Já havia alguns anos em que a Cavaleira Sagrada Crow fora transferida para as Prisões de Baste para supervisionar determinados prisioneiros e um destes era Ban, o Pecado da Raposa da Ganância e membro dos Sete Pecados Capitais. O homem era trancado em uma cela especial com o portão de metal com apenas a abertura para observar o prisioneiro e sem nenhuma presença de janelas para ter a noção do tempo, logo, o local era totalmente escuro e sem iluminação.

“O Imortal Ban, o Pecado da Raposa da Ganância e membro dos Sete Pecados Capitais” era o que ele escutava com suas mãos e pés algemados nas paredes, sentado sem poder mexer-se ou falar por causa do enorme metal em sua boca. “O homem que assassinou a guardiã da fonte da juventude no Reino das Fadas para obter a vida eterna”.

“Quem é você?” Ele tentava dizer com dificuldade, não sabendo se a pessoa que se aproximava iria entender, mas havia a certeza de que alguém estava ali com ele. Sua voz era suave, porém autoritária, conseguindo dizer com clareza que era uma mulher e que era uma cavaleira ou um guarda.

“Pronto, agora diga o que quer dizer” Ela tirava o ferro de sua boca e todas as suas algemas com a chave em mãos, tomando cuidado para não ser tocada ou mesmo ser vista pelos olhos já acostumados com a escuridão de Ban.

“Quem é você?” Ban perguntava novamente.

“Sou sua supervisora” Respondia ao estender uma bandeja com dois pães e uma maçã, junto a uma garrafa de água. “Coma, não importa se é imortal ou não, precisa comer”.

“Como vou saber que não tem veneno na comida?” Perguntava desconfiado.

“Não quer, vá e procure por si mesmo. Não preciso ficar me preocupando com um fugitivo” Nathalia respondia ao pegar a maçã e lhe dar uma mordida. “Como se um veneno fosse problema para você...”

“Eu aceito” Diz pegando um dos pães e dando uma mordida.

“Após comer, tome cuidado e fuja” Fora o que Ban escutou por fim, não conseguindo questiona-la. Estava confuso, por que ela faria isto por um prisioneiro? Mas como ela havia ordenado e dera a oportunidade, saíra pelo portão da cela já aberto e correu para encontrar a primeira saída, escondendo-se para não ser visto pelos guardas pelos corredores.

Não fazia tanto tempo de que havia chegado a Prisão de Baste, mas o ar fresco do lado de fora lhe fazia bem. Observando o céu estrelado daquela noite, começa a caminhar para longe daquele local, contudo, algo lhe perturbava: “Por que ela me libertaria tão facilmente?”.

Por este motivo, retornara para a sua cela como se nada tivesse acontecido. E na próxima noite, ela voltara inconformada: “Por que não fugira?” perguntava ao solta-lo novamente das algemas.

“Por que você quer me libertar desta forma?” Ban perguntava procurando a dona da voz.

“Eu tenho meus motivos” Era a resposta que sempre recebera ao fazer sempre esta pergunta.

Passaram-se dias, semanas e logo transformaram-se em meses. Toda noite, Nathalia libertava-o e lhe dava o jantar, dizendo para que logo que terminasse fugisse daquela prisão, o que Ban nunca fazia. Cansada de tanta teimosia, soltara o homem pela última vez, sabendo de que ele poderia libertar-se sozinho.

“Você está me fazendo de idiota?!” Nathalia perguntava furiosa, lhe estendendo a bandeja com a comida, que desta vez era uma sopa. “Já perdi as contas de quantas vezes lhe libertei e você não faz nada! Sei que pode se soltar sozinho”.

“Nunca pedi a você para me libertar” Respondia Ban com um bocejo, fazendo com que Nathalia sentisse a vontade de bate-lo. “Mas sua companhia, nunca reclamei dela”.

“Por que você não foge?” Ela pergunta pela milésima vez apenas naquele mês, sentando-se ao lado do homem que aproveitava de seu jantar, com um tom de voz tristonho.

“Por que você quer me libertar desta forma?” Recebera novamente esta pergunta, fazendo-a render-se a persistência de Ban e lhe responder: “Porque você não cometera crimes para merecer isto”.

“E como você tem certeza disto?”.

“Eu quero acreditar nisso”.

“Ei supervisora...” Era assim que ele costumava lhe chamar, antes de saber de seu nome como Cavaleira Sagrada. “... Qual é o seu nome?”.

“Crow... Meu nome é Crow” Ao receber a resposta que queria, Ban que já estava livre das algemas, não hesitou em soltar um largo sorriso e avançar rapidamente na mulher ao seu lado. “O que pensa que está fazendo?” Pergunta desviando de seus movimentos sucessivos, sabendo que ele estava sendo guiado pela sua voz e pelos vultos que deveria enxergar com a visão acostumada com a escuridão.

“Você é bem ágil, não é Crow?” Ban perguntava com um sorriso largo, divertindo-se.

“Você é idiota? Qualquer um desviaria destes movimentos inseguros” Respondia, recebendo apenas os olhares surpresos do homem que perguntava:

“Como é que você...”.

“Clear Vision (Clarear Visão), permite-me que consiga uma visão perfeita tanto no escuro ou em qualquer outro requisito que interfira na visão” Nathalia explicava, rindo e desviando-se do homem. Ban que não conseguia ver a total aparência da mulher, escutando sua doce voz e apenas vendo seu vulto, a única coisa que não esquecera era o sorriso alegre que ela soltava em sua presença.

Ambos que haviam esquecido de o que era sorrir novamente e esquecer um pouco de seus passados, costumaram a encontrarem-se todas as noites para fazer companhia um ao outro, conversar e divertirem-se um pouco. Completando-se pouco mais seus cinco meses, Ban fica intrigado com um fato:

“Ei Crow, se descobrirem que você vem aqui diariamente...” Perguntava, que antes mesmo de poder concluir sua frase, é silenciado:

“Quando isto acontecer, eu darei um jeito” Respondia com um sorriso no rosto, não querendo aquele momento se acabasse. “Mas e você Ban, já deveria ter ido embora há tanto tempo, por que ainda está aqui?”.

“Eu tenho meus motivos”.

“Tuche” Nathalia respondia em meio a uma risada sincera, enquanto Ban estava com um sorriso. A felicidade daquela noite continuava como o de costume, mas ao escutarem vozes fora da cela ao chamarem pela Nathalia, os sorrisos de ambos desapareceram. “Droga...!” Ela murmura ao levantar-se de seu local. Antes mesmo que Ban pudesse dizer alguma coisa, Nathalia já desaparecia nas sombras, deixando-o inquieto.

Na noite seguinte, Nathalia que aparecera normalmente, senta-se ao lado do homem após retirar suas algemas. “E então, qual tortura lhe foi dado hoje?” Perguntava estendendo o seu jantar.

“Crow, nunca tinha parado para pensar, mas eu vou perguntar...” Dizia Ban com um tom de voz séria, vendo-o direcionar os olhares diretamente em seus olhos, mesmo que tenha sido por coincidência. “Você é uma Cavaleira Sagrada?”.

“Sim... Sou a Cavaleira Sagrada Crow” Respondia com um sorriso torto, hesitante.

“Obviamente que é, não teria como então você aparecer e desaparecer sem passar pela porta” Comentava o homem, olhando para cima. “Desde quando você é uma Cavaleira?”.

“Já faz mais de quinze anos” Nathalia diz com um sorriso triste nos lábios, lembrando-se de seu passado.

“E por que decidiu tornar-se uma?”.

“Eu não escolhi. Eu não escolhi este meu caminho...” Dizia Nathalia ao ranger os dentes de raiva.

“Então por que ainda está aqui?”.

“Quem sabe... Talvez seja apenas porquê não tenho motivos para estar fora destas paredes” Respondia sinceramente. “Isto serve para você também, não é Ban?”.

“O que você quer dizer?” Pergunta com a boca cheia.

“Você ainda não saiu daqui porque não há motivos para sair, não há motivos para estar lá fora. Estou errada?”

“Não totalmente”.

Aquela conversa encerrara-se ali, Nathalia queria um tempo para ficar sozinha. Despediu-se e fora embora, a noite de ambos acabara sem nenhum sorriso. Ban resolveu não tocar mais no assunto, sabia que aquilo não a fazia bem, apenas guardaria estas informações em sua mente e nunca mais as diria.

Ao passar um ano juntos com a amizade, Nathalia que havia trazido cerveja para comemorar. Ambos beberam e trocaram conversa fora como todas as noites, assim o costume de levar bebida alcoólica diariamente fora adquirido.

“Pensei que estivesse embriagado” Nathalia comentava ao chegar próximo do homem e realmente, não havia esperado pela sua companhia para virar a garrafa que tinha escondido e estava com o rosto todo vermelho.

“Venha Crow, vamos beber!” Ban convidava-a ao erguer a garrafa em mãos com um largo sorriso. E ela não recusava, apenas sentara-se em seu lugar e começaram.

O tempo não parava de correr e passava-se rapidamente, completando-se anos em que ambos mantinham uma boa amizade e numa noite comum, brincando de tentar pegar Crow novamente, só que agora embriagado, Nathalia lhe faz uma proposta: “Caso consiga me pegar, lhe farei a promessa que quiser”.

“Então eu não posso dar mole...!” Ele encorajava-se ao dizer estas palavras e continuar correndo por toda a cela larga atrás de Crow que apenas ria e desviava-se, mas por uma falta de atenção, Crow tropeça em uma má regulação do chão e cai de costas. “Te peguei!” Dizia Ban com um sorriso vitorioso, ao conseguir finalmente alcançar a mulher: ela que caíra de costas, estava deitada, enquanto Ban permanecia sobre ela apoiando-se em seus braços nos ombros da morena.

“Ei Ban, está pesado!” Dizia em meio de uma gargalhada, ao não perceber de sua situação. Quando abrira o olho para vê-lo, seu rosto aquece ao sentir sua respiração ofegante em seu rosto pálido. “Ban, está muito perto!” Tentava empurra-lo sem que o machucasse para que afastasse dela.

“Você irá me conceder qualquer promessa, não é?” Ele não a escutava e não se importava com suas ações, apenas manteve um sorriso largo e lhe fazia a pergunta.

“Sim Ban, quer outra bebida? Lhe trarei amanhã!” Suas forças eram inúteis.

“Não, eu quero que me prometa apenas uma coisa”.

“Diga Ban, eu farei qualquer coisa!”.

“Prometa-me que você largará seu cargo como Cavaleira Sagrada quando eu sair desta prisão”.

Estas palavras fizeram Nathalia parar de debater-se e olhar fixamente para os olhos de Ban que demonstravam o quão sincero estava sendo, enquanto o sorriso permanecia gentil. “Mas Ban...” Antes mesmo que pudesse dizer alguma coisa, Ban deitasse ao seu lado e cai em um sono profundo, fazendo-a soltar um sorriso tristonho e derramar algumas lágrimas: “Ó Deus, como este castigo é doloroso. Quando esta eu, uma pecadora e imunda, poderei descansar em uma felicidade e pura?”.

Com estas palavras retira-se do local ao dar boa noite ao homem que nem deveria estar escudando suas palavras, ela estava ciente de que a felicidade de que encontrara acabaria em questões de instantes e apenas faltava chegar o momento. Estava triste, não queria que estes momentos acabacem, torturando-se ao ficar perguntando a si mesma se ele pensava o mesmo. Era algo que ela estava certa, Ban não queria deixa-la, mas ao chegar o tempo, ele não poderia impedi-la de seguir seu próprio caminho.

Um estrondo fora escutado de um dos corredores da grande Prisão de Baste, causando desordem dentre os guardas presentes. Nathalia sabia que havia chegado a hora, não sabendo o que aconteceria após aquele dia. Os caminhos de ambos foram separados e agora reencontravam-se na Taverna de Meliodas.

—Pensou mesmo que eu diria isso?! – Perguntava Ban ao dar um soco no estômago de Nathalia que cuspira sangue, caindo ajoelhada e com as mãos no local da pancada – Você deveria parar de ser tão egoísta!

—O que eu deveria fazer...? – Nathalia perguntava com dificuldade por causa da dor – Me responda Ban, o que eu deveria fazer?! Eu que não tenho mais nada neste mundo, o que eu deveria fazer?

—Você ainda tem a mim, sua idiota! – Ban dizia essas palavras com gosto, deixando Nathalia com olhares surpresos e logo derramando mais lágrimas ao escutar suas próximas palavras – Eu fiquei na prisão por todos estes anos por você, porque você precisava de mim e...

“Eu precisava de você”