Era todo o dia a mesma monotonia. Faculdade, trabalho e casa, os dias de folga aproveitava para estudar, raramente saia.

Tenho 24 anos e aos olhos de muita gente estou-me a tornar numa velha que não sabe aproveitar a vida. Às vezes penso que tanto esforço não vai dar em nada, com a crise que anda, quando me formar não vou ter emprego na minha área e vou continuar para sempre com o meu part-time no bar do Tico, a coisa boa? O dinheiro chega para pagar as minhas despesas e só às vezes para por um pouco de parte, o que não era a situação deste mês.

À noite - “Bar do Tico”

Mais uma noite no bar, pedi ao patrão para afixar no placar de classificados que estava a procura de alguém para dividir casa, é lógico que toda gente olhava mas ninguém questionava. A Clara minha melhor amiga e colega de trabalho, ainda me convidou a ir viver com ela e com o namorado, o Tiago, mas não era necessariamente a minha cena fazer de vela.

- Maggie, já encontraste alguém? – Perguntou-me enquanto eu reparava se alguém mostrava interessado no anúncio.

- Ainda não! Se isto continuar assim, tenho que me virar de outra maneira.

- Como assim? Já estendeste o teu turno aqui, andas feita louca de um lado para o outro, nas folgas ficas fechada em casa a estudar, não sei como aguentas, nem te divertes. Temos que combinar uma jantarada!

- Antes de jantares e diversão tenho que arranjar maneira do dinheiro esticar, se não arranjar alguém!

- A minha casa está aberta para ti e o Tiago também já te disse o mesmo.

- Clara, já expliquei as razões! – Disse-lhe pela milionésima vez. - Vamos mas é despachar esta malta toda!

No bar à noite juntava-se o pessoal todo, o Tico, nosso patrão era impecável, por isso o ambiente era muito bom. Ele agora andava de namorico raramente aparecia a noite por isso confiava-nos a mim e a Clara a gerência nocturna da casa, a nós e ao porteiro que assegurava que ninguém se portava mal.

Os dias iam passando e com isso mais um mês de contas apertadas, não queria nada mexer nas poupanças. O bom, estávamos cheias de trabalho o que me fez esquecer um bocadinho a crise que ia a minha vida e foi naquele momento de entretenimento que apareceu um rapaz, sentou-se ao balcão, só simples facto dele ter sorrido para nós fez o tempo parar, tanto eu como a Clara paramos o que estávamos a fazer para o observar melhor, o que foi a maior cana que alguma vez demos.

- Desculpem, vi ali aquele anuncio, diz para nos informar mos aqui! Estou mesmo interessado, com quem devo falar?

- Sim. Sim! É comigo! Olha será que podes aguardar um pouco? É Que estou mesmo com muito trabalho! – Ele olhou para mim desanimado, o que me fez ficar muito triste.

- Ah, claro! – Mandou um sorriso fraco.

Ele afastou-se, pronto lá se foi a hipótese de conseguir alguém.

- Não te preocupes – Disse-me a Clara – Se não for hoje, amanhã aparece alguém de certeza!

- Tudo me corre mal! – Lá tive que mostrar uma boa cara, para os clientes que apareciam, mesmo contra minha vontade.

Estava cansada e tinha perdido a oportunidade de alugar a casa a alguém por causa do trabalho, só queria tomar um bom banho e deitar-me.

-Estou estafada – Afirmou a Clara enquanto arrumávamos as últimas coisas em cima do balcão antes de fechar. – Tudo limpo, vai buscar as tuas coisas vamos embora!

-Finalmente! – Vesti o meu casaco agarrei na minha mala. – Zé pode apagar as luzes!

- Duas da manha meninas. Toca a ir embora!

- Tamos a ir! – Respondeu a Clara – Queres boleia?

- Claro! – Saímos para a rua, estava um frio daqueles de bater o dente.

Íamos em direcção do carro da Clara, quando ouvimos alguém a chamar.

- Menina do bar! Espera! - Era ele, julguei que tivesse desistido da ideia.

- Hum… Olá! - Disse-lhe, não sabendo ao certo o que dizer.

- Fiquei a espera que o bar fechasse para falar contigo!

- Ah… Sim! Quando queres que te mostre a casa? – Perguntei-lhe.

- Agora… Dá jeito?

- Pois! – Eram duas da manha…Ninguém vai mostrar casas a esta hora.

- Claro que dá! Vamos eu levo os lá!

Fiquei calada, a Clara tomou as rédeas da situação toda, fez lhe uma visita guiada até a minha casa dando a volta pela cidade toda desnecessariamente, mal o conhecíamos, mas por aquilo que mostrou parecia ser uma boa pessoa.

Abri a porta de casa, desde que ficara sem a minha companheira, a casa estava mais limpa e arrumada, mostrei-lhe tudo expliquei-lhe como tudo funcionava e ele adorou.

Ficou de vir amanhã logo de manhã trazer as coisas dele, e deu-me logo um adiantamento para não alugar a mais ninguém, era de madrugada, não ia aparecer ninguém para querer isto a estas horas, acabei por aceitar.

Diogo. O nome dele, o salvador do momento como lhe preferi chamar e tinha muito por lhe agradecer, mas agora havia outra coisa que me chamava intensamente, a minha cama.