Mais uma noite observando as pessoas pela janela de minha cobertura, a chuva embaçando o vidro, pessoas parecendo bonecos de tão pequenos correndo de um lado para o outro. Olho no meu relógio Hublot, cinco horas da tarde, já vai anoitecer. O sol já começava a se por. Sirvo-me de uma dose de conhaque trinta anos. A bebida desce quente pela garganta, solto um suspiro. Tenho que voltar ao trabalho. Coloco o copo em cima da mesa e sigo até uma sala ao lado.

Um homem estava amarrado a uma cadeira, seu rosto partido e sangrando, as roupas rasgadas, ele irá desmaiar a qualquer momento.

—Me traz uma cadeira! - Estalo os dedos e o anel de safira reflete a luz da lâmpada amarela. Um homem forte e careca com traços latinos me entrega uma de aço e coloco na frente do ensanguentado com as costas da cadeira virada para ele.

Sento, pego um cigarro dentro do terno e acendo. Olho para o homem, ele choramingava.

—Então... - Expiro a fumaça em seu rosto. - Agora entendeu o que fazemos com que não segura a língua?

—Sim... sim... - O homem engasga com o próprio sangue e tosse sujando meu terno. - Desculpa Senhor Vivale.

—Filho de uma puta... Sabe quanto isso custou? - Meu cigarro cai no chão quando levo as mãos rapidamente para a mancha tocando levemente com o dedo. - Puta que pariu. - . Tiro o terno e jogo em um canto. Olho no relógio. - Seu tempo acabou!

Levanto da cadeira. O homem entra em desespero ao ver as mudanças acontecendo. Meus olhos de castanho escuro passam para amarelos, as pupilas se tornam fendas verticais, presas brancas e finas como de uma serpente crescendo no lugar de meus caninos, a língua bifurcada, as unhas como garras.

—Paolo. - Aceno com a mão para que se aproxime. - Você não vai querer ver isso. Dispensado. Aproveite e veja quando chega a nova carga.

—Sim Senhor Vivale. - Paolo acena com a cabeça e sai da sala fechando a porta.

—Então... - Jogo minha cadeira pro lado e me aproximo do homem, ele se encolhe quando o som metálico do impacto com o chão ecoa na sala. - Por quanto você me entregou? - Começo a subir as mangas da camisa.

O homem estava em choque. Ele encarava a parede em pânico. Tiro meu relógio e coloco na mesa.

—Odeio isso. Essa paralisia me irrita. - Suspiro e paro ao seu lado. - Bom... então adeus.

Mordo sua jugular, o sangue quente espirrando para dentro de minha boca. O homem se contorce na cadeira mas não grita, o veneno de minhas presas desativam alguns processos de seu cérebros, algumas funções básicas, como gritar por exemplo. Em alguns poucos segundos sua cabeça tomba sobre o peito.

—Ainda bem que não usei camisa branca hoje. - Limpo a boca com as costas da mão, pego meu relógio e meu terno e saio da sala.

Paolo estava do lado de fora da porta. Ele era meu guarda costas pessoal, me seguia a todo lugar, o único que sabe de meu segredo. O segredo de que sou um vampiro. Muitos acreditam que isso é coisa de ficção, mas não. Existem muitos mitos, mas existimos. Sou um vampiro Caimita. Mas não apenas um comum, sou o patriarca da família Caimita.

—Paolo. - Entrego meu terno a ele. - Depois manda para a lavanderia. Não quero perder uma peça tão bonita. E a carga? - Me sirvo com outra dose de conhaque.

—Está para chegar em duas horas Senhor Vivale. - Paolo sempre fala formalmente.

—Certo! - Termino a bebida e passo as mãos no cabelo ajeitando. Sinto o cheiro de algumas pessoas do lado de fora. - Os homens do Russo chegaram. Entregue duzentos mil dólares a eles e cheque tudo. Vou tomar um banho.

—Certo Senhor Vivale. - Paolo segue até a porta e eu até o banheiro.

Tiro minhas roupas e me olho no espelho. Minha pele escura, meus cabelos ondulados. A transformação não muda isso. Entro no chuveiro e tomo um banho quente. A água limpando todo o sangue de meu corpo. Eu conseguia ouvir a conversa como se estivessem ali dentro comigo.

—Duas pistolas calibre 40 sem registro, uma Ar15 e uma caixa de munições. - O homem tinha um sotaque russo. - Onde está a grana?

Ouço Paolo abrindo a maleta e mostrando o dinheiro. O coração dos homens acelera um pouco.

—Duzentos mil ai, em notas de cinquenta. - Dessa vez era Paolo falando. - Podem contar se quiseram.

Os homens mexem no dinheiro, confirmam o valor e saem dali. Saio do banheiro de toalha.

—Aqui está Senhor Vivale. - Paolo fecha a porta e mostra as armas.

—Excelente. - Sigo até o closet. - Vamos atrás da carga agora.