam, havia mais peças e eu precisava dar um jeito de descobrir, mas como presa ali.

_NOSSA! Isso vai ficar feio hein cara? Conta aí o que aconteceu que eu perdi? – quando ouvi novamente vozes na sala ao lado, voltei a ficar de olho, em algum momento deixariam escapar algo.

_Ahhh cara o Patrão traz essa gostosa pra cá e a gente não pode nem tirar proveito, a mina vai morrer mesmo o que tem a gente se divertir até chegar a hora.

_Putz, não vai me dizer que você tentou tocar na musa do Patrão? Cara, ele é fissurado por essa mina, não percebeu ainda porque ele está fazendo tudo isso?

_Você fala assim porque não foi com você. Quero que o Patrão se exploda ainda pego essa garota de jeito, mas fala aí você sabe mais coisas do plano?

_Enquanto você fica servindo de capacho e babando pela garota, eu corro atrás de sair fora dessa e com grana no bolso. E sabe o que mais, o Patrão vai se dar muito mal, porque o todo poderoso lá tá preparado para uma guerra. O cara sabe que estão tramando contra ele e que um de seus funcionários está jogando dos dois lados.

_Conta aí irmão!

_A parada é a seguinte, o Patrão tá fazendo tudo isso para quebrar o dono da boate e o concorrente dele e ficar com todo o negócio, só que a gata aí descobriu o que rola então para não deixar vestígios armaram esse esquema todo, ainda não sei como o Patrão vai desbancar o Xavier, mas...

_Xiiiiiiiiiuuuuuuuuuu puts meu, não fala nomes aqui, a mina pode estar de bituca só ouvindo o que estamos falando.

_Ahhh pára meu a mina já tá morta, tanto faz ela ouvir. Só estou preoupado com a velha vizinha dela, isso sim.

_Porque?

_Porque aquela velha fofoqueira, tá contando lá no bairro que viu um cara entrando na casa da gostosa, tive que dar um sumiço na minha moto e estou evitando passar por lá. Mas na oficina não se fala em outra coisa, se ela comentar da tattoo no braço to ferrado, espero que a velha não tenha notado.

_Mas você é muito burro hein, porque não cobriu essa porra.

_EI! Vê lá como fala comigo hein, foi muito rápido, mas ela é cegueta não deve ter visto.

_Torce mesmo pra que ela não tenha visto porque senão tu tá morto se botar tudo a perder.

_Era só o que me faltava, ah! Dane-se vou tomar uma cerveja.

Os dois foram até a cozinha, se eu conseguisse abrir a porta era uma oportunidade de tentar escapar, mas eu não tinha nada ali que pudesse me ajudar a destravar a fechadura.

O Patrão, Xavier e mais um homem de estatura baixa entraram novamente na sala, quando consegui ver seu rosto tive a certeza de que os policiais eram falsos. O baixinho era um dos policiais que supostamente investigava a morte de Cindy.

_Nossa! Desculpe a demora, sabe como é mulher em shopping. –A garota havia entrado na sala repleta de sacolas, percebi o quanto era infantil e o quanto o Patrão ficou enfurecido ao ver aquilo.

_Sua imbecil! Não te pago pra fazer compras no shopping? – Tamanha foi sua raiva com a atitude da garota que aferiu-lhe um tapa no rosto, fazendo com que ela caísse no chão.

_ONDE ESTÁ A ROUPA DELA? – A garota se rastejou até o sofá onde estavam as sacolas, pegou uma e entregou ao patrão. Em seguida ele se virou para a porta do quarto onde eu estava e veio de encontro a mim.

Sentada na cama, fingi estar chorando, o que não era muito difícil estando naquela situação, olhei para a porta ele estava parado me observando, se aproximou sentou ao meu lado, entregou-me a sacola.

_Pra você, veste para ficar mais confortável. – sua voz agora era amável senti até um pouco de carinho em suas palavras.

_Porque está fazendo isso comigo? Diga o que preciso fazer, juro que não conto nada do que aconteceu, me deixe ir embora. Por favor! – Supliquei olhando em seus olhos.

_Samantha não há como voltar atrás, eu não queria ter que fazer isso com você, mas é preciso.

_Revele-se pra mim, sua voz não me é estranha, só não consigo me lembrar de onde te conheço, fique do meu lado, faço o que você quiser. – Percebi que estava mexendo com os sentimentos dele e era isso que eu tinha que fazer, conquistá-lo, para conseguir fugir daquele lugar. Ele me olhou nos olhos e sem me responder saiu batendo a porta, eu o deixei transtornado, ele andava de um lado para o outro e repetia constantemente

_Não posso! Não posso! Não posso! Não posso! DROGA!

_O que aconteceu Patrão que te deixou assim?

_NÃO É NADA, onde está o restante do pessoal, precisamos colocar nosso plano em pratica o mais rápido possível. Vá chamá-los.

Enquanto os aguardava ele olhava fixamente para a porta do quarto onde eu estava, me pareceu ser um olhar de despedida, mesmo a máscara cobrindo seu rosto percebi que estava aflito, era como se ele tivesse mudado de idéia com relação a me matar mas não tinha como voltar atrás.

Os comparsas se aproximaram e todos saíram atrás dele exceto um que ficou responsável por me vigiar.

Vesti a roupa que ele havia me dado, peguei o colar que estava debaixo do travesseiro e coloquei-o no bolso, ouvi a porta novamente se abrir.

_Oi princesa, enfim sós! – com um olhar malicioso ele se aproximou de mim, deslizando o dedo pelos meus seios até o umbigo.

_ O que você quer dizer com isso? Não bastou aquela arma apontada para sua cabeça, você sabe que não pode me tocar.

_Você é muito linda, não pode ser de um homem só, será um desperdício ter que matá-la, mas ordens são ordens. Chega de papo vamos ao que me interessa.

_Preciso ir ao banheiro!

_Que banheiro que nada, venha cá logo! – Brutalmente ele me agarrou e me jogou na cama

_Não! Por favor, é serio, depois faço o que você quiser. – Para convencê-lo toquei delicadamente em seu rosto.

_Ok, vamos! - Ele me acompanhou até a porta do banheiro.

_Obrigada, porque você não pega uma bebida para nós? Já que você será o ultimo homem a me tocar, vamos fazer desse momento inesquecível. Que tal? – Pisquei para ele mordendo os lábios fingindo estar sentindo prazer com aquilo.

_Garota, garota falando desse jeito você me deixa louco! – Percebi que ele estava caindo no meu jogo sedução e era disso que eu queria.

Ele se afastou e foi em direção a cozinha, eram amadores, pois deixaram a chave na fechadura, aquela era minha única chance de fugir, fechei a porta do banheiro bem devagar para não fazer barulho, quando percebi que não podia ser vista ao cruzar a entrada da cozinha, corri para a porta de saída, destravei-a, saí e fechei-a, olhei ao redor e corri em direção a mata fechada.