05 de janeiro de 1994

Estava encolhida no cantinho da parede do meu quarto, sussurrando para mim mesma: quando esse pesadelo vai acabar? E tudo isso por causa de um ciúme bobo. Mais bilhetes chegaram, cerca de 100 em menos de quatro dias. Mas o primeiro que recebi desde que cheguei àquela casa foi o que me surpreendeu. Como alguém saberia onde eu morava sendo que a casa é no fim do mundo?

Eu sou obrigada a desconfiar de todos ao meu redor e isso inclui meu próprio irmão. Mas porque ele seria uma suspeita, suspeito de uma mulher, eu não sei dizer, mas seria suspeito.

Eu precisava mais do que tudo mandar cartas, era meu legado, minha diversão. Então me lembrei de um código antigo que eu usava com meu irmão, usávamos letras gregas para nos comunicar quando não podiam saber de algum segredo nosso.

Fui ao centro da cidade e procurei um telefone público. Precisava falar com o Charlie sobre isso.

Aló, Charlie?

– Sim, fala.

Ele sabia que era eu. Ainda bem que não falou meu nome.

Acho que sei como posso te mandar cartas sem essa tal pessoa saber o que está escrito.

– Como?

Expliquei tudo a ele nos mínimos detalhes.

– Mensagem codificada? Não acha que ela um dia irá descobrir? - disse ele.

Pode até descobrir quem é, mas o que está na carta não.

– Então, tudo bem, ótimo na verdade. Mande cartas assim que puder.

E desligou. Quanto menos nos falávamos, melhor.

***

Assim que cheguei em casa, procurei papel e caneta. Meu quarto ficou uma bagunça até achar. Tinha escondido todos para evitar a compulsão de escrever. Não via em nenhum lugar. Armários, bolsas, estantes...nada. Comecei a ficar desanimada.

Lembrei!, exclamei alto.

O que foi????? – Brendon apareceu só de toalha no meu quarto, desesperado.

Nada, ué.

Subi em uma cadeira e tateei o topo do meu guarda-roupa. Estava empoleirado, mas achei um caderno e alguns lápis.

Comecei a escrever codificadamente. Sem data, sem remetente, sem perigo.

"Querido amigo,

Espero que entenda o que estou escrevendo. É complicado escrever assim, mas é o único jeito de nos comunicarmos.

Está sendo muito difícil ficar recebendo esses bilhetes anônimos e não poder fazer nada. Não posso sair de casa e quando volto tem quinhentos bilhetes no chão. Se ainda fosse bilhetes de amor...Como se alguém me amasse! Enfim, o que eu faço, Charlie? Me ajuda por favor.

Me diz como está as coisas por aí. Sonho em um dia poder voltar, só pra conhecer Sam, Patrick e sua família. Mas ainda é um sonho, não sei quando vou poder sair daqui desse inferno.

Charlie, agora estou pensando, tem alguém que te ama bastante e que você deu um pé na bunda? Essa informação pode ser útil para mim.

Tenho pouco papel, então vou economiza-lo. Me responda, por favor.

Beijos

***

Pedi para Brendon enviar a carta. Fiquei em casa assistindo filme e comendo pipoca. Ele havia saído a mais de uma hora e logo chegaria.

Quando alguém bate a porta estrondosamente. Pensei que era ele e fui abri-la. Não era ele, era uma garota suja, cansada, com respiração ofegante.

Lyra.

Ela me abraça.

Eu andei meio mundo pra te achar. Porque você veio pra cá? Porque sumiu assim tão de repente?

Estava assustada. Ela veio até aqui a pé?

Eu não posso te explicar agora, deita um pouco e te explico.

Eu tenho que...

Ela desmaiou e não pôde falar mais nada.