Todo domingo, o passa tempo favorito de Jeová era brincar de pipa. Seja na rua, na praça, ou até mesmo no mato aberto próximo da casa da árvore onde se encontrava nesse momento. Mesmo não sendo época (normalmente nas férias), Jeová não ligava. Ele mesmo fazia seu próprio papagaio e o soltava no ar, fazendo questão de procurar pelo vento mais forte que tiver para fazer sua tão amada ave de brinquedo subir até as nuvens.

Para ele, essa era a sua maior aventura. Não importa quantas coisas ele viveu e vai viver com os seus amigos. Nada vai trocar a alegria e a emoção de empinar sua pipa no céu.

— Ah! Você tá aí. – Afirma Junior chegando no local acompanhado de Eryk.

— Noooossaa... Está bem alta hoje... – Falou Eryk com a cabeça inclinada para trás, de olho na pipa no céu de Jeová.

— E não é? Eu quero ver se consigo chegar até o espaço. – Disse Jeová esperançoso enquanto mexia no fio para elevar sua pipa mais e mais.

— Faz tempo que não brinco de pipa. E você Eryk? – Pergunta Junior como não quer nada.

— A primeira e ultima vez que brinquei foi na casa da Jessy depois que ela se mudou. Minha pipa nunca chegava no céu. Eu tinha que correr muito para ela ficar no ar pelo menos. – Responde o pequeno.

— Nossa Eryk. Você nunca brincou de pipa? – Pergunta Jeová se virando para o amigo.

— Hehe acho que não é o meu forte. – Diz Eryk sorrindo sem jeito.

— Cara, você não faz idéia do que está perdendo. – Falou Jeová voltando sua atenção para o brinquedo.

— Haha eu me lembrei. – Fala Eryk do nada. – No meu aniversário ano passado, foi num pátio sem teto. Aí quando eu olhei pra cima, uma pipa caiu do nada. Pareceu que foi um presente pra mim!

— Que louco. Ei! Você ainda tem a sua pipa? – Pergunta Junior para Eryk.

— Guardada no meu quarto. Por quê?

— Vamos te ensinar os macetes. O que acha Jeová?

— Esse é um daqueles raros momentos em que você tem uma boa idéia. Essas chances não podem ser jogadas fora, não? – Brincou o amigo fazendo Eryk rir.

— Eu não entendi o que você falou, mas achei maldoso. Não gostei! – Retruca o moreno levemente irritado.

— E o que estão esperando? Se vão empinar pipa então aproveitem agora que o vento tá poderoso. – Sugeriu Jeová.

— Com certeza! Vamos lá Eryk! – Chamou Junior correndo na frente.

— E-ei, me espera!

Eryk passou em sua casa primeiro e depois foram pegar a pipa na casa de Junior. Quando eles se encontram na rua, Junior já começa a ensinar seu amigo.

— Como a temporada de pipa passou, não estão vendendo os materiais para fazer pipa como vendem nas férias. Você sabe? Cerol, palha, essas coisas. Então, vou te ensinar como você vai elevar sua pipa atééé o céu!

— Tá bem! – Responde Eryk balançando a cabeça positivamente.

— Tá bom. Vamos fazer assim: Eu pego o papagaio e você descai o fio, tá bem? – Instruía Junior pegando no papagaio de Eryk e andando de costas tomando distancia suficiente até onde o fio acabava.

— Descair? – Pergunta Eryk confuso.

— Só gira a latinha para sobrar mais linha enquanto você toma distancia. – Explica Junior fazendo Eryk obedecer.

— Mas não tínhamos que passar cerol primeiro? – Pergunta Eryk mais uma vez.

— O cerol só serve para turbinar a pipa para cortar as outras. Mas como não estamos em época eu duvido que vai ter outra pipa no céu. – Responde Junior.

— Mas pra quê serve o cerol mesmo? – Eryk pergunta mais uma vez, já um pouco longe de Junior, que eleva um pouco sua voz para seu amigo lhe responder.

— O cerol serve mais para aprimorar a pipa! Quanto mais a linha da pipa tiver afiada, mas pipas ela poderá cortar no céu!

— E porque a galera corta a pipa dos outros?! – Continua perguntando Eryk agora parando de andar assim que viu que estava bem longe do Junior.

— Pra ser sincero eu não sei! Faz parte da brincadeira, eu acho! Sabe, pra fazer o pessoal correr até a pipa caída como uma corrida! O primeiro a chegar, fica com ela! – Dizia Junior ainda elevando a voz.

— Tá bem então! E o que eu faço agora?! – Grita Eryk.

— Agora corre, Eryk! Corre!

E assim Eryk fez. Assim que correu pra trás, sua pipa foi até o céu. Junior correu até o amigo para ver a pipa do garoto do ângulo dele, enquanto Eryk estava alegre demais com o seu papagaio tão longe.

— Nooossa! Que demais! Minha pipa nunca voou tão alto haha! – Dizia Eryk empinando sua pipa.

— Na primeira vez que você tentou estava sozinho, não é? Quando alguém leva a pipa com você e começa a pinar, ela vai mais alto ainda. Ainda mais quando tem um vento forte te ajudando. – Explica Junior.

— Ué? Aquilo é uma outra pipa? – Se pergunta Eryk avistando uma segunda pipa um pouco próxima da dele.

— Engraçado. Aquela pipa parece com a do Jeová. – Falou Junior olhando para a segunda pipa no ar.

— Aquela pipa É a do Jeová. – Diz Eryk reconhecendo a pipa.

Com Jeová...

— E alá. E eu achando que era o único que estava empinando pipa. Hehe... isso vai ser divertido. – Dizia Jeová pronto para cortar a outra pipa, sem saber de que o dono dela era Eryk.

E assim é dado o inicio do confronto de pipas(que?). Jeová inclina sua pipa para mais perto da pipa de Eryk, pronto para cortar.

— Ai Junior...! Ele tá querendo cortar minha pipa...! – Se alarma Eryk agoniado.

— Não deixa! Afasta da pipa dele! – Alerta Junior e Eryk puxa sua linha para o lado, afastando sua pipa da pipa do Jeová.

— Ah então você quer fugir? Nããão meu caro. Não vai fugir NÃO! – Jeová persiste, fazendo um movimento giratório com a sua pipa, quase alcançando a pipa de Eryk.

— P-PORQUE ELE TÁ FAZENDO ISSO!? – Se desespera Eryk tentando ao máximo desviar da pipa de Jeová.

— É sempre assim quando tem mais de uma pipa no céu! E o Jeová se empolga! Ninguém nunca conseguiu arrancar a pipa dele. O bairro inteiro o reconhece por isso. – Dizia Junior.

— Tá de zoeira?! – Se desespera Eryk com medo de perder sua única pipa.

Não importava como. Quanto mais Eryk tentava se afastar, mas a pipa de Jeová o alcançava. Ele queria só aprender a empinar pipa, não perder a única que tinha. Ainda mais sabendo que corre o risco de perder seu papagaio para outra pessoa se caso Jeová conseguir cortar sua pipa e alguém achar primeiro.

— Nããão meu amigo... De mim ninguém ESCAPA!

E depois de tanto penar, Jeová finalmente conseguiu cortar o papagaio de Eryk, mesmo sem saber de quem era o dono.

— MINHA PIPA!!!!! – Berrou Eryk vendo sua pipa sendo levada para longe pelo vento.

— Bora atrás dela!! – Chamou Junior e os dois correm atrás dela.

— ATRÁS DAQUELA PIPA FUJONA...! – Gritou Eryk correndo.

— Haha...! Esses caras têm que aprender que não podem peitar com a linha da minha pipa. – Se gaba Jeová vitorioso não fazendo a menor idéia de quem era a pipa que ele cortou.

— O VAI, O VAI, O VAI! – Gritava Junior correndo que nem um louco pela rua. Já Eryk era levado voando ao se segurar na camiseta do amigo.

— M-MA-AS D-DE VA-GAR JUNIOR...! – Dizia o amigo sendo balançado varias vezes.

Em outro lugar, não muito longe dali...

— Hein Zero. Você não tem algum jogo que preste, não? – Pergunta Diego andando ao lado do colega na calçada da rua.

— E quando você vai devolver os meus que te emprestei, hã?! – Exigiu Zero até ser parado subitamente pelo braço do Diego.

— Se liga só lá em cima! – Falou o garoto apontando para o céu com a cabeça.

— O que já? UMA PIPA! – Zero olhou desinteressado, até avistar a pipa de Eryk caindo.

— Vum bora! Vamos! – Correu Diego veloz demais para Zero acompanhar.

— EI SEU MIOLO TONTO, ME ESPERA!

Zero e Diego corriam atrás da pipa, até se encontrarem com Eryk e Junior. Todos param de correr na hora e cada dupla encara a outra.

— Junior... – Falou Diego.

— Diego... – Falou Junior.

— Porco Balofo... – Disse Zero encarando Eryk.

— Zero à esquerda... – Retruca Eryk no mesmo tom que Zero.

Os dois desviam o olhar na direção da pipa e depois voltam a se encarar.

- É MINHA! – Gritaram todos os quatro iniciando uma corrida acirrada até a pipa.

— Te sai Junior! Eu vi primeiro! – Diego falou enquanto tenta empurrar Junior com seu ombro.

— Esse não é o seu departamento, balofo gordo! – Discutia Zero empurrando o ombro de Eryk, assim como Diego e Junior.

— Aquela pipa é minha! Eu vou pega-la de volta! – Retruca Eryk.

— Mentira tua! Nós é que vamos! – Insistia Zero.

Os quatro perseguiam a pipa para não perde-la de vista. Mas ela ainda estava tão alta que acabou passando por trás de um prédio enorme que fez os garotos cessar a correria, parando na frente de um cruzamento de ruas.

— E agora? – Se pergunta Diego.

— Por aqui! Vem! – Falou Zero levando Diego para a rua da esquerda.

— Ué? A pipa não tava caindo pra cá? Eu reparei. – Eryk levantou a questão apontando para a rua da direita.

— Espero que esteja certo. Vamos. – Concorda Junior.

— É! Vumbora! – Disse Eryk e os dois correm na direção contraria da do Diego e Zero.

A pipa estava caindo quase longe do bairro. Nem Eryk, nem Junior ligavam para o fato de estarem correndo longe de suas casas. E quando a pipa de Eryk finalmente cai no topo de um mural qualquer quase todo aos pedaços, os dois freiam caindo de cara em um bueiro.

— Ai meu crânio... – Falou Junior dolorido sendo o primeiro a sair do bueiro.

— Ai minha barriga... – Falou Eryk no mesmo estado que Junior sendo o segundo a sair do bueiro.

— Rapaz... é bem alto esse muro ae. – Comentou Junior vendo a altura entre eles e a pipa.

— Como vamos pegar agora? Ah, já sei! Vamos amarrar uma pedrinha na linha e jogar lá em cima! – Sugeriu Eryk.

— Não precisa. Deixa comigo!

Junior começa a subir no muro se segurando nas brechas do mesmo. Ele escala sem medo da altura até alcançar a pipa e descer junto com ela.

— Prontinho! Tá são e salva sua pipa, Eryk. – Falou Junior entregando o brinquedo para seu amigo.

— Caramba Junior! Você parecia o Homem-Aranha! – Disse Eryk impressionado com a maneira que Junior escalou o muro.

— Haha valeu. Pra onde será que o Diego e o Zero foram parar? – Se pergunta Junior curioso.

— Não faço idéia. E... Junior?

— Fala cumpadi.

— Onde viemos parar?

Quando Eryk pergunta isso, e aí que os dois percebem que estavam perdidos.

— MAMÃÃÃÃE!!!! – Berraram Eryk e Junior chorando feito bebês.

Com Zero e Diego.

— Achou a pipa Diego? – Pergunta Zero olhando para os lados indo falar com o amigo.

Mas por algum motivo Diego tinha sumido.

— Diego? Diego? Ah droga! Ele se perdeu outra vez!? DIEGOOOOOOO!!!!!!!

— Ué? Onde estou? – Se pergunta Diego dentro de uma rua sem saída.

Continua...