Andar de carro com a Nagisa-sensei é como sentir a morte chegando cada vez mais perto, é um trem fantasma que leva sua alma diretamente para o submundo. Graças à ela eu posso dizer que morri, mas sobrevivi para contar a história. O estranho é que eu corro a velocidades mais altas do que as que o carro alcança e não sinto nada, e é só entrar na braca do inferno dessa professora do capeta que eu já começo a fazer meu testamente porque não sei se vou sobreviver à morte dessa vez.

Quer ouvir um detalhe sem importância? Não? Ah, não ligo para a opinião alheia, vou falar do mesmo jeio: a estrada era cheia de lombadas, então imagine o desepero que eu sentia em cada uma delas.

– Chegamos. – essa foi a única vez em que eu fiquei feliz por ouvir essa maluca falar

Desci do carro e olhei em volta: árvore, árvore, árvore, árvore... Não! Espera aí... Ah, esquece, é só outra árvore.

– Nagisa-sensei – chamei – Tem certeza de que chegamos? Isso aqui é... Bem, só tem árvores.

– É que não podemos parar muito próximos do nosso destino, agora temos que caminhar um pouco. – sensei me explicou – Laura, final da fila.

– Por quê?

– Porque ninguém te alcança quando você vai na frente.

Cruzei os braços para fazer birra:

– Vocês que são muito lentos.

– E eu não sou baixinho, vocês que são muito altos. – é necessário informar quem disse isso? - Agora vai pro fim da fila, eu preciso ficar na frente para guiar vocês.

Não acredito que estou sendo obrigada a seguir esse cara, que absurdo.

XX XX

XX XX

O único lado bom de ir no carro da Nagisa-sensei é que eu não me canso. Levou horas de caminhada para chegarmos ao nosso destino: um galpão velho, abandonado, caindo aos pedaços e com cheiro de panquecas mofadas (eu sei disso porque tem uma debaixo da minha cama, eu devia tirar ela de lá qualquer dia desses).

Eu não entendia o que estava acontecendo por uma série de motivos:

Ninguém me explicou nada quando eu pedi nos bilhetes

Ninguém me explicou nada quando eu pedi na hora do almoço

Ninguém me explicou nada quando eu pedi durante a tarde

Ninguém me explicou nada quando eu pedi no carro

Ninguém me explicou nada quando eu pedi enquanto subia na árvore

Ninguém me explicou nada quando eu pedi quando eu caí da árvore

Ninguém me explicou nada quando eu pedi há um segundo

Eu cheguei à conclusão de que ninguém quer me explicar o que está acontecendo, então o jeito é viver na ignorância e aguardar o sinal do Micro Chibi, que eu nem sei se vai ter tamanho suficiente para nós conseguirmos ver.

– Eu vou entrar. – o loiro falou, tirando uma chave do bolso. – Iniciem a contagem quando eu entrar.

Ele colocou a chave na fechadura do portão, abrindo-o. Encarou o céu por alguns instantes e depois se voltou para mim.

– Laura, você sabe que tem pernas perfeitas, não é?

Era só o que me faltava.

– Isso foi alguma cantanda muito, muito ruim?

– Se o sinal atrasar em um minuto, corra, corra o mais rápido que conseguir.

– Você fumou cobalto?

– Como é que eu vou fumar turbinas de avião, Cabeçuda?

– E como é que eu vou saber o que é cobalto?

Foi nesse momento que uma coisa muito estranha aconteceu: ele começou a rir; não um riso irônico, mas sim uma risada verdadeira. Será que todo mundo enlouqueceu?

– O que é que... – ele me interrompeu, colocando dois de seus dedos em minha boca. Por que eu não fiz nada? Eu normalmente chutaria o saco dele ou sei lá; só que eu não fiz nada para impedí-lo. Será que fui que fumei o cobalto e não lembro?

– Por favor, promete que vai correr o mais rápido que conseguir.

Ah, o que mais eu posso dizer nessas horas...

– Ok, eu prometo correr o mais rápido que conseguir,eu juro pelo espírito da Rukia.

Trancinha me lançou um sorriso e logo em seguida entrou no galpão. A contagem começa agora; quinze minutos.

Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez...

Não sei nem que plano é esse, mas espero que dê certo.

Onze, doze, treze, quatorze, quinze...

XX XX

XX XX

Dezesseis.

Não dezesseis sengundo, estou falando de dezesseis minutos, o tempo já se passou e até agora nada de sinal. Eu preciso entrar correndo... Correndo o mais rápido que eu conseguir.

Estava me preparando para pegar impulso, até que Haru me segurou pelo braço.

– Haru, me deixa!

– Eu não vou te deixar entrar aí sem o sinal.

– Eu não costumo agredir meus escravos fisicamente, mas não tenho escolha. Desculpe, Haru.

Haru iria ganhar um troféu por ser o único garoto da Shounen High que jamais apanhou de Laura Wilke, só que os planos mudam. Tive de socar seu rosto para que ele me soltasse e eu conseguisse correr para dentro daquele lugar com cheiro de panqueca mofada.