Desde o início da sua existência a humanidade precisou de algo para acreditar que lhes proporcionasse esperança de ter uma vida prospera e um bom destino após a sua morada na terra, isso se chama fé. Ter fé é acreditar com todas as forças no invisível e entregar a sua vida ao desconhecido.

Edryn é um mundo paralelo ao dos humanos constituído por indivíduos construídos com pura magia e que fazem uso dela, os chamados magos que usam magias de origens divergentes e únicas, e que acreditam que quem os trouxe para a vida foram divindades, os Deuses, desde então o povo endryano dedicou toda a sua fé e a sua vida para agradecer pela vida e o lar concebido pelos Deuses, assim como os humanos dedicam a sua fé as suas divindades.

Este é o mundo ao qual pertenço, um lugar místico, constituído de magia e seres mágicos, onde até mesmo a sua flora e fauna, o céu azul celestial, as suas luas e sóis, o ar que respiramos são frutos do poder divino dos Deuses. Tais divindades são protegidas por Dragões, criaturas místicas e sagradas que foram capturadas por estes para serem seus soldados, suas espadas e seus escudos, e guardarem o maior temor deles, Os Renegados.

Acredito que sejam os Dragões os nossos verdadeiros Deuses, graças a eles estamos protegidos dos sete demônios de Morai, as nossas vidas estão nas mãos destes, entretanto não desprezo o poder dos Deuses, pois, provavelmente, somos frutos da sua graça, mas desde então somos guardados por seus soldados e estes são os nossos verdadeiros heróis. Porém, a maioria dos endryanos não vê nossos guardiões com tal atenção que merecem, enxergam apenas soldados que devem morrer em guerra pela glória de seu mundo.

Contudo, não os vejo dessa maneira, pois para mim eles são nossos anjos de armadura, guerreiros de honra e protetores, pois enquanto os Deuses descansam nos Sete Céus os Dragões lutam e morrem para guardar a segurança de Edryn dos exércitos de Morai. Cresci acreditando em minha fé e em meus anjos, e, como de costume, oro em agradecimento todas as noites para os Dragões.

- Gādiandoragon wa, watashi wa tatchi o motomeru:

Watashi no kokoro ni iru node, seishin-tekina meiseki-sa

O motsu koto ga dekimasu;

Dragão guardião, peço que me toque:

A minha mente, para que possa ter clareza mental.

Meu terceiro olho, para que eu possa ver além;

Watashi no daisan'nome, watashi wa koete miru

koto ga dekimasu.

Watashi no kuchi wa, watashi no

kotoba wa tsuneni kaiteki-sei to soryūshon o teikyō;

A minha boca, para que minhas palavras

tragam sempre o conforto e soluções.

Meu coração, para que eu possa sempre irradiar bons sentimentos;

Watashi no kokoro wa, watashi wa tsuneni hōsha ī kimochi

suru koto ga dekimasu.

Watashi no te wa, watashi wa sono subete ga kōchiku sa re,

hikarinonakade kaisai sa remasu;

As minhas mãos, para que tudo o que eu fizer

Seja construído e realizado em luz.

Os meus pés, para que eu possa sempre caminhar

No caminho da evolução espiritual;

Watashi no ashi wa,node, watashi wa itsumo

Seishin-tekina shinka no michi o aruku koto ga dekimasu.

Watashi no tamashīnode, mainichi ōku no tentō,

To watashi wa hitsuyōna kami o toru koto ga dekiru koto.

Draconis, Draconis, Draconis.

A minha alma, para que ela se ilumine mais a cada dia,

E eu possa levar a divindade a quem precisar.

Draconis, Draconis, Draconis. – Orei em canto.

Após o meu canto, um silêncio fúnebre dominou o altar do Templo Ryuuk e tive a leve impressão de que estava sendo observada, pareciam que todas as estatuas douradas de soldados dragões estavam com seus olhos fitados em mim, inclusive os olhos do imponente Rei e Deus dos Dragões, Sephyron, e me encarava com um olhar assustador em seu trono monumental. Respirei fundo, controlei meus pensamentos paranóicos e caminhei em direção a saída, pois já é muito tarde, as Luas Gêmeas já estavam no pico do céu e eu preciso voltar para casa.

Entretanto, ouvi ruídos por trás das minhas costas e pude jurar que não estava sozinha naquele templo.

- Q-Quem... Quem está ai? – Minha voz saiu tremula, a idéia de estar sozinha com um estranho em um templo me assustava muito. Porém, para minha sorte, ou azar, não recebi nenhuma resposta.

A-Aju...

Sussurros! Eu tenho certeza que ouvi... Não.

Aju.. d.. por...

De novo!

- Quem está ai? – Repeti a pergunta, mas dessa vez minha voz não ousou vacilar.

Draconis... Draconis...

Draconis?

Ajude... Por favor... Filh...

Draconis? Uma oração? Não, não é uma oração.

Capturaram... Socorr...

- Quem? Quem capturou e o que? – e então parei para pensar no que eu havia acabado de dizer. O que? Eu estou falando com o que afinal?

Ajude... Os Dragões... Capturados... Pelos ... Re... Re... Renegados...

Aquela ultima palavra causou um arrepio em minha espinha. Afinal, os Guardiões foram capturados pelos... Renegados? Se sim, porque pediram ajuda para mim? E como ajudá-los?

Para... Telus... Vá... Ajude... Dragões... Renegados... Ajude... Ajude... Aju...d...

Tentei acordar do estado de choque que havia ficado depois da ultima palavra daquela voz, mas as dúvidas assombravam a minha mente e impediam que meu corpo se movesse. Aquilo foi realmente verdade? Os Renegados voltaram? Aquela... Aquela voz era de um Dragão? Ou tudo isso foi apenas um sonho? Para esta ultima pergunta eu tinha uma resposta. Aquilo não foi um sonho, disso eu tenho certeza, pois o meu medo que sinto agora é puramente real. De qualquer maneira, eu não tenho nenhuma informação, não posso fazer nada, somente voltar para casa e esperar. Esperar? O que estou esperando? Não sei, não sei de nada. Nada.

Finalmente acordei do transe e meu corpo não lutou mais contra minha vontade. Então, voltei para casa tentando entender o que havia acontecido, tudo em vão. Cheguei em casa e percebi que não havia ninguém em casa, então, lembrei que estava sozinha, pois a minha mãe estava de plantão no hospital está noite. Ótimo, pelo menos não vou preocupá-la com essa minha cara de espanto. Subi as escadas, deitei em minha cama, e para minha surpresa dormir foi mais fácil do que eu esperava para quem havia acabado de falar com alguém vindo do Além.