A noite caíra rapidamente. Tudo, desde o menor arbusto até a esplendorosa mansão, tudo era atingido pela pálida luz lunar, formando silhuetas assustadoras no caminho até a entrada da enorme casa.

Do lado de dentro da casa, uma melodia renascentista ser ouvida. Apenas uma sala em toda a grande mansão estava acesa. Uma luz bruxuleante, proveniente de fogo –mais especificamente uma lareira- dançava por todo o cômodo, fazendo jogos de sombra nas paredes de cor intensa.

Dois seres, elegantemente trajados, estavam na sala. Apesar do grande espaço livre no cômodo, ambos estavam bem próximos.

O maior possuía longos cabelos negros lisos, caídos sobre os ombros. Vestia-se totalmente de preto, com poucos detalhes em prata, como as fivelas de seu casaco. Seu braço direito estava nas costas do outro, em uma das inúmeras tentativas de corrigir sua postura.
Seu rosto era de feições claramente masculinas: um maxilar demarcado, olhos profundos e um nariz saliente.

O outro, menor e de cabelos claros, vestia um riquíssimo casaco vermelho, detalhado em dourado e prata. Calças pretas de couro, que apareciam apenas do joelho para cima. A parte abaixo das juntas era coberta por uma bota robusta, porém, bonita, dobrada para que não ficasse longa demais.

-Ah, Kamijo... Quantas vezes preciso repetir? Você é quem estará guiando. Apoie sua mão firmemente nas costas da... Dama. –o maior proferiu a última palavra com certo sarcasmo, ao sentir a mão menor em suas costas largas- Assim. O primeiro passo da dança parte do calcanhar.

-Para trás, Asagi? –os olhos azuis do menor se fixaram nos castanho-escuros do maior- Assim? –deu um gracioso passo para trás, fazendo com que ambos os casacos levantassem, enquadrando-se na melodia.

Não demorou a que o menor errasse um passo e pisasse no pé do outro, que mantinha o corpo firme. Logo, o de cabelos claros afundou o rosto no peito do maior.

-Ah, Kamijo... –soltou as mãos e pousou uma delas sobre a cabeça do loiro. –Você não é forte o bastante para caçar homens... Não tem talento para dançar e atrair mulheres... Dessa maneira vou ter que caçar pra você até o fim dos tempos.

Kamijo suspirou. Odiava aquele tom do maior de repreendê-lo, como se fosse uma criança.

-Não por isso. Você vai acabar ficando... Velho. E precisará de alguém que cace para você.

-Não me subestime. –o tom paciente do maior tornou-se um pouco irritado. Segurou o menor pelo queixo e olhou em seus olhos por longos segundos. –Eu sou tudo o que você tem. Não ouse a me subestimar.

Continuou olhando o menor, até que ele desviasse o olhar, deixando seu alvo pescoço totalmente desprotegido, aos vorazes olhos à sua frente.

-Kamijo... Não me provoque.

-Puna-me, Asagi.

Os olhos castanhos ganharam um forte tom de vermelho sangue e um sonido agudo pôde ser ouvido. Os caninos do maior se alongaram, até que seus lábios finos não pudessem mais escondê-los. Afastou docemente algumas mechas douradas dos cabelos do menor, que já havia fechado os olhos e apertava o pulso do moreno, como que lembrando a ele que precisava se controlar.

Fincou os dentes na pele pálida sem qualquer cerimônia. Fechou os olhos e prendeu a respiração, para que seu sentido mais aguçado fosse o paladar. O sangue tinha um gosto apimentado-suave. Não forte demais nem fraco demais. Apenas perfeito.

-A-Asagi... Pare. –a voz de Kamijo estava tão baixa que não soava mais alta que um murmúrio. Com aquilo, o maior encolheu seus caninos, depositando um beijo delicado no local, onde dois pequenos furos podiam ser vistos. Cicatrizariam em poucas horas.

-Vá descansar. Amanhã retomaremos as aulas. –afastou-se do loiro de maneira delicada, após colocá-lo sentado sobre uma cama ricamente adornada no centro do cômodo. Como não obteve resposta do menor, apagou a lareira e a mansão estava novamente imersa em escuridão.

Olhou para ele mais uma vez, sentado sobre a cama, tirando o casaco.

-Boa noite, Asagi. –sussurrou, colocando a mão sobre o ferimento em seu pescoço, que já começava a fechar. –Obrigado.

O maior sorriu com escárnio. Apesar de o loiro ser da mesma espécie que ele, via-o como uma eterna criança. De certa forma, isso o mantinha protegido.

Mas não por muito tempo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.