As Sete Ameaças

Parte II: O Reencontro – A visão do inferno.


Um riso histérico rasgou a floresta. Nina tinha certeza que estava ficando maluca. Além da constante sensação de que estava sendo observada, ela sentia uma solidão gigantesca que a fez começar a falar sozinha.

— E quando você os ver, o que vai fazer? Ora, mas é claro que vou rir, parece a única coisa que sei fazer ultimamente – e completou com outra risada.

Eles acreditariam que era ela, não é mesmo? Estava mudada, mas continuava com seu rosto relativamente feminino e ameaça influenciadora. Talvez tivesse exagerado um pouco no disfarce, mas não se arrependia. Em especial por que era bem provável que Luna não quisesse se envolver com ela se não fosse Nino por um tempo. Contudo agora não era mais um homem, era uma mulher e Luna sabia disso.

Caminhou por um longo tempo, talvez horas a fio, com a companhia apenas de si mesma. Até ouvir o burburinho de conversas ao longe.

Moveu-se com cautela entre as árvores até ver a vila.

Era horrível. Tinham fogueiras soltando fumaça preta por todos os lugares, soldados de diversos uniformes e pessoas cabisbaixas passando por eles. Os guerreiros gargalhavam e passavam as mãos pelas mulheres, enquanto elas não faziam nada a não ser trincar os dentes.

Nina odiou isso. Sentiu vontade de sair de seu esconderijo e gritar, ordenar que todos fossem embora. Estava mesmo pronta para fazer isso, se uma mão não a tivesse segurado firme.

— Não faça isso – disse Luca – Você será pega.

Ela virou-se e viu toda a família ali, com carroça e tudo, olhando-a com algo que beirava admiração. Luna era a que mais sorria, não parecia em nada o zangado que Nina esperava que ela estivesse.

— O que fazem aqui?

— Depois que usou sua ameaça, nós entendemos quem você é – falou Antonella com o sorriso intacto – Nina Flamingo, uma dos Sete. Nós a admiramos.

Nina olhou para cada um dos três e teve que se segurar para não rir.

— Saiam daqui e me deixem cuidar da minha vila.

— De jeito nenhum. Nós somos agentes infiltrados do Exército de Libertação e vamos ajuda-la.

Nina travou. Dessa vez quem ficou boquiaberta era ela.

— Como?

— Nós não somos uma família de verdade – disse Luna com os olhinhos verdes brilhando – Somos agentes infiltrados. Nós fazemos esse caminho constantemente para levar informações para as bases secretas do Exército de Libertação.

— Então seu nome não é Luna?

— Não – falou ela – Sou Giovanna Panelli. Especialista em disfarces.

— Enzo Luzias.

— Pietra Grazzi, líder do combio de espiãos.

— E você não tem nenhum cargo? – perguntou Nina a Enzo.

— Sou apenas um soldado iniciante na arte da espionagem.

Nina não parava de pensar o quão lógico aquilo podia ser. Os Vanolli vendiam seus produtos à nobres, e apenas aos mais ricos e de lugares distantes. Não fazia o menor sentido se seus motivos não fossem conhecidos.

Ela sorriu.

— E o que vocês sugerem que façamos?

— Precisamos levar você para a sede do Exército de Libertação.

— Não – diante de seus rostos perplexos, Nina repetiu – não.

— Por que? Você ficará segura lá!

— Meus amigos vêm para cá, eu tenho certeza disso.

— Mas a vila está lotada de soldados – argumentou Giovanna – Acha mesmo que eles irão arriscar?

— Não, mas sei onde eles irão.

Nina olhou instintivamente para o Vale das Pedras e sorriu.

— Venham.