Chegamos à sala de aula e nos pusemos em nossos devidos lugares, como já é de costume, Yui sentou ao meu lado e os rapazes logo atrás de nós. A aula começou e o silencio dominou o lugar, deixando apenas a voz da professora dominar o local.

- Bom dia! Ponham-se em seus lugares e depois vamos iniciar a aula – murmurou – O assunto de hoje será sobre Os Renegados e o lorde Balished.

Aquele tema chamou a minha atenção.

Sim, é a minha chance de descobrir algo sobre eles, posso conseguir alguma pista que possa me ajudar a desvendar parte desta incógnita, mesmo que a informação não seja tão útil, toda a ajuda será muito bem vinda.

Me coloquei em uma posição confortável e dediquei meus ouvidos e atenção para a senhorita Viluy.

- A história dos Renegados e de Balished começou a milhões de anos atrás, ainda no inicio da existência do nosso mundo. Balished, o Deus Shinse, era uma Divindade, o segundo mais poderoso do Sétimo Céu, atrás apenas do seu irmão, o Deus da Luz, Raito, mas Balished sempre foi muito ambicioso e desejava ter mais prestigio que o seu irmão mais novo, então, ele preparou um golpe para tirar Raito do poder, mas antes que Balished pudesse destronar seu irmão os sacerdotes do Deus da Luz descobriram o plano do irmão mais velho e o entregaram para Raito. Sabendo da traição do seu irmão, Raito o renegou e o baniu do Sétimo Céu. Então, revoltado com a decisão do seu irmão casula, Balished atacou Edryn com todo o seu poder e destruiu metade do reino, tornando-o o que é hoje. Decepcionado com o seu irmão mais velho, Raito aprisionou Balished em uma segunda dimensão separada de Edryn, o submundo, conhecida como Morai e dividida em Sete Infernos, e, além disso, Raito fragmentou o poder de Balished em sete demônios, chamados de Os Renegados, cada um com uma magia diferente e representando os sete pecados cometidos por Balished: A luxúria representada por Yokubo, a gula sendo representada por Kiga, a avareza tendo como imagem o demônio Berus, a ira representada por Ikari, soberba por Hokori, a vaidade pelo demônio Kyoei e a preguiça sendo representada pela Taida. Logo depois, foram aprisionados cada um em um inferno de Morai diferente e os portões foram selados para que Balished não pudesse recuperar seus poderes, um em cada uma das sete cidades principais do reino de Edryn devido ao grande fluxo de magia nesses lugares, sendo os portões vigiados pelos Dragões Guardiões dos Deuses. O corpo de Balished continuou e ainda continua vagando por Morai e Edryn, pois nenhum dragão conseguiu aprisioná-lo atrás de um portão, porém com menos poder e causando menos desastres pelo mundo, apenas um corpo vazio.

Etto... Não são informações muito uteis no momento.

De repente uma duvida surge e interrompe a explicação da professora.

- Senhorita Viluy, se os Deuses são tão poderosos o quanto à senhora diz por que eles mesmos não derrotam Balished para sempre e põem um fim neste tormento? – Perguntou um aluno veterano. Acredito que seu nome seja Aki Yazami, porém nunca mantive contato com ele, apenas o cumprimento na entrada da escola quase todas as manhãs.

Aki! Essa é uma pergunta que eu vou adorar ver a raposinha responder.

O silêncio pairou sobre nós durante alguns minutos até que os suspiros da professora de História das Divindades cortaram o ar.

- Yazami Aki, os Deuses são ocupados demais para dedicar a sua atenção a assuntos tão inconvenientes. Lorde Balished e seus Renegados não são um problema, mas caso isso venha há acontecer algum dia eles nos protegeram.

Não falei? Ela adora venerar suas divindades demasiadamente e com isso acaba fechando os olhos para a realidade que nos cerca.

- Assuntos Inconvenientes? Está querendo dizer que as centenas de assassinatos realizados pelo exército de monstros Sem-Alma comandados por Balished que acontecem diariamente fora dos muros das cidades principais de Edryn é algo irrelevante para os deuses? – disse uma voz que soava com um tom de sarcástico.

Então, reconheci aquela voz e o rosto do dono dela, era Shion, um estrangeiro vindo da Cidade Demonzu, que teve a sua família cruelmente assassinada por demônios Sem-Alma que vagavam pelas planícies ao redor da região onde seus pais caçavam. Desde então ele guarda em seu coração o ódio pelos monstros de Morai e a decepção com os Deuses que não protegem nenhum cidadão edryano da tirania dos monstros de Morai.

Mais uma vez, uma longa pausa dominou a sala de aula e percebi uma expressão de indignação estampada no rosto da professora e de surpresa na face dos alunos. Aquela pergunta ousada também me chamou a atenção.

Afinal, se somos frutos do seu poder, se somos uma criação deles, porque os deuses não nos protegem? Porque tantas pessoas ainda morrem nas mãos dos Sem-Alma?

Outra vez o sinal toca, interrompendo o silencio, mas esta foi para a troca de professores e também para salvar a pele de Shion que, com certeza, seria punido por desafiar o tal amor dos Deuses, defendidos pela mestra.