As duas Faces do Amor.

Verdade. Capítulo Final.


Sexta feira, 21:21:01.

Estávamos no quarto de Rachel - minha melhor amiga - enquanto falávamos sobre tudo o que vinha a mente. Doces a nossa volta, enquanto comíamos e misturávamos os mesmos no intestino. Risadas iam e vinham. Lembranças de tempos bons e de tempos não tão bons assim. Lembranças de amizades. De amores. De beijinhos.
Ronnie estava terminando de contar sua maior história de amor, todas nós conhecíamos os fatos de cor, mas foi essa história toda que ela quis contar e, nós ouvimos sem receios. Todas a minha volta já haviam contado algo, agora só faltava eu. Assim que Ronnie terminou de contar os olhos de todas pousou sobre mim.
- Agora... Conte sobre um amor. Um amor de infância, por exemplo. - Pronunciou Allie calmamente.
- Ok. Vamos lá. - Disse tentando transparecer animação.
Mas, eu sabia que agora teria de contar sobre Travis, sobre meu amor de infância. É claro que havia muitas outras histórias para contar, mas acho que chegou a hora de revelar o que realmente aconteceu entre nós, ninguém nunca entendeu ao certo. E, não é que eu goste de finais dramáticos e de sofrer. No início de nosso relacionamento, tudo que foi feito foi para minha felicidade então impus um final no nosso relacionamento para que ele fosse feliz em um futuro não muito distante.

"Tudo começou na praia quando eu tinha 6 anos e ele uns 8 anos. Meu tio e sua prima estavam em época de namoro e depois de muito tempo me esforçando para colocar meu biquini rosa choque chegamos à praia. Eu estava de mãos dadas com meu tio e aquela foi a primeira vez que o vi. É claro, não entendemos nada de aparência quando somos crianças. Mas, algo nele me captou por completo. Não sei se foram seus olhos negros; ou sua boca miuda e vermelha ou talvez seus cabelos negros sobre a testa. A única coisa de que me lembro era de brincarmos no mar juntos; apostar corridas e montar castelos de areia. Ele estava com feições de que aquilo não o agradava, mas eu não me importava e continuava a me divertir em um dia de diversões na praia. Nós também íamos ao cinema. E houve um dia em que eu estava sentada ao seu lado, devorando o pequeno pacote de pipocas em meu colo. O filme que passava era "A Era do Gelo" e, ele parecia não se importar com o que estava na gigantesca tela, pois com o canto dos olhos eu o via olhando-me com uma expressão de curiosidade. Eu - nervosa - colocava mexas de meu cabelo atrás da orelha, para ver se ele parava, mas ele não parava de jeito nenhum. Às vezes eu o via sorrindo enquanto eu comia a pipoca amantegada.
Continuamos saindo. Indo à praia, ao cinema e em todos os lugares que crianças poderiam ir. Mas, estes foram os dois dias que marcaram minha memória. Ele sempre esteve presente em meus pensamentos. Não que desde criança ele me encantasse como homem. Mas... ele era diferente de tudo o que eu já havia visto em vida. Depois que meu tio e a prima daquele pequeno casaram-se os passeios cessaram. Depois de alguns anos ocorreu uma tragédia não muito bem explicada entre o casal. Os rumores diziam que ele havia supostamente sumido e ela com muita mágoa decidiu sair da casa em que dividiam e se mudou. Minha mãe ajudou com todos os preparativos para a mudança. Limpou e arrumou junto à ela aquela casa e, eu sempre via um rapaz adentrando uma casa na mesma rua da ex de meu tio. Ele era bonito, mas eu nunca conseguia ver seu rosto perfeitamente.
Certo dia eu estava junto à minha mãe na casa desta moça e a campainha soou alta em meus tímpanos enquanto lia um livro qualquer.
- Atenda para mim Lexie! - Berrou minha mãe.
- Tá! - Gritei obediente.
Fui até a porta e após girar as duas voltas na fechadura abri a mesma em um solavanco. Havia uma rapaz, um não, aquele rapaz que eu sempre quis ver o rosto. Aquele da rua e, naquele instante eu soube que era ele: o pequeno da praia. Eu sorri e ruborizei quando vi sua expressão em cima de meu corpo. Seu cabelos negros sedosos, seu olhos negros apertando-se por conta do sol, um papel entre seus dedos, em uma altura ótima para a minha, branco e com um corpo que qualquer menino quer ter. Era ele, eu soube. Aguardei ele dizer algo durante alguns segundos.
- Minha tia está? - Indagou por fim.
Naquela tarde não consegui mais ler. Não conseguia assimilar as palavras umas com as outras e todas misturavam-se em uma só. Desisti fechando o livro em meu colo e fitando o teto enquanto meus pensamentos vagavam até Travis - o pequeno. Ele estava lindo, mais lindo do que imaginei que estaria. E, ele está aqui, após tantos anos o destino nos trouxe para o mesmo lugar. Para as mesmas coisas e atitudes. Eu não estava em dúvida se era ele ou não, eu tinha absoluta certeza que ele era o garotinho da praia. Eu o queria para mim, queria chamá-lo de meu, como nunca quis um dia. Comecei a pensar nele de um modo diferente, com mais intensidade e acho que foi com este pensamentos que nos aproximamos.
Estávamos sentados - Travis, sua prima, minha mãe e eu - no sofá de sua casa, pois nossas mães foram apresentadas à alguns meses atrás. Estava com os braços cruzados sobre os seios e, podia ver seus olhos pousando regularmente sobreminha figura estática. Sua prima dizia que ele se casaria com sua atual namorada. Não sei se ele notou a decepção em meus olhos, mas logo depois ele respondeu o mais depressa possível que aquilo não poderia acontecer e, que soava até como um absurdo, que nós nunca sabemos o dia de amanhã ou o que o futuro guarda para nós. Logo depois disso disse que não gostaria de me casar de véu e grinalda, vestida inteiramente de branco e eu fui completamente sincera naquela época. Por fim, ele concordou comigo, dizendo que uma união estável estaria ótima e eu soube naquele instante que ele não fez aquilo para puxar assunto ou me impressionar, ele deu sua opinião de um modo sincero e sua honestidade amoleceu ainda mais meu coração em relação à ele. E eu sei porque daquela sua atitude afinal, tantos relacinamentos tiveram fim em seu torno, não é?!

Logo depois daquelas palavras uni minhas sobrancelhas e disse que também não gostaria de ter filhos. Ele surpreso discordou comigo e me disse que ter filhos era a construção de uma família e a continuidade de seu sangue. Não sei se foi por suas palavras ou apenas por estar sentindo algo por ele, mas naquele instante eu me arrependi de ter dito o que disse. Não que a vontade tivesse crescido em mim, mas eu comecei a enxergar aquilo com outros olhos. Ter filhos é uma benção que Deus dá para as mulheres e ouvir um rapaz pronunciar aquelas palavras quase como se fosse seu sonho, fez com que fosse o meu também. A vontade de ter um filho cresceu em mim, também."

Parei olhando nos olhos de cada uma das garotas a minha volta. Elas estavam estáticas, olhando-me com atenção. E, com um meneio de cabeça de Rachel - que sabia da história quase completamente - eu continuei.

"Eu sempre ia a sua casa junto a minha mãe, para que ela não ficasse sozinha. Nós ríamos e conversávamos sobre diversos assuntos. Eu o via regularmente perambulando para lá e para cá. Por vezes ele parava para cumprimentar minha mãe com um beijo no rosto ou apenas conversar e perguntar como foi o seu dia. Aquilo me encantava tanto, me fazia tão feliz. Poxa! Ele se dava bem com a minha mãe e aquilo era tudo o que eu sonhava em um rapaz para chamar de meu. Eu não fiz como troca de favores, mas eu também tinha uma ótima relação com sua mãe e por vezes à ouvia reclamar de Amber - namorada de Travis. Ela dizia que comigo ela conseguia conversar abertamente e eu notava aquilo, ela ria e brincava. Perguntava, oferecia e conversava sobre o futuro. Me perguntava o que eu queria cursar e sorria enquanto eu contava sobre meus planos. Um dia dividimos a mesa para almoçar juntos, mas nenhuma palavra foi dita. E aquilo só ocorreu por minha timidez. Quando ele ia comer algo ele me oferecia - vezes por educação, com certeza -, mas eu nunca aceitava, por não estar com fome ou por estar com vergonha mesmo.
Eu via Amber regularmente por sua casa, mas depois de um determinado dia deixei de vê-la lá, eu nunca investiguei o motivo à fundo mesmo."

Levantei os olhos e encarei Jullie que me olhava com atenção. Seus olhos apertados, ela sabia que o viria a seguir e ela me xingou por dias a fio por ter feio o que fiz.

"Em um momento eu andava por sua casa junto a minha mãe e, no momento seguinte ele me convidava para ir em uma festa na casa dele, naquele final de semana. Fiquei estática e disse que pensaria no assunto. Eu me preparei e me imaginei junto à seus amigos, mas não fui. E desta vez não foi por vergonha, mas por um simples motivo: Ele era comprometido e eu não me envolveria com alguém assim. No dia seguinte a festa eu e minha mãe fomos ajudar a mãe de Travis à arrumar a bagunça deixada por todos. Enquanto minha mãe fazia o trabalho pesado, sentei no chão com as costas apoiadas na parede e um livro de Nicholas Sparks sobre o meu colo. Sem levantar os olhos, pude vê-lo olhando-me com interesse. Seus passos vieram em minha direção e naquele instante minhas mãos soaram e eu não enxergava as letras à minha frete, ele parou e se agachou a minha frente e meu coração simplesmente parou. Ele me olhava profundamente nos olhos enquanto os seus estavam suavemente prenssados nas pontas.
- Porque não veio? - Indagou de um modo brincalhão, enquanto um sorriso escapava de seus lábios. Seus olhos não desgrudaram dos meus em nenhum instante.
Enquanto sorria e sentia meu rosto quente devido a vergonha respondi: -
Houve um ocorrido e não pude vir.
Não sei ao certo se ele ficara nervoso, mas ele levantou em um impulso com uma expressão de supresa junto à dor. De tristeza junto a... raiva, talvez. Ok, eu menti para ele, mas ele não notou nada em minhas palavras e, eu nunca diria o real motivo por não ter ido.
- Ah! Arranja uma desculpa melhor da próxima vez. - Disse ele enquanto caminhava em direção a cozinha, foi quando vi a marca branca de seu dedo aonde deveria estar a aliança de seu relacionamento com Amber. Eles haviam terminado. A última e única coisa que fiz foi rir e jogar a cabeça para trás, talvez para diminuir o arrependimento em mim. Afinal, tudo poderia ter começado ali."

- Você foi muito burra em não ir! Isso sim. - Repetiu Jullie. Ela sempre dizia aquilo. As outras garotas gargalharam e eu apenas soltei um leve sorriso.
- Conta o resto... - Disse Rachel animada com o desfecho.


"Sei que ele notou que minha frequência começou a diminuir na sua casa. Aquilo se deve ao fato de descobertas médicas. De exames; surpresas e de meu próprio remorço. Em uma certa tarde eu fui à minha médica, para ver o exame de rotina que eu havia feito à um tempo atrás. O que era para ser um exame corriqueiro acabou sendo o papel que mudou minha vida drasticamente.
- Você pode ser mãe. Mas, não uma mãe biológica. - Pronunciou a médica com força. Não pude evitar as lágrimas escorrendo de meus olhos. Eu chorei mesmo, sem vergonha. Ela tentou me consolar dizendo que aquela não era a única maneira para se ter filhos. Mas algo ainda soava na minha mente que aquela era a única maneira de se dar uma continuação ao meu eu. À minha família e também a família de meu futuro marido. As únicas pessoas que ficaram sabendo foram os meus amigos mais próximos e claro minha mãe. Ela me apoiou e brincou dizendo que serviria de barriga de aluguel eu ria concordando, mas sabia que mesmo desta forma eu não sentiria meu ventre crescer com algo que me pertencia. Com algo que fosse fruto de uma relação de amor entre eu e meu futuro marido. Eu não sentiria um ser minimo me chutando com força. Não ouviria as batidinhas de seu pequeno coração e não sentiria a dor do parto, e eu queria aquilo. Desde aquela conversa.
Eu sentia saudades de ver Travis andando pela casa de samba-canção ou pijama. De vê-lo no sofá jogando video-game com seus amigos. De ver seu sorriso ou seus olhos dirigidos à mim. Eu sentia falta de Travis, então deixei a mágoa de lado e voltei a frequentar sua casa regularmente, novamente. Depois de um tempo ele começou a arrumar coisas com necessidade na minha casa e aquilo serviu para nos aproximarmos. Certo dia ele foi a minha casa enquanto eu retirava meus livros da minha estante que ele iria arrumar. Eu vi seus olhos sobre mim enquanto fazia o percurso de minha estante até minha cama. Ele disse que adorava ler, mas mentiu, eu soube no instante em que disse. Tudo bem, ele poderia gostar mas não tanto quanto demonstrou. Aquilo não me magoou, me deixou feliz, vê-lo dizendo que gostava de algo que não gostava para puxar assunto comigo.
Eu sorri por seu comentário e por sua cara-de-pau dizendo que gostava do que eu lia.
Fez perguntas sobre meus livros e eu contava a respeito deles com divertimento nas palavras. Começamos a nos ver em ruas; em festas; em casas de amigos em comum. Um dia ele foi a entrada de minha escola. Eu o avistei de longe, de camisa polo rosa. Corei, simplesmente corei de vergonha e, como se ele pudesse sentir minha presença virou o rosto para trás e manteve os olhos fixos em mim, no momento em que eu ia cumprimentá-lo uma menina que não gosto nem um pouco se aproximou dele com um sorriso debochado nos lábios, desviei os olhos e continuei meu percurso, por ciúmes.
Depois de muito tempo começamos a nos ver regularmente. Certo dia estava com minha mãe esperando meu ônibus passar quando um carro surge no fim da esquina e ele estaciona, oferecendo-me uma carona até minha escola. Sei que no primeiro dia foi pura coincidência e eu aceitei arduamente, mas nas outras vezes sabia que era intencional. Ele passava sempre no mesmo horário com um sorriso sapeca nos lábios. Começou a vir cada dia mais arrumado, mais cheiroso. Começamos tímidos sem muitas palavras durante o trajeto, mas depois ao em vez de apenas me deixar na porta ele ficava lá comigo esperando o sinal tocar para que eu pudesse realmente descer do veículo e entrar na escola enquanto conversávamos sobre tudo, enfim ganhamos a intimidade necessária. Eu saía do veículo e encontrava com as minhas amigas na entrada da escola que me recebiam com risinhos e olhadas desconfiadas eu apenas ria e jogava a cabeça para trás.
É claro que na mente delas algo rolava. O que eu podia dizer? Rolavam apenas faíscas, cantadas, risadas e olhares tímidos. Até que em um dia ele tomou uma atitude inesperada, mas que eu desejava a muito tempo. Quando fui lhe cumprimentar para ir para a escola ele virou o rosto e fez com que um simples beijo de despedida, se tornasse um selinho arduo e quente. E foi naquele instante que eu me apaixonei por ele, por sua atitude e simplesmente por ser quem era. Depois de sua atitude eu sempre me despedia com um selinho, afinal algo estava rolando ali.
Esperamos tanto tempo para nos encontrarmos. Brincávamos na areia e eu não conseguia imaginar que tudo proveio de um romance de infância, aquilo era mágico demais.
Namoramos durante três anos em uma relação fixa. Tínhamos uma conexão que todo casal sonha em ter. Entendíamos um ao outro e, nós sabíamos que tudo aconteceu por conta de outro casal.
Nós tínhamos aquelas discussões típicas de casais. Carregada de ciúmes ou de tristeza. Discutíamos sobre o futuro que nos aguardava. Foi com ele que descobri meu corpo, foi com ele que consegui ser feliz de um modo aberto, sem restrições. Eu realmente descobri o verdadeiro amor com Travis.
Estava no quintal de minha casa pensando em tudo o que já havia ocorrido quando a ideia cruzou meus pensamentos. Terminar. Eu sei que um dia ele iria querer que nós construíssimos uma família. Aliás, uma aliança de prata com ouro pendia em meus dedos, aquilo estava ficando sério demais. Eu não sei se fiz pelo motivo que Jullie sempre dizia "Você tem medo de estar em uma relação firme. Ou até mesmo de se apaixonar", mas hoje sei que não foi. Eu terminei para deixar Travis livre para encontrar uma mulher que o amasse o tanto quanto eu o amo e que pudesse dar algo que ele sempre me disse que queria. Foi quando saí de minha casa e fui em direção a sua. Chegando ao seu quarto com minha cópia da chave de sua casa, peguei um papel qualquer em minha bolsa junto à uma caneta e retirei a aliança de meu dedo enquanto escrevia com lágrima nos olhos as palavras do final de um relacionamento."
'Você sabe que isto chegaria um dia, não é? Eu lhe amo muito e sei que também me ama, só não posso mais continuar... Sei que vai vir atrás de mim procurando explicações - eu faria a mesma coisa - mas, infelizmente não estou pronta para lhe contar o porquê de fazer isto.
Sinto muito, L.'
"
E como dito na carta ele veio atrás de mim. Me ligou para ser exata, procurando explicações. Eu disse que não iria conseguir dizer agora, eu ainda não estava preparada para tal. Como condição ele me devolveu a aliança que eu lhe entreguei. Hoje ela está guardada junto às nossas fotos e o motivo perambula por minha mente. Eu terminei por sua felicidade, para que ele pudesse ver a continuidade de sua família. Era isso que ele queria, não era? Ele queria a continuação de sua famílai e era exatamente isso - o seu auge, o seu ápice - que eu não poderia dar em nenhuma hipótese. Parece duro, mas não fui egoísta. Eu pensei inteiramente nele e sei que foi a decisão certa, pois no momento dos pensamentos no quintal de minha casa uma borboleta branca rodeou meu corpo e pousou em minha coxa. Aquela era uma resposta de Deus. E, eu tomei a atitude de deixá-lo feliz. Hoje, a única coisa que guardo são nossos momentos e a aliança que escolhemos juntos em um dia de verão."
22:21:59.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.