Estava com a sensação de ser observada, olhava ao meu redor e não via nada, nem ninguém, continuei a caminhar com um pouco mais de velocidade, a cada passo me sentia acuada, como se a qualquer momento algo pudesse cruzar o meu caminho, um assaltante, um assassino, o medo começava a tomar conta de mim. Não entendia o porquê, pois sempre fui valente, mas me sentia muito vulnerável.

Consegui chegar ao meu destino passava das 23h e logo seria a minha apresentação, estava muito nervosa, meu corpo todo tremia e apesar do ambiente ser consideravelmente seguro – com pessoas conhecidas e que dificilmente me fariam mal – me sentia exposta e não conseguia me acalmar. Fui até o camarim para me preparar para o show, minha roupa estava separada e nela havia um bilhete que dizia: “Hoje temos um convidado especial, faça o seu melhor. Boa Sorte! Xavier”

Xavier era o dono da boate, um senhor com seus quarenta e poucos anos mas aparentando uma velhice precoce, nunca havia exigido muito das garotas, por isso minha surpresa sobre quem seria esse convidado e porque viria justo hoje que não estou 100% inspirada. “Ossos do oficio.”- sussurrei a mim mesma, respirei fundo e me olhei no espelho para iniciar minha produção; ao término me surpreendi, todo aquele brilho, a seda leve sob meu corpo tinha feito desaparecer aquela mulher vulnerável e indefesa substituindo por uma confiante e cheia de sensualidade. Estava pronta para enlouquecê-los de desejo.

Quando faltavam poucos minutos para minha entrada, fui atrás das cortinas para espiar, pois estava curiosa para saber quem era o tal convidado, lá na platéia via somente os mesmos rostos, homens cansados, bêbados, feios. Procuro localizar Xavier mas não o encontro também. Levo um susto quando ele me chama, estava bem atrás de mim. Ao me virar senti que as bochechas estavam corando por baixo da maquiagem.

_Está pronta? Em dois minutos você começa.novamente estranhei, pois ele não cobrava pontualidade, imaginei que não gostaria que o convidado ficasse esperando, o burburinho em meu estomago aumentou devido a curiosidade ainda maior sobre quem seria ele.

Então, é hora do show, as luzes se apagam, a música começa, ouço os assovios e gritos chamando pelo meu nome, é uma sensação inexplicável simplesmente inspiradora. As cortinas se abrem, estou de costas para o meu público, começo com movimentos suaves, lentos, seguindo o ritmo da música que é igualmente lenta de inicio, seguro no cano e desenvolvo todo o meu desempenho do pole dance quando as batidas mais fortes iniciam. Já envolvida com a dança, esqueço de tudo e me mantenho nos movimentos e saltos, até que de repente, sinto novamente aquela sensação de estar sendo observada, eu sabia de todos os olhares voltados para mim, mas um deles me deixou totalmente desconcertada, até que – ao segurar no cano e deixar meu corpo envolve-lo – eu o encontrei; nossos olhares se cruzaram, era um homem alto, forte, muito sedutor, de longe via apenas a iluminação contra seu rosto, os olhos num misto violeta e cinza que por um momento me fizeram perder a concentração, mas logo a retomei, estava excitada, pois aquilo nunca havia acontecido comigo.

Involuntariamente comecei a provocá-lo, parecia que o show era só pra ele, meus olhos fixos nos dele, meus lábios entreabertos como que a espera dos carnudos dele. Iniciei o strip-tease com volúpia e não no automático como nas outras noites, ouvia ao longe o burburinho da platéia, assobiando acima do comum, sentia as lufadas de respirações mais próximas, porém não desviei a atenção, o único a quem eu via era ele. Arremessei todas as peças em sua direção percebendo que ele estava completamente vidrado pelos meus movimentos. Ao jogar a ultima peça a música acaba e como parte do show Xavier me cobre com um roupão branco aveludado e me tira do palco, ouço os aplausos do meu publico e comentários que aquela teria sido a melhor apresentação de todas que já fiz. Meu coração estava disparado como se fosse meu primeiro show.

De volta ao camarim em frente ao espelho fico lembrando aquele homem misterioso, seu olhar de desejo sob meu corpo, nunca havia ficado excitada por nenhum dos clientes da boate, mas ele tinha algo de diferente e me atraiu completamente.

Pergunto para Xavier quem era o convidado especial e para minha surpresa ele descreve exatamente quem eu pensava, ele se chama Derek. Xavier disse ser um homem muito influente, o procurou durante o dia e pediu exclusividade para assistir o meu show, mas como a boate é muito freqüentada e por pessoas que ele deve favores, não podia fechar as portas, mas prometeu que eu faria a melhor apresentação de todas e especialmente para ele. Me parabenizou por eu não tê-lo deixado na mão, até ri da situação mas queria saber mais porém ele me deixou sozinha com meus pensamentos. Senti então novamente que alguém me observava, então olhei na direção da porta do camarim, Derek estava ali, me olhando e sem dizer uma palavra, trancou a porta, naqueles olhos que agora podia ver serem castanhos, estava nítido o que ele queria. A esta altura meu coração estava disparado novamente, e meu corpo em chamas.

_O que está fazendo aqui? – perguntei em um sussurro.

_Você me provocou agora quero tudo.

_Está louco? Tudo o que fiz faz parte do show, sou apenas dançarina não faço programas, por favor se retire. – não houve firmeza em minha voz quando proferi as palavras e sabia que ele notaria.

_Vai dar uma de difícil?

_Senhor por favor, não me obrigue a chamar os seguranças.

Ele se aproxima e sinto meu corpo todo estremecer então ele sussurra em meu ouvido.

_Quero você, tenho observado você há dias, não agüento mais esperar, você precisa ser minha.

Sem me dar tempo de resposta ele me puxa e me dá um beijo, tento empurrá-lo, afastá-lo de mim, mas minha força é em vão, sinto seus braços fortes me segurando, eu não sabia o que estava acontecendo comigo, eu sequer o conhecia como poderia me entregar àquela aventura?

_Vamos sair daqui para um lugar mais tranqüilo. – me pede.

Estava prestes a cometer a maior loucura de minha vida, mas por algum motivo me sentia segura nos braços dele, aquela sensação de medo havia se transformado em conforto. Enquanto ele me levava para o carro tateei seus ombros e tórax abaixo do tecido fino da camisa branca havia uma tatuagem no braço. Já no carro o observo dirigindo, sua habilidade no volante o deixa mais sexy e eu mais enlouquecida, queria logo estar nua com ele em qualquer lugar o que me faz pensar para onde estávamos indo. O questiono e com um sorriso safado diz que é para o paraíso; mal sabia ele que já estava louca de vontade de chegar logo.

Enquanto ouvia seus comentários sobre o show, eu o observava pensando que se ele dirigia tão suave e ao mesmo tempo tão dominador, como seria com uma mulher? Me imaginei dançando um tango, por ser meu ritmo favorito os movimentos são tão sedutores, atiçam o desejo do casal. Voltei a atenção a ele quando informou que havíamos chegado. Não reconheci o lugar quando olhei em volta.

_Que... que lugar é esse? – era uma casa, parecia abandonada, a fachada coberta pelo mato, as paredes rachadas, o teto declinado para a direita, não disfarcei meu pavor, a excitação havia sido substituída por lágrimas que já apontavam em meus olhos – É aqui que você vai me matar? – sussurrei a última palavra, não acreditando que aquele homem pretendia tal coisa.

Ele não parece surpreso com a minha pergunta e solta uma gargalhada antes de responder.

_Só se for pra te matar de prazer. Não precisa se preocupar, você está segura, vamos entrar?

_Já que estamos aqui... – tentei soar mais tranqüila, mas conforme ele avançava jardim a dentro ficava mais apavorada, o lugar se tornava ainda mais estranho e ainda nem havíamos descido do carro.

_Então você mora aqui?

_Esse é meu refugio, quando quero ficar sozinho venho para cá, por isso mantive a casa desta forma, chama menos atenção do que se eu colocar ouro no portão... você não acha? – ele riu, saiu do carro e abriu a porta para mim – Não tenha medo.

Eu não só estava com medo como o achei ainda mais sinistro, estendi a mão para ele e sai do carro, apoiando os pés nos saltos sentindo a sensação de gelatina abaixo deles. Respirei me firmando uma única vez para que ele não notasse o tamanho do meu horror.

_Então é aqui que você traz as suas garotas? – perguntei após ouvi-lo fechar a porta.

_Bom, você é a primeira, como eu disse é meu refugio, poucas pessoas e não são garotas que conhecem esse lugar.

Derek retirou do bolso o molho de chaves e destrancou a porta de entrada, imaginava que o interior fosse igual ou pior que o jardim, mas me enganei completamente, fiquei em estado de choque quando vi, paralisada. Era tudo muito lindo, novo, limpo, aconchegante, a lareira já estava acesa, uma mesa com duas taças e um vinho nos aguardava, na sala de estar um sofá daqueles que te convidam a ficar horas ali deitado, totalmente confortável, senti as mãos de Derek suavemente em meus ombros retirando meu casaco, meu corpo estremeceu ao toque, queria me jogar nos braços dele mas achei melhor deixá-lo conduzir afinal ele havia preparado tudo, e pelo que entendi a dias tem pensado nesse momento. Demorei um segundo para voltar a confiar nele, o segundo em que ele me tocou me fazendo sentir aquele mistério todo me envolver novamente.

Sentamos no sofá que como imaginei era realmente confortável, ele me ofereceu vinho que aceitei prontamente, precisava de uma bebida pra digerir toda essa noite que ao meu ver estava apenas no inicio. O observei enquanto nos servia, aquela camisa branca colada em seu corpo praticamente deixava a mostra o conteúdo, ri comigo mesma ao imaginar retirando ela, ele se sentou ao meu lado, brindamos desejando que aquela noite fosse especial para ambos. Estava um pouco confusa quando ele foi até meu camarim me parecia um homem rude que queria apenas usar o meu corpo e me descartar, mas ali ele estava diferente, romântico o que me confundia um pouco. Não o questionei, novamente decidindo deixá-lo conduzir esta dança, era a primeira vez que tinha um momento parecido com este e já que fui premiada então iria aproveitar ao máximo. Sorri sozinha recordando da frase que uma grande amiga minha que dizia: “Viva o presente, aproveite porque o amanhã não existe mesmo”.

Suavemente ele tocou em meus cabelos, dedilhou minha face e enquanto fazia isso, me falava o quanto me achava linda, seus olhos seguiam o contorno do meu rosto como se precisasse me olhar assim, mais de perto. Lentamente se aproximou e dessa vez me pediu autorização para um beijo, fiquei sem palavras e quando dei por mim, já estávamos nos beijando. Me deixei envolver me entregando aquele momento e àquela aventura totalmente.

Deslizei minhas mãos pelo seu corpo que era quase como uma escultura, levantei sua camisa e sem pestanejar ele a tirou, fiquei sem fôlego era ainda mais lindo do que imaginei, pensei: Que Gato! Vou abusar desse corpinho hoje. Ui!!!

Certamente ele percebeu minha empolgação, então tratou de me deixar ainda mais enlouquecida, nos beijamos novamente enquanto ele me deitava no sofá, ao ter as mãos livres desabotoou minha camisa, ao ter minha pele nua deslizou seus dedos pelo meu colo, entre os seios até chegar ao umbigo me fazendo tremer com a sensação. O desejo carnal nos dominava completamente e já não mais nos agüentando de tanto desejo, nos entregamos.

Seus sussurros diziam que eu era maravilhosa e que agora pertencia a ele. Eu sequer tinha forças para responder, estava em êxtase querendo mais daquele homem. Estava certa quando comparei sua habilidade na direção, ele sabia exatamente os meus pontos fracos, tinha total domínio sobre meu corpo e ministrava como um monumento.

Depois do amor, deitados próximo a lareira, ele me deu um beijo de boa noite, me abraçou e adormecemos ali mesmo, no chão, cobertos apenas por uma manta.

Acordei horas depois, Derek não estava ali ao meu lado, chamei-o e não tive resposta, me enrolei na manta e sai pela casa, procurando por ele, encontrei uma mesa farta com café da manhã, com tudo o que eu tinha direito e mais. Me questionei onde ele estaria, se teria me deixado ali sozinha. Ao adentrar a cozinha me deparei com uma senhora, ao me ver ela sorriu.

_Se quiser tomar um banho pode subir as escadas, a direita tem uma suíte. Fique a vontade.

Meio constrangida agradeci e perguntei.

_E o Derek, onde ele está?

_Saiu logo cedo, pediu que eu chamasse um taxi para levá-la.

Naquele momento me senti a pior da mulheres, ele havia me usado, sequer se despediu de mim, revoltada, subi para a suíte, tomei uma ducha rápida me vesti e sai, meu único pensamento era encontrá-lo ele tinha que me dar uma explicação, porque todo aquele romantismo e no fim me trata como uma qualquer.

_Ah Derek, me aguarde! – disse alto quando bati a porta do taxi entrando em minha casa.