As Sete Ameaças

Parte II: O Reencontro – Mudança radical.


As pessoas sussurravam umas para as outras enquanto olhavam para a mulher incrivelmente bonita que passava. Mesmo que ela estivesse usando uma capa que cobria todo o seu corpo, era possível ver uma parte de suas feições finas e se seus cabelos sedosos.

— Que moça linda!

— Você acha que ela veio da casa de damas?

— Se ela tiver vindo da casa de damas, eu irei lá hoje mesmo!

— Sua mulher sabe que você está gamado por uma dama do sexo?

Nina tentava relevar todos os comentários maldosos que faziam dela. Contudo, essa não era sua maior preocupação: sua beleza chamava tanta atenção, que logo soldados iriam vê-la, curiosos.

Entrou em um beco e olhou as moedas que tinha no busto. Que idiota! Por que não levara algumas moedas da caixa da casa de damas? Algumas palavras de convencimento e ninguém iria notar! Será que se importava tanto assim com aquelas damas? Recusava-se a pensar que sim.

Bem, tarde demais para pensar nos erros do passado. Enfiou a mão entre os seios e retirou as únicas três moedas de ouro.

Sentou-se e pensou no que faria. O que ela poderia fazer para não chamar atenção?

Suspirou. Quantas vezes desejara não ser bonita?

Uma luz iluminou sua mente. Se não fosse bonita, não chamaria tanta atenção!

Olhou ao redor e viu um homem sentado na viela com um copo metálico tilintante de moedas. Foi até ele decidida.

O homem a olhou como se não acreditasse que uma mulher tão bonita o olhasse diretamente.

— Você quer trocar de roupa comigo.

— Claro que quero!

— Então venha.

Nina levou o homem para o beco do qual saíra e tirou o vestido sem se importar que o homem visse sua nudez, quantos já não tinham feito isso? Ele também tirou suas roupas esfarrapadas e as entregou para a mulher.

A visão de um homem velho, gordo e peludo usando um vestido frouxo tirou algumas risadas dela, mas logo deixou de rir.

Estava vestida como um homem, agora precisaria se disfarçar mais. Colocou seu manto e se cobriu para sair novamente pelas ruas.

Rodou a pequena cidade, olhando cada beco e dando uma espiada em cada porta. Estava sem ideias, mas não podia continuar como uma linda mulher vestida como homem, aquilo chamava ainda mais atenção.

Suspirou, começado a ficar impaciente. O que faria?

A resposta a atingiu no instante seguinte, como se o destino a ajudasse. Era uma carroça cheia de carvão parada. Nina pegou um e sujou suas mãos, sujando o rosto com gosto, assim como as mãos, braços, pescoço e qualquer parte do corpo não coberta pelo tecido gasto e fedorento.

Só faltava uma coisa a ser feita. Voltou a andar pela cidade até achar o que procurava: um objeto cortante. Era um pedaço de vidro bem afiado, mas ainda assim, poderia cortar com facilidade.

Nina fez um coque com o cabelo e respirou fundo antes de cortá-lo. Mais alguns cortes na frente e dos lados e logo estava pronto.

As roupas largas escondiam os seios não tão fartos dela, o cabelo curto e irregular e a expressão dura, a deixaram com a aparência de um perfeito homem, que se não estivesse completamente sujo, seria um homem muito bonito.

Nina olhou para si pelo pedaço de vidro e percebeu o quão masculina estava. Definitivamente não seria reconhecida. Sorriu para si mesma com o resultado, nem estava tão ruim assim.

Guardou o pedaço de vidro no cinto da calça e saiu do beco, deixando seus lindos cabelos para quem quisesse encontrar.

Na rua, finalmente, não era reconhecida. Passava por aquelas pessoas como se fosse um ninguém. Não podia se sentir mais satisfeita com o resultado. Na verdade, estava até mesmo se sentindo muito mais confortável com as roupas e o visual masculino.

Então ouviu uma trombeta soar e viu todas as pessoas correrem para ficar nas margens das ruas apertadas. Nina seguiu o exemplo e imitou todos, que se ajoelhavam.

Logo viu vários cavalos passando com homens de armadura prateada e preta, cores de Gapazium. Nina soltou um suspiro silencioso, agradecida por já estar irreconhecível.

Viu o rei Zoro com sua armadura brilhante passando e sentiu um misto de ódio e admiração, embora não soubesse por que estava admirada.

Continuaram assim até todo o exército passar pela cidade, então levantou e se encaminhou para a saída da cidade. Tinha que sair daquela cidade movimentada demais.

Viu uma pequena família montada em cavalos que puxavam pequenas carroças cheias de comida. Comerciantes de viagem.

— Com licença – falou chegando perto e fazendo sua voz ficar mais grossa que o normal – Vocês estão de partida?

O líder da família, um homem grande e gordo, a encarou de cima a baixo, como se quisesse distância daquele mendigo.

— Sim.

— Posso lhes perguntar para onde vão?

— Para Luzarium.

— Por acaso passarão pelo lago da intercessão?

— Sim.

— Posso lhes pedir carona por singelas moedas de ouro? – perguntou mostrando suas três moedas – Ficarei na metade do caminho.

O comerciante sorriu, desconsiderando o fato de ter um mendigo à sua frente.

— Mas é claro! Qual o seu nome?

— Nino. Nino Flaminco.