Eita desgraça!!! Da onde a Lô saiu?! Eu tava lá feliz, rolando o Danny por aí e ela aparece do nada gritando “Glu,glu! Pegadinha do Malandro!!” – Sim, eu sei que não foi isso, mas para mim soou assim.

- Estamos fazendo um tratamento de pele matinal – Caí no chão e me esfreguei na terra até ficar tão sujo quanto Dan. Fiquei com um ódio mortal quando percebi que tinha sujado meu laçinho rosa também.

- Não, quero saber o que realment... – Uma coisa explodiu ao seu lado. Ouvi um pequeno grito e me levantei rápido, atravessando a fumaceira.

Seguindo um som de tosse no meio da poeira eu agarrei o que seria Lô – que estava tão pesada quanto Dan e saí de lá correndo.

- Você está bem, o que aconteceu? – Gritei preocupado. De novo Dan e eu metemos ela de novo em perigo, tudo bem que é ela que fica fuçando tudo, mas uma grande parcela da culpa era nossa.

- Estou bem. – Ela respondeu com uma voz estranha e rouca, ela deve ter aspirado muita poeira.

Vi Dan acordando ao longe.

- Danny, Danny!!! Fuja com a Lô!!! – Ao ouvir o nome, o demoniozinho ficou totalmente desperto e me olhou com um misto de confusão, raiva e medo, olhando para o que eu carregava.

Segui seu olhar petrificado, nos meus braços estava pendurado um demônio atarracado, a pele de couro grossa e vermelha exposta, as roupas de tecidos toscos amarradas de qualquer jeito nele. O rosto era uma visão deprimente. Carrancudo, seu nariz enorme se projetava até quase chegar ao queixo, seus dentes eram tão grandes que nem cabiam na boca e acima das orelhas pontudas, dois enormes chifres coroavam a cabeça da criatura.

Pergunta número um: Como eu tinha confundido isso com Lorene? Resposta: Nem eu sei. Talvez por causa da fumaça e da voz fina daquilo.

Pergunta número dois: Que explosão foi aquela? Resposta: Parem de fazer perguntas complicadas, seus chatos!!

Pergunta número três: E a Lorene? Resposta: Misericórdia, me acode que esqueci dela!!!!

Joguei o demônio no Dan, ele caiu em cima do outro que nem um saco de batatas, gerando umas reclamações abafadas. Demônio mal agradecido!! Não só o salvei da fumaça como o fiz aterrissar em um local macio e ainda resmunga??

Deixando de lado meu monólogo... Eu, herói, cintilante, gostoso e másculo, corri de volta para a névoa atrás da minha princesa.

--x—

- Ei, Dan, pra onde foi o Sam? – Perguntei pro meu amigo que se ocupava de desgrudar um demônio vermelho atarracado de sua cintura. Já tinha me acostumado a esse tipo de situação.

- Não sei... Ele voltou pra fumaça, deve ter ido atrás de você. – Respondeu, despreocupado. – Ai, Taus!! Para de me apertar!! – O demônio soltou uma risadinha.

- Quem é esse? - Me sentei na grama ao lado de Dan.

- É o meu primo... – Me mandou um olhar de: “Pode acreditar que eu tenho relações sanguíneas com essa coisa?”.

- Eu sou Taus, ao seu dispor. – Fez uma reverência.

- Parece que ele fugiu do inferno atrás de mim e achou aqui bonitinho. – Dan abanou a cabeça. – Ele quer estudar aqui também...

- Entendo... Mas as inscrições já não foram fechadas?

- Essa academia tem um programa especial de cotas para não-humanos, não sabia?

- Não... – Meus pais nunca disseram nada disso!!! Mas se bem que com aqueles dois já era de se esperar... Analisei um pouco melhor o que eu tinha acabado de ouvir. – Quer dizer que existem outras pessoas “diferentes” como você e o Sam? – Taus me olhou repreendedor. – E seu primo? – Acrescentei.

- Sim, por exemplo, o... – Ele se interrompeu olhando com raiva pra frente. Suspirei, minha curiosidade deveria ser deixada pra depois.

A cortina de poeira já havia baixado e Sam saiu de lá todo sujo, com um misto de alívio e raiva. Sorriu pra mim, mas ficou sério de novo ao perceber a cara de Dan.

O moreno chegou perto, vacilante.

- D-Danny...

- Danny é a sua vó. – Dan jogou-o no chão com força, segurando o outro pelos braços. – Não é tão legal quando é com você, certo? – Riu-se irônico. – Não tô enfiando nenhuma agulha em você, mas não perde por esperar...

Senti uma aura estranha em volta do loiro, e tenho certeza que Taus sentiu também, ele estremeceu. Já tinha deixado os dois brigarem o suficiente, era hora de parar com aquilo.

- Meninos, parem com isso. – Encostei a minha mão no braço de Dan.

Não sei quando aconteceu, mas só senti ser jogada no chão e quando entendi o que estava acontecendo vi o Dan acima de mim. Me segurava pelos braços, e estava sentado em cima de meus quadris, a perna longa me firmando no chão. Aproximou seu rosto do meu.

- Você quer sofrer o mesmo que ele? – Me encarou frio, com seus olhos pretos tomados de um brilho avermelhado. Dava pra sentir a respiração quente dele no meu rosto.

- Dan, volta ao normal... – Reclamei, fingindo não estar com medo.

- Voltar ao normal? Mas eu sempre fui assim... – Gargalhou macabro, seu rosto abrindo em um enorme sorriso.

- Ele está sendo possuído!!! – Gritou Taus. – Enfraqueceram a barreira da academia. Tente chamar o verdadeiro Dan com alguma coisa sentimental. Sei lá. Qualquer coisa!

Tentei pensar em alguma coisa, desesperada, ele apertou meus pulsos com mais força e se aproximou mais.

- Lembra de quando caiu de cara na salada? HAHAHAHAHA!! Que tal lembrar de seu lindo caderno de desenhos? Er... O Sam vestido de enfermeira, isso!! Isso!!! – Disparei, ele foi se aproximando mais ainda. Nossas bocas quase se encostavam. Será que era isso? Talvez se eu o beijasse ele ficaria bolado e voltasse pra vida. Ergui um pouco a minha cabeça pra alcançá-lo, mal fechei os olhos e senti um movimento sobre mim.

--x---

Depois de ser miseravelmente jogado pro lado pelo Dan e ter visto a Lô sendo atacada por ele, já humilhado, minha paciência chegou ao limite quando vi que a albina fechava os olhos e se inclinava pra perto dele. Nem a pau que ela iria beijá-lo, não mesmo!! Possuído ou não, eu não perdoaria. Corri pra cima deles e joguei Dan de lado, segurei o seu rosto e beijei-o sem dar tempo de reagir, calando sua boca maldita com a minha.

Também tentei aproveitar pra recolher informações, mas fui barrado por uma presença arrebatadora, com certeza quem o havia possuído era bem forte, só conseguiria mais informações se explorasse mais fundo, mas eu não queria fazer isso e tinha certeza que o Dan muito menos.

Mesmo não querendo continuar, só larguei-o quando fui empurrado para trás. Enquanto o loiro esfregava sua boca, ofegante.

- Que merda que voc- Foi interrompido com uma faísca vinda da proteção do colégio. O diretor Jim-Jim devia estar de saco cheio por ter que consertar todas as minhas travessuras na barreira, mas não era problema meu.

Lô e Taus se surpreenderam e pararam de olhar embasbacados o meu beijo com Dan pra se virarem para os limites do colégio. Um punho enorme, maior do que uma sala principal de uma casa, socava contra a parede invisível. Dava para ouvir os ruídos de rachaduras, a proteção não ia segurar por muito tempo, eu tinha que desenterrar a semente da barreira se quisesse ter alguma chance.

- Danny, temos que desenterrar o bagulhete lá!! – Puxei pelo pulso e ele foi atrás, percebendo que a situação era séria e que não deveríamos ficar de nheco-nheco.

Correndo o mais rápido o possível, fomos nos aproximando onde eu tinha enterrado a semente, cada vez que nos aproximávamos da barreira dava pra sentir o impacto dos golpes da mão gigante.

Chegando ao montinho de terra fofa, eu e Dan cavamos desesperadamente, ele mais ainda, apesar de não saber muito bem o que estava acontecendo. Com as minhas lindas unhas recém-feitas sujas de terra, senti a sementinha, desenterrei-a rápido. Me virei pra Dan:

- Consegue queimar isso? – Ele pegou-a com cuidado e cobriu com as duas mãos, depois de uma pequena luz, duas faixas de fumaça começaram a sair de suas mãos.

Pude ficar aliviado, não havia mais som de rachaduras, muito menos um resquício de impactos como antes. Frustrada, a mão desmaterializou-se. Eu e Dan voltamos triunfantes pra onde Lô e Taus estavam sentados, assistindo calmamente, tomando um chá vindo não sei de onde.

Quando estávamos todos reunidos minha expressão triunfante se foi. Todos olhavam sérios pra mim.

- Então, o que tem a dizer, Sam? – Lô perguntou, apoiando a xícara de chá no chão.

- Não, é que... – Senti como se uma agulha estivesse atravessando minha cabeça. Ô senhor Capetão, justo agora?

Olhei com cuidado pro lado e vi-o esperando, coberto por um sobretudo preto e um chapéu de mesma cor, só os olhos vermelhos brilhantes visíveis. Senhor Capetão realmente me dava calafrios. Agarrei o pulso de Dan, dando mais uma dose de "qualquer líquido que era aquele" e joguei-o nas costas, correndo limite abaixo.

Lô tentou reagir, mas fui bem mais rápido que ela, quando a albina começou a correr atrás de mim, com uma desvantagem fatal.

- Espera!!! – Gritou. – Espera, maninho!!!

Senti como se meu coração tivesse parado de bater e minha mente ficou anestesiada de memórias. Não podia ser... Lô?