Os flocos de neve caíam lentamente, mas preenchiam o chão rapidamente. Isso, de certo modo, era bom, pois ocultava o barulho quase imperceptível que os cascos do cavalo produziam.

O cavaleiro virou a curva e então pode ver o castelo, o castelo era feito com pedras negras e fortes, por isso, se destacava na paisagem branca do norte.

— Estamos em casa – murmurou o cavaleiro para seu cavalo, a resposta foi um relinchar baixo vindo do animal.

O cavaleiro então tirou o capuz que ocultava seu rosto e o protegia dos flocos de neve, que agora preenchiam os cabelos desgrenhados do homem. Ele então se aproximou da ponte levadiça do castelo, que obviamente estava erguida, afinal era muito difícil alguém deixar ou entrar no castelo com aquele clima implacável.

— Baixem a ponte – ordenou um dos sentinelas, que parecia ser o líder daquele turno.

Rapidamente o guarda que estava no pátio do castelo girou a manivela, e lentamente a ponte de madeira foi descendo, até ficar aos pés do cavalo. Com um leve toque de calcanhar no ventre do animal, o cavaleiro impeliu sua montaria para frente, andando calmamente pela ponte.

— Como foi de viagem, Halt? – perguntou o sentinela líder, quase gritando de cima do muro.

Halt não respondeu, apenas fez um gesto positivo com as mãos e lançou um olhar para o sentinela, o soldado rapidamente entendeu que Halt não tinha tempo para conversas.

Halt conduziu seu cavalo Abelard pelo pátio na direção dos estábulos. Lá, desmontou e soltou a barrigueira do animal, retirando a sela logo em seguida, Abelard ficou imóvel enquanto Halt retirava suas coisas de cima do animal, afinal Abelard era um cavalo de arqueiro, era treinado para isso.

Halt obviamente era um arqueiro, e considerado um dos melhores da Ordem dos Arqueiros. Halt era baixo, tinha olhos castanhos e cabelos cinzentos desgrenhados, sua barba estava por fazer e a mesma apresentava fios brancos.

Arqueiros eram por natureza pessoas misteriosas. Envoltos em suas capas manchadas, eles pareciam se fundir a natureza e ficarem invisíveis, também sabiam caminhar sem produzir qualquer ruído, tinham olhos treinados e atentos. Suas armas eram o arco e as flechas, uma faca de caça e uma faca menor, que servia para ser atirada. Eles eram a autoridade no rei no Reino do Norte.

O arco longo ainda estava no ombro de Halt, e sua aljava cheia de flechas em suas costas.

— Quer que cuide dele para você? – perguntou uma voz ás suas costas, Halt o tinha ouvido chegar a um minuto atrás, mas não havia dado atenção.

— Claro – respondeu o arqueiro, se virando e vendo que se tratava de um jovem cavalariço – mas não lhe de muita comida, talvez eu precise dele pronto logo.

— Ta – respondeu o garoto, pegando um balde e indo para o poço de água que se encontrava ao lado dos estábulos.

Halt deu um tapinha nas costas de Abelard e saiu dos estábulos, indo em direção a torre em que se encontrava o rei.

...

— Sua torre poderia ser mais perto dos estábulos – resmungou Halt para o Rei Dave Sawer, que tinha um sorriso no rosto.

— Talvez você devesse parar de resmungar e caminhar mais rápido – sugeriu o rei, ele e Halt eram bons amigos e aquela conversa era sem qualquer tipo de maldade.

— Sei – disse apenas Halt, escondendo um sorriso nas sombras de seu capaz.

Os dois estavam na sala de reuniões do rei, que ficava na torre principal do castelo Invernade, castelo ancestral sede da grande casa Sawer, governantes do norte.

Juntamente com eles estavam Crowley, comandante da Ordem dos Arqueiros, Sir Hiller, comandante dos exércitos do norte e Lady Pauline, a responsável pelo Serviço Diplomático, ela comandava os mensageiros do rei.

— O que tem para nós Halt? – perguntou o rei Dave sem rodeios.

— Parece que Richard Hallen está cauteloso, ele pode ser um pouco louco, mas não parece ser idiota – respondeu o arqueiro, Richard Hallen era o recém nomeado Rei do Sul, ele parecia estar se movimentado para uma guerra – Ele ainda não convocou os vassalos, mas está enviando cada vez mais homens para as fronteiras, logo, acredito que um pequeno exército irá se formar.

— Um pequeno exército? – perguntou Crowley, um pouco confuso com a resposta de seu comandado.

— Sim – respondeu Halt, analisando o mapa de Voltare que estava estendido sobre a mesa – na minha sincera opinião, será mais como um grupo de reconhecimento, talvez em torno de duzentos homens, eles saquearão vilas e atacarão castelos de casas pequenas, e depois, vão se reunir com a força principal.

— Faz sentido – refletiu Hiller.

— Mas tem uma outra coisa que vem me preocupando – disse o arqueiro, afagando a barba com a mão direita – Wolkan parece estar planejando algo.

Todos na sala rapidamente encararam o arqueiro. Wolkan era um antigo lorde do sul que havia se rebelado e tentado dar um golpe para derrubar a casa Hallen, governante do sul, do poder. Aquilo havia acontecido à quinze anos atrás, por sorte, um certo arqueiro do norte havia conseguido descobrir os planos de Wolkan a tempo e avisado o rei do sul.

Como conseqüência, Wolkan perdeu tudo o que tinha, seu castelo, seu sobrenome, sua família, perdeu literalmente tudo. Foi condenado a morte por enforcamento também, mas conseguiu escapar a tempo, a última vez que fora visto foi entrando na floresta Fangorn, conhecida por ser lar dos Murkros.

Murkros são uma antiga raça de urso-lobo, criaturas que vivem na floresta de Fangorn. Halt descobriu boatos que Wolkan as tinha escravizado e as transformado em seus servos.

— Murkros foram vistos andando por nossas terras á noite – informou Halt, ele havia conseguido aquelas informações com camponeses – seu objetivo ninguém sabe, mas é a primeira vez que são vistos fora de Fangorn.

— Certamente é Wolkan – disse Hiller, não tendo sombra de dúvida.

— Meu rei – disse Halt, todo o clima animado que havia antes havia desaparecido, a voz do arqueiro era dura e séria, o capuz escondia seu rosto, apenas sua boca era visível – Esqueça esta guerra com Richard!

O rei Dave não havia entendido, ele achava que a guerra contra os sulistas era a principal preocupação.

— Quer que eu deixe Richard andar livremente pelas minhas terras? Queimando tudo o que vê? – perguntou o rei, o tom de voz era tranqüilo, mas as palavras eram rigorosas.

— Não disse isso – respondeu Halt de imediato – vigie nossas fronteiras, reforce elas se necessário, mas não convoque os vassalos ainda, espere ele dar o primeiro passo, finja que não sabe dos planos dele.

O rei refletiu, as palavras do arqueiro estavam carregadas de razão.

— O verdadeiro perigo não é Richard – disse sombriamente Halt, então ele rapidamente retirou uma flecha de sua aljava e a cravou no mapa, no ponto onde estava a floresta Fangorn, a flecha de haste negra ainda balançava pela força do impacto – Wolkan é o verdadeiro perigo, nossos arqueiros podem vigiar as ações de Richard, mas as de Wolkan não, ninguém que entrou naquela floresta retornou, portanto, não há como sabermos o que acontece lá, agora mesmo Wolkan pode estar marchando para cá com um exército de Murkros.

A idéia pareceu assombrar a todos ali presentes, tanto que Sir Hiller repouso instintivamente a mão sobre o cabo da espada.

— Não deixarei que Wolkan faça o que quiser – respondeu o rei, com dureza na voz.

— E o que pretende? – perguntou Lady Pauline, era a primeira vez que a mulher falava, sua voz era doce e agradável, ela era alta e elegante.

— Halt – chamou Dave, recebendo a atenção do arqueiro – você acredita que seu aprendiz esteja preparado para uma missão?

A pergunta pegou o arqueiro de surpresa, ele pensou que o rei enviaria um grupo armado de homens cercar e vigiar os arredores da floresta, mas essa idéia parecia longe do plano do rei. Halt não teve dúvida na resposta.

— Tenho total certeza que sim – respondeu Halt – ele totalmente preparado, confio nele.

— Muito bom – respondeu o rei, afagando seus cabelos negros, que já tinha alguns fios grisalhos – Você, ele e mais dois homens irão para os arredores da floresta, mais precisamente para a vila Dustang.

O rei retirou a pesada flecha da floresta e a cravou no pequeno amontoado de casas que representava a vila.

— Imagino que vamos vigiar a floresta? – opinou o arqueiro.

— Não – respondeu Dave balançando a cabeça – seria uma enorme perda de tempo, a missão de vocês será outra.

O rei olhou para Crowley, o comandante dos arqueiros se aproximou mais da mesa e olhou fixamente para Halt.

— Maron, o arqueiro do castelo Malleat, me enviou uma carta – começou Crowley, apontando para o castelo Malleat no mapa – ele conta que seguiu um grupo de dez Murkros que seguiam em direção a Mordor.

Os pelos da nuca de Halt se enrijecerem ao ouvir o nome. Mordor era uma terra selvagem, habitada pelo Gulans, selvagens que viviam em tribos.

— Imagino que estavam negociando um acordo – tentou adivinhar Halt.

— Não sabemos – respondeu Crowley, com uma certa frustração – eram dez e Maron estava sozinho, ele não se arriscou em tentar uma emboscada.

— Porque ele não comunicou Malleat? – perguntou Halt.

— Não teve tempo, aqueles Murkros paravam apenas por alguns minutos para descansar, a marcha deles é uma corrida uniforme – respondeu o comandante.

— Entendo – disse Halt.

— Acreditamos que os Murkros voltarão a Mordor, a negociação não parece ter acabado – disse Dave – e é aí que você entra, vocês irão interceptar eles e descobrir o que planejam com os Gulans.

— Não acredito que eles nos falarão de boa vontade – respondeu Halt, com certo sarcasmo na voz – a propósito, eles falam?

— Não falam – garantiu Lady Pauline – li isso em um antigo livro uma vez, Wolkan mantém um controle mental sobre eles, os ordenando a fazerem o que ele deseja, ele planta um objetivo na mente deles, e eles o executam sem pestanejar.

— Mas eles tinham uma carta quando Maron os viu – disse Crowley.

— Certamente escrita por Wolkan – completou Halt, entendo onde Dave queria chegar.

— Ótimo, você pareceu entender o objetivo desta missão – disse Dave.

— Quando devemos partir? – perguntou Halt.

—Amanhã bem cedo – disse o rei – ainda esta noite mandarei alguém até sua cabana para lhe informar o nome dos outros dois integrantes do grupo.

— Entendido, meu rei – Halt se curvou e Dave entendeu o pedido.

— Dispensado – disse o rei.

Halt se despediu dos outros com um aceno de cabeça e saiu da sala, estava louco para retornar para sua cabana logo, certamente seu aprendiz estaria treinando a essa hora.

Mal retornei e já estarei partindo novamente refletiu Halt, com um sorriso cansado no rosto.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.