A garota corria entre as árvores, enquanto seus pulmões queimavam pelo ar rarefeito que respirava, ela tentava salvar a única coisa que lhe importava naquele momento, sua vida.

A flecha passou rasgando a manga longa de seu vestido, fazendo um corte raso em seu braço esquerdo. Ela olhou rapidamente para trás, enquanto continuava a correr. Voltou sua atenção as pedras e galhos no caminho, para não cair e dar chance a seus inimigos, e foi dessa forma que ela percebeu que o seu fim estava próximo, porque logo à frente havia um penhasco, sem dar tempo de pensar, ela fez uma curva brusca, batendo o ombro na árvore e deslocando-o. Seus inimigos cavalgavam em direção a ela, estava muito mais perto agora, já que a mudança na direção, havia encurtado a distância.

Sua cabeça latejava com o corte que já havia ali, da primeira tentativa de assassinato que sofrera naquela tarde, e agora, seu ombro doía mais que sua alma despedaçada. Os quatro que cavalgavam em sua direção soltaram mais flechas, dessa vez acertando uma em sua perna, mais uma dor adicionada a sua lista, mas não havia tempo para senti-la, a fronteira se aproximava e talvez aquela fosse a sua salvação. Logo à frente havia guardas a postos. Eles viram a movimentação, mas não podiam fazer nada, aquele ainda não era o território deles e não podiam atacar sem autorização ou se intrometer nos assuntos alheios.

— Ela vai escapar – gritou um dos homens.

— Não vai não – o de cabelos pretos puxou a guia do cavalo, fazendo-o parar bruscamente, mas não o bastante para derruba-lo. Ele preparou uma flecha, mirrou e atirou.

O corpo dela caiu ao chão, rodando entre os galhos, folhas secas e terra. A flecha estava cravada nas suas costas, e não havia mais forças em si que pudessem fazê-la se levantar e correr. E mesmo que a àquela altura, já estivesse no outro lado da fronteira, já não era mais capaz de sentir, ou ouvir nada, aquele era o seu fim, aquele era o momento, em que havia descoberto a pior das ganâncias, vinda daquelas que juraram lhe proteger.

Os quatro homens deram meia volta e saíram dali, não precisavam de uma prova para afirmarem que ela estava morta. Por isso, retornaram ao castelo, onde as quatro mulheres os esperavam, ansiosas pelo resultado. E foi com sorrisos satisfeitos que eles foram recebidos. Agraciados com ouro, banquete, bebida e mulher, era suas recompensas por terem concluído a missão que elas tanto almejavam.

— Minha senhora – o moreno entre eles chamou, enquanto mantinha sua cabeça baixa, o joelho apoiado no chão e a espada lhe sustentando – o que acontecerá se o reino de Euphoria decidir trazer o corpo dela?

— Bem, nada demais, afinal, eles nem sabem quem ela é – a mulher de cabelos loiros dourados, respondeu vagamente, ela não estava tão interessada assim no que aconteceria depois.

— Agora vão – a castanha fala expulsando-os – daremos início a cerimônia de posse das cidadelas, mamãe irá embora logo após.

— Jennie, não seja tola, ela não se importa – a morena resmunga impaciente, enquanto cruza seus braços – tudo que ela se interessa são os seus malditos maridos, até achava sua filha ridícula melhor do que nós.

— Jisoo – a loira ri com escárnio – não fale mal da falecida.

— Ops, esqueci que agora devemos nos referir a ela como cadáver – Jisoo ri cheia de si.

Elas definitivamente estavam se divertindo com aquilo, e mesmo que se odiassem, naquele momento elas se uniram, não pelas cidadelas ou pelas vontade da Rainha em treinar a melhor Rainha para o Trono de Diamante, mas sim para cometer a pior das blasfêmias, o assassinato.

A cerimônia de posse das cidadelas aconteceu naquele dia, e a Rainha mal notou que havia uma delas faltando, afinal, a mulher estava ocupada demais encolhendo o seu próximo marido. Suas filhas não haviam mentido, Jihye sempre estava em busca do próximo homem que iria arruinar.

Todos os reinos vizinhos foram convidados, e com isso, havia muitas pessoas da realeza, até mesmo os príncipes e princesas que seriam os próximos na sua linha de sucessão.

— Irmãos Kim – a Rainha Jihye cumprimentou os dois homens, que interromperam a conversa que estava tendo com alguns regentes, para se curvar e deixar um beijo casto na mão da mulher, em sinal de respeito, apenas.

— Que prazer estar na sua presença vossa majestade – o mais velho fala sorrindo cordialmente, ele não era muito fã da Rainha do Reino de Lilases, mas ainda mantinha a postura.

— O prazer teremos no meu quarto Rei Kim, quando iremos marcar a data do nosso casamento? – ela pergunta atrevida, era sempre assim, toda vez que o via, a mulher tinha uma cantada nova para lançar a ele.

Jihye não era uma mulher feia, e nem velha, na verdade era muito bonita, tanto quanto suas filhas, e tinha uma aparência jovial, estando com seus 47 anos, ela não se cansava de casar com Príncipes ou Reis mais novos, foi dessa forma que teve suas cinco filhas.

O Rei Kim apenas sorriu sem graça, ainda não havia se acostumado com as cantadas daquela mulher.

— Não vi sua quinta filha na cerimônia – o outro Kim, o mais alto, fala, mudando o foco da conversa e salvando mais uma vez seu irmão de um constrangimento.

— Ela deve estar sendo distraída por aí, como sempre – Jihye revira os olhos olhando ao redor – ela bem que poderia ser um pouco mais atenta, ah, olhe ali o Marquês Jeon e o Barão Kim – ela aponta e já ia saindo atrás dos outros dois, se esquecendo dos irmãos que apenas respiraram finalmente por estarem livres dela.

Eles dois se entreolham e suspiram. A Rainha passa por Chaeyoung e arrasta-a aos protestos até os dois que havia citado anteriormente.

— Boa noite, Marquês Jeon e Barão Kim – cumprimenta a Rainha, logo tendo a atenção dos dois sobre si – já conhecem minha filha, sim?

Os dois sorriem e se curvam perante sua presença.

— Olá Rainha Chaeyoung – o Kim fala, recebendo um sorriso da loira, que parecia encantada por ele.

— Parabéns pela posse, tenho certeza de que a cidadela de Venom está em boas mãos – o Jeon elogia – é uma pena que não tenhamos conhecido a Rainha da cidadela de Astros, não é Namjoon?

— Justamente Jungkook, estava agora a pouco comentando com o Príncipe Park – o Kim fala e sorri para as duas, mas apenas uma delas parecia ter engolido algo azedo.

— Minha irmã sempre foi irresponsável assim mesmo, nem aparece no dia da própria coroação – Chaeyoung fala, disfarçando seu humor ácido – de qualquer forma, quando uma de nós formos escolhida para comandar Lilases, faremos boas parcerias.

— Tenho certeza de que Euphoria irá adorar – Jeon fala com os olhos semicerrados – inclusive, temos que conversar Rainha Lee, sobre uma camponesa morta nas nossas terras.

Chaeyoung engole em seco, completamente apavorada. Mas nenhum deles percebeu sua inquietação, e isso foi devido à presença da Imperatriz do reino vizinho a Lilases, no extremo sul, diferente de Euphoria que estava no extremo oeste.

— Boa noite senhoras e senhores – fala a mulher de cabelos castanhos avermelhados – parabéns Chaeyoung, foi uma linda posse – havia sarcasmo na sua voz, mas passou despercebido pela loira, que estava ocupada demais controlando suas reações diante dos presentes.

Ela havia tido estomago para mandar matar sua irmã, mas agora que estava diante das consequências geradas por causa daquilo, talvez não tivesse tanto sangue frio assim.

— Obrigada Imperatriz D’Ângelo – Chaeyoung se curva brevemente, enquanto mantinha o contato visual com a outra, qualquer um conseguia perceber o quanto a castanha a afetava, afinal, Safira D’Ângelo tinha uma aura poderosa.

— Safi, onde está o Min? – Jeon pergunta casualmente, recebendo a atenção da mulher e mudando o rumo daquele clima.

— Onde mais ele estaria? – ela debocha e juntos os três, contando com o Kim, olham na direção da mesa de doces, onde o Imperador Min se esgueirava por ali, junto ao Príncipe Park.

Eles cochichavam entre si, enquanto pegavam alguns docinhos para provar e riam. Os três apenas negam com a cabeça e juntos, pedem licença para deixar a Rainha Lee e a Rainha Park.

As duas pareciam confusas com a cena que havia se estendido diante delas, mas não fizeram questão de retrucar.

— Onde está sua irmã? – Jihye pergunta para Chaeyoung, mesmo ela tendo dito que não sabia, minutos atrás.

— Já disse que não sei mamãe, ela sempre foi a mais distraída de nós, nunca ligou para os deveres de uma Rainha, porque ela estaria aqui? – Chaeyoung cruza os braços irritada, e sua mãe apenas revira os olhos e a deixa ali.

Com o olhar direcionado a suas três irmãs, elas entenderam de que haviam convencido a Rainha e de quebra, se livrado daquela que elas chamavam de peso morto.