15 anos depois

Pedro, Lúcia, Edmundo e Susana estavam governando Nárnia muito bem após a partida de Aslam. Eles haviam crescido e amadurecido muito. Durante esses 15 anos, Kalene não envelheceu absolutamente nada. A maldição ainda estava fazendo efeito nela. Edmundo ficou frustrado, pois quando ele finalmente tomou coragem para contar a Kalene que a amava (isso depois de anos da coroação, em que os dois já haviam conversado sobre tudo e contado seus segredos mais profundos um para o outro, ok?), ele já estava velho demais para ela. Só em aparência, mas mesmo assim, era estranho ver um adulto com uma garotinha que aparenta ter 11 anos.

Mesmo assim, Kalene não se importava com isso. Ela também amava Edmundo, pois ele foi o primeiro (e único) garoto que a fez sentir feliz e viva. Contudo, os dois sequer pensavam em casamento. E por muito tempo não iriam nem lembrar disso.

Kalene também sentia saudades de Aslam. Desde que ele se foi, a garota nunca mais ouviu falar dele. A única lembrança que tinha de Aslam era o seu amuleto protetor que tinha o pingente no formato do rosto dele. Ela achava aquilo apenas uma joia normal, pois nunca havia precisado realmente da proteção do amuleto.

Em uma manhã, os Pevensies saíram para caçar alguns animais. Ed pensou que se ele capturasse um animal sozinho, poderia fazer uma surpresa para Kalene, que havia ficado no castelo. Por isso, quando os quatro pegaram seus cavalos, Ed foi o primeiro a sair em disparada, rumo à floresta, seguido de Lúcia, Pedro e Susana.

Mas, para sua surpresa, aos poucos, seus irmãos o ultrapassaram enquanto seguiam um pequeno alce. Até que Phillip, o cavalo de Edmundo, parasse definitivamente.

–Está bem, Phillip? - Perguntou Edmundo.

–Não sou tão jovem quanto já fui. - Respondeu Phillip.

Lúcia, Susana e Pedro voltaram para ver o que tinha acontecido com Edmundo.

–Vem, Ed! - Chamou Susana.

–Estou recuperando fôlego. - Respondeu Edmundo.

–É isso ou está com passarinhos verdes na cabeça? - Ironizou Susana.

–Pois é. O que foi que ele disse mesmo, Susana? - Perguntou Lúcia.

–"Meninas, esperem no castelo que eu tenho que impressionar a Lennie pegando o alce sozinho!" - Respondeu Susana, imitando a voz do irmão.

–Falando nisso, deviam ter chamado ela pra vir conosco, só pra ver a derrota do Edmundo. - Falou Pedro, tirando sarro, fazendo Lúcia e Susana rirem.

De repente, todos pararam de rir e Pedro notou uma luz em um poste. A luz era do lampião, que ficava não muito longe do Guarda-Roupa, por onde eles vieram do mundo deles. O lampião também tinha sido a primeira coisa que Lúcia viu quando chegou em Nárnia pela primeira vez.

–O que é isso? - Perguntou Pedro, descendo do cavalo. - Parece familiar.

Susana, Edmundo e Lúcia também desceram dos cavalos e se aproximaram.

–É como um sonho. Ou o sonho de um sonho. - Disse Lúcia, que estava começando a se lembrar. - Sala vazia...

Lúcia começou a correr, esperando se lembrar de onde vieram.

–Lúcia! - Chamou Pedro.

–De novo não! - Exclamou Susana.

–Venham! - Chamou Lúcia, que era seguida pelos irmãos.

Logo, eles se viram dentro de um Guarda-Roupa apertado , recheado de casacos peludos. O espaço era tão apertado que eles começaram a pisar um no pé do outro repetidas vezes até abriram a porta e despencarem no chão. Só que assim que saíram do Guarda-Roupa, se viram crianças novamente. Estavam se recuperando do susto, quando o Prof. Kirke, o senhor que havia abrigado as crianças durante o período da guerra, entrou na sala segurando uma bola de beisebol e encontrou as crianças no chão, com o Guarda-Roupa aberto.

–Ah! Estão aí. O que estavam fazendo no Guarda-Roupa? - Perguntou o Prof. Kirke.

–Se nós contássemos, não ia acreditar, senhor. - Respondeu Pedro.

–Experimente. - Sussurrou o Prof. Kirke.

Naquela noite, Edmundo e Lúcia não conseguiam dormir e decidiram voltar ao Guarda-Roupa para ver se conseguiam voltar para Nárnia. Chegando lá, encontraram o Prof. Kirke na janela, fumando.

–Acho que não vão voltar lá. Sabem, eu já tentei. - Disse o Prof. Kirke.

–Voltaremos algum dia? - Perguntou Lúcia.

–Espero que sim. - Respondeu o Prof. Kirke, fechando o Guarda-Roupa. - Mas tem que ser quando vocês menos esperarem.

–Também espero. - Disse Edmundo. - Será que vou vê-la outra vez?

–Se voltarmos você vai, sim. - Disse Lúcia.

–Mas ver quem? - Perguntou o Prof. Kirke

Lúcia e Edmundo se entreolharam e responderam ao Prof. Kirke.

–Longa história. - Responderam Lúcia e Edmundo ao mesmo tempo.

Os três, então, saíram da sala vazia e voltaram para seus quartos.

*~*

Em Nárnia, Kalene sentiu a falta dos Pevensies que tinham saído pra caçar havia muito tempo. Ela pegou seu cavalo e saiu do castelo à procura deles, mesmo com vários criados lhe dizendo que eles poderiam já estar voltando. Cavalgou durante horas, por praticamente toda Nárnia, até que chegou no lampião e encontrou os cavalos ali, abandonados. Ela pensou que eles poderiam estar por perto, mas depois de um tempão procurando, desistiu. Kalene, por precaução, pegou todos os cavalos e retornou a Cair Paravel, esperando que eles já poderiam estar lá.

–Princesa Kalene, você está bem? Por onde andou todo esse tempo?! - Perguntou um criado.

–Eles desapareceram. Os reis e rainhas sumiram! Eu procurei por toda Nárnia, mas não os encontrei. - Disse Kalene.

–Será que não foram capturados, alteza? - Perguntou o criado.

– Não. Não foram capturados, pois não há mal em Nárnia já faz 15 anos. E PELA ÚLTIMA VEZ, NÃO ME CHAME DE ALTEZA!!! - Respondeu Kalene. Todos sabiam que ela detestava ser chamada de "alteza", mas mesmo assim, chamavam as vezes.

O criado se assustou e saiu correndo. Kalene não era má, ou abusiva, nem algo do tipo. Pelo contrário, ela era uma das pessoas mais simpáticas de Nárnia. Mas essa simpatia se transformava em raiva quando se referiam a ela como "Alteza".

Depois de alguns dias realizando buscas na área toda, não acharam os Pevensies (que agora, estavam no mundo deles). Então, os narnianos decidiram dar a Kalene o título de líder de Nárnia, até a volta dos reis. Ela não era rainha, pois Aslam em pessoa disse a ela que era ele quem iria coroar Kalene como rainha, mas no tempo certo. Mesmo com a maldição da Feiticeira, Kalene não seria impedida de se tornar Rainha de Nárnia, um dia.

Kalene não sabia que iria ter que governar Nárnia por mais 1.300 anos, testemunhando a morte de vários amigos queridos, até a volta dos Pevensies e de Aslam, defendendo o povo narniano de todos os ataques de todos os povos que não faziam parte de Nárnia: calormanos, arquelandeses e o pior de todos, os telmarinos. Foram os telmarinos, liderados pelo rei Caspian I, que massacraram metade do povo narniano e tomaram Nárnia de uma vez por todas. Eles eram muito fortes e poderosos para Kalene sozinha. Todos foram obrigados a assistir a destruição de Cair Paravel.

Depois de uma grande parte do povo narniano ter sido morto, os sobreviventes decidiram proteger Kalene, colocando a garota para dormir por muito tempo, num lugar sagrado para seu povo, um lugar que os telmarinos nunca teriam coragem para chegar perto. Eles construíram uma fortaleza em volta da Mesa de Pedra e lá, colocaram toda a sabedoria de seu povo, junto com a Princesa, em um leito feito na própria mesa.

O que eles não sabiam é que, colocando ela pra dormir, iria atrasar ainda mais seu crescimento (ou seja, ela pode dormir por 600 anos, mas só vai envelhecer 2 em aparência. Quanto mais ela envelhece, mais tempo demora para envelhecer outra vez). Colocaram-na para dormir quando ela aparentava ter 14 anos, 700 anos depois da partida dos Pevensies. Só iria acordar novamente, meses antes do retorno dos antigos reis e de seu pai, Aslam.

Enquanto dormia, ela sonhava. Sonhava quase o tempo todo com Aslam ou com Edmundo. Ela sentia muita falta dos dois. Mas tudo tinha seu tempo, assim como ela ser coroada rainha e o retorno deles. Ainda havia muito tempo antes de todos eles voltarem a Nárnia.

Continua