(Marina)

Corro e choro. Nem sei para onde vou... Mas não me importo. Quero me afastar desse mundo, e voltar para o tempo em que estávamos em paz, confortáveis... Com Oito e Ella ao meu lado... Ella... Eles a pegaram... E não acredito que John permitiu.

Paro de correr quando sinto algo em meus pés. Frio, líquido... Acima de tudo, acolhedor. É um lago. Eu mergulho com a intenção de deixar a água lavar todos os meus problemas. Quando chego ao fundo do lago e percebo que ele é muito mais fundo do que eu imaginei. Sento-me no lodo fecho os olhos. Quando os fecho em minha frente se formam várias imagens. Me aproximo da que mais me agrada: Um lindo mar, ao por do sol. As ondas batendo contra as areias, e a única coisa que ouço é o som das ondas. Sento-me na areia, fechos olhos e respiro... Me acalmo... De repente, alguém se senta ao meu lado. Viro a cabeça rapidamente e um pouco assustada.

–Desculpe– Oito levanta as mãos num gesto de redenção e me lança o seu sorriso, aquele pelo o qual eu sempre me derreto. Depois, apoia seu corpo nos braços- O que faz aqui, sozinha?

Sorrio.

–Não estou mais sozinha, não é?- pergunto, lançando um sorriso.

Com a expressão exagerada, ele entorta a boca e faz que sim, cruzando os braços.

–Você está certa- ele diz, levando uma das mãos a cabeça- Estou incomodando?

Sorrio e olho para baixo, depois começo:

–Quando cheguei a esta praia, pensei que não poderia estar mais calma ou feliz – Ele faz que sim, solta um suspiro dramático e se levanta, mas eu o seguro pelo braço- Mas eu estava errada. Só poderia ficar melhor com você.

Ele vira um pouco o rosto e sorri de um jeito irresistível e se senta, passando o braço ao meu redor. Suspiro enquanto observamos o por do sol. Está tudo perfeito: A praia; o sol; e principalmente Oito. Seus braços ao meu redor... Nunca me senti tão segura, nem mesmo com toda a Garde reunida. Oito me faz sentir melhor e mais segura. Seguro sua mão e fecho os olhos. Ficamos assim em silêncio até que tudo começa a esfriar... O som das ondas vai ficando cada vez mais distante, mas eu não quero abrir os olhos. Sei que voltei para a realidade, mas eu não quero. Quero voltar para a praia, para Oito. Mas tenho que encarar o agora. Tive meu momento de paz e descanso, e estou grata por isso. Abro os olhos e estou de novo no leito do rio. Mas agora está escuro. Não acredito que passei um dia inteiro debaixo da água, sonhando. Volto a superfície e todos os problemas vem comigo. Está quase de noite, e decido voltar para a caverna, e é óbvio que minha capacidade de enxergar no escuro ajuda muito. Ando devagar. Quando chego lá, todos estão acolhidos e o fogo acesso. Quando entro na caverna, todos se viram para me olhar. Sento-me ao lado de Sarah, que me cumprimenta enquanto comemos alguns alimentos que salvaram da casa de Nove. Alguns salgados, marshmellows, alimentos enlatados... Comemos em silêncio. Não posso deixar de pensar que se Oito estivesse aqui, não haveria silêncio, mas sim risadas e conversas. Sorrio ao pensar nele.

(John)

Quando olho para Marina, ela está toda molhada e sorrindo, como se lembrasse de algo. Depois, ela olha em volta e me foca, olha para baixo e sai da caverna. Vou atrás dela, não aguento mais essa culpa. Sei que foi um erro, mas quero ao menos explicar que foi para salvar Malcolm. A sigo por entre as árvores até que chegamos a um lago. Quando ela vai entrar na água, eu a seguro pelo braço. Ela se vira.

–John- ela começa- Porque está aqui?

–Queria que soubesse.

–Do que?

Respiro fundo.

–De que eu só não salvei Ella por que Malcolm estava morrendo. Era ele ou ela. Eu sei como é perder um pai, e sei que você também sabe- ela olha para baixo.

–Então, Marina, me perdoe. Prometo que vou ajudar você a encontrá-la.

–John...- ela me olha- Ella se comunicou comigo. Está apavorada, e Setrákus Ra está com ela... E com Oito.

–Mas ele não morreu?- estou confuso.

–Você não sente John? A sua cicatriz ainda não parou de arder, o que pode significar que ele ainda está morrendo!

Marina está confiante no que diz. Faz sentido, e vejo firmeza e determinação em seu olhar.

–Olha, eu tenho CERTEZA de que ele está vivo, ele se comunica comigo.

–Eu entendo o seu ponto de vista, e acho que faz sentido, mas se ele está vivo, por que ele só se comunica com você?

Ela pensa um pouco e responde, olhando nos meus olhos:

–Talvez por que somente eu acredite que ele está vivo.

Faz todo o sentido, completamente.

–Então, se Oito está vivo, devemos ir atrás dele.

Um sorriso se estampa no rosto de Marina.

–Ele está em uma caverna, e eu acho que é aqui, em West Virgínia!

Eu me assusto. Quando disse que devíamos ir atrás dele, não pensei que fosse agora. Tenho certeza de que se disséssemos isso a Seis ela negaria terminantemente. Diria que não poderíamos arriscar a nossa vida por alguém que provavelmente já se foi ou que vai morrer.

–Você sabe onde fica a caverna?- Marina interrompe meus pensamentos. Não posso mentir. Sei que estamos a uns 20 km da caverna. Respiro fundo, tentando formular uma resposta.

–Marina, eu sei onde fica a caverna, e sei como achar ela- um brilho de alívio surge em seus olhos, e eu quase me arrependo de continuar- Mas eu não posso te levar até lá.

Seus olhos ficam tristes quando ela pergunta porque, e eu respondo:

–Temos que falar com os outros, montar um plano de ataque, falar com Seis... Mas tenho certeza de que em no máximo 3 semanas estaremos com ele-tento sorrir, mas é um sorriso nada confiante. O desapontamento de Marina se transforma em raiva quando ela começa a gritar:

–VOCÊ NÃO OUVIU?- O ar e tudo em volta começa a esfriar- ELE ESTÁ MORRENDO! AMANHÃ PODE SER TARDE DEMAIS, DAQUI A UMA HORA PODE SER TARDE DEMAIS!- começo a bater o queixo.

–Marina... É muito perigoso! Podemos morrer!- cruzo os braços na tentativa de me esquentar- Temos que nos preparar!

–JOHN, ELE IRÁ MORRER!- Ela grita, e é nesse segundo que o ar esfria mesmo... Neve começa a cair, e o lago se transformou em gelo sólido. As plantas murcharam, e eu caio de joelhos de tanto frio. Parece que alguém tem um novo Legado. Quando estou quase desmaiando, tudo começa a esquentar e Marina se abaixa, preocupada. Parece que perdeu o controle, mas se recuperou.

–John- ela começa mais calmamente quando percebe que eu me recuperei- Por favor, ele irá morrer... E...- ela expira- Estão torturando ele, fazendo experiências...

Meu coração fica apertado. Me lembro de Sam sendo torturado.

–É perigoso, Marina.

–Olha, eu vou com ou sem você. Não me importa se você não vem ou se não vai me dizer a localização da caverna, eu VOU atrás de Oito-ela olha em meus olhos e está decidida. Como não demonstro reação, ela continua:

–E se fosse Sarah?- esse exemplo me pega desprevenido- Eu tenho CERTEZA de que você iria atrás dela John, por que você a ama. Eu amo Oito, mais do que tudo!

Lágrimas surgem em seus olhos.

–Então, se não vai me ajudar, saiba que não conseguirá me impedir.

Eu sei exatamente o que fazer. Sei o que eu faria e sei como ela se sente. Sei que ela me ajudaria, e acredito que ele possa estar vivo.

–Conte comigo, Marina- eu digo e ela sorri- Vou te dar a localização e vou com você, te ajudar. Eu e Bernie estamos com você.

Um largo sorriso se forma em seu rosto, e de repente, Sam e BK aparecem de trás das árvores.

–Pode contar comigo também-ele diz.

Marina sorri e abraça a mim e a Sam ao mesmo tempo, com o rosto no meio dos nossos, diz:

–Muito obrigada.

Nós partimos na direção da caverna.

(Marina)

Corremos cerca de 4 horas até chegarmos ao ponto em que temos que parar. Nos escondemos entre os arbustos e observamos. O cheiro pútrico de animais mortos invade o local, e a caverna está cercada por um campo de força azul. Parece que ele vibra, como se pedisse para ser tocado.

–Este campo...-John começa-Temos que anulá-lo, ou não passaremos. Ele acaba conosco.

Não acredito. Como, depois de convencê-los, uma coisa tão óbvia vai me parar? É então que tenho uma ideia.

–John, peça para o BK virar um inseto e se aproximar do campo para ver se algum morg está armado do lado de dentro.

John o faz, e BK logo volta dizendo que está tudo livre. Dou alguns passos a frente, primeiro devagar, e depois mais cofiante. Paro em frente do campo de força, fecho os olhos e me concentro em tudo o que me deu raiva, me irritou, me deixou triste. As meninas do orfanato que me irritavam... Ella sequestrada... Serákus Ra... A morte de Adelina, Héctor, Crayton... Na guerra de Lorien... não estava dando certo, mas assim que penso em Cinco perfurando o coração de Oito, ouço um barulho que lembra o vidro rachando.

Quando abro os olhos, parece que deu certo. Estou com raiva, e meu plano funciona.

(John)

Marina fez com que nevasse. Tudo ao nosso redor morreu ou congelou.

–Isso é muito irado-Sam comenta batendo queixo.

Marina levanta os braços em um movimento suave e então bruscamente fecha as mãos, fazendo com que o campo de força que estava congelado explodisse, espalhando milhares de cacos pontiagudos para todos os lados. Nós nos abaixamos.

–Isso aí Marina!- Grito, mas ela não para de esfriar. É como se uma aura de gelo tomasse conta dela sempre que ela utiliza esse Legado, e ela não é mais a mesma.

–MARINA!- Grito, mas não adianta.

Sam te uma ótima ideia:

–LEMBRE-SE! OITO PODE MORRER!

E dá certo. Ela abaixa os braços lentamente o frio começa a diminuir. Depois de algum tempo, ela vira o rosto para nós.

–Vamos- ela diz.

(Marina)

Entramos na caverna. Lá é escuro e o ar não é tão abafado quanto eu imaginava. Parecem haver canais de ventilação instalados pelos corredores de pedra.

–Ainda bem que eles ainda não arrumaram os sensores de movimento-comenta John.

–É mesmo- Sam concorda, aliviado.

Por meu Legado que me permitir enxergar no escuro, eu é que guio. Estamos de mãos dadas, e, pelo Quatro conta, a caverna está estranhamente parada. Os poucos mogs que aparecem são mortos e pegamos suas armas. Nenhum alarme, nada... Chega até a ser estranho... Não posso deixar de concordar com os meninos: Talvez a caverna fosse menos assustadora se houvessem mais mogs. Temos a sensação de ser uma armadilha.

–Vejam bem: temos que achar Oito e se possível, Ella.

Sam e Quatro concordam assim como BK, que solta um piado em forma de coruja.

–Temos que nos separar em dois grupos. Eu e BK vamos atrás de Ella. Você e Sam procuram Oito. Nosso ponto de encontro será aqui. Certo?-Quatro pergunta.

Quatro é um bom líder e tem bons planos, então eu e Sam concordamos.

–Ótimo. Pelo o que eu me lembro, por ali ficam as celas e laboratórios. Oito deve estar por lá. BK e eu vamos para lá -ele termina, apontando para os corredores opostos;

Nós nos despedimos, abraço John e sussurro:

–John, obrigada.

Ele responde:

–Sei que faria o mesmo por mim.

–Sim, faria.

Ele e Sam se abraçam, e depois John pede para tomarmos cuidado.

Sam e eu corremos pelos corredores, olhando rapidamente cada sala.

–Sam-digo sem parar de correr-Muito, muito obrigada.

Ele sorri e faz um movimento afirmativo com a cabeça.

Penso em gritar por Oito, mas chamaríamos uma atenção que não queremos. Ao contrário do resto da caverna, a parte dos laboratórios tem uma movimentação maior.

–Não podemos matar todos eles!-Sam comenta, e nos escondemos em uma rachadura discreta na parede da caverna.

–Então...Temos que nos disfarçar.

Pegamos alguns sobretudos de uns mogs que Sam desacordou e vestimos. Prendo o cabelo e coloco uma touca e óculos de laboratório. Também pego uma pranceta e copio de novo os símbolos que devem ser a escrita mog. Sam também se disfarça, mas veste o sobretudo negro, chapéu e óculos escuros de um mensageiro. Como temos a pele clara, conseguimos nos disfarçar. Ainda bem, por que o movimento aumenta a cada passo que damos para perto dos laboratórios. Parece que todo o movimento que não encontramos no resto da caverna está concentrado aqui. Todos eles falam um idioma estranho... Mas o mais estranho é que consigo entender algumas coisas do que eles falam.

Vejo dois mogs saindo de uma sala e eles conversando.

–Aquele Garde...- um deles comenta- Bem mais resistente do que parece. Duvido que conseguiremos arrancar qualquer informação dele.

O outro concorda e começa:

–Sim, mas ele não pode evitar de nos dar as moléculas nem o DNA que faltavam. É somente por isso que o Grande Líder ainda não o exterminou.

Meu coração pula: Eu estava certa! Ele ainda está vivo!
–Sam, ouviu isso?-Estou quase pulando, mas consigo falar baixo e com a expressão mais casual para os mogs; fria e gélida.

–Ahn? Como assim? Você entende o que eles estão falando?

Faço que sim com a cabeça.

–Como?

Encolho os ombros.

–Eles disseram que Oito ainda está vivo!

Sam sorri.

–Então, vamos achá-lo.

Não é difícil perceber que não somos mogs, mas parece que todos estão tão ocupados que nem reparam uns nos outros, o que é ótimo. Espero que Quatro tenha a mesma sorte.

Olhamos discretamente pela abertura de algumas salas, até que um dos soldados levanta Sam pela gola do sobretudo.

–Você...-ele estreita os olhos, e quando abre a boca para continuar, soa um alarme. Todos os morgs correm para o centro da caverna e ele os segue, jogando Sam no chão. Eu o ajudo a levantar.

–Essa foi por pouco-ele comenta enquanto ajeita a gola do sobretudo.

–Não foi por pouco, estão indo atrás de Quatro!

Estou assustada. Todos eles contra um Garde e um Chimaera... É claro que eles vão perecer, e a culpa é somente minha.

–Marina, vamos achar Oito e ir atrás de John.

Concordo e continuamos indo de sala em sala.

Depois de algum tempo, achamos uma sala com tranca elétrica. De fora, ouvimos gritos de alguém. Oito!